"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 27 de março de 2010

O incidente Paulo Nogueira vs Colômbia

26/03/2010 - 17:40

O incidente Paulo Nogueira vs Colômbia

Do Valor Online

EXCLUSIVO: Colômbia proíbe Paulo Nogueira de representar país no FMI

Alex Ribeiro | Valor26/03/2010 15:09

WASHINGTON – A Colômbia enviou carta ao Fundo Monetário Internacional (FMI) proibindo o brasileiro Paulo Nogueira Batista Júnior de representar o país nas reuniões da diretoria executiva do organismo.

O documento, do qual o Valor obteve cópia, é o primeiro gesto concreto dos colombianos em protesto à demissão, feita por Batista, da sua diretora alterna no Fundo, Maria Inês Agudelo.

Na semana que vem, um funcionário do banco central da Colômbia, Hernando Vargas, representará o país na reunião de análise do chamado relatório do artigo IV, documento anual que faz o exame da situação econômica de cada membro do FMI.

A Colômbia ameaça deixar definitivamente o grupo representado pelo Brasil dentro do FMI, embora o movimento seja pouco provável, já que nele o país andino consegue uma projeção bem maior do que economias sul-americanas de importância semelhante representadas em outros grupos.

A Colômbia indicou ainda que não pretende votar pela condução de Batista para um novo mandato de diretor-executivo no FMI nas eleições que ocorrem em outubro.

O presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, enviou por intermediários ao presidente Lula o seu desagrado com o incidente. O ministro da Fazenda da Colômbia, Oscar Ivan Zuluaga, reclamou com seu colega brasileiro, Guido Mantega, e veio pessoalmente a Washington para conversar sobre o assunto com o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn.

O Valor ouviu nos últimos dias fontes do FMI, dos círculos diplomáticos e de governos para apurar as circunstâncias da demissão. Os relatos indicam que o incidente foi causado por divergências pessoais, sem relação com os interesses das duas economias dentro do Fundo.

A personalidade forte de Batista, segundo os relatos, gera atritos não só com a colombiana, mas também com funcionários do FMI, representantes de outros países no organismos e com brasileiros que atuam na linha de frente nas negociações internacionais.

Todas as pessoas ouvidas falaram de forma reservada, com exceção de Batista.

“Minha decisão até agora era não falar sobre um assunto que diz respeito exclusivamente a relações profissionais e não tem nenhuma ligação com a representação dos dois países”, afirma Batista, negando desavenças pessoais.

“Mas, diante de tudo que outras pessoas disseram e da reação do governo da Colômbia, tenho que vir a público para esclarecer o que é verdade.”

A demissão ocorreu em 17 de fevereiro, quando Maria Inês retornou de uma missão oficial do FMI à Colômbia. Ela foi chamada ao gabinete de Batista, que mandou-a embora “por ser incompetente para exercer as funções”, segundo relatos feitos a terceiros pelos dois participantes do encontro. Maria Inês recebeu o prazo de 24 horas para esvaziar as gavetas.

Batista tem outra versão. Ele nega ter usado o termo “incompetente” e ter dado um prazo tão sumário.

“Havia conversado várias vezes com ela sobre as dificuldades de conduta e procedimentos e, no dia do desligamento, disse que não precisava recapitular as razões”, afirmou. “Minha opinião é que não é bom uma pessoa demitida continuar trabalhando no escritório.”

Maria Inês “é uma pessoa socialmente agradável”, afirma Batista, por isso ele teve durante muito tempo um bom relacionamento com ela. Mas em determinado momento teria havido “uma evolução profissional desfavorável”.

Fontes ouvidas pelo Valor, entretanto, dizem que a demissão foi o desfecho de três anos de desentendimentos, que surgiram logo quando Batista e Maria Inês assumiram os respectivos cargos, no início de 2007.

Maria Inês é uma economista de formação ortodoxa, e Batista, um heterodoxo, mas o péssimo relacionamento entre eles nada tem a ver com questões ideológicas. “Os conflitos eram na forma, não no conteúdo”, afirma uma fonte que acompanhou bem de perto o trabalho de ambos.

Maria Inês trabalhou no banco central colombiano e foi vice-ministra da Fazenda, o segundo cargo mais importante na hierarquia da instituição, no governo conservador do presidente Uribe.

Batista é um professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, um reduto de economistas alinhados ao pensamento não-ortodoxo, e foi assessor para assuntos da dívida externa do então ministro da Fazenda Dilson Funaro na década de 1980, quando o país decretou a moratória.

“Quando o Paulo Nogueira foi indicado para o FMI, muita gente disse que ele ia propor coisas diferentes, mas a verdade é que ele toca a mesma agenda dos antecessores”, afirma um funcionário do corpo técnico do organismo. “A Maria Inês é muito pragmática.”

O principal interesse do Brasil no FMI é o aumento de sua cotas na instituição, para garantir maior poder de voto nas decisões do organismo. Essa é, porém, uma bandeira defendida há décadas pelos representantes do país.

Na gestão de Batista, foi criada uma linha de empréstimo flexível, sem condicionalidades, mas as discussões sobre o tema já estavam avançadas quando ele foi alçado ao cargo. Batista, porém, diz que seu esforço foi fundamental para concretizar a nova linha, pois as propostas apresentadas até então eram pouco factíveis.

Os conflitos surgiram quando Batista e Maria Inês redigiram conjuntamente os seus primeiros textos. Embora Maria Inês seja uma representante autônoma da Colômbia, a estrutura hierárquica dentro do FMI a coloca um degrau abaixo de Batista. Todos trabalham em equipe, e o que um diretor alterno escreve normalmente é revisto pelo seu superior direto, o diretor-executivo.

“O Paulo Nogueira devolvia para ela os textos cheios de comentários, alguns deles fora de tom”, relata uma fonte que leu documentos que transitaram entre um e outro. “Isso deixou a Maria Inês bastante ressabiada e, de início, impediu que surgisse um ambiente de trabalho construtivo entre os dois.”

Batista acumulou, ao longo de três anos, atritos com outras pessoas do corpo administrativo da representação brasileira e já demitiu um consultor indicado por outro país, a República Dominicana.

Portanto, não se tratava, diz uma fonte, de nada pessoal contra Maria Inês. “Ele faz isso com todo mundo.” Alguns de seus subordinados não ligam para observações mais contundentes e acham bem vindas as intervenções do superior.

“Ele é muito bom na expressão oral e escrita e não deixa passar nenhum flanco no raciocínio”, diz uma fonte que já submeteu seus escritos ao crivo do representante brasileiro no FMI.

Filho de um diplomata de esquerda, Batista passou parte da infância Nos Estados Unidos e no Canadá e tem pleno domínio do inglês, idioma em que são escritos os documentos no organismo. “Isso pode ajudar no produto final, se você não der bola para as observações mais provocativas que ele faz.”

Batista reconhece que é exigente, mas pondera que não lê todos os textos, delega tarefas, faz observações de forma cordial e está aberto a observações de terceiros.

“Há profissionais excelentes por aqui que melhoram as coisas que eu produzo”, afirma. “Garanto que não sou mais exigente com as outras pessoas do que sou comigo mesmo.”

No ranking de produção de documentos entre as representações de países no FMI, a liderada pelo Brasil fica nos últimos lugares. É uma posição, porém, que simplesmente não reflete a intensa carga de trabalho do escritório. Batista sofre de insônia crônica e dá expediente até altas horas da noite e também aos sábados e domingos. “Ele liga pedindo coisas fora do expediente”, diz um funcionário.

Em fevereiro, Washington foi atingida pela maior nevasca em 80 anos, com ruas bloqueadas, quedas de energia, casas sem aquecimento e interrupção nos transportes coletivos. As principais repartições públicas, o FMI e as escolas suspenderam as atividades, mas Batista convocou os funcionários para trabalhar.

“As pessoas simplesmente não tinham como chegar ao escritório”, diz uma fonte. “Vim trabalhar todos os dias na nevasca, mas fiquei praticamente sozinho aqui no escritório”, afirma Batista.

Depois dos primeiros desentendimentos, Batista começou a dizer pelos corredores do FMI que Maria Inês era incompetente, e afirmava se ressentir por não ter uma diretora alterna em quem pudesse confiar para dividir o trabalho.

O brasileiro delegava cada vez menos funções a sua diretora-assistente, e enviou alguns de seus consultores para substituí-lo nas reuniões da diretoria executiva, função que, em tese, deveria ser da diretora alterna. Batista nega que tenha feitos comentários a terceiros e diz que não só diretores e alternos podem participar das reuniões.

Em dezembro, Batista enviou cópias de textos escritos por Maria Inês, com correções feitas por ele próprio, ao presidente do banco central da Colômbia, José Dário Uribe, que é a autoridade do país que cuida das relações com o FMI.

Com esse material, Batista queria convencê-los de que Maria Inês não era qualificada para exercer o cargo. Uribe respondeu que os textos eram escritos em diferentes estilos e expressavam distintos pontos de vista, mas ambos tinham os padrões de excelência para circularem no FMI. Batista sustenta que o ministro colombiano nunca deu resposta ao relatório enviado.

“Não falta competência técnica à Maria Inês”, afirma uma fonte que trabalhou com ela no FMI. Antes de ir ao FMI, ela foi durante seis meses diretora alterna de Otaviano Canuto quando ele era o diretor-executivo no Banco Mundial.

“Sua passagem por aqui foi muito rápida, mas houve tempo suficiente suficiente para perceber que ela é uma profissional qualificada”, diz um quadro técnico do Banco Mundial.

Pelas regras do FMI, Batista tinha poderes para demitir sua diretora alterna. “A administração do FMI não se envolve na indicação dos diretores executivos, alternos e pessoal administrativo”, disse um porta-voz do Fundo, respondendo a consulta do Valor.

“Com respeito aos diretores alternos, o regimento do Fundo diz que cada diretor-executivo deve ter um alterno, e que apenas o diretor executivo tem autoridade para indicar e demitir seu alterno.”

Não haveria maiores problemas se o Brasil não tivesse um acordo assinado com a Colômbia que rege a cadeira dos dois países no Fundo. O Brasil tem apenas 1,4% dos votos no FMI, percentual insuficiente para, sozinho, ter uma das 24 posições na diretoria executiva.

Por isso, o Brasil faz alianças com outros países da região. A Colômbia, por exemplo, tem 0,4% dos votos. Também integram o grupo do Brasil no FMI o Equador, Haiti, Trinidad e Tobago, Guiana, Suriname, República Dominicana e Panamá. Tudo somado, o grupo tem 2,4% dos votos.

Em 2004, o Brasil assinou um contrato com a Colômbia, com vigência até 2016. O Brasil assegura para si o direito de apontar o diretor executivo, e a Colômbia, o diretor alterno. O alterno colombiano intervém nos assuntos diretos de seu interesse, como no caso da linha de empréstimo contingente de US$ 10,7 bilhões que o FMI abriu para o país.

