"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?
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quarta-feira, 21 de abril de 2010

Brasília, 50 anos

Hoje é o dia do aniversário de Brasília e vários jornalistas e comentaristas tiraram o dia para falar mal de Brasília. É um equívoco.

1. Brasília é a síntese do modelo brasileiro de desenvolvimento. Várias da críticas feitas à brasileira nada mais são do que críticas que deveriam ser generalizadas para o Brasil. A divisão entre o moderno e o arcaico, entre a alta renda e a baixa renda, pobreza, ilegalidade, especulação imobiliária, corrupção, tudo isso é o Brasil.

2. Na origem se imaginou fazer uma cidade perfeita que sinalizasse o rumo que o Brasil tomaria a partir dali, uma cidade que não retratasse o nosso atraso. Logo que a construção foi iniciada, Brasília já se inseriu na realidade mais crua da sociedade brasileira, com os movimentos migratórios, com as habitações improvisadas nas bordas da cidade planejada. O espaço de Brasília foi organizado pára refletir uma integração social, comunitária, democrática que se esperava que fosse o padrão a ser generalizado para o Brasil. Um projeto arquitetônico que sintetizasse uma plano de mudança para o Brasil. Não sabemos se este plano seria viável e se concretizaria se tivessem dado continuidade. Mas é sabido que o regime militar interrompe este processo do ponto de vista social. E que após a Constituição de 1988, Joaquim Roriz irá se encarregar de destruir esta projeto do ponto de vista espacial, econômico, etc. Brasília era para sinalizar uma mudança, uma transformação social e foi levada na prática pelos governos militares e por Roriz e seus asseclas a sinalizarem a permanência do status quo. E isto aparece em coisas triviais. Estive em Gramado há mais de uma semana e uma das coisas que surpreenderam as pessoas que foram para Gramado é que os motoristas (da cidade, porque os turistas…) paravam na faixa de pedestre. Durante o governo Cristovam Buarque em Brasília, isto se tornou o padrão depois de intensa campanha. Brasília voltava a se civilizar a partir de coisas simples como o respeito às leis de trânsito, voltava a ser um exemplo. Bastou o Cristovam perder a eleição e o Roriz voltar para isto se perder rapidamente. O trânsito volta a ser terra de ninguém. Brasília é a vítima, não é a causa das nossas mazelas.

3. Brasília surge como uma carte de intenção sobre o que se queria fazer do Brasil. Na medida em que este projeto é abandonado, Brasília é  entregue às traças. Recuperar o projeto brasileiro de desenvolvimento começa por recuperar Brasília e com isso os sonhos que Brasília simbolizava. Concretamente hoje isso passa pela intervenção federal em Brasília, e pela mudança no modelo de governo da capital federal.

4. As superquadras de Brasília são uma idéia excelente e ainda servem como modelo de organização urbana. Brasília é uma cidade bonita, agradável e habitável.

5. Para resolver boa parte dos problemas de Brasília é preciso uma aplicação rigorosa da lei em relação a ocupação dos espaços. Se tudo que for construído infringindo a lei for demolido, especialmente a ocupação irregular de classe média e alta, Brasília começa a deixar de ser terra de ninguém. Obviamente que para os setores populares é preciso definir uma política de oferta de imóveis que cesse o crescimento descontrolado da cidade sem qualquer tipo de infra-estrutura, e que coloca esta população refém de políticos do tipo Joaquim Roriz.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

A real dimensão do Brasil em escala internacional: na falta de poder, a persuasão, mas basta?

No deserto, as miragens ganham vida e podem até dar sentido à luta pela vida, mas continuam sendo miragens. As miragens podem servir para realimentar os sonhos e fazer crer que as chances de sobrevivência são maiores, mas continuam sendo miragens.

A política externa brasileira vive de miragens. São miragens importantes, motivam o país, mas não se pode esquecer que são miragens.

Quem acompanha o blog sabe que sempre post as notícias que de algum modo exaltam este momento do Brasil. Me diverte ler estas notícias pensando no quanto elas incomodam os antiLula ferrenhos, o quanto incomodam o PSDB e o FHC por colocar o Brasil atual num patamar incomparável com o que ocorria no governo FHC. Se havia um setor no qual FHC e seu grupo imaginavam que seriam insuperáveis era na política externa, como um presidente monoglota poderia superar o príncipe da sociologia paulista? Não apenas superou, como o reduziu a insignificância dentro da história da política externa brasileira. FHC corre o risco de ser tratado nos livros de história da política externa brasileira como um Eurico Gaspar Dutra qualquer. E dentro do meu humor insólito, acho divertido acompanhar isso.

Entretanto entre a realidade e as miragens cultivadas pela internacional sobre o Brasil há uma larga distância. A imprensa internacional adotou o Brasil, adotou o Brasil porque o Brasil defende em escala mundial os valores liberais nas relações internacionais que são compartilhados por esta mesma imprensa. O Brasil segue um padrão de ação que a imprensa liberal internacional gostaria de ver generalizado. Além disso, difundir o Brasil não compromete, não é uma potência militar, não viola uma série de valores cultivados pela imprensa liberal como a China. Maximizar o soft power brasileiro não representa risco para a grande imprensa liberal, além disso o apoio ao Brasil aponta-o como modelo a ser seguido, especialmente para os governantes de esquerda. Então o Brasil foi abraçado em todo a sua agenda de política internacional.

O ativismo do Brasil em termos de política externa só é efetivo porque as ações brasileiras são significativamente amplificadas pela imprensa internacional. Sem poder militar, sem capacidade de coerção, o Brasil só pode contar com a persuasão, com a capacidade de convencimento e para tanto a imprensa funciona eficazmente ao legitimar as pretensões brasileiras, explica-las, e valida-las. Note-se, por exemplo, se os EUA ignoram por completo a idéia do G-20, e restringem as negociações ao G-8, qual seria a repercussão na mídia liberal mundial?

Agora vários periódicos trouxeram a comparação entre o Brasil e o México, apontam como o México que era o modelo em meados da década de 90 retrocedeu e o Brasil avançou. Isto deve servir como exemplo, todos os países que foram apontados como modelos a serem seguidos pela mídia liberal na seqüência sofreram grandes crises. O Brasil ainda tem uma vantagem não foi objeto de nenhum relatório do Banco Mundial apontando-o como modelo.

O Brasil tornou-se mais ativo em termos de política externa, mas não se tornou mais poderoso no sistema internacional. A arma do Brasil é a persuasão, a formação de alianças, a capacidade de mobilização dos seus diplomatas. Não se pode confundir aumento do ativismo em política externa com aumento do poder brasileiro na política internacional.

