"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

quinta-feira, 25 de março de 2010

A crise do Euro

24/03/2010

Principais economistas alemães discutem a situação do euro

Der 
Spiegel

Thomas Tuma e Alexander Jung

À medida que o euro perde o respeito que costumava inspirar, muita gente está começando a temer que a união monetária possa entrar em colapso. Em uma entrevista a “Der Spiegel”, os proeminentes economistas alemães Peter Bofinger e Joachim Starbatty discutem os méritos da moeda comum europeia, e dizem se a União Europeia deve ou não intervir na economia da Grécia e no destino do euro.

Spiegel: Senhores Bofinger e Starbatty, vocês acham que a criação do euro foi um erro?

Peter Bofinger: Não, claro que não. Atualmente nós vivemos em uma zona monetária que, apesar de tudo, é significativamente mais estável do que foram no passado as zonas monetárias do dólar e do iene. O euro trouxe crescimento e prosperidade à Europa.

Joachim Starbatty: Na verdade, o euro foi um erro que teve graves consequências específicas. Uma união monetária exige que os seus membros sigam as mesmas políticas e tenham produtividade similar. O chamado critério de convergência tinha como objetivo garantir que isso aconteceria. Mas – conforme os acontecimentos dramáticos na Grécia estão demostrando agora – não foi isso o que aconteceu.

Spiegel: Você sente hoje que a sua previsão se confirmou?

Starbatty: Infelizmente, os nossos medos tornaram-se uma realidade. A união monetária foi criada com uma dose real de auto-ilusão.

Bofinger: Desculpe, não entendi.

Starbatty: O euro nos foi apresentado como sendo um programa de modernização para a Europa, e também nos disseram que isso empurraria a comunidade europeia rumo à estabilidade. Mas, na realidade, a comunidade fragmentou-se e tornou-se uma entidade verdadeiramente instável.

Bofinger: Instável? O índice de inflação tem sido moderado, permanecendo em torno de 2% desde 1999, e este índice é significativamente menor do que aquele presenciado quando a Alemanha usava o marco. Nós temos um déficit de orçamento inferior ao dos norte-americanos, japoneses e britânicos. A nossa relação entre dívida e produto interno bruto também é mais reduzida do que a dos Estados Unidos e a do Japão. Não existe nenhum motivo pelo qual o euro deva ser criticado. A decisão de cria-lo foi inteligente e ponderada.

Spiegel: Sem nenhum problema?

Bofinger: É claro que a zona do euro atualmente dá a impressão de estar em uma situação um pouco pior. Mas isto era de se esperar, tendo em vista a tempestade pela qual passou a economia global. Mesmo assim, graças à moeda comum, não é mais possível, por exemplo, desfechar ataques especulativos contra moedas individuais. Isso elimina um fator problemático fundamental que no passado desestabilizou maciçamente os mercados.

Starbatty: Mas este é exatamente o problema! No passado, as taxas de câmbio funcionavam como uma válvula. Países individuais podiam controlar as suas economias permitindo que as suas moedas ganhassem ou perdessem valor. Agora, esse mecanismo de ajuste não funciona mais e, como resultado, um tipo completamente diferente de desequilíbrio emergiu. Atualmente existem dois blocos dentro da união monetária: um bloco de moeda forte no norte do continente e um de moeda fraca no sul. O norte robusto juntou forças com os países que desvalorizaram constantemente as suas moedas no decorrer das suas histórias. Basta ver o caso da lira italiana, por exemplo. Ao final da década de cinquenta, eu pagava 6,70 marcos alemães por mil liras italianas. A taxa de câmbio final foi menor do que um marco por mil liras.

Spiegel: O que aconteceria se essas velhas moedas fossem reintroduzidas amanhã na zona do euro?