Em outros assuntos, o representante do Brasil deve sempre consultar a Colômbia para apresentar um voto comum. O Brasil também tem direito a apontar um consultor; o Equador, outro; e Trinidad e Tobago, um terceiro.

Batista insiste que os países têm direito a apontar nomes, mas a nomeação e demissão fica a critério do diretor-executivo. “O diretor tem que trabalhar com pessoas em que ele confia”, afirma.

O problema, dizem autoridades colombianas, é que esse foi um acordo de cavalheiros e que não há como executá-lo. Autoridades colombianas alegam ainda que Batista não cumpria à risca a obrigação de consultá-los em assuntos de interesse geral discutidos no Fundo.

O comportamento padrão, afirma uma fonte, era o envio de um calhamaço de papel por e-mail às vésperas da tomada de uma decisão importante. Batista, por outro lado, afirma que o FMI é que se encarrega de informar os membros sobre todos os assuntos, mas nem todos os países têm estrutura ou capacidade para digerir essa massa enorme de informações.

Os diretores executivos, então, tratam de estabelecer uma comunicação direta e concisa, para assegurar que todos acompanham os pontos realmente importantes.

Batista teria, segundo relatos ouvidos pelo Valor, um comportamento autônomo também em relação ao Brasil. Essa foi a causa de um atrito que ele teve em 2007 com seu então superior imediato, o secretário de assuntos internacionais, Luiz Eduardo Melin, numa discussão sobre a reforma do fundo num encontro do G-20.

“O Paulo Nogueira defende ideias próprias”, disse um funcionário do governo brasileiro. Batista diz que, na estrutura hierárquica, ele não deve responder à Secretaria de Assuntos Internacionais. Também nega que defenda propostas autônomas em relação ao Brasil. “Quem dá a diretriz é o ministro da Fazenda e, em casos mais importantes, o presidente da República.”

Os países representados por Batista estão satisfeitos. “Não tivemos nenhum problema na representação da Colômbia, até porque ele não falava pelo país”, afirma o funcionário do governo.

O Haiti, por exemplo, se mostra bastante satisfeito com as gestões de Batista para liberar recursos depois do terremoto. Até o Equador, que rompeu com o FMI, tem bom relacionamento com Batista, com ajuda, em parte, da afinidade ideológica entre as duas partes.

“O Paulo Nogueira é muito bom na defesa dos interesses dos países nas reuniões da diretoria executiva”, afirma uma fonte que já o viu em ação. O estilo, porém, não é de quem procura montar consensos, mas de quem desmontra os argumentos dos adversários e procura o apoio dos aliados.

“Já vi ele apontar as contradições nas propostas apresentadas pelo (diretor-gerente do Fundo), Strauss-Kahn, angariar apoios e levar decisões para um lado completamente diferente.”

Incidentes como o que ocorreu com a colombiana, porém, minam um pouco da capacidade de influenciar decisões. Maria Inês procurou diretores executivos para relatar o episódio, e parte deles deles tomou as dores da colombiana.

“As reuniões são uma espécie de teatro, em que são encenadas decisões costuradas nas conversas informais entre os representantes”, afirma uma fonte que conhece bem o processo decisórios dessas reuniões. “As boas relações pessoas são fundamentais.”

Uma fonte de atrito são as colunas que Batista escreve semanalmente na “Folha de S. Paulo” e em “O Globo”. Logo que assumiu o cargo, em maio de 2007, ele relatou uma conversa no FMI que tivera com Mantega e o então diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato.

“O que estão dizendo na imprensa sobre o Paulo Nogueira não é verdade. É muito pior!”, Mantega disse a Rato, segundo relato de Batista. Rato, segundo o artigo, riu amarelo e retrucou. “Não se preocupe, nós vamos soterrá-lo com documentos.”

“O conteúdo dessa conversa é bastante inocente”, diz um técnico do FMI. “Mas acendeu uma luz amarela: as conversas com Paulo Nogueira poderiam aparecer impressas no jornal do dia seguinte.”

Os artigos de Batista são traduzidos para o inglês e divulgados dentro do sistema do FMI. No princípio, Batista achou meio divertido. “Não reclamo, claro. Fico até muito satisfeito”, disse em um artigo publicado em junho de 2008.

“Por outro lado, fico também com uma sensação um pouco estranha de que estrangeiros estão bisbilhotando o meu diálogo, estritamente particular, com o leitor brasileiro.”

Batista reconhece que, no princípio, o fato de ele escrever artigos causou algum estranhamento, porque era algo inédito. Mas, argumenta, com o tempo as pessoas perceberam que ele não trata nos artigos de nada que não seja público.

O conselho de ética do FMI, relata, abriu uma investigação sobre o tema a pedido de alguns representantes de países europeus. Traduziu 70 artigos e, desses, apontou dois que teoricamente revelariam assuntos sigilosos.

Batista, segundo seu relato, teria comprovado que os assuntos desses artigos eram públicos. O comitê de ética emitiu uma orientação, então, para ele dizer nos seus artigos que neles “expressa seus pontos de vista em caráter pessoal”.

Um tema que se repete nos seus artigos são os esforços brasileiros para aumentar a sua cota no Fundo. Países emergentes tem cotas de menos, e algumas economias europeias tem representação desproporcional ao seu peso econômico atual.

Em fevereiro passado, Batista escreveu que, no momento, os europeus comandam 9 das 24 cadeiras da diretoria. E seguiu adiante: “Nas reuniões da diretoria-executiva do FMI, não raro, temos que exercer toda a nossa paciência e escutar nove vezes a mesma mensagem…”

“Esse artigo causou um problema danado aqui”, afirma um técnico do FMI. “Os europeus já não gostavam dele, devido ao seu estilo para defender suas posições. Mas o artigo pegou muito mal com representantes de outros países, potencialmente nossos aliados, que tomaram as dores dos europeus.”

Batista nega que tenha desentendimentos insuperáveis com os europeus e diz que, com frequência, obtém o apoio deles. Ele argumenta que escreve os artigos porque, ao Brasil e aos demais países emergentes, interessa a discussão de temas como o desequilíbrio de representação seja feita em público, enquanto para alguns paises europeus o melhor é que sejam mantidos em segredo. Ele afirmou desconhecer que o artigo feriu suscetibilidades. “Evidentemente, fiz uma piada.”

Muitos diretores executivos tiveram problemas com seus alternos ou consultores, mas poucos agiram. Alguns governos mandam pessoas poderosas para esses cargos e, não raro, usam o posto como um cabide de emprego no exterior para acomodar um quadro político que ficou sem lugar na terra natal.

Alguns deles não aparecem para trabalhar e outros fazem corpo mole. “Acaba sobrando mais trabalho para os outros, mas é de bom tom acomodar a situação”, diz uma fonte que já trabalhou num organismo multilateral. “Se a coisa fica feia mesmo, o caminho é procurar o governo e pedir para trocar o representante. Demitir, jamais.”

Batista afirma que tentou, de todas as maneiras, fazer a Colômbia substituir a diretora alterna. Ele reconhece que, embora haja bons quadros no FMI, alguns governos não fazem bom uso de suas representações.

“Não estou 100% satisfeito com todas as pessoas que trabalham comigo, mas me esforço para tocar adiante, para não potencializar os problemas que já são enormes”, afirma. “Mas tenho defendido nas reuniões do FMI a criação de uma regra que diga que, para assumir cargos aqui dentro, as pessoas tenham uma qualificação mínima.”

A carta enviada pelas autoridades colombianas representa apenas um rompimento branco. A atitude mais radical seria abandonar o grupo do Brasil. “O ministro Mantega enviou uma carta ao colega colombiano pedindo que ele indique outra pessoa ao cargo”, afirma uma fonte de Brasília.

“O melhor seria que eles apontassem outra pessoa. Mas, se resolverem deixar o grupo, não podemos fazer muito a respeito. O ministro Mantega disse que aceita e entende as razões do Paulo Nogueira.”

Se a Colômbia deixar o grupo do Brasil, terá que procurar uma outra vaga, provavelmente em outra representação latino-americana. Uma delas é liderada pela Argentina, que nomeia o diretor executivo. Mas a solução trás dois problemas. Primeiro, a Argentina rompeu com o FMI. Segundo, três países do grupo, Uruguai, Chile e Peru, revezam-se na indicação do alterno.

Outra alternativa teórica seria a cadeira que a Espanha divide com países da América Latina. A Venezuela, provavelmente, ficaria feliz em mudar para o grupo do Brasil, principalmente porque seu presidente, Hugo Chaves, teve um sério desentendimento com o rei da Espanha, Juan Carlos. Mas o cargo de alterno nessa cadeira está com o México.

“O mais provável é que a Colômbia empurre o assunto com a barriga, com a esperança de que o Paulo Nogueira deixe o cargo em fins desse ano ou no próximo, quando o Brasil tiver eleito seu novo presidente da República”, avalia um técnico do FMI.

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/03/26/o-incidente-paulo-nogueira-vs-colombia/#more-53273

quinta-feira, 25 de março de 2010

Os mitos sobre a moeda chinesa

22/03/2010

Os mitos sobre a moeda chinesa

International 
Herald Tribune

Pieter Bottelier e Uri Dadush

  • Funcionária do Banco da China 
confere cédulas de yuan em Pequim, capital do país

    Funcionária do Banco da China confere cédulas de yuan em Pequim, capital do país

A febre da China está atacando Washington novamente à medida que o Tesouro norte-americano se aproxima de seu prazo, em meados de abril, para declarar se a China está manipulando sua moeda para obter uma vantagem injusta no comércio.

Embora faça parte dos interesses da China voltar a ter uma moeda mais flexível e valorizada, alguns mitos perigosos sobre a economia chinesa, e sobre os benefícios que os EUA teriam com um renminbi [outro nome para o yuan] mais caro, estão se espalhando novamente, alimentando a crítica entre os chineses e os lobbies protecionistas, enquanto colocam em risco a relação crucial entre os dois países. Eis alguns dos mitos:

O crescimento da China depende principalmente das exportações. As exportações são importantes para a China, mas a demanda doméstica é o principal motor do seu crescimento. Embora as importações da China tenham crescido quase tão rápido quanto as exportações durante a década anterior à crise, as exportações líquidas responderam por apenas um ponto percentual da taxa média de crescimento anual do país de 9,5%.

A China não contribuiu o suficiente com a demanda global durante a crise. Como resultado do agressivo e bem sucedido programa de estímulo da China, a demanda doméstica expandiu-se 12,3% em 2009 (enquanto nos EUA ela diminuiu 2,6%). Como resultado, o atual superávit da China e o déficit norte-americano caíram drasticamente. A China fez mais do que qualquer outro país para tirar o mundo da recessão.

