"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 28 de dezembro de 2008

Estudar se transforma em sucesso apenas com esforço e sacrifício

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI19881-15228-1,00-O+TRIUNFO+DO+TALENTO.html
19/12/2008 16:42
O triunfo do talento
Gilberto Giuzo protagonizou um milagre. Trabalhava na roça, interrompeu os estudos aos 14 anos, fez supletivo – e chegou ao ITA, a melhor escola de Engenharia do país. O que sua história ensina sobre o modo como o Brasil trata seus superdotados
Ivan Martins e Ana Aranha

RICARDO CORRÊA
SOBREVIVENTE
Gilberto no Memorial Aeroespacial Brasileiro, em São José dos Campos. Ele superou a precariedade do ensino público

Nova Bandeirantes é um município de 13 mil habitantes no extremo norte de Mato Grosso. Fica longe, quase no ponto onde o Estado faz divisa com Pará e Amazonas. Foi ali, na zona rural (região de onça, jibóia e gado nelore), que Gilberto Giuzo passou a maior parte de sua vida. O menino magrelo de olhos esverdeados, filho de migrantes paranaenses, demonstrou desde cedo um talento incomum: aos 4 anos já fazia contas de cabeça, para surpresa dos pais, sitiantes sem instrução. A vocação matemática não impediu que levasse a vida da roça. Cresceu em lombo de cavalo, tratava do gado, erguia cercas na propriedade da família. As escolas que freqüentou eram precárias mesmo para os padrões brasileiros. Desde a infância dividia seu tempo entre as aulas e o trabalho.

Neste ano, aos 24, Gilberto terminou o 2o ano do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, de São José dos Campos. Lá se forma a elite da engenharia brasileira. Também neste ano, conseguiu uma das 38 bolsas da Fundação Estudar, disputada por 6 mil candidatos. O prêmio tenta identificar os jovens mais promissores do país. Gilberto é um deles. Passou pelos obstáculos sucessivos do mau ensino público, da privação cultural, do trabalho infantil, do abandono escolar e do isolamento geográfico. Fez de si mesmo um milagre estatístico. Em um país que joga fora a maior parte de seu potencial humano, resistiu. Ele representa um triunfo do talento, um triunfo da vontade, um caso em um milhão. Sua história ajuda a retratar – pelo reverso – a tragédia do desperdício humano brasileiro. Quantos Gilbertos haverá por aí, perdidos, vivendo abaixo de seu potencial?

Em Nova Bandeirantes está começando a estação das chuvas. Manoelina dos Santos Costa, mãe de Gilberto, conta, divertida, que uma manada de porcos-do-mato invadiu o sítio onde a família cria gado de corte. Fala bem, dona Manoelina. Ela conta que o menino, segundo de seus três filhos, único homem, foi diferente desde cedo. “A irmã era hiperativa, deu muito trabalho, mas ele era reservadinho”, diz. “Acho que sempre foi meio adulto.” O pai descobriu que Gilberto era capaz de fazer contas de cabeça e passou a exibi-lo aos amigos. Logo virou o centro das atenções. “Ele nem sabia segurar o lápis”, diz a mãe. Ela deixa claro que isso era coisa do menino. Nenhum dos pais estudou além da 4a série.

Gilberto foi para a escola rural aos 6 anos. Havia ali uma única classe, com alunos de todas as idades. As várias séries ficavam juntas na mesma sala, divididas em grupos de carteiras. A professora se alternava entre eles. Essa é uma forma antiga de ensinar, usada modernamente apenas quando faltam professores. Há no Brasil 53.609 escolas multisseriadas, com 1,2 milhão de alunos. Mais de 49 mil delas estão na área rural. “Na escola sempre me falavam que ele era muito inteligente, que tinha de estudar”, diz a mãe.



RICARDO CORRÊA
VOLUNTÁRIO
Gilberto, à esquerda, com os colegas que trabalham no cursinho dos alunos do ITA para jovens carentes

Estudar não é a regra na zona rural de Mato Grosso, pelo contrário. O porcentual de abandono na 4a série em 2005 foi de 10,5%. Para fazer a 5a série, as crianças da roça freqüentemente têm de se deslocar para a cidade. Ou desistem. Gilberto percorria uma distância de ida e volta de 12 quilômetros de bicicleta para estudar. Seu pai havia morrido em 1991 – por complicações da malária, endêmica na região –, e a vida não estava nada fácil. “As pessoas na região achavam que estudar era um jeito de fazer corpo mole e evitar o trabalho”, diz o rapaz. Em sua casa não era muito diferente. A mãe casou-se novamente, e ele parou de estudar no meio da 8a série, aos 14 anos. Voltou um ano depois, terminou o ensino fundamental, parou de novo. Nesses períodos sem aulas, trabalhava no campo o dia todo. “Estudar era chato, mas o trabalho era muito pior”, diz Gilberto, lembrando seus sentimentos da época. “Percebi que as pessoas faziam a mesma coisa havia 30 anos.”

Em 2002, iniciou o ensino médio. Para estudar à noite, andava 50 quilômetros de ônibus. Levantava às 6h30, para trabalhar no sítio, voltava para casa depois da meia-noite. Vivia cansado. A pressão doméstica para que parasse de estudar retornou, acentuada. Gilberto resolveu apressar o processo de sua educação: optou por prestar os exames supletivos. Com a ajuda do padrasto, comprou cinco livros que resumiam as matérias do colégio e passou a estudar por conta própria. Em casa, ele lia à luz de velas, porque o sítio não recebia luz elétrica. Fez as provas e passou. Sua pior nota foi 6,5, em Português. “Era muito fácil”, diz Gilberto, sem nenhuma vaidade aparente. Os exames de supletivo costumam ser fáceis, mas Gilberto não tinha exatamente uma sólida formação escolar.

Na semana passada, ele explicava sua insistência em estudar nos termos de uma fábula animal. “Fiz como o burro bordoso”, diz ele. Isso significa um bicho teimoso, que volta ao lugar aonde deseja ir, por mais que o espantem. “Eu insisti com a família”, diz ele, com um sorriso. O rapaz de 24 anos continua magro, bem magro, mas agora tem 1,76 metro de altura e cabelos pretos, espetados. É evidente que gosta de conversar, embora mantenha certa reserva. Fala com desenvoltura e modéstia sobre suas realizações, que não são poucas.