A imprensa brasileira mostra grande incompreensão da situação tanto pelos viés oposicionista que adota quanto pela ignorância mesma. O caso de Honduras é paradigmático. A UOL colocou uma notícia com uma manchete que dizia que o caso de Honduras mostrava que a OEA só funcionava quando os EUA atuavam. A jornalista Eliane Cantanhêde escreveu neste domingo (01/10) uma coluna intitulada “Quem pode pode” para tratar da questão, diz que por mais que o mundo esteja mudando, apesar de todo esforço do Brasil, a questão de Honduras só andou quando os EUA se movimentaram. E eu fico pensando, mas o que eles esperavam? Do mesmo modo que os EUA não conseguem demover o presidente do Sudão ou o governo da Coréia do Norte, agora, se a China interferir na questão de fato, o problema norte-coreano seria resolvido como por encanto. As organizações internacionais não tem poder próprio, seja a ONU, seja a OEA, o poder deles está relacionado ao comprometimento dos Estados-membros com os objetivos e ações da organização. Evidentemente que se os membros mais poderosos não se comprometem com a instituição, ela se enfraquece. Estranho seria a OEA ser tão poderosa que não dependesse dos EUA para agir, aí deveríamos pensar se não seria mais seguro “fechar” a OEA. Era evidente desde o início que o Brasil e a OEA não seriam capazes de demover a liderança golpista, por isso sempre pressionaram os EUA. O que o Brasil poderia para fazer o governo do turno de Honduras ceder? Nada, os dois países não possuem relações econômicas relevantes, nem políticas, resistir ao Brasil não representa um ônus para Honduras exceto em termos de imagem. Mas alguém pensa que o governo de Honduras tenha uma imagem a zelar no exterior que o fizesse ceder? Estranho seria Honduras ceder. Só faria sentido questionar o poder e a capacidade de ação do Estado brasileiro se houvesse um golpe na Bolívia, no Paraguai e no Uruguai (e talvez mesmo na Argentina) e o Brasil não fosse capaz de fazer pressão suficiente a ponto de demover os golpistas.

Jânio de Freitas também escreveu sobre política externa neste domingo, mas tratou de outra questão do acordo militar entre os EUA e Colômbia. O artigo intitulado “A liderança em questão” afirma que a idéia de que o Brasil lidera a América do Sul foi completamente negada pela assinatura deste acordo. Outro equívoco. Mas aí um equívoco mais honesto do que o da Eliane Cantanhêde. Dizer que o Brasil lidera a América do Sul é, em geral, uma força de expressão. De fato, a América do Sul é uma região em disputa, e os Estados da região orbitam em torno de pelos menos três eixos de poder, Washington, Brasília e Caracas. De acordo com seus interesses políticos e econômicos, os governos da região se aproximam mais ou menos de um destes eixos. Ora, é evidente que a Colômbia está numa posição isolada dentro da região e o Estado mais vinculado aos interesses dos EUA na região. É uma posição idealista imaginar que o Brasil poderia ter impedido o acordo entre a Colômbia e os EUA, para tanto o Brasil deveria que ter oferecido uma alternativa mais vantajosa para solucionar o problema que o governo colombiano considera mais ameaçador, a guerrilha e o narcotráfico. Ora em nenhum momento o Brasil se dispôs a apresentar esta alternativa. Caso Brasil, Equador e Venezuela se dispusessem a assumir a agenda política colombiana e montar uma operação conjunta para desmontar a guerrilha e o narcotráfico que ocorre no seu entorno, a Colômbia teria uma alternativa viável (mesmo superior) à cooperação com os EUA. Mas os países da região rejeitam a agenda colombiana, é um direito deles. Entretanto, para retirar os EUA da região, o melhor caminho seria se comprometer com a agenda colombiana. Agora qual o apoio interno que o presidente Lula teria para enviar tropas brasileiras para enfrentar a guerrilha e o narcotráfico na fronteira com a Colômbia e mesmo eventualmente realizar operações conjuntas na Colômbia? A sociedade brasileira está disposta a assumir o custo de ser de fato o líder da América do Sul?

A principal restrição que o Brasil sofre na sua ação internacional é o fato de não ser hegemônico na América do Sul. Hegemônico no sentido gramsciano do termo. Os países da região não identificam que possam atingir o seu interesse através das suas relações com o Brasil, e isso enfraquece significativamente o Brasil. No mesmo artigo, Jânio de Freitas aponta que o novo acordo realizado entre a Argentina e o Chile é um golpe na idéia de liderança brasileira. Podemos apontar também o fato da China estar disputando o mercado argentino com o Brasil. O que os países da região querem? Dinheiro, querem mercado para exportar seus produtos. E a capacidade do Brasil de ofertar isso é reduzida, o Brasil contribui pouco para a solução dos problemas dos seus vizinhos, a situação melhorou com os financiamentos do BNDES, mas o Brasil precisaria manter um “sólido” déficit comercial, ou pelo menos ser um grande importador da produção de seus vizinhos, deveria ser o grande parceiro comercial dos países sul-americanos como a China se tornou para os países asiáticos, mas o Brasil está bem longe disso. É surpreendente, por exemplo, que o Mercosul ainda seja discutido no Uruguai, que não haja uma completa integração econômica entre o Brasil e o Uruguai.

Por outro lado, não se pode minimizar a importância do Brasil na América do Sul. O governo Evo Morales identifica a Venezuela de Hugo Chávez como seu principal aliado. Mas a estabilidade política da Bolívia passa em grande medida pelo Brasil. A disposição brasileira em renegociar os acordos do gás com a Bolívia como a disposição brasileira em renegociar Itaipu com o Paraguai são cruciais para a sobrevivência destes governos, para ampliar suas margens de ação política. Também Hugo Chávez sabe que boa parte da sua atuação se deve ao Brasil. Os limites da ação internacional de Hugo Chávez vai até o ponto onde o Brasil pode lhe dar suporte, ele sabe disso e não ultrapassa este limite. Sem o apoio do Brasil, a pressão americana sobre a Venezuela seria muito maior. Após a fracassada tentativa de golpe em 2002, os EUA não tentaram mais nada diretamente, porque em 2003 já não podiam mais contar com o apoio do Brasil como anteriormente. Chávez sabe que caso a oposição se eleja no Brasil em 2010, a sua posição internacional ficará profundamente vulnerável. Chávez sabe também que pára continuidade do seu projeto política a integração com o Brasil é fundamental, solidificaria a estratégia de desenvolvimento alternativa. Por isso, mesmo não exigindo que o Brasil faça parte da ALBA, mesmo sabendo que o Brasil nunca poderá fazer parte da ALBA, Chávez busca aprofundar projetos conjuntos com o Brasil. O Brasil ganhou uma importância no comércio exterior venezuelano que não tinha antes de Chávez e Lula.