Bofinger: Isso seria uma catástrofe. O marco alemão teria que passar por uma valorização significativa – eu diria que algo em torno de 10% a 20%. Tudo o que nós nos empenhamos tanto em conseguir em termos de competitividade desapareceria da noite para o dia. Haveria lamentos e ranger de dentes na Alemanha. E a Europa estaria cometendo um grave erro se retornasse ao regionalismo e ao nacionalismo durante esta fase de globalização crescente.

Starbatty: Eu enxergo as coisas de uma forma completamente diferente. O euro foi também apresentado aos cidadãos como sendo um instrumento para garantir a paz. Eu nunca fui capaz de entender tal argumento porque, se isto fosse de fato verdade, teríamos que abrir a união monetária para todos. Em vez disso, devido ao fracasso da moeda, nós estamos testemunhando agora como o nacionalismo surgiu originalmente. Bandeiras da União Europeia já foram queimadas na Grécia.

Spiegel: Mas teria sido melhor se todos os países da Europa tivessem mantido as suas próprias moedas?

Starbatty: Sim. Uma comunidade não pode funcionar quando é composta de parceiros desiguais que devem se comportar como iguais. Com o euro, a Alemanha criou uma vantagem competitiva artificial para si, o que nos permitiu conquistar mercados em todo o mundo. Mas isso também levou à acumulação de uma capacidade excessiva maciça nas nossas indústrias de exportação e, consequentemente, as companhias voltadas para a exportação no sudoeste do Estado alemão de Baden-Württemberg estão passando por problemas. A união monetária modificou a estrutura das economias de uma forma nada saudável.

Bofinger: Ah, o que é isso! Você não pode culpar o euro por esses desequilíbrios! A responsabilidade é, fundamentalmente, das políticas econômicas. Desde 1995, não houve quase nenhum aumento apreciável de salários na Alemanha, em parte como resultado da pressão provocada pelo aumento da quantidade de mão de obra terceirizada. Os políticos fizeram tudo para aliviar os empregadores do peso de ter que pagar contribuições previdenciárias porque nós caímos neste estranho pânico, acreditando que não éramos globalmente competitivos. Com as nossas políticas econômicas, nós enfatizamos demais e equivocadamente as exportações. Os irlandeses, os gregos e os espanhóis, por outro lado, enfatizaram demais a demanda doméstica.

Spiegel: Nos últimos dias, a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, criticou repetidamente o superávit da balança comercial da Alemanha, alegando que ele é elevado se comparado ao dos outros países da União Europeia. Ela está certa ao fazer tais críticas?

Starbatty: Não. Eu creio que é estranho que Madame Lagarde esteja punindo os virtuosos, que sempre estiveram orientados para a estabilidade, e não os verdadeiros culpados.

Bofinger: Mas os alemães pecaram tanto quanto os espanhóis, por exemplo. Os espanhóis elevaram muito os seus salários, enquanto a Alemanha praticou a política oposta ao não elevar o poder de compra dos seus trabalhadores durante anos.

Starbatty: Mas, e daí? Isso fez com que tivéssemos sucesso. Foi algo que surgiu com o temor de que os empregos migrassem para o exterior. E a política de salários moderados da Alemanha fez com que o país passasse novamente a ser atraente para as companhias.

Bofinger: Você deveria olhar para isso de uma forma mais holística. Não teríamos sido capazes de aumentar as nossas exportações se os outros países tivessem se comportado como nós e não tivessem elevado a sua demanda durante uma década inteira. Na minha opinião, a união monetária é como um relacionamento: para funcionar de forma apropriada, os participantes do relacionamento têm que orientar o seu comportamento em direção ao bem comum. Se cada participante voltar-se apenas para o seu benefício próprio, isso gerará todos os tipos de crise de relacionamento que atualmente estamos experimentando.

Spiegel: Tais crises terminam ocasionalmente em divórcio. Será que isso seria uma opção válida para a Grécia, um membro da zona do euro, em algum momento no futuro?