O consumo da China não está crescendo rápido o suficiente. O consumo doméstico cresceu em média 7,5% ao ano durante os dez anos anteriores à crise, mais rápido do que em qualquer outra grande economia, embora o investimento e o PIB tenham crescido mais ainda, fazendo com que a relação entre o consumo e o PIB caísse a um nível extraordinariamente baixo. Em 2009, o consumo da China cresceu mais rápido do que o PIB pela primeira vez em muitos anos.

A valorização do renminbi ajudará os Estados Unidos. O efeito imediato da valorização da moeda chinesa será o aumento dos preços para os consumidores dos EUA. Uma valorização de 25% do renminbi, que alguns economistas dizem que é necessária – se não for compensada por uma redução nos preços da China – acrescentaria US$ 75 bilhões (R$ 132 bilhões) à conta de importação dos EUA. E como os EUA importam três vezes mais da China do que exportam para o país, o aumento das exportações dos EUA para a China não chegaria nem perto de compensar a perda de poder aquisitivo dos consumidores norte-americanos devido ao aumento dos preços da China.

No fim das contas, embora algumas companhias norte-americanas possam sair ganhando e alguns empregos possam ser criados no setor de exportação, o consumidor norte-americano sairá perdendo.

A valorização do renminbi é fundamental para reduzir o desequilíbrio do comércio global. Mas a revalorização por si só não faria muito para corrigir o desequilíbrio, e poderia, como foi mencionado, levar inicialmente a um déficit ainda maior no comércio entre os EUA e a China. A menos que a demanda interna dos EUA caia por outros motivos, é mais provável que no final o déficit de comércio dos EUA como um todo mal se modifique à medida que o país passe a importar mais de outros locais.

A China manipulou sua moeda durante anos. Cerca de 60 países fixam suas taxas de câmbio em relação ao dólar hoje, e nem todos as manipulam. A China fixou o renminbi no meio da crise asiática em 1997, ganhando a aclamação dos EUA e de outros países por contribuir com a estabilidade regional.

As queixas surgiram em 2003 com o aumento do superávit comercial da China e do déficit comercial dos EUA-China, uma tendência que se acelerou nos anos subsequentes.

A moeda da China se desvalorizou principalmente por causa de algumas políticas macroeconômicas questionáveis dos EUA e da falta de fiscalização do sistema financeiro dos EUA, o que contribuiu para uma explosão de liquidez e uma explosão do consumo financiado por dívidas e alimentado, em parte, pelas importações baratas da China.

O rápido crescimento da produtividade no setor manufatureiro da China, devido a reformas agressivas de mercado desde o final dos anos 90, combinado com a promoção da exportação e as políticas de substituição de importações, contribuíram para os desequilíbrios cada vez maiores no comércio. Em 2005, a China adotou uma política de valorização gradual do renminbi. Sua moeda subiu 21% ao longo de três anos até julho de 2008, quando uma queda brusca nos pedidos de exportação, por causa das condições de crise nos EUA, suspendeu a política.

Debates estéreis sobre a moeda chinesa tiram a atenção das reformas mais importantes, porém politicamente mais difíceis, que os EUA precisam realizar, como o aumento do consumo e das tarifas de energia.

Quanto à China, uma moeda mais flexível e valorizada é claramente de seu interesse, uma vez que daria ao país maior controle sobre sua política monetária e reduziria o preço dos produtos importados para seus consumidores.

A taxa de câmbio nominal da China é muito menos importante do que os ajustes de política interna necessários em ambos os países.

(Pieter Bottelier é professor adjunto da Universidade Johns Hopkins e acadêmico visitante no Carnegie Endowment, onde Uri Dadush é associado sênior.)

Tradução: Eloise De Vylder

A crise do Euro

24/03/2010

Principais economistas alemães discutem a situação do euro

Der 
Spiegel

Thomas Tuma e Alexander Jung

À medida que o euro perde o respeito que costumava inspirar, muita gente está começando a temer que a união monetária possa entrar em colapso. Em uma entrevista a “Der Spiegel”, os proeminentes economistas alemães Peter Bofinger e Joachim Starbatty discutem os méritos da moeda comum europeia, e dizem se a União Europeia deve ou não intervir na economia da Grécia e no destino do euro.

Spiegel: Senhores Bofinger e Starbatty, vocês acham que a criação do euro foi um erro?

Peter Bofinger: Não, claro que não. Atualmente nós vivemos em uma zona monetária que, apesar de tudo, é significativamente mais estável do que foram no passado as zonas monetárias do dólar e do iene. O euro trouxe crescimento e prosperidade à Europa.

Joachim Starbatty: Na verdade, o euro foi um erro que teve graves consequências específicas. Uma união monetária exige que os seus membros sigam as mesmas políticas e tenham produtividade similar. O chamado critério de convergência tinha como objetivo garantir que isso aconteceria. Mas – conforme os acontecimentos dramáticos na Grécia estão demostrando agora – não foi isso o que aconteceu.

Spiegel: Você sente hoje que a sua previsão se confirmou?

Starbatty: Infelizmente, os nossos medos tornaram-se uma realidade. A união monetária foi criada com uma dose real de auto-ilusão.

Bofinger: Desculpe, não entendi.

Starbatty: O euro nos foi apresentado como sendo um programa de modernização para a Europa, e também nos disseram que isso empurraria a comunidade europeia rumo à estabilidade. Mas, na realidade, a comunidade fragmentou-se e tornou-se uma entidade verdadeiramente instável.

Bofinger: Instável? O índice de inflação tem sido moderado, permanecendo em torno de 2% desde 1999, e este índice é significativamente menor do que aquele presenciado quando a Alemanha usava o marco. Nós temos um déficit de orçamento inferior ao dos norte-americanos, japoneses e britânicos. A nossa relação entre dívida e produto interno bruto também é mais reduzida do que a dos Estados Unidos e a do Japão. Não existe nenhum motivo pelo qual o euro deva ser criticado. A decisão de cria-lo foi inteligente e ponderada.

Spiegel: Sem nenhum problema?

Bofinger: É claro que a zona do euro atualmente dá a impressão de estar em uma situação um pouco pior. Mas isto era de se esperar, tendo em vista a tempestade pela qual passou a economia global. Mesmo assim, graças à moeda comum, não é mais possível, por exemplo, desfechar ataques especulativos contra moedas individuais. Isso elimina um fator problemático fundamental que no passado desestabilizou maciçamente os mercados.

Starbatty: Mas este é exatamente o problema! No passado, as taxas de câmbio funcionavam como uma válvula. Países individuais podiam controlar as suas economias permitindo que as suas moedas ganhassem ou perdessem valor. Agora, esse mecanismo de ajuste não funciona mais e, como resultado, um tipo completamente diferente de desequilíbrio emergiu. Atualmente existem dois blocos dentro da união monetária: um bloco de moeda forte no norte do continente e um de moeda fraca no sul. O norte robusto juntou forças com os países que desvalorizaram constantemente as suas moedas no decorrer das suas histórias. Basta ver o caso da lira italiana, por exemplo. Ao final da década de cinquenta, eu pagava 6,70 marcos alemães por mil liras italianas. A taxa de câmbio final foi menor do que um marco por mil liras.

Spiegel: O que aconteceria se essas velhas moedas fossem reintroduzidas amanhã na zona do euro?

Bofinger: Isso seria uma catástrofe. O marco alemão teria que passar por uma valorização significativa – eu diria que algo em torno de 10% a 20%. Tudo o que nós nos empenhamos tanto em conseguir em termos de competitividade desapareceria da noite para o dia. Haveria lamentos e ranger de dentes na Alemanha. E a Europa estaria cometendo um grave erro se retornasse ao regionalismo e ao nacionalismo durante esta fase de globalização crescente.

Starbatty: Eu enxergo as coisas de uma forma completamente diferente. O euro foi também apresentado aos cidadãos como sendo um instrumento para garantir a paz. Eu nunca fui capaz de entender tal argumento porque, se isto fosse de fato verdade, teríamos que abrir a união monetária para todos. Em vez disso, devido ao fracasso da moeda, nós estamos testemunhando agora como o nacionalismo surgiu originalmente. Bandeiras da União Europeia já foram queimadas na Grécia.

Spiegel: Mas teria sido melhor se todos os países da Europa tivessem mantido as suas próprias moedas?

Starbatty: Sim. Uma comunidade não pode funcionar quando é composta de parceiros desiguais que devem se comportar como iguais. Com o euro, a Alemanha criou uma vantagem competitiva artificial para si, o que nos permitiu conquistar mercados em todo o mundo. Mas isso também levou à acumulação de uma capacidade excessiva maciça nas nossas indústrias de exportação e, consequentemente, as companhias voltadas para a exportação no sudoeste do Estado alemão de Baden-Württemberg estão passando por problemas. A união monetária modificou a estrutura das economias de uma forma nada saudável.

Bofinger: Ah, o que é isso! Você não pode culpar o euro por esses desequilíbrios! A responsabilidade é, fundamentalmente, das políticas econômicas. Desde 1995, não houve quase nenhum aumento apreciável de salários na Alemanha, em parte como resultado da pressão provocada pelo aumento da quantidade de mão de obra terceirizada. Os políticos fizeram tudo para aliviar os empregadores do peso de ter que pagar contribuições previdenciárias porque nós caímos neste estranho pânico, acreditando que não éramos globalmente competitivos. Com as nossas políticas econômicas, nós enfatizamos demais e equivocadamente as exportações. Os irlandeses, os gregos e os espanhóis, por outro lado, enfatizaram demais a demanda doméstica.

Spiegel: Nos últimos dias, a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, criticou repetidamente o superávit da balança comercial da Alemanha, alegando que ele é elevado se comparado ao dos outros países da União Europeia. Ela está certa ao fazer tais críticas?

Starbatty: Não. Eu creio que é estranho que Madame Lagarde esteja punindo os virtuosos, que sempre estiveram orientados para a estabilidade, e não os verdadeiros culpados.

Bofinger: Mas os alemães pecaram tanto quanto os espanhóis, por exemplo. Os espanhóis elevaram muito os seus salários, enquanto a Alemanha praticou a política oposta ao não elevar o poder de compra dos seus trabalhadores durante anos.

Starbatty: Mas, e daí? Isso fez com que tivéssemos sucesso. Foi algo que surgiu com o temor de que os empregos migrassem para o exterior. E a política de salários moderados da Alemanha fez com que o país passasse novamente a ser atraente para as companhias.

Bofinger: Você deveria olhar para isso de uma forma mais holística. Não teríamos sido capazes de aumentar as nossas exportações se os outros países tivessem se comportado como nós e não tivessem elevado a sua demanda durante uma década inteira. Na minha opinião, a união monetária é como um relacionamento: para funcionar de forma apropriada, os participantes do relacionamento têm que orientar o seu comportamento em direção ao bem comum. Se cada participante voltar-se apenas para o seu benefício próprio, isso gerará todos os tipos de crise de relacionamento que atualmente estamos experimentando.