As ações do Brasil ganharam repercussão internacional quando o Brasil assumiu o discurso hegemônico na mídia liberal internacional. Isto fortalece o Brasil nos fóruns multilaterais mundiais, mas tem pouco impacto nas questões sul-americanas. Aqui os vizinhos querem resultados econômicos mais concretos por se aliarem ao Brasil. É preciso compatibilizar as duas coisas. E neste sentido ainda se constata o limite econômico do Brasil. O Brasil se tornou atrativo para o capital internacional, os fluxos de capitais não cessam. Isto reforça o espaço brasileiro nos fóruns econômicos internacionais. Mas este despontar econômico brasileiro ainda não foi capaz de trazer junto a América do Sul. O Brasil ainda precisa crescer muito, e adotar políticas mais efetivas de integração para ser capaz de fato criar um espaço econômico sul-americano colocando-se como centro.

A dimensão internacional continuará sendo superdimensionada neste momento de crise e de vazios de liderança, mas o Brasil não deve deixar se envolver pelo canto da sereia. É preciso continuar medindo os passos enquanto constrói uma sólida retaguarda. Esta retaguarda está em construção. Mas não está pronta. É preciso mais ousadia na integração sul-americana para que ela possa se reverter mais rapidamente em suporte político para o Brasil. o Brasil vai com cuidado com medo de perder neste processo de integração. Claro que haverá setores que serão perdedores líquidos num caso de integração sul-americana, mas é impossível que politicamente o Brasil não seja o ganhador líquido e mesmo economicamente o Brasil terá mais vantagens.

domingo, 26 de abril de 2009

A política, os políticos e eu

Desde criança gostei de política, sempre acompanhei. No início da década de 80, se não me engano, 1982, passei a receber o jornalzinho da prefeitura da minha cidade. Porque sempre ficava fazendo perguntas e minha mãe falou para eu escrever para o prefeito perguntando e falando das minhas preocupações. A assessoria do prefeito respondeu e partir dali passei a receber sempre o informativo da prefeitura até mudar o prefeito. O sucessor foi o segundo pior prefeito que a minha cidade teve. O pior veio logo depois, Barra do Garças aparecia na imprensa nacional de vez em quando pelas denúncias de corrupção que o deputado da cidade fazia na Câmara dos Deputados contra o prefeito. Quando da eleição deste aí que eu descobri o quanto brasileiro é complicado. Uma senhora que trabalhava na faxina no Banco Real tinha votado no sujeito, mesmo sabendo dos problemas dele e votaria de novo. Aí ela falou que votou porque ele a tinha ajudado (ele era médico). Eu na minha ingenuidade disse, mas a senhora pode votar em outro candidato que ele nem vai ficar sabendo o voto é secreto. E  ela: não ele vai ficar sabendo sim, é só olhar. Na visão dela um político conseguiria vigiar os eleitores para acompanhar quem votou ou não nele. E isso quando o voto era em papel, fico imaginando o que não pensam hoje quando o voto é na urna eletrônica.

Quando o Tancredo Neves foi eleito, uma das primeiras cidades que ele visitou foi Barra do Garças. Ele iria se encontrar lá com o governador de Mato Grosso e com o governador de Goiás. Mas como em Barra do Garças não tinha aeroporto na época, ele posou em Aragarças. Conforme pode ser visto na imagem abaixo, a esquerda está Aragarças-GO, no meio, já no Mato Grosso, o Pontal do Araguaia (na época ainda parte do município de Torixoréu) e a direita (e não apenas no mapa) Barra do Garças.

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Perturbei meus pais para ir lá. Aí fui esperar pra ver o Tancredo Neves no aeroporto de Aragarças, uma longa espera no sol. E depois fomos acompanhar a visita dele à Câmara de Vereadores de Barra do Garças, onde se reuniria com os políticos locais e os governadores. Obviamente Tancredo Neves foi muito aplaudido. Mas lá por aquelas bandas, o mais popular era sem dúvida o governador de Goiás Íris Rezende. E o impopular era certamente o governador do Mato Grosso, Júlio Campos. Nos discursos para o povo, obviamente o governador Íris Rezende foi muito mais aplaudido. Graças a isso, Barra do Garças ganhou um aeroporto, porque Júlio Campos ficou revoltado e disse que nunca mais pousaria em Goiás e mandou construir um aeroporto na Barra.

Da pré-escola à oitava série estudei em escola católica particular das freiras salesianas, onde não havia segundo grau ou melhor havia apenas o magistério. Por idiossincrasia local, o colégio dos padres salesianos, onde havia segundo grau, era público, estadual, e em geral todo mundo fazia o segundo grau lá. No ano que eu deveria começar no segundo grau, ou no ano anterior eu não lembro, abriu um colégio Objetivo. Eu não quis ir para nenhum dos dois. Fui para uma outra escola pública onde começaria a primeira turma de segundo grau. Nem irei comentar o contraste entre a escola de onde eu estava saindo e a que eu estava indo. O que interessa é que era 1989 e todos os professores eram petistas. A escola era uma animação, não para estudar, mas para fazer política. E isso foi muito bom. Mas como eu ainda não podia votar mais observava e analisava do que qualquer outra coisa. Porque lá eu era suspeito, porque todo mundo sabia que a minha família não só era antipetista, mas nutria muitas simpatias pela UDR e o Ronaldo Caiado. Eu não era nem uma coisa nem outra, o que meus irmãos e eu fizemos nestas eleições foi visitar todos os comitês de candidato que tinham na cidade pegando propaganda. Se a minha mãe não jogou fora estão todas arquivadas. Foi uma eleição histórica. Obviamente que o material mais fácil de conseguir era o Collor, portanto do candidatos mais conhecidos é o que tem mais. Apesar do PMDB ser forte lá, o cuidado do Ulisses Guimarães foi abandonado então tem pouco, como tem pouco material do Lula, porque a maior parte do material de campanha não era dado, mas vendido pela escassez de recursos para propaganda. Certamente o que mais contribuiu para o crescimento do Lula, além evidentemente dos problemas do país, foi a rede povo, os programas de TV eram ótimos. Também tem muito material do Guilherme Afif Domingos e seus dois patinhos na lagoa, que também tinha um grande comitê na cidade. O PL era uma alternativa para a direita local que não ficou no PFL. Por falar no PFL, nem sei se tem material do Aureliano Chaves. Se o João Baptista Figueiredo não fosse burro, o Aureliano Chaves teria sido presidente e imagino que um presidente melhor que o Sarney.