Depois do supletivo, conseguiu fazer 55 de 63 pontos possíveis no Enem, pontuação muito acima da média de 34 pontos das escolas públicas de Mato Grosso. Com essa nota, obteve uma bolsa do ProUni para estudar Engenharia na PUC de Campinas, em São Paulo. Não ingressou na faculdade porque sua família tinha títulos de terras e o ProUni é reservado para estudantes carentes. Gilberto lembra que quase desmoronou. Estava lá, praticamente na universidade, viu os alunos começar as aulas e foi excluído, na última hora. “Achei que as coisas nunca dariam certo para mim”, diz ele. Pensou em voltar para Mato Grosso, mas, dessa vez, a família se opôs. A mãe disse a ele por telefone que ficasse. A tia Idalina Santos Soares, em cuja casa ele estava, repetiu a mesma mensagem.

Gilberto ficou e resolveu se preparar “direito” para o vestibular, fazendo cursinho. Queria o ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, porque era uma escola de Engenharia onde “havia salário e alojamento”. Mas a prova para preencher as 120 vagas anuais é simplesmente a mais difícil do Brasil. Há bons estudantes do país inteiro que tentam passar por ela três ou quatro vezes, sem sucesso. Gilberto percebeu que precisava de um emprego para pagar o cursinho e manter-se na cidade. Apareceu uma vaga de pedreiro, ele agarrou. Mas já no dia seguinte conseguiu coisa melhor, no laboratório de uma ótica no centro de Campinas. Trabalhava de dia para pagar o cursinho, noturno. Morava com a família da tia e ajudava nas despesas. Esse arranjo durou pouco, porém.

No primeiro simulado do cursinho, Gilberto tirou a melhor nota entre os 220 alunos. O dono do preparatório, ele mesmo egresso do ITA, espantou-se. Veio procurá-lo com a oferta de uma bolsa integral, na turma preparatória para o ITA, mas exigiu dedicação integral. “Para um menino do campo, que fez supletivo no interior, o simulado dele foi estupendo”, diz Eliel Barbosa da Silva, dono do cursinho Elite. “Já conheci gente inteligente como ele, mas ninguém partiu de onde ele partiu.” Foi nesse momento que a tia Idalina (servente em uma escola pública, casada com um frentista, mãe de três filhos) fez sua parte no destino do sobrinho: disse a ele que estudasse sem preocupação de trabalhar. Gilberto nunca tivera essa chance e se atirou a ela de cabeça. “Ele estudava das 7 da manhã às 11 da noite”, diz Idalina.

GUIA
RICARDO CORRÊA
Como identificar o talento?

A partir de janeiro, as escolas estaduais de São Paulo vão receber o livro Um Olhar para as Altas Habilidades. A idéia é ensinar os professores a identificar alunos superdotados. A autora, Christina Cupertino, uma das maiores autoridades brasileiras no assunto, enumera as principais características desses alunos, dá dicas sobre o comportamento deles e conta como outros professores já fizeram a identificação. A experiência tem como base a formação de supervisores e coordenadores que acontece em São Paulo há um ano e já ajudou a achar 397 superdotados.

Como tinha dificuldades em escrever, fez o maior número de redações que alguém já havia feito durante um ano no cursinho. Nas outras matérias não era muito diferente. Em poucos meses, foi apresentado a uma multidão de conteúdos que nunca vira. No início, sofreu. Mas, no fim do ano, já fazia perguntas que obrigavam os professores a parar e pensar. Gilberto aprende rápido e trabalha duro. Resultado: entrou em primeiro lugar na Engenharia da USP em São Carlos, foi primeiro lugar da Engenharia Elétrica da Unicamp, foi aprovado no Instituto Militar de Engenharia e, claro, no ITA. “Meu filho teve muita garra”, diz a mãe, Manoelina. “Eu era contra estudar, queria ele por aqui. Hoje, me arrependo.”

Se as estimativas estão corretas, há no Brasil pelo menos 1,6 milhão de crianças e adolescentes como Gilberto, com grande facilidade de aprendizado. É o que se chama normalmente de superdotados. O número corresponde a 3% da população escolar do país, de 53 milhões de estudantes entre a pré-escola e o ensino médio. Identificados, porém, há apenas 2.902 alunos desse tipo. Não é preciso ser superdotado para fazer a conta do desperdício de talentos: para cada Gilberto Giuzo que aparece, há 550 que o sistema educacional brasileiro não soube identificar. Na tentativa de melhorar essa estatística, o Ministério da Educação criou, em 2006, uma rede nacional de atendimento, os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades. Há um por Estado, sempre nas capitais. Sua finalidade é identificar e ajudar os jovens com maior potencial de aprender. Parece, porém, que a coisa não está funcionando muito bem. Fora o núcleo de Brasília, que existe desde 1976 e serviu de inspiração para o programa federal, o trabalho ainda é embrionário. A identificação dos superdotados é lenta, a estrutura que se oferece a eles é frágil. “O cenário é desanimador”, diz a professora Eunice Soriano de Alencar, da Universidade de Brasília, especialista com 20 anos de experiência no estudo de superdotados. “Investimos nada nessa área. A educação pública é muito ruim. A estrutura é perversa. As crianças pobres que conseguem sobressair são verdadeiros milagres.”
No primeiro simulado do cursinho, Gilberto foi o primeiro entre 220 alunos. O dono veio falar com ele

Como em outras áreas da educação, o Brasil está ficando para trás. Há bons programas para atendimento aos alunos superdotados em diversos países. Inglaterra, Israel, Taiwan e Chile são algumas das referências mundiais. A China, embora atrasada, está investindo pesado em identificação e estímulo aos supertalentos. No Chile, onde se faz o melhor trabalho da América Latina, os professores da rede pública são treinados e recebem um guia com as características da superdotação. Na 5a série, quando têm entre 10 e 11 anos, os alunos identificados passam a freqüentar cursos e oficinas. “Um aluno talentoso que nasça na região de Temuco, por exemplo, será identificado e atendido”, diz a psicopedagoga Sonia Bralic, fundadora do programa. “Mas há milhares que moram em regiões onde não há cobertura dos programas.”

Em Mato Grosso, o Núcleo de Altas Habilidades funciona desde 2007, em Cuiabá. Até agora treinou professores de três escolas para identificação de superdotados. Todas na capital. Se houver outro aluno talentoso em Nova Bandeirantes, de onde veio Gilberto, a 1.020 quilômetros de Cuiabá, ele não será percebido. “Ainda não há perspectiva de levar o serviço para aquela região”, diz Márcia Aparecida Molinari, coordenadora do Núcleo de Altas Habilidades do Estado. As conseqüências da não-identificação são terríveis, afirmam os especialistas. A criança muito inteligente se frustra de forma profunda com a anemia intelectual do ensino normal, inclusive o da escola privada. Daí para o desinteresse, a depressão e o abandono é um passo. Que ocorre freqüentemente. “Este moço, Gilberto, é um caso muito raro”, diz a psicóloga Ana Fortes Lustosa, da Universidade do Piauí. “O apoio da família e da escola é essencial para que as crianças se desenvolvam. Ele teve enorme automotivação. Viu sozinho uma saída.”