Spiegel: Tais crises terminam ocasionalmente em divórcio. Será que isso seria uma opção válida para a Grécia, um membro da zona do euro, em algum momento no futuro?

Starbatty: Eu creio que essa medida é a que faria maior sentido. Os gregos deveriam deixar voluntariamente a união monetária e relançar a dracma. Se fizessem isso, eles exportariam mais e seriam capazes de substituir produtos estrangeiros por domésticos. Da mesma forma, os turistas viajariam para a Grécia, em vez de para a Turquia, porque essa seria uma alternativa mais barata.

Bofinger: Excluir a Grécia da União Europeia seria uma abordagem completamente equivocada. O problema da Grécia é a ineficiência em termos de finanças públicas. Isso é algo que pode ser corrigido. Em comparação com outros países, Atenas sempre coletou pouquíssimos impostos. O orçamento do governo não era sequer equilibrado nos anos prósperos, quando havia um forte crescimento econômico. Não é essa a maneira de se administrar um país. O governo da Grécia poderia, por exemplo, elevar a alíquota mais alta de impostos de 40%, o valor atual, para um patamar bem mais alto. Após a reunificação da Alemanha, quando Helmut Kohl era chanceler, a nossa alíquota tributária mais alta era de 56%.

Starbatty: E você acredita seriamente que isso ajudaria? Após essa abordagem, os gregos poupariam excessivamente, assim como os alemães fizeram no início da década de trinta, sob o então chanceler do Reich, Heinrich Brüning. Aquilo que você espera que os gregos façam resultaria em algo como Brüning ao quadrado. O problema real é que a Grécia no deveria ter sido aceita originalmente na união monetária. O país apresentou números adulterados, como sabem todos aqueles que leem jornais. E outros fizeram a mesma coisa. Mas as autoridades em Bruxelas, que temiam que os gregos anunciassem publicamente a fraude, disseram: “Vamos esquecer isso!”.

Bofinger: Mas hoje em dia tudo isso são águas passadas. Temos que lidar com a situação atual. No Conselho dos Especialistas, nós propusemos um pacto de consolidação, segundo o qual cada país teria que especificar uma rota integralmente verificável, rota esta que ele seguiria enquanto colocasse em ordem as suas finanças internas. Esta não seria uma solução apenas para a Grécia, mas para todos. Em troca, a comunidade teria que fornecer aos países problemáticos garantias de que estes seriam capazes de conseguir verbas nos mercados de capital a juros favoráveis, em vez de a índices extremamente elevados. É inaceitável que governos tenham passado os últimos anos gastando bilhões e bilhões de euros e acumulando dívidas para salvar os mercados financeiros, apenas para que os especuladores empurrassem os países para fora da união monetária.

Starbatty: Segundo a minha experiência, os especuladores só tem sucesso quando as promessas políticas divergem da realidade econômica, conforme ficou claro no caso da Grécia. Da mesma forma, quando se trata de assistência, eu creio que possuímos uma estrutura legal clara, segundo a qual nenhum Estado membro nem a união inteira podem ser responsabilizados pela dívida de um outro Estado membro.

Spiegel: Você está se referindo, é claro, à famosa cláusula de auxílio financeiro a países em crise.

Starbatty: Você, Bofinger, eliminaria esse princípio com uma canetada. Se ajudarmos a Grécia agora, estaremos abrindo um buraco sem fundo. Se isso acontecer, o euro estará em apuros maiores porque outros países esperarão ajuda. A união monetária transformar-se-ia em uma união de transferência monetária. Se isso acontecer, os meus antigos colegas e eu tomaremos novamente medidas legais.

Bofinger: Mas tal pacto restringir-se-ia a ajudar os países a ajudarem a si próprios. A ideia agora não é comprar títulos gregos. Em vez disso, nós devemos definir condições nítidas segundo as quais a Grécia e outros países receberão garantias. Mas, é preciso haver também uma opção para cancelar as garantias caso as regras não sejam obedecidas.

Starbatty: Pactos são escritos em papel, mas aquilo que é escrito nem sempre é necessariamente verdadeiro. O Pacto de Crescimento e Estabilidade para o euro era originalmente bem mais estrito, mas depois disso ele foi flexibilizado. Não há muito resultado quando pecadores falam sobre pecadores.

Spiegel: Mas a dívida governamental ainda está aumentando consideravelmente. Isso não eleva também o risco de inflação?

Starbatty: É isso que eu assumo. A inflação seria uma forma elegante de reduzir a dívida, e muitos acadêmicos estão discutindo esse cenário. Mas a situação se torna verdadeiramente problemática quando títulos de governo acabam perdendo a sua condição de porto seguro. Se a China ou o Japão chegar a esta conclusão e vender os seus títulos, poderá haver o estouro de uma bolha que seria mais perigosa do que qualquer outra bolha. Se isso acontecer, os mercados despencarão, e as taxas de juros dispararão.

Bofinger: Ah, Starbatty, os chineses não tem outra escolha a não ser comprarem títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Caso contrário, eles teriam permitido que a sua moeda experimentasse uma valorização significativa, e eles seriam mais afetados do que qualquer outro país pela queda dos preços de títulos. Para a zona do euro, pelo menos, o que eu vejo como mais provável é o risco de deflação – em outras palavras, o risco de queda de preço em ambas as frentes. Se as pessoas estão começando agora a poupar de forma muito mais intensa, uma enorme pressão de queda surgirá inevitavelmente como um resultado disso.

Starbatty: Mas as pessoas não estão poupando. Em vez disso, os países estão se endividando além de qualquer limite. Se a economia da Alemanha continuar estagnada e os seus 1,3 milhão de trabalhadores de curta jornada não encontrarem novamente empregos normais, os déficits governamentais voltarão a subir, e as expectativas inflacionárias aumentarão.

Bofinger: Dívidas governamentais não conduzem automaticamente a inflação, conforme tem sido demonstrado pelos acontecimentos no Japão no decorrer das duas últimas décadas. O Banco Central Europeu jamais cogitará utilizar a inflação para eliminar a dívida. E mesmo se a população começasse a gastar o seu dinheiro devido ao medo da inflação, pelo menos as fábricas finalmente operariam novamente a plena capacidade. Em outras palavras, isso também não seria nenhuma tragédia.

Spiegel: A turbulência nos mercados financeiros também criou um problema de credibilidade para as pessoas com a profissão de vocês. Praticamente nenhum economistas previu os problemas fatais que enfrentaríamos.

Starbatty: É verdade. Muitos de nós confiamos excessivamente em números. Mas modelos matemáticos não são capazes de descrever realidades complexas.

Bofinger: Ah, quanto a isso eu concordo completamente com você. Temos que entender novamente que a economia não é uma ciência exata.

Spiegel: Vocês dois acreditam de fato que o euro ainda estará em vigor daqui a cinco anos?

Bofinger: Tenho certeza que sim. Toda crise cria uma oportunidade, e isso deve se aplicar também a esta crise especial de relacionamento. Mas para isso é necessário, no entanto, que as autoridades em Bruxelas não fiquem trocando acusações e que elas finalmente elaborem uma abordagem conjunta e coordenada.

Starbatty: Isso não é suficiente. Se salvarmos a pele dos gregos agora, outros países membros também farão pressões para a obtenção de assistência financeira. E neste caso a união monetária desmoronará. A única coisa que não está clara é quando isso acontecerá.

Bofinger: Então você provavelmente concordaria com o grande economista britânico John Maynard Keynes, que afirmou: “No longo prazo, todos estaremos mortos”. Neste caso, é claro que não restará ninguém para analisar os fatos.

Starbatty: Temo que as coisas não demorarão tanto tempo assim no caso do euro.

Spiegel: Senhor Bofinger, senhor Starbatty, obrigado pela entrevista.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2010/03/24/principais-economistas-alemaes-discutem-a-situacao-do-euro.jhtm

domingo, 14 de março de 2010

Conselhos de Nye para China

La mala apuesta de China contra los Estados Unidos

Joseph S. Nye

2010-03-10

CAMBRIDGE – Las relaciones chino-americanas vuelven a pasar por horas bajas. China protestó por que el Presidente Barack Obama recibiera al Dalai Lama en la Casa Blanca, como también por que su gobierno vendiese armas a Taiwán. Había amplios precedentes de las dos decisiones americanas, pero algunos dirigentes chinos esperaban que Obama fuera más sensible a los que China considera sus “intereses fundamentales” en la unidad nacional.

No era de esperar que la situación cobrara ese cariz. Hace un año, el gobierno de Obama hizo importantes esfuerzos para extender la mano a China. La Secretaria de Estado, Hillary Clinton, habló de “estar en el mismo barco” y de que China y los Estados Unidos “subirían y bajarían juntos”. El Secretario del Tesoro, Timothy Geithner, dijo que pasaba más tiempo consultando a sus homólogos chinos que a los de ningún otro país. Algunos observadores se refirieron incluso a un “G2” chino-americano que dirigiera la economía mundial.

La idea del G2 siempre fue absurda. Europa tiene una economía mayor que los Estados Unidos y que China y la economía del Japón es actualmente del mismo tamaño que la de China. La participación de esos países en la solución de los problemas mundiales será esencial. No obstante, el aumento en el año pasado de la cooperación chino-americana dentro del G20 fue una señal positiva de cooperación bilateral, además de multilateral.

Independientemente de las preocupaciones que susciten los recientes episodios relacionados con el Dalai Lama y Taiwán, es importante observar que el deterioro de las relaciones chino-americanas comenzó ya antes. Muchos congresistas americanos, por ejemplo, se quejan de que la intervención de China en los mercados de divisas para mantener un valor artificialmente bajo del yuan está destruyendo puestos de trabajo americanos.

Otra cuestión fue la decisión de China de no cooperar en la conferencia de las Naciones Unidas sobre el cambio climático planetario celebrada en Copenhague el año pasado. No sólo opuso resistencia China a las medidas que se habían estado negociando durante el año anterior, sino que, además, la decisión del Primer Ministro Wen Jiabao de enviar a un funcionario de bajo nivel a reunirse con Obama y acusarlo fue absolutamente insultante.

China se comportó de forma semejante cuando los cinco miembros permanentes del Consejo de Seguridad de las Naciones Unidas (más Alemania) se reunieron para examinar la posibilidad de adoptar sanciones contra el Irán por las violaciones de sus obligaciones para con el organismo Internacional de la Energía Atómica. De nuevo, China envió a un funcionario de bajo nivel.

¿Qué ha sido de aquellas primeras señales prometedoras de cooperación? Dos razones para el cambio de actitud de China –aparentemente incoherentes a primera vista, pero que, en realidad, tal vez se refuercen mutuamente– parecen posibles.

En primer lugar, se espera una transición política en 2012 y, en un período de nacionalismo en aumento, ningún dirigente chino quiere parecer más blando que sus rivales, lo que contribuye a explicar la reciente represión en Tibet y Xingjiang, además de la detención de defensores de los derechos humanos.