Nas eleições de 1994, eu estava na UnB. O Centro Acadêmico, agora nem sei se foi o Carel, o capol, ou cadir, ou todos juntos, resolveu convidar os presidenciáveis para um debate na UnB. Foi um fracasso, porque depois que a campanha engrena é difícil conseguir que presidenciáveis pareçam em eventos desta natureza. O então senador Espiridião Amin aceitou participar, mas a UnB entrou em greve, e aí quando ele foi lá havia pouquíssimos alunos no anfiteatro Joaquim Nabuco da FA. Mas ele foi ótimo, porque fez o discurso dele, conversou com todo mundo. E mostrou o que é um político tradicional. Dois dos meus colegas de turma eram de Santa Catarina, estado do senador, quando eles disseram que eram de  SC, o senador disse de quais cidades eram as famílias deles, fez perguntas sobre pessoas que eles deveriam conhecer e etc. Idéias, propostas para discutir, ele não tinha. Mas até minha amiga de SC que era muito esquerdista na época quase foi seduzida politicamente pelo senador. E é engraçado como certas coisas marcam, eu já tinha uma visão positiva do senador Espiridião Amin de quando ele foi governador de Santa Catarina no início da década de 80. Houve uma grande enchente em Santa Catarina em 1983 ou 1984 quando ele era governador, que assistindo pela TV a presença e a ação dele nos lugares afetados pela enchente, e isso me marcou na época. Dentre a direita brasileira, e da Santa Catarina em particular, melhor Espiridião Amin do que Jorge Bornhausen. E não sei não, mas acho que melhor Espiridião Amin do que Ideli Salvati.

Após as eleições para prefeito de 1996, o então deputado José Genuíno foi até a UnB para discutir os resultados das eleições. Foi uma noite qualquer lá, a discussão foi numa sala de aula, não foi uma palestra, foi feito um círculo composto pelo deputado e os presentes. O deputado respondeu todas as questões. Depois os colegas reclamaram, porque eu monopolizei um pouco a palavra, sempre atropelando para perguntar e questionar antes. Por incrível que pareça retrospectivamente, o que eu mais questionei foi a ausência de uma política de alianças, e pior a traição das alianças para manter o PT sempre na cabeça de chapa. Nas eleições de 1996, o caso emblemático sobre o comportamento do PT foi a eleição para a prefeitura de Belo Horizonte. O mui honrado presidente Cardoso ainda não tinha inventado a reeleição. Então o Patrus Ananias, hoje ministro, era o prefeito e o Celso de Castro do PSB era o vice-prefeito. O natural era que o candidato da coligação fosse o Celso de Castro, mas o PT não aceitou dar a cabeça da chapa para o PSB e então saiu duas candidaturas ligadas ao governo, o Celso de Castro pelo PSB e outra candidatura do PT. E o PT perdeu as eleições. (Depois como o FHC inventou a reeleição, o  Celso de Castro podia ser candidato a reeleição, então aí o PT aceitou ser vice na chapa) Voltando ao José Genuíno, neste debate toda vez que eu queria questionar o que ele havia dito usava o caso de Belo Horizonte. Fui um chato! Especialmente porque já então o Genuíno já era o grande defensor da política de alianças dentro do PT.

Estava na Feira do Livro de Brasília em 1993 ou 1994, quando anunciaram nos auto-falantes que acabava de adentrar ao recinto o Exmo. sr Presidente da República, Itamar Franco. O Itamar se comportava como uma pessoa normal dentro do possível, óbvio. Ele estava namorando na época uma policial militar de Minas Gerais. Eles se sentaram numa arquibancada que tinha lá local. Não houve tumulto, aglomeração e nem havia seguranças em volta impedindo as pessoas de chegarem perto. Então criei coragem, porque sou tímido, e fui lá conversar com ele e pedir um autógrafo. Ele autografou em um dos livros que eu havia comprado, o livro do Robert Dahl, Um prefácio a democracia econômica.

Em 1994, eu estava no Conjunto Nacional em Brasília indo para a Rodoviária pegar o ônibus para ir para a UnB. Aí quando eu olho, o Lula está lá na plataforma superior da rodoviária fazendo campanha de rua, aproveitei e peguei um autógrafo no meu caderno e matei de inveja minha amiga petista de Santa Catarina. Em 1994, eu já votaria no PT, em hipótese alguma no FHC. Como minha família nunca votaria no Lula então, eu fiz campanha em família para votarem em outro. Que votassem no Espiridião Amin, até no Quércia se fosse o caso. Mas no FHC não. Não adiantou nada, mas pelo menos três votos eu consegui tirar do FHC.

As eleições em Brasília eram uma festa. Um ótimo lugar para se vivenciar as eleições. Em 1994, as eleições para governador de Brasília foram contagiantes, altamente polarizadas entre Valmir Campelo, o candidato do Roriz, porque o FHC ainda não tinha inventado a reeleição, e Cristovam Buarque, o candidato do PT. O Cristovam Buarque venceu as eleições e civilizou Brasília pelo menos durante seu mandato. Quando ele foi eleito governador já tinha feito a disciplina Formação Econômica do Brasil na UnB, onde o professor utilizou parte do livro “A Revolução nas Prioridades”, eu tirei xerox, e nem gostei da parte que lemos, porque entendo ser teoricamente equivocado tratar dos dez erros da sociedade brasileira, porque a sociedade não erra, conceitualmente não faz sentido dizer que uma sociedade errou, porque de fato uma sociedade não para e decide, é o processo histórico que define o que a sociedade é hoje, e não escolhas propriamente. E eu só não tive a disciplina com ele, porque ele estava em campanha. Depois de eleito, ele continuou dando aulas e sempre estava lá na UnB. Encontrei-o um dia na livraria do Chiquinho no ceubinho (área de lanchonetes, xerox, livraria no ICC-Norte ou ainda minhocão), e puxei o primeiro livro dele que achei no stand para ele autografar pra mim. Depois quando fui formar, a turma o escolheu para paraninfo, e ele esteve presente na colação de grau. Ele chegou pontualmente, mas aí e ali ele era o governador, e, portanto, ele não entraria no recinto para ficar esperando começar. Ele só viria quando fosse efetivamente começar e eu dei um chá de cadeira no governador. Toda hora chegava pra mim, alguém falando que o governador já havia chegado e não podia deixar ele ficar esperando. Mas uma amiga minha estava atrasada, não havia chegado, e  eu não deixaria começar sem ela. Enquanto ela não chegasse, eu não autorizaria começar. E fiz com que o ensaio e as instruções fossem repetidas várias vezes, quando ela chegou, eu disse agora acabou o ensaio, podemos começar. E minha amiga disse, bem que minha mãe me falava no carro que você não deixaria começar antes de chegarmos. O governador chegou, e aí como já contei aqui outra vez, a participação dele foi ótima, porque o discurso dele foi elogiar o meu discurso.