Anderson Schneider
RESGATADO
Evaldo, o estudante de Brasília, com suas moedas. O núcleo de apoio a superdotados (ao lado) fez com que ele se interessasse novamente em aprender

Em um bairro da periferia de Brasília, Evaldo Pereira de Rezende não via mais motivos para ir à escola. Aos 11 anos, preferia ficar em casa, estudando as moedas de sua coleção. Ele tem mais de mil. Os pais não entendiam por que o filho faltava tanto. “Pensei que ele tinha brigado com algum menino”, diz a mãe, Ana Pereira de Rezende. Foi tanta falta que ele repetiu a 4a série. Preocupada, a orientadora pedagógica da escola passou a prestar atenção no aluno. Na 6a série, com a ajuda dos especialistas do Núcleo de Altas Habilidades de Brasília, ele foi identificado como superdotado. Depois do Núcleo, sua vida mudou. Ele deixou de faltar à escola e suas atividades fora de casa aumentaram. Escreve artigos e dá palestras sobre a história das moedas. Agora, aos 17 anos, quer fazer três faculdades: Sociologia, Ciência Política e História. “Vou ser pesquisador ou professor universitário”, diz.

Outro caso, bem menos feliz, é o de João Sperandio Neto. Aos 22 anos, ele foi indiciado em novembro pela Justiça de São Paulo por aplicar golpes pela internet em valor superior a R$ 2,2 milhões. O delegado que acompanhou o caso, Luiz Storni, diz que ficou surpreso ao saber a idade do rapaz. “Ele sabia muito para uma pessoa tão jovem.” Sperandio é de família simples e, segundo o delegado, parece autodidata. Tudo sugere que era o especialista técnico de uma quadrilha com outros integrantes. Ao programa Fantástico, da TV Globo, o rapaz disse que começou a praticar crimes virtuais aos 15 anos, por diversão. Afirmou já ter trabalhado para os criminosos, mas sob ameaça. Pode ser. Mas os especialistas vislumbram cenários em que a colaboração entre a inteligência e o crime ocorra de forma voluntária. “Esses meninos precisam exercer seu potencial, sob o risco de ser atraídos pelo crime”, afirma Olzeni Ribeiro, coordenadora do Núcleo para Superdotação do Distrito Federal. “Se um menino desses é cooptado por uma gangue, dificilmente será resgatado. É o contexto em que ele mais se sente desafiado, em que sua inteligência é mais valorizada.”
Gilberto não sabe explicar de onde veio sua ambição. “Talvez da televisão”, diz ele. “Era um mundo novo”

Gilberto escapa do perfil típico do superdotado. Os psicólogos modernos dizem que há vários tipos de habilidades mentais e elas raramente andam juntas. O raciocínio matemático freqüentemente não se dá com a facilidade verbal. Outras vezes não coincide com as habilidades sociais conhecidas como inteligência emocional. Gilberto parece ter várias delas, em grau elevado. Ele se expressa bem. Ele interage muito bem com as pessoas, mesmo quando vêm de situações sociais diferentes da sua. Ele inspira confiança. Ele demonstra inteligência prática na forma de organizar e conduzir sua vida. Mesmo sua persistência, que parece uma virtude de caráter, pode ser outra manifestação de seu talento intelectual. Os especialistas chamam a obstinação de “envolvimento com a tarefa”, uma característica comum entre os muito inteligentes. Renata Maia Pinto, que até maio era responsável no Ministério da Educação pelos projetos de superdotados, percebe essa característica em Gilberto. “Ele teve muita perseverança. Isso é típico”, diz ela.

Eliel Silva, do cursinho Elite, aponta na trajetória de Gilberto outra provável manifestação de uma inteligência incomum: a capacidade de imaginar algo que não tinha nenhuma relação com a vida que ele conhecia. “Pense num garoto conduzindo um carro de boi no interior de Mato Grosso e se imaginando aluno do ITA, algo que nem poderia saber como era”, diz. “É extraordinário.” As experiências dos educadores com crianças muito pobres é bem diferente. Elas em geral não têm grandes horizontes. Têm dificuldade em se imaginar fazendo coisas importantes como adultos. Não se vêem como advogados, médicos, engenheiros, artistas. “Quando a criança é pobre, seu projeto de vida não é individual”, afirma Ana Lustosa, do Piauí. “Ela chega em casa e já tem de ajudar, limpar, fazer o jantar ou até sair para trabalhar. Ela não tem estímulo para pensar em si, mas no projeto coletivo, da família.” Parece a situação doméstica de Gilberto.



Múltiplas habilidades
A vida de Gilberto mostra que ele reúne diferentes formas de inteligência, da matemática à emocional
RICARDO CORRÊA

Automotivação
Gilberto nunca desistiu de aprender, apesar da oposição da família e das circunstâncias adversas. Ao fim do dia de trabalho, estudava à luz de velas na escrivaninha que ele construiu. Os desdobramentos desse tipo de inteligência:
- Persistência, concentração e compromisso com as tarefas
- Motivação interna, não depende de estímulos de outras pessoas
- Iniciativa, autoconfiança e envolvimento com seus interesses

Talento matemático
Os amigos da família chamavam Gilberto de “matemático”, porque o menino resolvia contas de cabeça aos 4 anos. As características dessa forma clássica de inteligência:
- Capacidade para associar símbolos
- Organização interna do raciocínio
- Facilidade para identificar causas para os fenômenos observados

Talento verbal
Gilberto se expressa de forma clara e segura. Aos 8 anos, conversava com os professores da irmã, sete anos mais
velha. Como o talento se expressa:
- Domínio da comunicação e da língua
- Precisão e concisão no modo de se expressar verbalmente

Inteligência emocional
Sua mãe diz que Gilberto sempre “pareceu adulto”, pela maneira tranqüila com que tratava os mais
velhos. Hoje, circula sem problemas entre colegas com origem social e formação cultural totalmente
diferentes das suas. As características dessa inteligência:
- Senso avançado de tato, confiabilidade e empatia
- Capacidade para persuasão e influência, boa sintonia com o grupo
- Maturidade e autocontrole

Fonte: Desenvolver Capacidades e Talentos, de Zenita Guenter

Há também a questão do trabalho infantil, que foi sempre uma sombra em sua vida. É algo comum no Brasil. No ano passado, havia 4,8 milhões de crianças e adolescentes dando expediente no país, um em cada dez brasileiros entre 5 e 17 anos. Além dos riscos físicos, o trabalho prejudica a concentração na escola e o desenvolvimento intelectual. Renato Mendes, coordenador no Brasil do Programa de Combate ao Trabalho Infantil da OIT, a Organização Internacional do Trabalho, diz que no campo o contexto cultural é diferente, talvez mais grave.