Además, China puede estar acercándose a una transición económica. Algunos chinos sostienen que cualquier crecimiento inferior al ocho por ciento sería insuficiente para garantizar la necesaria creación de puestos de trabajo y contener la inestabilidad social, pero, cuando la tasa de ahorro de los Estados Unidos empiece a aumentar, el modelo de crecimiento de China mediante la exportación, que ha fomentado el empleo en este país a costa de los equilibrios comerciales mundiales, puede dejar de ser posible. Si China responde a los ruegos de que revalúe el yuan, puede serle necesario parecer que adopta posiciones firmes respecto de otras cuestiones para apaciguar el sentimiento nacionalista.

La segunda causa de la actitud reciente de China podría ser el ensoberbecimiento y la confianza excesiva. China está orgullosa –y con razón– de su éxito al salir de la recesión mundial con una tasa alta de crecimiento económico. Acusa a los Estados Unidos de haber provocado la recesión y ahora posee unos dos billones de dólares de reservas en divisas.

Muchos chinos creen que eso representa un cambio en el equilibrio de poder mundial y que China debe mostrar menos deferencia con otros países, incluidos los Estados Unidos. Algunos eruditos chinos están escribiendo ahora sobre la decadencia de los Estados Unidos y uno de ellos ha afirmado que en 2000 el poder americano llegó a su culmen.

Esa confianza excesiva en la política exterior, combinada con la inseguridad en los asuntos internos, puede contribuir a explicar el cambio de actitud de China en la última parte de 2009. De ser así, este país está haciendo un cálculo erróneo.

En primer lugar, los Estados Unidos no están en decadencia. Ha habido americanos y extranjeros que han estado prediciendo esa decadencia a lo largo de los años: después de que los soviéticos lanzaran el sputnik en 1957; de nuevo cuando Nixon cerró la ventana del oro en 1971 y cuando en el decenio de 1980 la economía del cinturón industrial americano parecía superada por los manufactureros japoneses, pero, si examinamos la fuerza subyacente de la economía americana, no es de extrañar que el Foro Económico Mundial sitúe a los Estados Unidos en segundo lugar (justo detrás de Suiza) entre los países más competitivos, mientras que China se encuentra unos 30 puestos más abajo.

En segundo lugar, el hecho de que China posea tantos dólares no es una verdadera fuente de poder, porque la interdependencia de la relación económica es simétrica. Cierto es que, si China inundara los mercados mundiales con sus dólares, podría poner de rodillas la economía americana, pero, al hacerlo, se derribaría a sí misma. China no sólo perdería el valor de sus reservas en dólares, sino que, además, sufriría un desempleo importante. Cuando la interdependencia está equilibrada, no constituye una fuente de poder.

En tercer lugar, pese a las quejas chinas, es probable que el dólar siga siendo la más importante moneda de reserva mundial, por la profundidad y la amplitud de los mercados de capitales de los Estados Unidos, que China no puede igualar sin volver convertible el yuan y reformar su sistema bancario.

Por último, China ha calculado mal al violar la sabiduría de Deng Xiaoping, quien aconsejó que China actuara con prudencia y “ocultase su bazas”. Como me dijo recientemente un veterano estadista asiático, Deng nunca habría cometido ese error. Si Deng estuviera al mando en la actualidad, haría volver a China a las relaciones de cooperación con los Estados Unidos que caracterizaron la primera parte de 2009.

Copyright: Project Syndicate, 2010.
www.project-syndicate.org
Traducido del inglés por Carlos Manzano.

http://www.project-syndicate.org/commentary/nye80/Spanish

Venezuela y Ecuador anuncian creación de tres empresas binacionales

Venezuela y Ecuador anuncian creación de tres empresas binacionales

09:40 AM Quito.- Ecuador y Venezuela constituirán tres empresas binacionales de minería, pesca y cacao, al tiempo que lanzarán una marca conjunta de un lubricante, anunciaron los cancilleres de ambas naciones.
Los ministros de Relaciones Exteriores de Ecuador, Ricardo Patiño, y de Venezuela, Nicolás Maduro, hicieron el anuncio el sábado, en Quito, al finalizar la reunión preparatoria de lo que será el séptimo encuentro presidencial entre Rafael Correa y Hugo Chávez, el 26 de marzo, reseñó AP. 
Los jefes de Estado evalúan trimestralmente el avance de los más de 30 convenios de cooperación conjunta suscritos entre sus gobiernos.
En rueda de prensa, Patiño informó que el lanzamiento de la marca de lubricante conjunta desarrollada por las estatales petroleras de Ecuador, Petroecuador, y de Venezuela, Pdvsa, se realizará durante la visita de Chávez a esta capital.
Agregó que se avanza en la constitución de tres grandes empresas nacionales minera, de pesca y de cacao, con la participación accionaria de compañías estatales en un 51% para Ecuador y 49% para Venezuela.
En el caso de la empresa de cacao, Patiño aseguró que el gobierno venezolano aprobó un crédito no reembolsable por un millón de dólares, el cual beneficiará a siete asociaciones de productores de ese grano en Ecuador.
Sobre la empresa acuícola destacó que en pocos días se lanzarán proyectos conjuntos para la cría de tilapia en Ecuador y de mejillones en Venezuela.
Destacó, además, el avance de acuerdos suscritos en varios ámbitos como el comercial, que permitió el incremento en el intercambio de productos, de 20.000 toneladas hace tres años a 150.000 en la actualidad.
Dijo que se avanza en la realización de estudios de factibilidad para la construcción de una empresa siderúrgica del Pacífico, constituida el año pasado.
Por su parte, Maduro aseguró que continúa la búsqueda de un tercer socio para la construcción de la refinería del Pacífico, en la zona costera ecuatoriana, y que requerirá una inversión de 12.000 millones de dólares.
En alusión a otros temas abordados en la cita, reveló que el lunes el gobierno venezolano transferirá más de cuatro millones de dólares a la cuenta asignada por la Unión de Naciones Suramericanas (Unasur) para ayudar a la reconstrucción de Haití tras el terremoto de enero en ese país.
También, el canciller llanero entregó a su par ecuatoriano el documento oficial por el cual la asamblea venezolana ratificó la adhesión de esa nación a la constitución y fundación de la Unasur.
Hasta el momento, sólo cuatro de los países que integran el bloque han cumplido el requisito que legalizará su existencia jurídica.

http://www.eluniversal.com/2010/03/14/eco_ava_venezuela-y-ecuador_14A3581815.shtml

EUA e América Latina

14.03.2010 | Clarin.com | Zona

MICHAEL SHIFTER POLITOLOGO ESTADOUNIDENSE, PRESIDENTE DEL DIALOGO INTERAMERICANO
"Obama subestimó las dificultades de la agenda para América latina"

Obama no logró hasta ahora cambiar las percepciones erróneas e intereses creados que siguen condicionando las relaciones entre Washington y una parte importante de América latina.

