"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 21 de dezembro de 2008

Esperança enquanto resistência

Transcrevo abaixo dois trechos do livro Teologia da Esperança do teólogo protestante alemão Jürgen Moltmann. O subtítulo de onde os dois trechos foram retirados intitula-se "A esperança frustra a felicidade do ser humano no presente?" No primeiro trecho está exposta a posição dos críticos, no segundo trecho, o autor apresenta a visão da esperança cristã.

A especificidade de Moltmann e que será incorporada à outras correntes teológicas é que a esperança deve ser sentida e vivida na história, realiza-se na história. A chave fundamental para toda ação política de longo prazo é ser capaz de alimentar e realimentar a esperança, a capacidade de lutar por algo que não se tem apesar de todas as desventuras que se vive. Todas as utopias se alimentaram disso e se esvaem na medida em que são incapazes de renovar a esperança. A crise do nosso tempo é a crise da esperança. Com todos os valores em xeque já não se realiza a renovação da esperança, e os indivíduos crescentemente substituem a esperança pelo consumo. Só se dispõe a sacrificar o presente, inclusive o consumo, quem tem esperanças no futuro. na sua ausência procura-se experimentar o prazer do momentâneo antes que seja tomado pelo vazio da existência. Qualquer coisa é usada para encobrir o vazio da existência sem esperança e sem futuro. A esperança neste sentido é uma forma de resistência, de enfrentar o mundo que cada vez mais se mercantilização e esvazia o significado da existência. Crescentemente viver é apenas consumir. Recuperar a esperança é pôr um freio neste processo. É retomar a construção do futuro e do domínio da história pelo homem. É uma pena que todos os grandes projetos sociais e mesmo o cristianismo estejam sendo esvaziados e a esperança esteja definhando. Como disse Marx no Manifesto Comunista tudo que é sagrado será profanado, tudo que é sólido se desmancha no ar. Há uma crescente mercantilização das religiões que as tornam vazias de significado do cristianismo, passado pelo budismo e hinduísmo, até o islamismo. Religião se associa cada vez mais a um padrão de consumo do que a uma forma de vida e existência. E quanto mais a religião é despida de seu papel de baluarte da esperança mais espaço para o fanatismo. O fanático opõe-se à esperança. O fanático é o desesperado. Mas por mais que o mundo não dê sinais de renascimento da esperança é preciso ter esperança, e ter esperança é acreditar na vida sempre, ainda quando estamos diante da morte.

Os críticos:

"A mais séria objeção contra uma teologoia da esperança não provém da presunção nem do desespero - pois essas duas atitudes da existência humana pressupõem a esperança -, mas opõe-se à esperança a partir da religião da humuilde aceitação do presente: não é somente no presente que o ser humano é alguém, uma realidade, um contemporâneo de si mesmo, alguém em harmonia com o mundo, uma pessoa determinada? A lembrança o agrilhoa ao que passou, ao que não existe mais; a esperança o atira ao futuro, ao que ainda não existe. O passado o faz lembrar-se de ter vivido, mas não o leva a viver; o faz lembrar-se de ter amado, mas não o leva a amar; o faz lembrar-se dos pensamentos dosoutros, mas não o leva a pensar. Fato semelhante parece dar-se em relação à esperança: ele espera viver, mas não vive; espera um dia tornar-se feliz, e esta espera faz com que o indivíduo passe ao largo da felicidade do presente. Ao se lembrar e ao esperar, ele jamais estará inteiramente dentro de si mesmo ou em seu presente; corre sempre atrás dele ou se antecipa a ele. As lembranças e as esperanças parecem frustá-lo quanto à felicidade de existir indivisamente no presente. Elas o privam de seu presente, arrancam-no e o lançam para tempos que não existem mais ou ainda não existem. Elas o entregam ao não-existente e o abandonam ao nada. Pois tais ocorrências o arrastam para a correnteza da transitoriedade, para o redemoinho do nada."

A esperança cristã :

"O amor não tira ninguém da dor do tempo, antes toma sobre si a dor daquilo que é temporal. A esperança prontifica-se a carregar a "cruz do presente". Ela pode suportar a morte e esperar o inesperado. Ela pode dizer sim ao movimento e desejar a história, pois o seu Deus não é aquele que "nunca foi nem será jamais, por existir agora como um todo", mas o Deus "que vivifica os mortos e chama o que não é para que seja". O círculo de ferro do dogma da desesperança, ex nihilo nihil fit, é rompido quando se reconhece como Deus alguém que resusscita os mortos. Quando começamos a viver na fé e na esperança das possibilidades e promessas desse Deus, abre-se diante de nós toda a plenitude da vida enquanto vida histórica, a qual assim pode ser amada. Somente no horizonte desse Deus se torna possível um amor que é mais do que filía, amor ao existente e ao igual, mas agapé, amor para com o não-existente, amor para com o desigual. com o indigno, sem valor, perdido, transitório e morto; um amor que é capaz de tomar sobre si o que há de aniquilador na dor e na alienação de si mesmo, porque tira sua força da esperança na creatio ex nihilo. Ele não afasta o olhar do não-existente para dizer "não é nada", mas ele mesmo se torna a força mágica que tudo traz à existência. Pela esperança, o amor mede as possibilidades que lhe foram abertas na história. Pelo amor, a esperança tudo encaminha para as promessas de Deus.

"Será que tal esperança frustra o ser humano da felicidade do presente? Como poderia fazê-lo, se é, ela mesma, a felicidade do presente! Ela chama de bem-aventurados os pobres, aceita bondosamente os fatigados e sobrecarregados, os rebaixados e atormentados, os famintos e moribundos, porque conhece que para esses existe a parúsia do reino. A espera torna a vida agradável, pois, esperando, o ser humano pode aceitar todo o seu presente e encontrar prazer não só na alegria, mas também no sofrimento, e bem-estar não só na felicidade, mas também na dor. Dessa forma, a esperança atravessa felicidade e dor, porque é capaz de ver um  futuro também para o que passa, o que morre e o que está morto, futuro que está nas promessas de Deus. Por isso, se poderá dizer que viver sem esperança é como não viver mais. Inferno é desesperança e não é em vão que na entrada do inferno de Dante está escrita a sentença: "Abandonem toda esperança os que entram aqui".

"Um "sim" ao presente, que não pode e não quer ver a mortalidade, é ilusão e escapatória, não superada nem mesmo pela afirmação da eternidade do instante que passa. Mas a esperança colocada no creator ex nihilo se torna felicidade no presente, quando pelo amor se mostra fiel a tudo, nada deixando ao nada, mas mostrando a tudo a abertura em direção ao possível, onde poderá viver e viverá. Essa felicidade é mutilada pela presunção e pelodesespero e totalmente arruinada pelo sonho do presente eterno."

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