“Em geral, os pais querem que os filhos estudem, mas o modelo de educação no campo não faz sentido para eles”, afirma Mendes. Ele sustenta que as escolas rurais deveriam tratar de atividades ligadas ao trato da terra e da criação, para cumprir uma função prática. Mas o modelo educacional é urbano e percebido como inútil. “O pai acha que o menino vai andar 6 quilômetros para não aprender o que precisa. Não vê perspectiva na educação”, diz Mendes. Na casa de Gilberto, parece ter sido assim. Os pais precisavam de ajuda no sítio e achavam, com base na própria experiência, que seria melhor para o menino se dedicar desde cedo ao trabalho. Quando começou a escola à noite, a mãe temia que ele, magrinho, não fosse agüentar o esforço do trabalho físico e do pouco sono. Hoje, tendo visto o sucesso do filho, tremendamente orgulhosa dele, Manoelina se constrange em lembrar as discussões familiares causadas pela insistência do filho em estudar. “Prefiro não falar sobre isso”, diz ela.

Gilberto não sabe explicar de onde veio seu sonho e sua determinação. Ele quis ser engenheiro sem saber o que era um engenheiro. Em um lugar onde não havia engenheiros. Em uma família na qual nunca houve um engenheiro. “Talvez tenha sido a televisão”, diz. Quando a TV chegou a sua casa, ele teria uns 13 anos. Lembra de um impacto tremendo. Aquela avalanche de novidades. Um mundo inteiro que não existia antes. O Jornal Nacional. Pode ter sido isso. Ou talvez o sonho tenha vindo do exemplo de Rosângela, meia-irmã, filha do primeiro casamento do pai. Ela se formou em Direito no Paraná, enfrentando enorme adversidade. Era parte da lenda da família. Distante, mas, de alguma forma, presente. “Eu realmente não sei”, diz Gilberto.

Hoje em dia, ele tem planos claros: quer formar-se engenheiro e trabalhar algum tempo no mercado financeiro. Com isso, pretende juntar dinheiro e experiência para empreender. Deseja tornar-se empresário e está construindo ferramental para isso. Neste mês, enquanto a maioria dos universitários goza férias, ele inicia estágio em uma das fábricas da AmBev, em Campinas. “Acredito muito em trabalho”, diz Gilberto. Nem poderia ser de outro jeito. Os jovens de famílias abastadas nascem cercados de privilégios que nem sequer percebem. Para Gilberto, cada um deles é uma conquista: o acesso ao conhecimento, os contatos humanos, as viagens. Freqüentemente, há choques. Tendo crescido no interior, em uma família religiosa, ele se espanta ao ouvir colegas de escola que se declaram ateus. “Ainda fico chocado”, diz. “Não sou muito religioso, mas acredito em Deus.” É espantoso, na verdade, que o convívio de Gilberto com os colegas de escola e da Fundação Estudar seja tão natural, considerando as enormes diferenças de origem. Todo mundo ao redor de Gilberto fala inglês e quase todos vêm de famílias de classe média. Têm experiências culturais muito mais cosmopolitas que as dele. Ele percebe a diferença, claro, mas parece lidar com ela sem complexos.

“Gilberto é da geração Y, que está recebendo dos pais uma agenda pronta e não mostra muita iniciativa. Mas ele é totalmente diferente”, diz a psicóloga Bruna Dias, da Companhia de Talentos, consultoria de RH especializada em orientação de carreira. Bruna já fez uma discussão individual com o jovem de Mato Grosso e participa com ele de sessões de grupo sobre trabalho e futuro profissional, como parte das atividades da Fundação Estudar. Ela não tem dúvida de que Gilberto é comprometido, obstinado, faminto por aprender e conquistar. “Ele vai longe”, afirma. Quer dizer: mais longe.

Morreu Samuel Huntington

Samuel Huntington morreu e merece um post falando dele depois que voltar de férias. Huntington está na história das idéias conservadores definitivamente.

27/12/2008 - 17h45
Morre Samuel Huntington, autor de "O Choque de Civilizações"

da France Presse, em Nova York

O cientista político Samuel Huntington, autor do famoso ensaio "O Choque de Civilizações", morreu aos 81 anos em Martha's Vineyard, no Estado americano de Massachusetts, informou neste sábado a Universidade Harvard.
07.ago.2002/Claudia Daut/Reuters
Cientista político Samuel P. Huntington escreveu livro
Cientista político Samuel P. Huntington escreveu livro "O Choque de Civilizações"

Huntington morreu na última quarta-feira (24). O cientista político deixou de lecionar em Harvard em 2008, após 58 anos de "serviços bons e leais", segundo a unviersidade americana.

Ele foi autor, co-autor e editor de 17 obras e 90 artigos científicos sobre a política americana, a democratização, a política militar, a estratégia, e até mesmo política de desenvolvimento, informou o comunicado.

Nascido Samuel Phillips Huntington em 18 de abril de 1927 em Nova York, ele conseguiu se formar na Universidade de Yale aos 18 anos e começou a lecionar em Harvard aos 23.

"O Choque de Civilizações", publicado em 1996, foi traduzido a 39 idiomas. O livro também foi considerado como uma visão prévia do conflito com grupos muçulmanos que culminou nos atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Haverá um limite para a crise? A crise está se agravando em proporções alarmantes!

22/12/2008 - 02h38

Exportações japonesas caem a nível recorde em novembro

da Efe, em Tóquio

As exportações voltaram a cair em novembro no Japão, a segunda maior economia do mundo. A queda sem precedentes nos negócios do país foi de 26,7%, para 5,327 trilhões de ienes (US$ 59,392 bilhões).

O valor cria um novo déficit na balança comercial japonesa e é a segunda queda mensal consecutiva deste indicador desde 1980.