Fabián Bosoer

Las mayores diferencias entre Washington y una parte de América latina se basan más en malas percepciones recíprocas que en intereses enfrentados o contradictorios. El problema es que esas percepciones están muy influidas por los grupos de presión conservadores que siguen teniendo una visión conflictiva de las relaciones hemisféricas, remanente de la Guerra Fría. En ese contexto se explica la decepción con Obama en la región luego de un demasiado repentino "encantamiento". Las distancias siguen siendo mayores que las convergencias, pero figuras y gestiones como la del secretario general de la OEA, José Miguel Insulza, ayudan a evitar que la brecha se agrande más. Este es el análisis del politólogo Michael Shifter, profesor de la Georgetown University y uno de los principales especialistas en las relaciones de EE. UU. con América latina. Es actualmente el presidente del Diálogo Interamericano, influyente think tank de las políticas hemisféricas, y estuvo en Buenos Aires, invitado por la Facultad de Derecho de la Universidad de Palermo.
El golpe de Estado en Honduras, la catástrofe en Haití, el terremoto en Chile ... ¿Qué más hace falta para que América latina despierte otra clase de atención y relevancia en las agendas de Washington?
Son acontecimientos muy distintos aunque todos inesperados. Creo que el gobierno de Obama ha reaccionado con bastante previsibilidad, tal vez no como la región hubiera esperado dadas las expectativas iniciales. Existe una evolución, a mi criterio demasiado lenta, en el sentido de tomar América latina más en serio y dejar atrás esa vieja idea de "patio trasero" de los EE. UU., esa mentalidad paternalista que persiste. Tiene que haber una concepción más sofisticada de la región, así como también de las diferencias entre los países. Hay alguna tendencia a pensar en América latina y los EE. UU. como si fueran bloques monolíticos, o en el primer caso, un conjunto muy diverso sin intereses propios, y creo que esa es una visión equivocada y superada por la realidad.
Hace un año, en la cumbre de las Américas, Obama y Hillary Clinton anunciaron un nuevo camino en las relaciones hemisféricas. ¿Qué quedó de aquel primer impulso?
Creo que empezó con las mejores intenciones y con la articulación de buenos conceptos y metas positivas. Creo también que la implementación de esas metas no fue tan exitosa como se esperaba, hubo varios imprevistos en el camino. Obama subestimó la magnitud de las dificultades de la agenda para América latina y no terminó de armar equipo para la política hemisférica hasta muy tarde, avanzado el año.
¿El golpe en Honduras fue otro ejemplo de crisis imprevista y subestimada por Washington?
Ese golpe presentó un desafío inesperado para Obama. El quería marcar su diferencia con Bush: hubo una fuerte condena del golpe, alineada con los otros países de América latina, indicando que así no se cambian los gobiernos. Se creía que eso marcaría un nuevo camino. Luego surgieron diferencias entre Obama y otros gobiernos de la región, se subestimaron la resistencia del gobierno de facto y los apoyos con los que contaba, y eso llevó a que se fuera imponiendo la tendencia hacia el pragmatismo. Luego hubo un empeño en solucionar el problema a través de elecciones que lograron arribar a un resultado bastante razonable.
¿Hubo entonces un error de diagnóstico en la crisis hondureña?
Se podría haber manejado mucho mejor. Creo que su error principal fue no mantener el enfoque inicial y un compromiso continuo con Honduras, trabajando con otros gobiernos de la región. Hubo momentos de participación y después de mayor prescindencia. Hubo una actitud en Washington de decir "este problema se va a resolver" con gestos y misiones de buenos oficios, y subestimaron la importancia del tema para América latina. La administración Obama no apreció que este era un tema de mucha importancia para muchos latinoamericanos.
De lo que comenta se desprende la importancia que tienen las percepciones mutuas, equivocadas o no. ¿Cómo percibe la administración los problemas latinoamericanos?
Creo que fue sincero Obama, cuando las cosas no salieron como se esperaba en Honduras, y él señaló con cierta perplejidad: "nos critican cuando intervenimos, y también cuando no intervenimos". Esa es la percepción más genuina, la de una incomprensión recíproca. En Washington, hay actores que simpatizan con América latina y tienen la actitud de que algo se puede solucionar por sí mismo simplemente dejándolo en manos de los latinoamericanos, dicho así genéricamente, y se quedan al margen del tema. Así, quienes terminan manejando siempre las cosas son los sectores tradicionales que tienen los más fuertes intereses creados: las grandes corporaciones, el complejo militar, los lobbies de las minorías. Esto suele conducir a visiones parciales y errores, pero lamentablemente refleja una actitud muy arraigada.
Otra percepción es aquella que dice que la mejor política latinoamericana de los EE. UU. es la ausencia de política, dado que cuando ella se explicita aparecen el intervencionismo, la cuestión geopolítica y las amenazas por encima de las asociaciones estratégicas. ¿Es posible plantear una agenda positiva de los EE. UU. hacia la región?
Hay un problema histórico y estructural insoslayable: la enorme disparidad de poder, que genera una desconfianza muy difícil de manejar. Es un problema de fondo y EE. UU. tiene que encontrar el punto de equilibrio, tener una participación atenta y ser amigos con América latina, sin pretender imponer soluciones ni fórmulas, pero tampoco retirarse. EE. UU. es también un socio y un aliado potencial en muchas áreas.
El balance de este primer año en relación a la política hemisférica da cuenta del fuerte condicionamiento doméstico, tanto dentro del Estado como de los lobbies y los intereses corporativos, ¿Cuánto ha quedado prisionero Obama de esta trama de intereses y presiones?
Bueno, esta tal vez ha sido la mayor frustración de su primer año porque uno de los principales puntos de su campaña, y uno de los motivos por los que fue elegido presidente, es que iba a cambiar la manera de hacer política y las costumbres de Washington. Y la verdad es que el clima político en Washington ha cambiado . pero para peor. Hoy en día vemos estos movimientos de opinión muy conservadores que reflejan rabia contra Washington. Los pilares del establishment son igual de fuertes, los partidos son muy poco cooperativos. Creo que hasta ahora Washington ha resistido cualquier intento de Obama de cambiar su manera de actuar.
¿Y sobre la última Cumbre del Grupo de Río ampliado en Playa del Carmen, en la que se anunció la creación de una Comunidad de Estados Latinoamericanos y del Caribe (CERC), cuál es su impresión? ¿Es posible hablar de un nuevo bloque regional latinoamericano?
La idea de crear una "OEA sin EE. UU." no es nueva. Es un concepto, más bien una aspiración colectiva, que lleva muchos años. Todavía no están muy claros sus propósitos fundamentales, ni cómo va a funcionar o financiarse. Además, aun dejando de lado las tensiones con los EE. UU., parece que la región no está viviendo su mejor momento con respecto a unidad política o alta confianza entre distintos gobiernos, lo cual podría afectar la eficacia de la nueva organización. Sin embargo, políticamente esta Comunidad refleja una realidad: expresa una región más segura de sí misma y presenta un desafío para la OEA. Los dos organismos pueden ser complementarios y compatibles. Mi impresión es que la mayoría de los países en la región desean su propio espacio para trabajar posiciones regionales, pero también buscan instancias en las cuales los EE. UU. participen activamente. Para ese fin, a pesar de sus defectos, la OEA todavía representa el único mecanismo multilateral para tratar una agenda hemisférica. Está por verse si tanto los EE. UU. como otros estados miembros están dispuestos a tomarla suficientemente en serio.
El secretario general de la OEA fue elegido sin el apoyo de los EE. UU. y ahora su reelección tampoco recibe las simpatías de Washington, principalmente por críticas de los republicanos. ¿Cuál debería ser la posición de los EE. UU. respecto de la continuidad de Insulza?
Yo creo que la política de José Miguel Insulza ha sido positiva, y positiva también para EE. UU., en muchos sentidos, a pesar de las dificultades y diferencias. Es un hombre apoyado por Brasil, Argentina y Chile, y sería una señal importante para EE. UU. sumarse a este grupo y mostrar que los críticos a Insulza no van a definir la agenda. Ojalá que lo apoyen; sería un error que no lo hicieran. Creo que es un político de mucha calidad y una figura capaz de construir puentes y conciliar intereses y posiciones de gobiernos con distintas ideologías; un socialista pragmático, moderado. Alguien más afín a los intereses de los EE. UU. no sería la mejor ayuda para los EE. UU. y alguien con un perfil más bajo no sería lo mejor para el organismo. De todos modos, no parece que haya interés en presentar otras candidaturas tampoco.
Copyright Clarín, 2010.

http://www.clarin.com/suplementos/zona/2010/03/14/z-02158884.htm

quinta-feira, 11 de março de 2010

Subsidiárias brasileiras exportam gestão e inovações

São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010


Subsidiárias exportam gestão e inovações

Unidades brasileiras viram referência para as matrizes ao criar modelos de negócios e produtos que são depois adotados em outros países
Carrefour passou a apostar no formato de "atacarejo", criado no país; AmBev levou estilo de administração brasileiro para a sede belga
DA REPORTAGEM LOCAL

A contribuição do Brasil para as multinacionais não fica só na remessa de lucros e dividendos. Cada vez mais, o país tem exportado modelos de gestão, serviços e inovações. O exemplo mais emblemático é o do time de altos executivos da Ambev, que hoje comanda a AB Inbev, a maior cervejaria do mundo.
Sob a liderança de Carlos Brito, ex-presidente da Ambev, a AB Inbev se tornou a cervejaria mais lucrativa do mundo, com margens de 35%. O estilo agressivo, com altas bonificações por performance e a obsessão pelo controle de custos, rende elogios no mercado financeiro -mas é também fonte de conflitos com trabalhadores, políticos e a comunidade em geral na Bélgica, sede do grupo.
Uma das grandes apostas da rede francesa Carrefour é o "atacarejo" -mistura de atacado com varejo inventada no Brasil. A bandeira Atacadão, que comprou em 2007, acaba de ganhar sua primeira loja internacional, na Colômbia. A Argentina é o próximo destino e deve ter uma até o final do ano. Uma equipe foi montada só para estudar oportunidades de expansão do formato, inclusive para mercados como China, Indonésia e a própria França.
O Brasil virou referência também para a anglo-holandesa Unilever e cada vez mais tem sido palco de lançamentos globais. Foi aqui que nasceu a estratégia de valorização da marca Unilever como meio para alavancar as vendas, e não apenas do ponto de vista institucional. "Hoje existe um time discutindo globalmente como trabalhar melhor a marca Unilever, e o caso do Brasil é referência", afirma o vice-presidente corporativo da Unilever, Luiz Carlos Dutra.
Em 2000, só 7% da população sabia que as marcas Omo, Lux e Hellmann's pertenciam à Unilever, segundo uma pesquisa. No ano passado, após dois anos de campanha, o reconhecimento espontâneo subiu para mais de 50%. Segundo Dutra, a mudança é reflexo de um investimento agressivo em marketing: a empresa gastou R$ 3,6 bilhões com a compra de mídia nos últimos dois anos (somados) e é hoje o segundo maior anunciante do país, de acordo com o Ibope Monitor.
Apesar de o berço do design ser a Itália, o Brasil tem produzido soluções e inovações que já viraram referência para o grupo Fiat. Um exemplo são os modelos chamados de "off-road light" -com suspensão elevada, parachoques reforçados, mas sem a tração nas quatro rodas e de uso mais urbano. O primeiro "off-road light" foi o Palio Adventure, lançado em 1999 no Brasil e que hoje está presente em diversos países.
Criado em 2006 para atender apenas a Nestlé Brasil, o centro de contabilidade da companhia em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, hoje presta serviço para 20 países da América Latina. Um grupo de 500 funcionários faz o atendimento remoto para esses países, realizando operações de contas a pagar e a receber e também o gerenciamento de folhas de pagamento.
(MARIANA BARBOSA)

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0803201004.htm

Filiais brasileiras salvam balanço de multinacionais

São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

Filiais brasileiras salvam balanço de multinacionais

Operações no país compensaram resultado fraco das companhias nos EUA e na Europa
Nos casos de Unilever e Nestlé, país passou a ser o 2º maior mercado, atrás apenas dos EUA; Fiat já vende mais no Brasil do que na Itália


MARIANA BARBOSA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Brasil é a grande estrela da atual safra de balanços das multinacionais -referente ao ano de 2009. Com a estagnação ou a retração das economias da Europa e dos Estados Unidos, a força do mercado interno brasileiro, sobretudo a partir do segundo semestre, contribuiu para melhorar o desempenho das companhias nos mais diversos setores.
Com vendas de R$ 11,5 bilhões no ano passado, a Unilever Brasil subiu no ranking da multinacional e alcançou a segunda posição, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2004, o Brasil era a sétima subsidiária em faturamento. De acordo com o vice-presidente corporativo, Luiz Carlos Dutra, o desempenho é resultado da decisão da companhia de manter os investimentos, apesar da crise global. "Fizemos mais de 60 inovações, investimos na expansão da fábrica de sabão em pó no Nordeste e ampliamos a presença na mídia", diz Dutra.
Manter o ritmo de investimentos e ganhar mercado em ano de crise também foi a estratégia da Nestlé Brasil, que em 2009 se transformou no segundo principal mercado para a multinacional suíça, com vendas de R$ 15,5 bilhões. O país galgou duas posições no ranking de faturamento, superando Alemanha e França e ficando atrás apenas dos EUA.
Enquanto as vendas da Nestlé na Europa cresceram apenas 1,2%, nas Américas a alta foi de 4,8% -sendo que no Brasil, isoladamente, o crescimento foi de 10%. "O Brasil é uma prioridade para a Nestlé", afirmou o presidente da Nestlé Brasil, Ivan Zurita, durante inauguração de uma nova fábrica em Carazinho (RS).
Apesar de a Nestlé ter registrado uma queda de 42% no lucro líquido, o resultado, turbinado pela performance nas Américas e na Ásia, ficou acima das expectativas dos analistas.
Na AB Inbev, maior cervejaria do mundo, a contribuição do Brasil foi ainda mais crucial. Enquanto no mundo todo as vendas de cerveja caíram 0,8% no ano passado, no Brasil a empresa vendeu 9,9% mais. A Ambev, que é controlada pela AB Inbev e produz as marcas Brahma e Skol, respondeu por 30,8% do Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] do grupo, que foi de US$ 13 bilhões em 2009.
O estímulo às vendas de carros com a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) fez do Brasil um dos únicos países a registrar crescimento nesse setor no mundo: 11,4%. E, pela primeira vez na história, as vendas da Fiat no Brasil superaram a da matriz. Foram 737 mil unidades, contra 722 mil na Itália. Há dez anos, o mercado brasileiro era metade do italiano.
"A contribuição do Brasil foi bastante expressiva e em 2010 deverá ser ainda maior, considerando que este será um ano ainda muito difícil na Europa", disse, na semana passada, o presidente mundial do grupo Fiat, Sergio Marchionne, que veio ao Brasil para inaugurar uma fábrica de máquinas agrícolas em Sorocaba.
Para a Portugal Telecom, o Brasil também já superou a matriz. No ano passado, 51,1% do resultado da companhia teve origem no Brasil. A PT é dona de 50% da Vivo. No último trimestre de 2009, as vendas da PT cresceram 18% no Brasil, para 905,3 milhões, enquanto em Portugal elas caíram 3,4%, para 846,7 milhões.
Na rede varejista francesa Casino, controladora do Grupo Pão de Açúcar, enquanto na matriz as vendas recuaram 3,8%, na América do Sul cresceram 5,7%. O desempenho nas vendas foi puxado por "uma excelente performance" no Brasil. O crescimento sobre mesmas lojas no Grupo Pão de Açúcar foi de 12,7%.
Remessas
Apesar de o Brasil contribuir para salvar os balanços de multinacionais, as empresas estrangeiras remeteram 30% menos lucros e dividendos às matrizes em 2009, na comparação com 2008. Dados do Banco Central mostram que essas empresas enviaram US$ 17,7 bilhões no ano passado. Em 2008, foram US$ 25,3 bilhões.
"Houve um recuo por conta do baixo crescimento em 2009, mas a expectativa para 2010, com a economia crescendo mais de 5%, é de retomar o patamar de 2008 e até superá-lo", afirma Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais). Para este ano, o BC estima remessas de US$ 30,2 bilhões.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0803201002.htm