Também já contei aqui outra coisa da formatura. Mas como este post é sobre política, políticos e eu. As colações de grau dos cursos de relações internacionais e ciência política eram sempre no Itamaraty, mas o pessoal de pol achava ruim porque o Itamaraty era mais identificado obviamente com o curso de rel. Eu não gostava do auditório do Itamaraty, um lugar escuro e feio. Então apoiei o pessoal de pol para ser em outro lugar. Obviamente que para ser em outro lugar tinha que ser num lugar que chamasse tanta a atenção quanto o MRE. Então decidimos ver para ser no auditório do Senado. Mas o Senado havia proibido a realização de formaturas lá. Só que a família de uma das formandas de pol era do Maranhão e tinha relações de amizade com o Edson Lobão, senador e atualmente ministro. Na época o primeiro secretário que é o responsável por estas coisas era o senador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima. Então esta colega falou com o Edson Lobão que falou com o Ronaldo Cunha Lima, que liberou para que nossa colação de grau fosse no auditório do Senado, sem dúvida um auditório maior e mais bonito do que o do Itamaraty. Se conseguir o auditório não foi difícil, conseguir a colaboração dos funcionários do Senado responsável pelo auditório foi, o chefe lá queria nos boicotar, porque ficar cuidando de som de formatura era difícil. Mas depois de ter dito que não daria para fazer o serviço, ele voltou atrás e saiu quase tudo certo. Erraram na hora de colocar uma música. E como parêntesis, é impressionante como mestre de cerimônias erra nomes, erra o que é ensaiado e os fáceis com a mesma naturalidade. Eu ensaie com ele todos os nomes difíceis, mostrando como se pronunciava. A criatura foi errar justo um fácil, um dos sobrenomes da minha amiga do parágrafo anterior, só vi a cara da mãe dela olhando pra mim.

Ainda morando em Brasília, gostava de circular pelo Congresso Nacional, agora é mais chato, porque há controle de fato na passagem da Câmara para o Senado. Mas naquela época não havia e podia-se circular tranquilamente por todas as dependências das duas Casas. O melhor para fazer isso era dizer na portaria que você iria na biblioteca. Eu sempre digo que vou à biblioteca, porque aí é certeza que não vão ligar para ninguém para pedir autorização, vc entra e pronto, pode ir onde quiser. Já circulei em todos os corredores das prédios principais, mesmo onde não passa ninguém, onde fica os gabinetes que ninguém quer. A primeira vez que eu fui ao Congresso e visitei a Esplanada dos Ministérios foi quando estava fazendo cursinho em Goiânia. Aí o sindicato de professores de Goiás ia em alguns ônibus protestar contra o substitutivo Darcy Ribeiro, que finalmente foi aprovado e hoje é a atual LDB, e uma das minhas primas professoras perguntou pra outra prima e pra mim se nós não queríamos ir e aí lá fomos nós conhecer o Congresso e a Esplanada dos Ministérios.

Em 1996, ou início de 1997, eu estava cursando a disciplina Movimentos Sociais e o trabalho final era pesquisar um movimento social e precisava entrevistar alguém do movimento social. Resolvi fazer sobre o MST. Iria entrevistar o deputado Adão Pretto do RS e falecido agora em 2009. Eu passei o dia anterior da entrevista, o dia inteiro em pé fazendo boca de urna na eleição para reitor da UnB. Nessa eleição já havíamos montado a Rel Jr, aí um dos apoiadores deste candidato a reitor havia dado muito apoio para nós. De fato o apoio dele era mais importante para conhecer gente do que para negócios, porque esse professor era arroz de festa, como ele trabalhava na área internacional na UnB, ele vivia nas recepções nas embaixadas. Tem umas frases de escritores húngaros que já postei uma vez no blog, que acho lindas, que copiei numa exposição de fotos de cemitérios húngaros promovida pela Embaixada da Hungria. Ele também nos apresentou aos representantes de Taiwan no Brasil e ganhamos alguns presentes com isso, até massagem grátis por organizar uma palestra na UnB com o representante de Taiwan expondo a bandeira de Taiwan e tocando o hino, o que em tese não deveria ocorrer oficialmente no Brasil, porque o Brasil não reconhece Taiwan, e por isso eles são sempre emotivos quando se faz isso. Como este professor estava nos ajudando e era ligado a um dos candidatos a reitor, ele nos apresentou o candidato e o candidato nos convidou para ir tomar um chá com eles na casa do candidato que fica no Lago Sul, uma casa muito bonita, com uma vista mais bonita ainda. E depois das conversas típicas de políticos sobre projetos e etc. quando estávamos no carro indo embora, eu perguntei pro meu amigo, foi impressão minha ou ele estava nos oferecendo cargo se ele for eleito? Chegamos a uma consenso que sim, que ele insinuou isso sim. Então diante de tal oferta como não fazer campanha? rsrsrs Nada disso, como já estava comprometido politicamente com o professor que ajudava a Rel Jr não havia como não fazer campanha. Passei o dia em pé fazendo boca de urna e a noite fui para a apuração. E depois do sacrifício perdemos a eleição. Então no dia seguinte eu estava morto de cansado, desesperado para dormir e ficar com os meus pés quietinhos sem tocar o chão. Mas era preciso entregar o trabalho no dia seguinte, e a entrevista estava marcada e lá fui eu. Como sempre ocorre nestas situações, o deputado estava preso no plenário e eu teria que aguardar, e os minutos e horas vão passando e eu praticamente dormindo sentado, com o pé latejando de dor. E sempre a secretária falando que o deputado está preso no plenário. Desisti meu sono e meus pés são mais importantes que um trabalho de faculdade. Entreguei o trabalho sem nenhuma entrevista. E engraçado foi a professora me dizer depois que ao ler o trabalho achava ruim não poder me dar SS (A), e dar MS (B), mas que eu merecia mesmo era um MM (C).