Em novembro, o Japão registrou um déficit em sua balança comercial de 223,4 bilhões de ienes (US$ 2,488 bilhões), devido sobretudo a uma abrupta queda de suas exportações, até agora principal motor da economia japonesa, pela revalorização do iene e a crise econômica global.

As vendas ao Oriente Médio, Rússia e países da Europa do Leste desaceleraram, mas a queda mais significativa foi a das exportações aos EUA, que caíram 33,8%.

Com a Europa, o Japão reduziu seu superávit comercial em 49,8%, enquanto com a Ásia a queda foi a mais acusada, do dia 78,2%.

As exportações aos países da União Européia perderam 30,8% em relação ao ano anterior, a segunda queda mais forte da história.

A balança comercial japonesa já entrou em números vermelhos em janeiro, agosto e outubro durante este 2008 de crise econômica, mas o habitual nos últimos anos foi que registrasse fortes superávit.

Endereço da página:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u482195.shtml

domingo, 21 de dezembro de 2008

"Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia." Nietzsche

Feliz Natal e Próspero Ano Novo!

O post anterior sobre a esperança fica como mensagem para o Natal e o Ano Novo. Espero que todos os visitantes do blog consigam cultivar a esperança e vivenciá-la. Este fica como sermão.

Não basta professar valores, é preciso vivenciá-los ainda mais no mundo cada dia mais inóspito. Vivenciar é se dispor a fazer os sacríficios necessários para adequar o discurso à prática, modificar-se, eliminar tudo aquilo que impede de viver de forma coerente. Todos os anos fazemos votos de ano novo, fazemos promessas, que logo caem no vazio e são esquecidas, porque de fato o que se faz necessário é a conversão de vida. Em geral as pessoas querem eliminar um problema, conseguir um objetivo sem mudar de estilo vida. Não existe isso. Cada objetivo, cada meta exige uma conversão de vida. Cada propósito exige um sacríficio. Quando se escolhe ter tudo,  na verdade está escolhendo o fracasso. É preciso definir prioridades e ser capaz de viver considerando estas prioridades. Se cada vez que os "amigos", os "colegas" chamam para um desvio de rota, e a pessoa assente, é porque não tem compromisso consigo mesma. Vivemos numa sociedade profundamente contraditória. Ao mesmo tempo que as pessoas são profundamente individualistas, não se preocupam com o futuro dos outros, não são solidárias, preocupam-se de forma doentia com as opiniões e avaliaçãos dos outros, querem a aprovação permanente, não resistem à crítica, não conseguem viver sozinhas e o resultado é comportamento de manada que hoje não atinge mais apenas os jovens. Em todas as faixas etárias se encontram cada vez mais pessoas se comportando como animais, ignorando os fracos e buscando a permanente aceitação e participação no grupo. Não há sociedade que resista, e não há projeto de vida que se sustente.

Tornar-se indivíduo na sociedade contemporânea é remar contra a maré, é pensar criticamente, não agir por impulso e pela pressão do bando. É seguir o próprio caminho a despeito das adversidades. Óbvio que isso não significa ser cabeça-dura ou persistir no erro, significa que se deve assumir a responsabilidade por cada decisão tomada. As decisões que você toma fazem a sua vida, se você deixar que outros tomem decisões por você, e não assumir a responsabilidade estará deixando que outros vivam a sua vida.

E deve-se assumir a responsabilidade nas coisas mais simples às mais complexas. Na situação que vivo frequantemente na relação professor-aluno, seria muito mais fácil me eximir de responsabilidade e sair dando dez para todo mundo, seria o mais fácil, seria seguir a corrente, me daria menos trabalho e problemas. Mas seria errado, porque eu estaria me eximindo da responsabilidade para com o futuro dos alunos. Esta é uma outra contradição da sociedade brasileira contemporânea, o discurso que estudar é importante se tornou hegemômico, então todo mundo quer estudar, mas ninguém quer estudar. Todos querem entrar na faculdade e sair com um diploma, mas a maioria não está disposta estudar realmente, a se sacrificar hoje pelas conquistas futuras. Resultado? Fracasso. O curso deixa de ter qualquer sentido. Hoje a diferença mais significava no ensino superior não é entre os alunos de notas altas e os alunos de notas baixas é entre os alunos responsáveis pelas decisões que tomam e os alunos que não assumem a responsabilidade pelo seu próprio destino. O problema da queda no nível do ensino superior está nos irresponsáveis, naqueles que estão sempre em busca de facilidades para serem aprovados, querendo um ponto, um trabalhinho, menos textos, provas mais fáceis, e sempre têm uma desculpa pelo resultado, que nunca se deve a uma ação ou inação dele, mas sempre dos outros, da vida, trabalha muito, tem muitos problemas etc. Quando estes alunos são a maioria numa sala é o pior dos mundos, quem quer estudar sairá sempre prejudicado, porque a pressão para baixar o nível tende a ser insuportável. Outro tipo de aluno que não consegue se encontrar no ensino superior é aquele que acredita que estudar deve ser prazeroso, que a aula deve ser prazerosa, com certeza não vai dar certo. O úncio prazer em estudar é aprender coisas que você não sabe, mas não há métodos de estudos prazerosos para aqueles que não sentem o prazer de descobrir novos conceitos, novas idéias, novos autores.

Um tipo de aluno fácil de lidar é o que não está nem aí para o resultado, ser aprovado, reprovado é indiferente, podem até culpar o professor, odiar o professor por sempre serem reprovados, mas ficam na deles, comportam-se como se assumissem a responsabilidade. É o mais difícil de ser compreendido, porque é inexplicável as razões pelas quais se matricula numa faculdade. Em geral parecem não identificar qualquer sentido na vida, e se a vida não tem sentido, se a vida é apenas um conjunto de momentos, estudar realmente não tem o menor valor.

Óbvio que os professores também têm defeitos. E a irresponsabilidade é pior defeito. Aceitar passivivamente a realidade. Dizer que nenhum aluno quer estudar e a partir daí não fazer nenhum esforço para fazer com que o aluno estude. O professor é irresponsável quando simplesmente aceita o aluno como ele é e não faz nada para tentar que ele se transforme. A pior combinação possível para uma instituição educacional são estudantes e professores passivos, irresponsáveis, cada um esperando que o outro tome a inciativa.