Starbatty: Eu creio que essa medida é a que faria maior sentido. Os gregos deveriam deixar voluntariamente a união monetária e relançar a dracma. Se fizessem isso, eles exportariam mais e seriam capazes de substituir produtos estrangeiros por domésticos. Da mesma forma, os turistas viajariam para a Grécia, em vez de para a Turquia, porque essa seria uma alternativa mais barata.

Bofinger: Excluir a Grécia da União Europeia seria uma abordagem completamente equivocada. O problema da Grécia é a ineficiência em termos de finanças públicas. Isso é algo que pode ser corrigido. Em comparação com outros países, Atenas sempre coletou pouquíssimos impostos. O orçamento do governo não era sequer equilibrado nos anos prósperos, quando havia um forte crescimento econômico. Não é essa a maneira de se administrar um país. O governo da Grécia poderia, por exemplo, elevar a alíquota mais alta de impostos de 40%, o valor atual, para um patamar bem mais alto. Após a reunificação da Alemanha, quando Helmut Kohl era chanceler, a nossa alíquota tributária mais alta era de 56%.

Starbatty: E você acredita seriamente que isso ajudaria? Após essa abordagem, os gregos poupariam excessivamente, assim como os alemães fizeram no início da década de trinta, sob o então chanceler do Reich, Heinrich Brüning. Aquilo que você espera que os gregos façam resultaria em algo como Brüning ao quadrado. O problema real é que a Grécia no deveria ter sido aceita originalmente na união monetária. O país apresentou números adulterados, como sabem todos aqueles que leem jornais. E outros fizeram a mesma coisa. Mas as autoridades em Bruxelas, que temiam que os gregos anunciassem publicamente a fraude, disseram: “Vamos esquecer isso!”.

Bofinger: Mas hoje em dia tudo isso são águas passadas. Temos que lidar com a situação atual. No Conselho dos Especialistas, nós propusemos um pacto de consolidação, segundo o qual cada país teria que especificar uma rota integralmente verificável, rota esta que ele seguiria enquanto colocasse em ordem as suas finanças internas. Esta não seria uma solução apenas para a Grécia, mas para todos. Em troca, a comunidade teria que fornecer aos países problemáticos garantias de que estes seriam capazes de conseguir verbas nos mercados de capital a juros favoráveis, em vez de a índices extremamente elevados. É inaceitável que governos tenham passado os últimos anos gastando bilhões e bilhões de euros e acumulando dívidas para salvar os mercados financeiros, apenas para que os especuladores empurrassem os países para fora da união monetária.

Starbatty: Segundo a minha experiência, os especuladores só tem sucesso quando as promessas políticas divergem da realidade econômica, conforme ficou claro no caso da Grécia. Da mesma forma, quando se trata de assistência, eu creio que possuímos uma estrutura legal clara, segundo a qual nenhum Estado membro nem a união inteira podem ser responsabilizados pela dívida de um outro Estado membro.

Spiegel: Você está se referindo, é claro, à famosa cláusula de auxílio financeiro a países em crise.

Starbatty: Você, Bofinger, eliminaria esse princípio com uma canetada. Se ajudarmos a Grécia agora, estaremos abrindo um buraco sem fundo. Se isso acontecer, o euro estará em apuros maiores porque outros países esperarão ajuda. A união monetária transformar-se-ia em uma união de transferência monetária. Se isso acontecer, os meus antigos colegas e eu tomaremos novamente medidas legais.

Bofinger: Mas tal pacto restringir-se-ia a ajudar os países a ajudarem a si próprios. A ideia agora não é comprar títulos gregos. Em vez disso, nós devemos definir condições nítidas segundo as quais a Grécia e outros países receberão garantias. Mas, é preciso haver também uma opção para cancelar as garantias caso as regras não sejam obedecidas.