Como considero estes contatos com a política e os políticos importante. Sempre penso que meus alunos devem ter isso de algum modo. O ano passado convidei o deputado Aldo Rabello para fazer uma palestra na faculdade. Sendo um dos poucos deputados que se interessam por política externa demos sorte dele estar, naquele momento, postulando uma vaga de candidato a prefeito e foi bastante proveitoso ouvir a análise do deputado sobre as relações externas do Brasil e sobre o papel da Câmara dos Deputados nestas questões.

sábado, 18 de abril de 2009

Esta no es la primera vez que Obama muestra su favoritismo por Lula de cara a una cumbre mundial.

Obama volvió a conversar con Lula

16:08

A poco del comienzo de la Cumbre de las Américas, acordaron los temas que presentarán cada uno. Y hablaron de Cuba, la crisis global y sus efectos en América Latina.

Fue al primer latinoamericano que recibió en la Casa Blanca, dijo que lo ama, que es el político más popular de la Tierra y ahora volvió a darle prioridad. El presidente de Brasil Luiz Inacio Lula Da Silva se convirtió en el favorito de Barack Obama y no lo disimulan. Este mediodía hablaron por teléfono para ponerse de acuerdo de cara a la Cumbre de las Américas.
Lula conversó con Obama durante 15 minutos. La iniciativa había partido del jefe de Estado brasileño pero no tuvo suerte y no consiguió comunicarse. Pero minutos después Obama tomó el teléfono y lo llamó.
El objetivo era llegar acordar los detalles sobre lo que ambos presidentes llevarán a la Cumbre de las Américas que se inicia mañana en Trinidad Tobago.
Según se informó oficialmente, Lula y Obama hablaron de Cuba, de la crisis mundial y su impacto en América Latina, y de las posibles vías para atenuar los efectos que esta crisis provoca en la región.
Esta no es la primera vez que Obama muestra su favoritismo por Lula de cara a una cumbre mundial.
Poco después, dijo que Lula era "el político más popular de la Tierra". La frase la pronunció antes de que se iniciara la cumbre del G-20 en Londres y agregó: "This is the guy!" ("Este es el hombre") y "I love this guy!" ("Amo a este tipo").
Además, el brasileño fue el primer mandatario de América Latina que pisó la Casa Blanca bajo la flamante Administración el 14 de marzo pasado.

http://www.clarin.com/diario/2009/04/16/um/m-01899369.htm

domingo, 2 de novembro de 2008

Política é interesse, mas um mínimo de princípios é fundamental

Se for confirmada a notícia da jornalista Cristiana Lôbo sobre a união em 2010 entre Roriz, o PT e o Cristovam Buarque, os três ficarão desmoralizados, mas especialmente a política. Desde que me mudei para Brasília em 1993, as eleições de Brasília são animadas, polarizadas e politizadas por causa do confronto entre o PT e o Roriz. Uma polarização política, mas também de princípios. Apesar da queda de nível dos candidatos do PT com a apresentação do Geraldo Magela, o PT no DF não havia descido tão baixo quanto o PT em outros locais, por exemplo, aqui em São Paulo. Com essa aliança o PT do DF certamente ganhará pontos com a direção nacional, mas perderá votos. Tanto o Arruda quanto o Paulo Otávio são produtos do Roriz que agoram ameaçam o criador. E o Cristovam Buarque? Ele certamente não precisa disso para se reeleger senador. Não concordo com o programa econõmico minimalista do senador Cristovam Buarque, mas é um dos melhores senadores do país. Mas se for candidato em aliança com o Roriz, que passou anos lhe atacando, irei torcer para ele perder.

Chapa forte

Postado por Cristiana Lôbo em 01 de Novembro de 2008 às 22:52

    Não se pode afirmar hoje se PT e PMDB estarão juntos em 2010 ou não. Os dois partidos juram que sim. Mas, isso, hoje. E tudo pode mudar.

      Mas, enquanto não muda, uma aliança impensável até bem pouco tempo atrás vai sendo costurada no Distrito Federal. Ela seria bem ampla para lançar a seguinte chapa: Agnelo Queiroz, hoje no PT, para o governo, tendo como vice o deputado peemedebista, Tadeu Filipelli (PMDB). As vagas de candidatos ao Senado seriam de Joaquim Roriz (PMDB) e Cristovam Buarque (PDT).

      A principal missão de tão ampla chapa seria a de enfrentar o adversário local, o DEM. Que poderá ir em 2010 de Arruda ou de Paulo Octávio na disputa pelo governo local.

      Será que o eleitor candango iria entender uma aliança de PT com PMDB? E, ainda com o PDT? Isso já aconteceu em alguns Estados, mas em Brasília seria a de Agnelo Queiroz (ex-PC do B) com Roriz e ainda de Roriz com Cristóvam.

      Realmente, a chapa, se confirmada, será uma grande novidade na política.

http://colunas.g1.com.br/cristianalobo/2008/11/01/chapa-forte/

domingo, 8 de junho de 2008

Brasília!

No fim de semana de Corpus Christi fui rapidamente à Brasília. Fui na sexta e voltei no sábado. Cheguei por volta das 10 da manhã de sexta-feira, e as 18:30hs de sábado eu já estava dentro do avião para voltar para São Paulo. Neste curto período já vi uma das coisas que eu detesto em Brasília, a exibição poder que não sem tem. É impressionante como as pessoas gostam de contar vantagem, lá todo mundo manda. Como a história de fato, eu não posso contar, vou exemplificar com uma que eu já contei aqui há algum tempo. Quando morava em Brasília eu estava na fila do supermercado Pão de Açúcar do Conjunto Nacional, e obviamente a minha fila não andava, empacou por incompetência da funcionária e pelas besteiras de um cliente. Ótimo. Na minha frente estava um homem com uma crinaça de uns 6 anos que diante da demora virou para o pai falou assim "fala que vc é do Itamaraty". Meus Deus! A criança tem seis anos e já é doente, já padece da síndrome de Brasília.Na hora imaginei como seria engraçada a cena, o pai falando o cargo e aí todo mundo iria começar a falar o seu para disputar quem realmente teria precedência. É uma vergonha.