No microcosmo do ensino superior temos a expriência da vida contemporânea, onde predomina a alienação, a irresponsabilidade, a passividade, e a predominância dos instintos coletivos sobre a racionalidade. Na educação em geral, o domínio do grupo chegou a tal ponto que hoje há estudantes que deixam de estudar por medo da avaliação do grupo, por medo de não ser aceito pelo grupo. E na pasmaceira geral, a sociedade sofre um processo de involução. Hoje a coisa mais comum do mundo é as pessoas se surpreenderem com a inteligência e a sagacidade dos bebês e das crianças pequenas, mas na medida em que vão crescendo ao invés da inteligência, do conhecimento e do pensamento estar sendo desenvolvido, está sendo podado pelas famílias, pela sociedade, pela escola, que se mostram incapaz de inculcar desde o início nas crianças a disciplina, o método necessários ao desenvolvimento do pensamento. E depois quando crescem, poucos se dispõe à disciplina e ao método necessários ao desenvolvimento das ciências. É isso que explica que num país onde se precisa de químicos, engenheiros, físicos, etc. onde se precisa desenvovler as ciências exatas para se dar um salto científico e tecnológico tenhamos cada vez mais administradores, bacharéis em direito incapazes de serem aprovados na OAB ou em concursos para juiz. Cada pessoa e a sociedade pode escolher, e crescentemente se escolhe permanecer na ignorância. Ninguém quer pesquisar, se esforçar, quer respostas prontas. E nem respostas prontas no livro é suficiente, querem todas as respostas sem abrir um livro, sem ler qualquer manual de instruções, etc.

No Ano Novo ao invés de mandingas, promessas, supertições, o que cada um deve se perguntar é qual o sacríficio está disposto fazer pelo seu futuro, é perguntar o que de fato é importante na sua vida. E procurar a partir daí a viver de acordo com as respostas que conseguiu. Traçar o caminho para quando se perder, saber que está perdido, e saber para onde é preciso voltar. Quem não sabe aonde quer chegar não sabe quando se perdeu!

Esperança enquanto resistência

Transcrevo abaixo dois trechos do livro Teologia da Esperança do teólogo protestante alemão Jürgen Moltmann. O subtítulo de onde os dois trechos foram retirados intitula-se "A esperança frustra a felicidade do ser humano no presente?" No primeiro trecho está exposta a posição dos críticos, no segundo trecho, o autor apresenta a visão da esperança cristã.

A especificidade de Moltmann e que será incorporada à outras correntes teológicas é que a esperança deve ser sentida e vivida na história, realiza-se na história. A chave fundamental para toda ação política de longo prazo é ser capaz de alimentar e realimentar a esperança, a capacidade de lutar por algo que não se tem apesar de todas as desventuras que se vive. Todas as utopias se alimentaram disso e se esvaem na medida em que são incapazes de renovar a esperança. A crise do nosso tempo é a crise da esperança. Com todos os valores em xeque já não se realiza a renovação da esperança, e os indivíduos crescentemente substituem a esperança pelo consumo. Só se dispõe a sacrificar o presente, inclusive o consumo, quem tem esperanças no futuro. na sua ausência procura-se experimentar o prazer do momentâneo antes que seja tomado pelo vazio da existência. Qualquer coisa é usada para encobrir o vazio da existência sem esperança e sem futuro. A esperança neste sentido é uma forma de resistência, de enfrentar o mundo que cada vez mais se mercantilização e esvazia o significado da existência. Crescentemente viver é apenas consumir. Recuperar a esperança é pôr um freio neste processo. É retomar a construção do futuro e do domínio da história pelo homem. É uma pena que todos os grandes projetos sociais e mesmo o cristianismo estejam sendo esvaziados e a esperança esteja definhando. Como disse Marx no Manifesto Comunista tudo que é sagrado será profanado, tudo que é sólido se desmancha no ar. Há uma crescente mercantilização das religiões que as tornam vazias de significado do cristianismo, passado pelo budismo e hinduísmo, até o islamismo. Religião se associa cada vez mais a um padrão de consumo do que a uma forma de vida e existência. E quanto mais a religião é despida de seu papel de baluarte da esperança mais espaço para o fanatismo. O fanático opõe-se à esperança. O fanático é o desesperado. Mas por mais que o mundo não dê sinais de renascimento da esperança é preciso ter esperança, e ter esperança é acreditar na vida sempre, ainda quando estamos diante da morte.

Os críticos:

"A mais séria objeção contra uma teologoia da esperança não provém da presunção nem do desespero - pois essas duas atitudes da existência humana pressupõem a esperança -, mas opõe-se à esperança a partir da religião da humuilde aceitação do presente: não é somente no presente que o ser humano é alguém, uma realidade, um contemporâneo de si mesmo, alguém em harmonia com o mundo, uma pessoa determinada? A lembrança o agrilhoa ao que passou, ao que não existe mais; a esperança o atira ao futuro, ao que ainda não existe. O passado o faz lembrar-se de ter vivido, mas não o leva a viver; o faz lembrar-se de ter amado, mas não o leva a amar; o faz lembrar-se dos pensamentos dosoutros, mas não o leva a pensar. Fato semelhante parece dar-se em relação à esperança: ele espera viver, mas não vive; espera um dia tornar-se feliz, e esta espera faz com que o indivíduo passe ao largo da felicidade do presente. Ao se lembrar e ao esperar, ele jamais estará inteiramente dentro de si mesmo ou em seu presente; corre sempre atrás dele ou se antecipa a ele. As lembranças e as esperanças parecem frustá-lo quanto à felicidade de existir indivisamente no presente. Elas o privam de seu presente, arrancam-no e o lançam para tempos que não existem mais ou ainda não existem. Elas o entregam ao não-existente e o abandonam ao nada. Pois tais ocorrências o arrastam para a correnteza da transitoriedade, para o redemoinho do nada."

A esperança cristã :

"O amor não tira ninguém da dor do tempo, antes toma sobre si a dor daquilo que é temporal. A esperança prontifica-se a carregar a "cruz do presente". Ela pode suportar a morte e esperar o inesperado. Ela pode dizer sim ao movimento e desejar a história, pois o seu Deus não é aquele que "nunca foi nem será jamais, por existir agora como um todo", mas o Deus "que vivifica os mortos e chama o que não é para que seja". O círculo de ferro do dogma da desesperança, ex nihilo nihil fit, é rompido quando se reconhece como Deus alguém que resusscita os mortos. Quando começamos a viver na fé e na esperança das possibilidades e promessas desse Deus, abre-se diante de nós toda a plenitude da vida enquanto vida histórica, a qual assim pode ser amada. Somente no horizonte desse Deus se torna possível um amor que é mais do que filía, amor ao existente e ao igual, mas agapé, amor para com o não-existente, amor para com o desigual. com o indigno, sem valor, perdido, transitório e morto; um amor que é capaz de tomar sobre si o que há de aniquilador na dor e na alienação de si mesmo, porque tira sua força da esperança na creatio ex nihilo. Ele não afasta o olhar do não-existente para dizer "não é nada", mas ele mesmo se torna a força mágica que tudo traz à existência. Pela esperança, o amor mede as possibilidades que lhe foram abertas na história. Pelo amor, a esperança tudo encaminha para as promessas de Deus.

