"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 23 de outubro de 2010

Venezuela 4

Ontem viajamos da cidade de El Tigre no estado de Anzoátegui para Puerto Ordaz no estado Bolívar, passamos pela segunda ponte do Orinoco construída pela Odebrecht, é uma ponte de 4km. Uma grande obra de engenharia, e a vista do Orinoco é linda.

Puerto Ordaz é uma cidade que foi planejada por urbanistas da Universidade de Harvard, a cidade é uma bagunça. Tentaram fazer uma cidade americana, com um centro e o subúrbio, com grandes vias, e o resultado foi a especulação, a necessidade de carro para circulação, vários espaços de mato, abandonados. Puerto Ordaz não é a capital do estado Bolívar, mas é a maior cidade do Estado e onde estão algumas das grandes empresas da Venezuela, entre elas, a Sidor, siderúrgica nacionalizada por Chávez.

Visitamos hoje uma empresa de taladros, produto de um acordo entre a China e a Venezuela. Atualmente, a empresa faz apenas a montagem e a certificação dos taladros na Venezuela, mas com o desenvolvimento das metas do Plano Siembra Petrolera, a Venezuela deve produzir mais de 80% do taladro a partir de 2014. Na quinta-feira nós havíamos visitado o taladro da Petrocedeño em San Diego de Cabrutica. O taladro é perfurador de poços para a extração de petróleo, tem uns 50 metros de altura, pesa várias toneladas. Para a economia venezuelana internalizar a produção de taladros seria um avanço uma vez que nos próximos anos pretende perfurar mais de 10 mil poços.

Fomos também à Ciudad Bolívar, capital do estado Bolívar, aí fizemos um pouco de turismo. Visitamos o local no qual foi realizado o Congresso de Angostura, marco no processo de indepedência da Venezuela e da América espanhola. A praça onde foi assassinado Manuel Apiar, um dos líderes do processo de indepedência. Vimos as casas do período colonial.  Também vimos a primeira ponte do Orinoco e a primeira ponte levadiça da América Latina.

De um lado do Orinoco está ciudad Bolívar, do outro está la Soledad no estado Anzoátegui. Ciudad Bolívar tem por volta de 200 mil habitantes e La Soledad tem por volta de 20 mil. São duas cidades muito pobres, com pouco atividade econômica. As pessoas trabalham em Puerto Ordaz.

Esta é outra característica da Venezuela, as pessoas não moram perto de onde trabalham, e não é por impossibilidade, é por escolha, por ser muito barato o transporte. Tem um funcionário graduado da PDVSA que trabalha há três horas do local de trabalho dele, vai e volta todo dia. Nas nossas viagens pelo interior da Venezuela tivemos uma experiência similar a dos trabalhadores porque nos hospedamos sempre  duas horas pelo menos do local que iríamos visitar. Visitamos, por exemplo, o complexo petroquímico José Antonio Anzoátegui e nos hospedamos em Puerto La Cruz, cidade contígua com Barcelona, capital do estado de Anzoátegui. Mas o complexo José Antonio Anzoátegui não fica em nenhuma das duas, fica a duas horas. Quem mora no povoado próximo ao complexo são os pobres, os miseráveis que não tem condições de trabalhar no local. Os funcionários do complexo moram em Puerto La Cruz. Como no estado Bolívar, em Anzoátegui, a capital, Barcelona, é uma cidade marcada pela pobreza ao contrário de Puerto La Cruz.

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Venezuela 3

A Venezuela se mostra um país extremamente desigual, de um lado se tem bairros com casas, prédios e jardins magníficos, de outro tem uma pobreza extrema. No lado rico, as próprias alcadias estimulam as críticas ao governo Chávez, dificultam as políticas públicas, e raramente se encontra manifestações pró-Chávez. Por outro lado, nos bairros mais pobres se vê cartazes pró-Chávez e as políticas públicas do Estado em ação.

Provavelmente há problemas de gerenciamento das políticas públicas, mas é inegável que há uma enorme quantidade de políticas voltadas para os setotres mais pobres da sociedade. Chávez obrigou a PDVSA a atuar como ponto de apoio das ações sociais governamentais e isso aumentou a presença do Estado junto às comunidades mais pobres. Comparadas ao bolsa família, as políticas de Chávez são mais estruturantes, entretanto, considerando o tamanho dos problemas venezuelanos acumulados ao longo dos anos, as políticas são insuficientes. Os problemas só serão efitivamente resolvidos na medida em que os planos de desenvolvimento da indústria petroleira e diversificação da base econonômica do país sejam bem sucedidos. Portanto, as dificuldades são bastante grandes.