Starbatty: Pactos são escritos em papel, mas aquilo que é escrito nem sempre é necessariamente verdadeiro. O Pacto de Crescimento e Estabilidade para o euro era originalmente bem mais estrito, mas depois disso ele foi flexibilizado. Não há muito resultado quando pecadores falam sobre pecadores.

Spiegel: Mas a dívida governamental ainda está aumentando consideravelmente. Isso não eleva também o risco de inflação?

Starbatty: É isso que eu assumo. A inflação seria uma forma elegante de reduzir a dívida, e muitos acadêmicos estão discutindo esse cenário. Mas a situação se torna verdadeiramente problemática quando títulos de governo acabam perdendo a sua condição de porto seguro. Se a China ou o Japão chegar a esta conclusão e vender os seus títulos, poderá haver o estouro de uma bolha que seria mais perigosa do que qualquer outra bolha. Se isso acontecer, os mercados despencarão, e as taxas de juros dispararão.

Bofinger: Ah, Starbatty, os chineses não tem outra escolha a não ser comprarem títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Caso contrário, eles teriam permitido que a sua moeda experimentasse uma valorização significativa, e eles seriam mais afetados do que qualquer outro país pela queda dos preços de títulos. Para a zona do euro, pelo menos, o que eu vejo como mais provável é o risco de deflação – em outras palavras, o risco de queda de preço em ambas as frentes. Se as pessoas estão começando agora a poupar de forma muito mais intensa, uma enorme pressão de queda surgirá inevitavelmente como um resultado disso.

Starbatty: Mas as pessoas não estão poupando. Em vez disso, os países estão se endividando além de qualquer limite. Se a economia da Alemanha continuar estagnada e os seus 1,3 milhão de trabalhadores de curta jornada não encontrarem novamente empregos normais, os déficits governamentais voltarão a subir, e as expectativas inflacionárias aumentarão.

Bofinger: Dívidas governamentais não conduzem automaticamente a inflação, conforme tem sido demonstrado pelos acontecimentos no Japão no decorrer das duas últimas décadas. O Banco Central Europeu jamais cogitará utilizar a inflação para eliminar a dívida. E mesmo se a população começasse a gastar o seu dinheiro devido ao medo da inflação, pelo menos as fábricas finalmente operariam novamente a plena capacidade. Em outras palavras, isso também não seria nenhuma tragédia.

Spiegel: A turbulência nos mercados financeiros também criou um problema de credibilidade para as pessoas com a profissão de vocês. Praticamente nenhum economistas previu os problemas fatais que enfrentaríamos.

Starbatty: É verdade. Muitos de nós confiamos excessivamente em números. Mas modelos matemáticos não são capazes de descrever realidades complexas.

Bofinger: Ah, quanto a isso eu concordo completamente com você. Temos que entender novamente que a economia não é uma ciência exata.

Spiegel: Vocês dois acreditam de fato que o euro ainda estará em vigor daqui a cinco anos?

Bofinger: Tenho certeza que sim. Toda crise cria uma oportunidade, e isso deve se aplicar também a esta crise especial de relacionamento. Mas para isso é necessário, no entanto, que as autoridades em Bruxelas não fiquem trocando acusações e que elas finalmente elaborem uma abordagem conjunta e coordenada.

Starbatty: Isso não é suficiente. Se salvarmos a pele dos gregos agora, outros países membros também farão pressões para a obtenção de assistência financeira. E neste caso a união monetária desmoronará. A única coisa que não está clara é quando isso acontecerá.

Bofinger: Então você provavelmente concordaria com o grande economista britânico John Maynard Keynes, que afirmou: “No longo prazo, todos estaremos mortos”. Neste caso, é claro que não restará ninguém para analisar os fatos.

Starbatty: Temo que as coisas não demorarão tanto tempo assim no caso do euro.

Spiegel: Senhor Bofinger, senhor Starbatty, obrigado pela entrevista.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2010/03/24/principais-economistas-alemaes-discutem-a-situacao-do-euro.jhtm

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