Perspectiva do mercado para quem cursa relações internacionais 2

Post já publicado anteriormente: http://corival.blogspot.com/2007/06/quem-cursa-relaes-internacionais-est_16.html

Abaixo segue parte da primeira aula para a turma do oitavo período sobre o futuro de quem se gradua em relações internacionais:

é preciso que você não tenha uma definição rígida do que seja relações internacionais, é ótimo que você queira atuar na área de relações internacionais. Mas em poucos lugares haverá uma correspondência entre o que você estudou e as atividades profissionais que você irá exercer, mas isso não quer dizer que você não está atuando no campo para o qual se preparou. Se você idealizar a área de relações internacionais, você será definitivamente infeliz profissionalmente. Tenho uma ex-orientanda que trabalha em uma área que, pra mim, é relações internacionais dentro do que pode ser relações internacionais no setor privado. Mas, para ela, não. Para ela, não é relações internacionais e ela se sente permanentemente insatisfeita com o emprego e buscando outro trabalho na área de RI. Mas ela nunca irá encontrar. Por quê? Porque ela idealiza o que são as relações internacionais. Não façam isso. Do ponto de vista do setor privado, as relações internacionais podem ser qualquer coisa no Brasil. Por quê? Porque no Brasil nem mesmo as grandes empresas possuem setores de análise, e de formulação de cenários prospectivos. E as multinacionais possuem estes departamentos em geral no exterior. Então o mercado para você usar teoria das relações internacionais é exíguo. Se vocês consultarem o site da empresa do Rodrigo, que ele acha que é uma consultoria de relações internacionais, de fato, não é. O que faz a consultoria do Rodrigo? Consultoria de comércio exterior e lobby. É relações internacionais? Pode ser que não. Mas se você trabalhar com isso e ficar sempre pensando que perdeu seu tempo cursando relações internacionais, porque não trabalha com RI, você estará condenado a ser infeliz profissionalmente.

Mas isto não quer dizer que você deva se tornar prisioneiro do curso de relações internacionais. Vendo que o curso de relações internacionais foi insuficiente para catapultar a sua careira. Você deve começar outro curso, vocês são novos, tem idade para começar de novo. Da minha turma de graduação, de 18, quatro foram fazer direito. Além de terem ficado entre os melhores alunos do curso de direito, pois já tinham bagagem intelectual, acharam um meio de colocar em prática também as relações internacionais.

Outra coisa que vocês devem se lembrar é que há outros concursos públicos que combinam com quem cursou relações internacionais além do concurso para diplomata, há o concurso para Oficial de Chancelaria do próprio MRE, Analista de Comércio Exterior no Ministério do Desenvolvimento, Analista de Políticas públicas no Ministério do Planejamento e outros . Claro que para estes concursos vocês teriam que estudar matérias que vocês não viram no curso de RI, mas vocês têm condições de fazê-lo e no exercício da atividade estariam sempre próximos da área de RI. Mesmo na Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, vocês podem estar próximos da área de RI, pois foi lá que ocorreram as discussões para a formulação da posição brasileira em relação às patentes de medicamentos na OMC. Então em diferentes agências do Estado você pode atuar na área de RI e não apenas no Itamaraty, até porque o Itamaraty tem glamour, mas as coisas relevantes são realizadas fora do Itamaraty.

Em uma Conferência do MRE no RJ no início de julho, o presidente da FUNAG, Jerônimo Moscardo, disse que o Itamaraty deseja descentralizar a formulação da política externa e para isso quer que todos os Estados e municípios brasileiros criem uma secretaria de relações internacionais para participarem da formulação da política externa brasileira. Eu acho a idéia boba e que piora a situação da política externa brasileira. No entanto, do ponto de vista do mercado de trabalho para RI será um estímulo. Então, vários de vocês moram nas cidades da grande São Paulo e portanto, devem ficar atentos a estas oportunidades. E aqueles que por ventura tenham relações com os políticos locais podem mesmo levar à idéia aos políticos, estimulá-los para assim criar um emprego para você. Pois o embaixador pediu que fizéssemos exatamente isso, pressionarmos as prefeituras para que criem a secretaria e se preocupem com as relações internacionais do Brasil. Comigo, eu disse que ele não poderia contar, pois sou contra. Mas vocês podem ser pioneiros e criar carreiras para os próximos bacharéis em relações internacionais.

E quem quiser efetivamente prestar o concurso para diplomata? Deve estar disposto a sofrer ainda mais, a sacrificar-se. Por exemplo, muita gente vê fraude no fato de filhos de diplomatas ou políticos serem aprovados no concurso, mas é óbvio que eles possuem vantagem. Quais? A vantagem de ter sempre estudado para ser diplomata, a vantagem de ter tempo livre para estudar para o concurso. O mesmo vale para quem estudou nas universidades federais, o sujeito teve mais tempo para estudar, os cursos são diurnos o que significa que o aluno não precisa, em tese, trabalhar. Então as chances são maiores. E ainda assim, o candidato pode se perder por se desviar do foco, tenho um colega que se matava de estudar. Mas um belo dia ele se apaixonou, perdeu-se, o tempo que antes era dedicado aos estudos agora era dedicado a namorada. Então, vocês devem decidir o quanto vocês estão dispostos a sacrificar. Se você trabalha o dia inteiro e quer passar no concurso, sua vida social deve ser encerrada. Encontrar-se com o namorado ou namorada, uma vez por mês, e vá logo para os finalmentes, nada de preliminares, você não pode perder tempo. Se você pode se dedicar apenas aos estudos, então você pode reservar uma noite por semana para a vida social e outra noite para a namorada ou namorado com tempo para as preliminares. Em qualquer caso é bobagem fazer cursinho de final de semana, um cursinho onde você tem uma aula de cada disciplina por mês é inútil. Só vai para lá quem não vai passar. Então como se estuda? Sozinho, com a bunda na cadeira, leia, leia, leia e anote, livro por livro da bibliografia de todos os assuntos. Leia toda a bibliografia, resuma todos os livros, prepare respostas para algumas questões para você se preparar para responder a prova. Decore datas importantes e tratados dos quais o Brasil faça parte, especialmente os sul-americanos. E nas vésperas da prova, reveja as suas notas de leitura.

Os cursos de especialização, erroneamente chamados de pós-graduação ou MBAs, não tem qualquer relevância acadêmica, nem fará com que você encontre emprego. Então você só deve fazer um curso de especialização caso a empresa onde você trabalha leve isso em consideração na progressão da carreira, ou se tendo um emprego consolidado você deseje se preparar para mudar de emprego e função. Mesmo um curso de especialização no exterior é bobagem, serve apenas desperdiçar dinheiro, use-o em outra coisa. Curso de MBA no Brasil é um curso de especialização. No exterior é mestrado. No Brasil o nome MBA é usado apenas para dar status, não são equivalentes aos MBAs do exterior. Então se você for rico, compensa fazer um MBA no exterior. Em qualquer outro caso, uma outra graduação fará mais diferença que um curso de especialização.

Outra opção é começar um mestrado. O mestrado pode fazer diferença do ponto de vista do mercado trabalho, mas é bobagem fazer mestrado só por isso. Você deve avaliar se tem efetivamente interesse nas questões acadêmicas e a questão crucial é: você gosta de teoria? Você gosta de discutir teoria? Você gosta de conversar sobre firulas intelectuais? Se respondeu “não” para uma das questões, você não deve fazer mestrado. Se respondeu talvez, pode ser, experimente cursando uma disciplina como aluno especial no mestrado em ciência política da USP. Os mestrados importantes em relações internacionais são o da UnB, da PUC-Rio, o San Tiago Dantas, o da USP e o da Unicamp. O da USP e da UNICAMP são mais difíceis pois a prova de seleção é de ciência política e lá dentro você se especializa em relações internacionais. Então na prova haverá muita coisa que vocês não estudaram. Assim a seleção da UnB, PUC e San Tiago Dantas são mais fáceis. E ao se candidatar vocês devem fazer um projeto perfeito, pois eles sempre darão preferência aos candidatos de universidades públicas. É injusto? É. Mas não tem jeito é preciso conviver com isso.

A que conclusão chegamos de tudo isso? Que há caminhos, que há possibilidades. A vida é cheia de fardos dos quais jamais nos livraremos, mas possui oportunidades. As oportunidades são restritas, então são bem-sucedidos apenas aqueles que estão dispostos a se sacrificarem para agarrar as oportunidades. O seu sucesso e o seu fracasso é resultado das suas escolhas, das suas ações, das suas decisões. Isso significa também que todo o resultado que você teve na faculdade é irrelevante, começa um novo jogo, com novas regras, então você ainda pode se recuperar.