"Será que tal esperança frustra o ser humano da felicidade do presente? Como poderia fazê-lo, se é, ela mesma, a felicidade do presente! Ela chama de bem-aventurados os pobres, aceita bondosamente os fatigados e sobrecarregados, os rebaixados e atormentados, os famintos e moribundos, porque conhece que para esses existe a parúsia do reino. A espera torna a vida agradável, pois, esperando, o ser humano pode aceitar todo o seu presente e encontrar prazer não só na alegria, mas também no sofrimento, e bem-estar não só na felicidade, mas também na dor. Dessa forma, a esperança atravessa felicidade e dor, porque é capaz de ver um  futuro também para o que passa, o que morre e o que está morto, futuro que está nas promessas de Deus. Por isso, se poderá dizer que viver sem esperança é como não viver mais. Inferno é desesperança e não é em vão que na entrada do inferno de Dante está escrita a sentença: "Abandonem toda esperança os que entram aqui".

"Um "sim" ao presente, que não pode e não quer ver a mortalidade, é ilusão e escapatória, não superada nem mesmo pela afirmação da eternidade do instante que passa. Mas a esperança colocada no creator ex nihilo se torna felicidade no presente, quando pelo amor se mostra fiel a tudo, nada deixando ao nada, mas mostrando a tudo a abertura em direção ao possível, onde poderá viver e viverá. Essa felicidade é mutilada pela presunção e pelodesespero e totalmente arruinada pelo sonho do presente eterno."

sábado, 20 de dezembro de 2008

Fique em casa São Paulo!

Esta época de festa mostra o quanto está sobrando gente em São Paulo. Sair para fazer compras de Natal está insuportável. Acho que é hora de lançar a campanha "Fique em casa São Paulo", é hora de instituir o rodízio de pessoas para as compras de Natal.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Juros baixos são a solução?

O FED reduziu a taxa de juros para 0,25% ao ano. Os incautos imaginam que isso servirá para estimular a economia. Entretanto, o Japão durante a crise dos anos 90 teve taxa de juros reais negativas e isso foi incapaz de solucionar crise. Todas as políticas de estpimulo à economia fracassaram. Há um risco disso ocorrer nos EUA. A preferência pela liquidez pode aumentar ainda mais, os recursos não serem canalizados para os bancos e para empréstimos e com isso a estaganação ser realimentada.

É hora de gastar. A melhor alternativa para realimentar a economia é elevar o gasto público. Mas também cabe lembrar que isso não funcionou no Japão, o déficit público disparou, a dívida pública se tornou uma das maiores do mundo como proporção do PIB e o país continuou estagnado.

Ou seja, o pior das crises é que não há receitas prontas para sair delas.

domingo, 14 de dezembro de 2008

A imprensa de oposição e a crise

Abaixo segue exemplo de análise completamente equivocada feita pela imprensa de oposição. É um texto publicado por Lúcia Hipólito no seu blog. Não tem o menor cabimento, por exemplo, afirmar que a crise chegou numa intensidade insuspeitada no Brasil, exatamente porque se for considerar o que a imprensa diz diariamente o Brasil já estaria falido e quebrado. A criatura quer apenas dar uma dimensão maior e pôr em xeque o governo e a política econômica. A má vontade é tanta que enquanto no mundo inteiro o governo está elevando os seus gastos para conter a crise, Lúcia Hipólito quer que o governo contenha os gastos. Aí fica a questão se é ignorância ou se é o espírito oposicionista se sobrepondo à verdade.

Hoje a pergunta é quem acaba com o Brasil primeiro, a imprensa ou a crise.

crise chega ao Brasil

Lula precisará ser malabarista

A crise internacional chegou rapidamente ao Brasil, e numa intensidade insuspeitada.

Empresários ficam mais cautelosos, bancos escurtam o crédito, consumidores se perguntam se devem mesmo sair por aí comprando tudo.

Enquanto isso, o presidente Lula, que até agora vinha dando shows de um otimismo ligeiramente inconseqüente, parece que caiu na real.

Reuniu-se com empresários para tratar de medidas para conter a crise e ajudar o país a passar pela turbulência com um mínimo de danos.

No encontro, o presidente declarou que vai fazer “o que for possível” para manter os investimentos. E mais: disse que o que poderá fazer, eventualmente, será reduzir o custeio.

O perigo está no “eventualmente”.

Isto significa que o presidente ainda não está convencido de que o inchaço da máquina pública é um obstáculo para manter as contas em dia.

A arrecadação pode cair, o que é natural, quando há retração da atividade econômica, resultando em menos recursos à disposição do governo.

Para não prejudicar os programas sociais, o governo só poderia cortar gastos enxugando a máquina.

Mas um dos principais problemas é que o presidente se eliquilibra politicamente numa base aliada muito extensa, com interesses muito diferenciados.

E uma goela muito grande.

Cada MP para ser aprovada, cada projeto, cada proposta de emenda constitucional acaba custando caríssimo aos cofres públicos, em emendas parlamentares, em empreguismo desenfreado, em obras do PAC nos estados de suas excelências.

Como ainda tem dois anos de mandato, o presidente Lula está na torcida para a crise acabar antes do final de seu governo.

Pois terá que manter alimentada a base aliada, manter a gordura da máquina pública e, ao mesmo tempo, lutar contra a inflação e a desaceleração da economia.

Realmente, o presidente precisará de toda a sua habilidade para manter este equilíbrio complicado.