O governo bolivariano ainda não encontrou uma forma de organização política, institucional que permita ações rápidas compatíveis com um momento de transformação social acelerada. E por isso as políticas públicas são realizadas por múltiplos caminhos diferentes, pela PDVSA, pelos ministérios, pela presidência diretamente, por fundos públicos.

Também há que se considerar que mesmo dentro do Estado venezuelano há diferentes visões sobre o caminho a ser seguido pela Venezuela. Ninguém contesta Chávez, mas cada um o interpreta a seu modo. Alguns grupos demandam uma maior radicalização, outros gostariam de um ritmo mais lento de mudança. Alguns grupos consideram as questões sociais a prioridade absoluta, outros que é preciso primeiro desenvolver a indústria petroleira e que as melhorias sociais viriam por acréscimo. E as divergências de opinião não se restringem a uma diferença no discurso, mas numa ação prática para bloquear políticas e ações governamentais com as quais não está de acordo.

Outra questão é que por um lado, a grandiosidade dos projetos de desenvolvimento apresentados por Chávez fazem com que muitos desconfiem da possibilidade deles serem concretizados e, por outro, as expectativas da população pela realização destes planos são muito grandes, espcialmente na Faja del Orinoco e no estado Sucre, nova região gasífera da Venezuela. Mas os planos são projetos cuja realização completa demorará 20 anos, começam agora, mas só serão completados em duas décadas. O resultado é que nestas áreas o governo Chávez perdeu apoio. A população não quer esperar. E na verdade, na medida em que o governo Chávez consegue resolver as carências básicas, as demandas da população aumentam.

 

Casa nas imediações da Petrocedeño em San Diego de Cabrutica

Venezuela 2

Definitivamente a Venezuela é um país em transformação, um país que tenta mudar a estrutura econômica. Entretanto as relações de dependência parecem ser muito mais fortes do que se pensa. O senso comum tende a acreditar que ter petróleo é uma dádiva para qualquer país, na verdade a maior parte dos países petroleiros acumulam problemas. No caso da Venezuela, o desafio é diversificar a estrutura produtiva. Para tanto se fala desde os anos 40 em “sembrar el petroleo”, e por isso o plano de desenvolvimento da PDVSA se denomina “Plan Siembra Petrolera”, e é o principal componente do Plan Simon Bolívar. “Sembrar el petroleo” é fazer com que o petróleo funcione como estímulo ao desenvolvimento econômico, ao desenvolvimento de novos setores econômicos, é fazer com que a população mais pobre usufrua dos frutos da economia petroleira. Entretanto, isto se mostra muito difícil. A Venezuela possui na Faja del Orinoco uma das maiores reservas de petróleo do mundo de crudo extra-pesado, ou seja, é um produto sólido em 8º API que para ser extraído precisa ser diluído a 17ºAPI para ser levado pelos oleodutos para tratamento e envio para as refinarias. No caso da Venezuela, há um predomínio dos “mejoradores”, estrutura mais simples do que uma refinaria que trata o crudo para colocá-lo em condições de ser exportado, ele estará mais leve a 32ºAPI. O crudo extra-pesado demanda uma infraestrutura grande para torná-lo um produto comercial. E aí está um problema para a Venezuela, explorar o petróleo demanda investimentos muito altos que restringem os recursos disponíveis para outros investimentos do Estado. Ainda que o Estado tenha como objetivo desenvolver outros setores econômicos, evidentemente que a prioridade é a estrutura de exploração do petróleo e aí acaba por se arriscar reproduzir a mesma estrutura econômica dependente do petróleo e das exportações. Neste sentido, a Venezuela tenta avançar internalizando os setores industriais necessários ao desenvolvimento da economia petroleira, é um avanço em relação à situação econômica anterior, por outro lado, não é um política que de fato “sembra el petróleo”, pois se o petróleo entrar em crise , todos os setores industriais que lhe são associados também entrarão.