Perspectiva do mercado para quem cursa relações internacionais 1

Post já publicado anteriormente: http://corival.blogspot.com/2007/06/quem-cursa-relaes-internacionais-est.html

Esta semana dois alunos me procuraram para conversar sobre o curso de relações internacionais angustiados com as perspectivas de futuro.
É verdade o curso de relações internacionais não permite uma identificação clara de qual é a atividade a ser exercida após a conclusão do curso. Num curso de relações internacionais stricto sensu, seguindo o currículo padrão das universidades do exterior e o que se pratica na UnB, os alunos irão estudar basicamente política e economia política, um estudo centrado no Estado. Em tese, estaríamos formando diplomatas, mas obviamente não é verdade, a maior parte dos que se graduam em relações internacionais não irão trabalhar para o Estado nem no Brasil nem no exterior. Num país como EUA e ou nos países europeus, há uma grande divisão do trabalho que faz com que dentro das empresas haja espaço para analistas políticos de diferentes espécies, então os profissionais graduados em relações internacionais podem encontrar emprego fora do Estado, mas em atividades, setores que se relacionam com o Estado. E no Brasil? No Brasil não há essa divisão do trabalho, então torna-se mais difícil encontrar empregos no setor privado em atividades relacionadas com o Estado. Mas isto quer dizer que os profissionais de relações internacionais ficarão desempregados mais do que outros profissionais? Terão mais dificuldade para encontrar emprego? Certamente terão mais dificuldade para encontrar nos classificados dos jornais o nome do seu curso, mas não é verdade que terão mais dificuldade para encontrar emprego. Os graduados em todos os cursos enfrentam dificuldades.
Os graduados em administração trabalham em quê? Os graduados em direito? Os graduados em economia? Os graduados em sociologia? Os graduados filosofia? Os graduados em psicologia? Por exemplo, há algum tempo peguei um texto (e apesar de detestar ficar conversando com o taxista) fiquei sabendo que ele era formado em psicologia, tinha trabalhado durante anos em uma empresa como psicólogo, mas havia abandonado a profissão e se tornado taxista pelas circunstâncias. Se todos os administradores fossem administrar empresa, acho que faltaria empresa neste país, quantos caixas de banco estudam administração? Quantos chegaram a gerente? Quantos serão a vida inteira caixas? Quantas empresas no Brasil contrata economistas por serem economistas e aquela atividade só poder ser exercida por economista segundo o CFE? Que atividade no Brasil é efetivamente exclusiva de administrador? Nem todo economista trabalha com economia, nem todo administrador administra. E os filósofos? Quem contrata filósofos? Quantos filósofos temos no Brasil trabalhando como filosofia? Alguém conhece alguém que contrata sociólogos ou alguma atividade exclusiva de sociólogos? E os milhares de coitados que se graduam em Direito, quantos conseguem ser aprovados na prova da OAB? A minoria, ou seja, mais de 70% dos graduados em direito jamais serão advogados ou qualquer outra coisa relacionada ao direito, exceto assistente em algum escritório advocatício, atividade que poderia ser exercida por qualquer outro profissional. E esta é a questão, o mercado de trabalho é mais complexo do que a doutrina que diz que quem se qualifica encontra emprego diz. Vejamos:
1. nem sempre o chefe é o mais qualificado da empresa. Há várias pessoas que identificam como principal problema no seu emprego o fato do chefe ser menos qualificado, isso significa que nem sempre e nem todo empresa leva em consideração as "qualificações acadêmicas" na promoção dentro da carreira, mas o desempenho do funcionário dentro da empresa, tanto do ponto de vista técnico, pessoal, quanto político.
2. o mercado de trabalho é bastante estratificado. Os empregos de maior salário são de alta especialização. Quem acha que cursar ciência da computação garante um bom emprego se equivoca, é preciso se diferenciar, dominar tecnologias que poucos no mercado de trabalho domina. Do mesmo modo, quem faz relações internacionais e acha que inglês ou espanhol irá fazer diferença no mercado se equivoca, ele será jogado na massa, se quiser se diferenciar no mercado de trabalho de consultoria internacional tem que dominar línguas de domínio restrito como chinês, russo, finlandês, etc., que permita a entrada numa mercado de concorrência imperfeita, como poucos estão neste mercado o ganho é maior. O economista precisa de qualificações, o psicólogo, etc. Para que estes profissionais precisam destas qualificações para ficar no mercado de bacharéis de relações internacionais, de administradores, de economistas, de sociólogos, etc.
3. Quem não tem especializações, qualificações extra que permitam uma profunda diferenciação da massa ocupa o mesmo mercado de trabalho. Ou seja, graduados em RI, em economia, em administração, etc. ocupam o mesmo lugar no mercado de trabalho e disputam as mesmas vagas. Neste mercado de trabalho de massa, a graduação fez pouca diferença desde que o indivíduo consiga exercer as funções que a empresa demanda. De fato neste mercado, graduação só é efetivamente lembrada no momento de contratar estagiários e trainees porque a lei assim exige.
4. Então, a qualidade mais necessária fora do mercado altamente especializado é a flexibilidade, a capacidade de mudar de função, de se adaptar a diferentes atividades. E obviamente, que quando se fala de flexibilidade está se falando de atividades de nível médio na empresa, na base não há espaço para flexibilidade. Mas como a expectativa é que quem se gradue em RI não seja o operário, então o curso de RI pode proporcionar uma vantagem que é o desenvolvimento da capacidade de pensar que permite que o profissional tenha flexibilidade. Não se deve subestimar a importância desta vantagem a maioria das pessoas jamais pensaram, os pensamentos entram na cabeça delas, porque elas nem são sábias para serem capazes de silenciarem os pensamentos, nem são intelectualmente desenvolvidas para pensar os próprios pensamentos.l Então vivem a rotina de repetir o pensamento alheio e repetir procedimentos, qualquer um que rompa com isso consegue vantagens no mercado de trabalho e qualquer outro lugar. O curso de RI contribui para isso.
5. Concluindo, apenas uns poucos, os melhores, os que estudarem mais atuarão na área específica do curso, e ainda assim precisarão se especializar além do que qualquer curso de graduação pode proporcionar. Vale para relações internacionais, vale para os outros cursos. No resto do mercado de trabalho, todos são iguais.
6. O curso de relações internacionais tem dois problemas. O primeiro é que não existe um mercado de baixo nível para relações internacionais, então ou o sujeito estuda e se qualifica e atua em alto nível ou não atuará em uma área que seja estritamente relações internacionais. O segundo problema (que parece trivial, mas não é) é que não existe um termo para designar o profissional de relações internacionais, o que aumenta a insegurança sobre qual a atividade a ser exercida pelo graduado e gera confusão também para o empregador identificar o que o graduado está apto a fazer. No entanto, pergunte para alguém o que faz o economista? Ou o que faz o sociólogo? Ou o que faz o cientista política? Ou o engenheiro de alimentos? Ou o geógrafo? O que faz um matemático? Qual a diferença entre o cientista da computação ou engenheiro da computação? Alguém que cursa processamento de dados e outro que curso ciência da computação estão no mesmo mercado de trabalho são concorrentes?
7. Deve-se estudar relações internacionais quando se gosta de estudar política interna, política mundial, economia política internacional, quando está disposto a ler, a ter discussões teóricas, a ver muita teoria, a pensar de forma cada vez mais abstrata. Se tiver estes pré-requisitos, os resultados virão do ponto de vista acadêmico e no mercado de trabalho não encontrará dificuldade maior do que o estudante de qualquer outro curso mesmo que a apreensão seja maior do que a dos alunos dos outros cursos, porque o curso e seu potencial é desconhecido pelos próprios alunos. Mas deve ser lembrado que quem escolhe cursar relações internacionais é porque tem pretensões maiores do que quem escolhe administração, comércio exterior, letras, ciências contábeis, arquivologia ou outros, então a incerteza também é maior, quanto maior o salto que se quer quer dar maior o risco de fracasso. Mas o curso de relações internacionais não é um trampolim inferior aos outros cursos, ao contrário, é melhor, mas proporciona riscos maiores. Pode-se pilotar como o Senna ou como Rubinho, como Rubinho pode bater o record de corridas, mas nunca será campeão. Como o Senna, bate-se records de vitórias, torna-se campeão, mas corre-se o risco de não terminar a prova. Para cursar relações internacionais não precisa ser um Senna, mas certamente não pode ser um Rubinho. O Rubinho cursaria administração, direito, etc.

domingo, 7 de março de 2010

Minsky

São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

LUIZ GONZAGA BELLUZZO
O momento Minsky


Quando a maré sobe, não há prudência nem conselho capazes de resistir à liberação das forças da ambição


O ECONOMISTA norte-americano Hyman Minsky, outrora obscuro entre seus colegas da "corrente principal", virou moda nos Estados Unidos. Depois da crise, um coro de carpideiras entoa o cantochão do "momento Minsky" para lamentar a vida e a morte da finança desregulamentada.
Minsky construiu uma hipótese "keynesiana" sobre a formação de preços de ativos numa economia em que prevalece a moeda de crédito criada pelos bancos. Enquanto a teoria convencional cuida de examinar as condições de equilíbrio no intercâmbio de mercadorias, Minsky coloca o crédito e a finança no centro da economia capitalista. (O modelo da feira livre versus o "paradigma de Wall Street".) Para ele, a concorrência em busca da maximização do ganho privado determina resultados que a ação dos indivíduos racionais não pode antecipar. As decisões privadas são tomadas em condições de incerteza radical e, por isso, estão sempre sujeitas à subavaliação do risco e à emergência de comportamentos coletivos de euforia que conduzem à fragilidade financeira e a crises de liquidez e de pagamentos. Minsky descreve as etapas do ciclo crédito e formação de preços dos ativos em que as interações subjetivas entre os participantes do mercado não raro provocam a má precificação de ativos e distorções na alocação de recursos.
De nada adianta iludir-se com o conhecimento do passado ou com as toadas do presente, projetando essas tendências para o futuro. Tampouco é possível atribuir probabilidades às trajetórias prováveis da economia. O mundo dos homens e de seus negócios não está sujeito a um comportamento probabilístico. Para vencer esse estado desconfortável de incerteza irredutível, os controladores da riqueza e do crédito têm de lançar mão de informações, avaliações, crenças e regras costumeiras que julgam sustentar as decisões dos demais. Esse processo -o de incorporar nas próprias avaliações os julgamentos dos seus pares, a despeito de ancorado na mais profunda ignorância- vai constituindo uma espécie de "consenso do mercado" -a opinião da comunidade de negócios em cada momento.
Nos períodos de "normalidade", as almas torturadas pela sede insaciável de riqueza flutuam no espaço entre os dois extremos fatais, o zênite da euforia compartilhada e o nadir do medo contagioso. Seu conforto momentâneo é sustentado por arranjos sociais e formas institucionais que compõem um determinado "estado de convenções". Nesse ambiente cognitivo e psicológico, o presente parece confirmar o passado e indicar os critérios para o futuro.
As crises irrompem no momento em que a cadeia de certezas está no auge. Nesse momento de agruras, torna-se evidente que a acumulação de bons resultados precipitou uma forte deterioração da percepção do risco e espicaçou a ambição do conjunto dos investidores. Quando a maré sobe, não há prudência nem conselho capazes de resistir à liberação completa das forças da ambição. Estas se apresentam, aliás, como oniscientes e onipotentes, sólidas e inexpugnáveis. Até o momento em que se desmancham no ar.


LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 67, é professor titular de economia da Universidade Estadual de Campinas. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi0703201010.htm