Na sexta-feira à tarde fui acompanhar meu irmão que saiu para passear com o nenê dele, meu sobrinho. Fomos no Parque Olhos D'àgua (antigamente era isso, ou imagino que fosse, não sei se ainda é), e para minha supresa encontrei o professor Antônio Dantas. O Dantas foi meu professor de economia no segundo semestre na UnB. Uma amiga minha fez a matéria com ele no primeiro semestre e reprovou. Aí quando chegamos na sala e vimos que ele seria o professor todo mundo ficou assutado pelo que tinham ouvido falar dele. Como sempre sou uma pessoa ponderada, lembrei o pessoal que a nossa amiga tinha sido reprovado, então estava chateada, e podia estar superdimensionado eventuais problemas. No fim, ela estava certa e errada. A matéria "Introdução à economia" era difícil. Mas hoje sei que é impossível alguém algum professor dar bem dado "Introdução à economia" e terminar o curso sendo amado pelos alunos porque a matéria é difícil, muitas vezes a lógica da teoria econômica viola o senso comum. Agora o Dantas era uma excelente pessoa. Ele nasceu no Maranhão, e um dos vínculos que cultivava com o passado estava em dar todos exemplos baseados em costumes nordestinos, sempre tinha comércio de bode na história. Nos fez estudar de verdade. Fui muito mal na primeira prova, mas me recuperei, terminei o semestre com SS. Na nota de uma amiga, ele foi injusto ao fazer a passagem da nota em números para letras. Com absoluta certeza ele não ligou o nome à pessoa. Minha amiga jamais iria lá conversar com ele sobre notas, bons alunos não questionam notas, não perguntam sobre notas. Mas eu não tinha nada com a história. Fui lá conversar com ele, o encontrei quando ele estava chegando no Departamento de Economia. "Professor, o senhor cometeu uma injustiça com a fulana, deu tanto para o beltrano e ela, que é muito melhor, ficou com MM". Ele só disse "Não converso sobre notas"  e continuou andando. Ele estava passando pela porta do departamento, eu ainda disse quem era a fulana, a cidade de origem, estado, para ele ligar o nome à pessoa. Ele corrigiu a nota, ela ficou com MS. E ele tomou a decisão certa. Depois de vez em quando eu ia ao departamento de economia conversar com ele. Fui mais ainda quando eu decidi fazer o mestrado em economia e ele era o coordenador da seleção nacional da ANPEC. Apesar de ser professor de economia, ele escreveu um romance. Um romance que é ao mesmo tempo psicológico, policial e autobiográfico. Gira em torno de um homem que vai morar e estudar no exterior e depois retorna à sua cidade de origem. Havíamos perdido contato depois que ele se aposentou da UnB, foi bom tê-lo reencontrado. Não está mais se dedicando aos romances, mas ao mercado de capitais. É o mundo globalizado e financeirizado.

Fui almoçar com alguns amigos num restaurante chinês na sábado. Durante todo o período que estudei em Brasília, certamente os diferentes restaurantes de comida chinesa foram os locais que eu mais fui. Sempre íamos num da 406N (desta vez fomos numa filial deste na 411N), um na 112S, outro, por quilo, que acho que era na 102S. O da 112S começamos a ir depois de termos feito negócios com a representação de Taiwan no  Brasil e sempre que íamos almoçar com eles era lá que nos levavam e claro que pagavam a conta porque éramos pobres estudantes ajudando Taiwan. Dentro os citados era obviamente o melhor. Obviamente que encontrando meus amigos em Brasília lembramos de nosos professores e falamos mal deles. Há algo para ser pesquisado, porque é irresistível falar mal de professores? Mas também os defendi depois de falar mal, porque hoje os entendo. Sempre gostei de Brasília, acho uma cidade bonita, às vezes estragada pelos caminhos de rato, às vezes pela seca, mas é uma bela cidade. Sempre pensei que voltaria para Brasília, hoje já não sei mais. Ir lá após 4 anos confirmou a sensação que tinha, Brasília se tornou uma cidade triste, porque se tornou uma cidade de lembranças, é uma cidade nostálgica. Independentemente de serem eventos bons ou ruins. Em Brasília, é impossível para mim pensar o presente ou o futuro, só enxergo o passado. E ainda que o passado seja alegre, ninguém pode ser feliz no passado, provavelmente nem no futuro, mas com absoluta certeza no passado é impossível.

sábado, 5 de abril de 2008

A UnB em crise

A reitoria da UnB foi invadida pelos estudantes. É uma resposta algo tardia às denúncias sobre os gastos do reitor pagos pela FUB. Quem acompanha o blog há algum sabe que eu já disse aqui que sempre acho muito engraçado os professores das universidades públicas criticarem o clientelismo, o patrimonialismo, porque nas universidades públicas brasileiras predominam os mesmos tipos re lações arcaicas que encontramos no governo. O apadrinhamento, o favorecimento tende a ser a regra, então a crítica é sempre hipócrita já que nunca há auto-crítica e tentativa de reformar a universidade. Na UnB, desde quando eu estava na graduação, o CESPE, por exemplo, era alvo de muitas desconfianças. Vejam o surreal, o órgão responsável pela realização do vestibular e de concursos públicos passou a administrar o RU, ou melhor, o bandejão. Aí depois que o CESPE assumiu o controle passou a passar uma campanha publicitária para que os alunos chamassem o restaurante universitário de RU e não mais de bandejão para refletir uma mudança na qualidade da comida e dos serviços. Tem lógica? Faz sentido o CESPE controlar o bandejão? Tem lógica gastar dinheiro com  propaganda das reformas do bandejão? Claro que tem, porque o CESPE era o maior foco de denúncias, toda a camapnha para reitor girava em torno da caixa-preta do CESPE. Então era um meio de melhor a imagem do órgão dentro da universidade. O CESPE queria continuar com o dinheiro, mas agora com uma boa imagem. E com a eleição do Lauro Morhy, o diretor do CESPE que o apoiou foi promovido. As denúncias em relação à FUB e à Editora da UnB é apenas uma expansão dos problemas que se desenvolvem desde meados da década de 90. Interessante como ainda aparece gente dentro da universidade para dizer que o dinheiro da FUB é privado, o que só faz envergonhar mais a sociedade pela falta de vergonha na cara. A política na universidade se tornou tão rasteira que quando eu era aluno um candidato a reitor ofereceu emprego para um amigo e eu caso ele ganhasse e nem ficou vermelho. Depois que saímos da casa dele às margens do lago Paranoá no Lago Sul, perguntei para o meu amigo, eu entendi direito, ele nós ofereceu um emprego em troca do apoio? O pior é que não é uma exceção, é a regra. E infelizmente já está mais do que evidente que as eleições nas universidades não representaram um avanço, reforçaram estas tendências.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Saudosismo

Dois eventos esta semana me deixaram saudosista. Em primeiro lugar ter ido à colação de grau festiva da turma de relações internacionais que conclui o curso no segundo semestre de 2007. Descobri que ainda vai demorar para eu ficar insensível em formaturas. Em primeiro lugar, porque gostei muito da minha. A minha colação de grau foi perfeita. E claro, antes que algum aluno/amigo se manifeste, pela linda homenagem do ano passado.