Viajar pela Venezuela é impressionante para um brasileiro, por um lado as estradas são muito boas se comparadas com a maior parte do Brasil. Por outro lado, se vê a escassez de produção agrícola. Quando se viaja pelo Brasil, ou se vê pastos para o gado, ou plantações seja soja, seja milho, girassol, etc. Aqui na Venezuela não. O único lugar onde vimos soja na estrada é um projeto desenvolvido em parceira com o Brasil e realizado aqui pela EMBRAPA. No resto, não há nada. Se vê uma vegetação similar ao cerrado brasileiro que eles chamam de savana, alguns vezes se vê meio dúzia de cabeças de gado, mas a maior parte do tempo não se vê nada, está tudo abondonado. Não se mostra lucrativo produzir alimentos  na Venezuela, a produção agrícola é insignificante. E aí se gera um dilema, não há produção interna de alimentos, e, portanto, é preciso importar. O governo para não encarecer os alimentos faz uma taxa de câmbio subsidiada, com os alimentos baratos não se estimula a produção interna.

 

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domingo, 17 de outubro de 2010

Venezuela 1

Cheguei no sábado, dia 09/10, na Venezuela. Como no Brasil, os contrastes do país já são vistos na chegada ao aeroporto. Ao mesmo tempo que se vê o mar do Caribe se vê algumas regiões muito pobres. Ao sair do avião, no caminho para a imigração e retirada de bagagens, as paredes estão tomadas por propagandas do governo Hugo Chávez. Passar pela imigração é tranquilo, pelo menos para nós, brasileiros, não fizeram nenhuma pergunta. Quando você estpa na área de retirada de bagagens já começa a aparecer gente querendo fazer troca de dólares por bolívare sfortes no câmbio paralelo, são os próprios funcionários do aeroporto. Um dos brasileiros foi abordado inclusive por um policial. As avenidas de Caracas são mais amplas do que as de Brasília, mas o trânsito é igual ou pior que o de São Paulo. Chegamos no sábado à tarde, mas enfrentamos vários pontos de congestionamento. O trajeto do aeroporto para Caracas é cheio de montanhas, e há várias favelas nos morros. Mas aparentemente são menos degradadas que as do Brasil, pelo menos as casas tem pinturas nas paredes, especialmente nas cores da Venezuela. Segundo conversei depois, as casas foram pintadas no governo Chávez por programa governamental, não eram assim. Outra coisa curiosa a respeito da Venezuela é que as casas não possuem número, as casas, os prédios possuem nomes, então não é uma coisa trivial encontrar um endereço. O endereço é sempre informado como cruzamento entre duas ruas. A gasolina é praticamente de graça, com um dólar se enche o tanque. Então o custo de ter carro é muito baixo, aí convive aqueles carros imensos, carros luxuosos, com velharias, acabadas. Os táxis não possuem taxímetro, então a cada corrida é preciso negociar o valor da corrida, é um saco. Porque como o custo de manutenção do carro é muito baixo, eles se comportam como se estivesssem fazendo um favor pra você e não aceitam reduzir os preços. Uma mesma corrida pode custar 50, 60, 70 bolívares fortes. E não são propensos a te dar troco. Boa parte dos táxis são uma velharia, completamente acabados. Em um dos dias um dos táxis não conseguiu subir a rua que leva à casa onde estou hospedado. O metro é praticamente de graça. Custa 50 centavos de bolívares fortes. No mercadado paralelo, 1 dólar é 7-8 bolívares fortes, então dá para se ter uma idéia de quanto é barato. E o metro é grande, limpo. Mas obviamente é lotado. Os ônibus urbanos são de propriedade do motorista, não há empresas, desde antes do Chávez. E do mesmo modo que os motoristas e os taxistas, eles também não tem nenhum incentivo para reformar ou fazer a manutenção do ônibus, o custo baixo da gasolina funciona como desestimulo à manutenção da frota. Há ônibus que as portas nem fecham. E esta questão do transporte é um problema, porque o aumento do preço da gasolina geraria uma grande crise política, aumento da instabilidade. O Caracazo em 1989, no qual morreu mais de 300 pessoas, estava relacionado ao aumento dos preços da gasolina. A venda de gasolina no mercado interno não gera nenhum lucro para a PDVSA.