Análise: Hora VIP (Very Important Prostitute)
LUCAS MENDES
Colunista da BBC Brasil
US$ 5,5 mil por hora? O preço da moça parecia mais chocante do que o crime do governador Spitz, de Nova York, de pagar prostitutas.
Minhas amigas --e amigos também (10% das prostitutas são prostitutos)-- ficaram a imaginar o que era preciso fazer para ganhar tanto por hora.
Quem sabe é o professor Sudhir Venkatesh, sociólogo da Universidade Columbia, neste momento em destaque não pelo seu trabalho com prostitutas na década de 90, mas pelo livro que acaba de lançar sobre violência urbana.
Ele passou sete anos infiltrado em uma das mais violentas gangues de Chicago e chegou a ser líder por um dia, mas esta é outra história.
Agora o que interessa é a conexão do sociólogo com as profissionais. US$ 5,5 mil, diz ele, é barato.
Venkatesh dividiu as prostitutas por preços. As de rua, em média, custam US$ 75 a hora em Nova York, mas quando você aborda uma pode sair algemado e não é aquele truque de cama. Pode ser mesmo uma policial.
O prefeito Giuliani foi o responsável pela quase extinção da prostituição de rua em Nova York. Noventa por cento do trabalho agora é feito entre quatro paredes, via internet e telefone.
No cardápio de luxo, os US$ 5,5 mil são as mais baratas. Elas vêm de todas etnias e, em geral, não têm diploma universitário, mas curso secundário. São controladas por proxenetas e agências, e este tipo de contato é o que deixa mais pistas.
O ex-governador, hoje desgraçado como promotor, desmontou este mesmo tipo de operação e deveria conhecer todos os riscos que corria quando fazia suas conexões e pagamentos.
A faixa logo acima é a de US$ 7,5 mil por encontro. Não há agentes envolvidos, mas as moças só aceitam clientes com referência. A maioria é branca, tem curso universitário ou está na faculdade, e mantém uma pequena clientela exclusiva que raramente passa de uma dúzia de fregueses.
A classe A é a de US$ 10 mil e, se o ex-governador milionário fosse menos pão duro e transasse nela, ainda estaria mandando no Estado.
Este mundo dos 10 mil é diferente, conta o professor Venkatesh. Elas também exigem referências, raramente transam na primeira noite e costumam até contratar detetives particulares para ter certeza de que o candidato ao amor não é maluco. São parecidas com gueixas.
Muitas destas mulheres são mais namoradas e companheiras do que parceiras sexuais e pouquíssimas entram em variações sadomasoquistas. Quarenta por cento das mulheres entrevistadas pelo professor disseram que o relacionamento não envolve sexo.
Passam o dia ou a noite juntos, comem e bebem bem, uma pegadinha aqui, um beijinho, cafuné e bye bye. É mais uma terapia de milionário cheio da própria mulher ou entediado.
A maioria, apesar da educação, não sabe lidar com dinheiro e tem problemas para investir porque não paga impostos. Como explicar, por exemplo, que tem propriedades, ações, poupança.
Elas não têm mais do que três ou quatro clientes que, além dos 10 mil, ajudam a pagar as contas, como era o caso da nossa proxeneta, Andréia Schwartz, com um dos presidentes do grupo Time Warner.
A capixaba se livrou da agência Emperor e, como boa capitalista, criou sua própria rede de VIPs, mas seu espírito empreendedor passou dos limites quando quis combinar tráfico de carne com drogas.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u386240.shtml
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