Nesta hora, 70% de popularidade ajudam muito.

http://oglobo.globo.com/pais/noblat/luciahippolito/post.asp?t=lula-precisara-ser-malabarista&cod_Post=146577&a=431

A crise é grave, mas a imprensa amplifica a crise no Brasil

É evidente que a crise é grave, é óbvio que a crise irá atingir o Brasil. Mas até o momento os efeitos da crise no Brasil se manifestam através do pânico e do medo difundido pela imprensa. A imprensa que faz oposição ferrenha ao governo Lula procura amplificar a crise o que afeta o esado de confiança na economia brasileira. Até agora os números negam a crise no Brasil. Os dois indicadores de crise o câmbio e a bovespa não passam de epifenômenos. Estes indicadopres não expressam os fundamentos ou a situação da economia, estes indicadores precisam ser explicados e são explicados pela especulação que busca o lucro de curto prazo, pelas notícias enviesadas da impresa. O Brasil cresceu mais de 6% no trimestre passado, provavelmente a taxa de crescimento cairá neste semestre, mas isto ainda é muito mais uma questão conjuntural do que um indicador da trajetória da economia.

A trajetória da economia no ano que vem será definida pelas políticas governamentais. Nos EUA, o governo ainda não foi capaz de definir uma política de Estado para o combate à crise, o caso da ind´pustria automobilítica demonstra isso. E esta política stop and go vai acabar por aprofundar a crise nos EUA e no mundo. Por incrível que pareça neste momento o governo brasileiro tem ma margem de manobra maior para atuar e defender o país da crise. Mas está o momento o governo está passivo. Não basta garantir socorro aos bancos, é preciso fazer que os bancos privados mudem de comportamento. Neste sentido é alvissareira a posição do governo de forçar o Banco do Brasil e a CEF a continuarem emprestando e praticando juros mais baixos. Todavia é preciso fazer mais, a ajuda aos bancos deve ter contrapartida na liberação do crédito às empresas e consumidores já que de todo modo o prejuízo está sendo socializado. Então que se socialize o eventual prejuízo de uma política que visa o crescimento e não de uma política contracionista onde pagamos a conta de uma política que já sabíamos antecipadamente que pioraria nossa situação.

Além disso, é urgente introduzir controles de capital. Não é possível aceitar saída de cpaitais de natureza especulativa. O governo fez a besteira de aceitar a valorização do real nos últimos anos, não fez nada para defender o país, se tivéssemos mantido o câmbio desvalorizado hoje a pressão sobreo seria menor. Não fez isso? Agora é preciso conter a saída de capitais, controlar a demanda por dólar e fazer uma desvalorização controlada do real ao longo do tempo.

Idealmente, o governo deveria reduzir os juros. Mas nem seria preciso reduzir drasticamente. Se os juros relativamente altos estiverem atraindo dólares para o Brasil os juros altos se justificam, do contrário, os juros podem cair significamente.

E com queda ou não dos juros, é preciso elevar o gasto público. O governo deveria definir imediatamente um grande programa de obras públicas para as principais capitais do país para sustentar o nível de emprego. Neste sentido,  se o governo iniciar um amplo programa de habitação popular como foi noticiado pela imprensa estará no caminho certo. Estender o seguro desemprego também é positivo.

Caso as exportações declinem é importante abrir o mercado interno para estes produtos. Então o governo deve analisar quais produtos terão suas exportações prejudicadas para iniciar um programa de estímulo ao consumo interno destes produtos como compensação. É fundamental manter o nível da demanda agregada.

Dilma e Serra

Voltarei a um assunto já tratado aqui. Seja o Serra, seja a Dilma estaremos bem servidos de presidente em 2011, especialmente se a crise mundial se agravar e estender por longos anos. Os dois tem uma visão a favor da ação econômica do Estado, e conhecem suficientemente história para entender os diferentes arranjos institucionais que podem viabilizar o desenvolvimento mesmo em meio à crise.

A pior alternativa seria Aécio Neves. A pesar da imprensa tratar Serra e Aécio apenas como uma disputa pessoal, de egos. Na verdade há uma disputa mais profunda que a imprensa não gosta que é sobre visões de mundo, de políticas. E a diferença está aí, Serra tem um projeto quer se goste dele ou não. Aécio é um aventureiro, um carreirista, que nunca sentou para pensar o Brasil.

Expectativas, incerteza e política econômica

Expectativas, incerteza e política econômica

Escrito por Corival Alves do Carmo

01-Dez-2008

O objetivo deste artigo é mostrar como as expectativas e a incerteza afetam a política econômica e são afetadas por ela. Partindo do tratamento dado por John Maynard Keynes, Milton Friedman e os Novos Clássicos à questão das expectativas, procura-se mostrar como no atual contexto de grande fluxo de informação e volatilidade nos mercados financeiros a política econômica mostra-se ineficaz na reversão de expectativas o que faz com que aparentemente os programas de ajuda aos bancos e ao sistema financeiro sejam sempre insuficientes e a crise continue.

Quando Keynes analisa o cenário econômico após 1929, ele identifica que a crise decorre a insuficiência de demanda efetiva. E a demanda efetiva se contrai em função da queda no nível dos investimentos. O nível dos investimentos declina porque a expectativa sobre a taxa de lucro, sobre o retorno dos investimentos declinam. O empresário olha para as bolsas as ações estão se desvalorizando, verifica os estoques e os estoques estão se acumulando, os preços estão em declínio, as dívidas mantém o seu valor de face e, portanto num cenário de deflação estão tendo um crescimento real além dos juros que terão que ser pagos. O comportamento racional do empresário é retrair os investimentos. A questão é que a retração dos investimentos, que é o comportamento “correto” e racional do ponto de vista do empresário individual, do ponto de vista agregado produz uma nova retração na demanda agregada, gera desemprego, aumenta os estoques acumulados, reforça a tendência deflacionista, ou seja, realimenta a crise.

Continua:

http://revistaautor.com/index.php?option=com_content&task=view&id=321&Itemid=54

Os riscos da crise

Nouriel Roubini no Financial Times afirma que o Banco Central, durante a crise, já deixou de ser emprestador em última instância para ser emprestador em primeira instância dada a contração do crédito por parte dos bancos.

O governo se tornou o único agente a fornecer recursos ao sistema econômico. O pior é que o fato do governo fornecer recursos a um banco ou outro não faz com que os bancos ajudados liberem o crédito para o público, pessoas físicas e empresas. Ou seja, salvar bancos até o momento não aliviou a crise, a reação do sistema bancária à ajuda do governo tem sido no sentido de agravar a crise e gerar novas demanadas de recursos públicos. Evidentemente este processo é insustentável. Na medida em que os governos socializaram o prejuízo de todo mundo é preciso forçar os bancos ajudados que liberem o crédito. O propósito da ajuda é restaurar a confiança no sistema e permitir a retomada do sistema de crédito, se os bancos continuam expressando uma sensação de pânico e contrai o crédito o dinheiro do governo é jogado fora. É preciso mais Estado para salvar os bancos das finanças neoliberais.