Acho que já contei sobre a minha formatura, mas irei recontar. Fiz questão de fazer parte da comissão de formatura para que a formatura tivesse um pouco a minha cara, e foi ótima. Primeiro, porque ocorreu no auditório do Senado Federal. As formaturas dos cursos de relações internacionais e ciência política ocorriam, naquela época, no auditório do Itamaraty (agora todas ocorrem na horrível tenda da UnB), mas eu detestava o auditório, um auditório, escuro, feio. Então, como o pessoal de ciência política era sempre insatisfeita das formaturas ocorrerem no Itamaraty o que demonstrava um predomínio do curso de relações internacionais, apoiei a idéia deles de fazer em outro lugar, e no caso decidimos que seria o Senado. Só havia um problema, o Senado havia proibido este tipo de evento lá. E para conseguir seria necessário conseguir uma autorização por parte do primeiro-secretário na época, senador Ronaldo Cunha Lima. Uma das formandas em ciência política era do Maranhão e a família dela era próxima do senador Edson Lobão. Então através do senador Edson Lobão conseguimos que o fosse liberado o auditório do Senado. Em retribuição agradeceríamos no convite de formatura aos dois senadores, mas esqueci disso, e aí só no discurso de formatura que eu agradeci aos dois.

Duas figuras lapidares morreram no ano que me formei. Darcy Ribeiro que foi fundador da UnB e Ruy Mauro Marini, teórico da dependência e professor do REL. Então alguns colegas sugeriram que dêssemos o nome do Darcy Ribeiro à turma, fui contra porque muita gente na UnB faria o mesmo. Outros nomes rotineiros, como Rui Barbosa, foram sugeridos. Ruy Mauro Marini seria um bom nome, mas não seria vencedor. Então eu sugeri Theotonio dos Santos. Theotonio dos Santos é também um dos pais da teoria da dependência, era professor apossentado do REL e ainda estava (e está) vivo. E para ganhar na votação ainda garanti que eu conseguiria trazê-lo para a colação de grau. Na véspera da formatura uma colega veio conversar comigo (ela tinha defendido outro nome) para me tranquilizar dizendo que se ele não viesse não haveria problema, ninguém ficaria chateado. Mas ele foi na formatura. Ainda organizamos uma palestra com ele na UnB para aquele período o que reduziu os custos da viagem para ele, e isso permitiu que eu lesse em primeira mão os textos que estão no livro Teoria da Dependência: balanço e perspectivas.

Para paraninfo nós convidamos o professor Cristovam Buarque, hoje senador e na época governador do DF, ele não só aceitou como compareceu. E eu ainda atrasei o início da cerimõnia para esperar uma amiga minha e dei um chá de cadeira no governador apesar da chateação de professores para começar logo, porque ele foi pontual e teve que ficar escondido para chegar só quando fosse começar, sendo o governador, pelo protocolo, ele não poderia entrar no recinto e aguardar que outra pessoa chegasse para a cerimônia começar. O Cristovam Buarque falou maravilhas sobre o meu discurso, inclusive levou a minha cópia, e disse que todos deveriam pedir uma cópia. E apesar desta bajulação quando ele foi candiato a presidente eu não votei nele, mas minha família votou.

Além disso na minha formatura teve outro fato que me deixou bastante contente, recebi uma homenagem surpresa dos demais formandos pela minha atuação na comissão de formatura. Então foi um dia radiante. Terminei o dia extremamente otimista.

O ano passado, ano em que completou dez anos da minha colação de grau, recebi uma homenagem linda da turma que concluiu o curso no final de 2006. Novamente uma homenagem supresa, porque eu não era o professor oficialmente homenageado, com direito à faixa e discurso, e presentes, garrafas de água como a que eu sempre levava para a sala. Este ano, oficialmente homenageado, não havia como não entrar no clima de formatura já que formaturas só me trazem boas lembranças. E no discurso este ano comecei citando o meu blog e a minha pesquisa sobre as razões que levam alguém a cursar relações internacionais.

Outro momento de saudosismo ocorreu nesta quarta-feira conversando com o cônsul da Venezuela em São Paulo que veio fazer uma palestra no Unibero.  Lembrei também da UnB, da Rel Júnior e do professor Galvão. A Rel Júnior é a empresa júnior de relações internacionais que criamos na UnB. Através da Rel Jr conheci o professor Galvão que trabalhava na área internacional da reitoria e tinha bom trânsito com diplomatas estrangeiros e adorava recepções diplomáticas. O primeiro evento que rpomovemos com ele foi levar um diplomata da República Tcheca para falar sobre a divisão da Tchecoslováquia. E logo no meu primeiro evento descobri que não podia contar com presença voluntária, havíamos colocado cartazes em toda FA, mas a sala estava vazia. Tive que cassar público nas salas de aula. Na UnB, as aulas não param para eventos, as coisas ocorrem simultaneamente, o aluno escolhe. Foi constrangedor, mas consegui público. Através do professor Galvão, um amigo e eu nos aproximamos da Representação de Taiwan no Brasil, que ficava na SCRN 714. Organizamos um seminário com o representante de Taiwan na UnB. O representante seria o embaixador caso o Brasil reconhecesse Taiwan como Estado soberano. Como o país não é reconhecido, eles dão enorme atenção a quem se interessa por eles. Almoçamos várias vezes com eles, nos deram vários livros de presentes, moedas comemorativas, e uma borboleta de ouro. Também fomos jantar na casa do representante de Taiwan no Lago Sul. Tive que comer coisas que eu não gostava. Duas coisas interessantes, os convidados foram distribuídos em várias mesas e com lugar marcado e com pessoas que vc não conhecia para obrigar a conhecer, felizmente eu fiquei na mesa do senhor Chang que era o segundo na hierarquia da representação e que era muito engraçado. Ele era engraçado sem querer ser engraçado, era o jeito dele mesmo que era engraçado. E nesse dia ele ainda levou uma bebida típica deles pra mesa que ele queria que todo mundo virasse o copo e bebesse de uma vez, obviamente eu fiz isso uma vez e só, mas ele continuou então no fim estava mais engraçado ainda. Outro fato curioso é que no convite trazia o horário de início e término do jantar. Quando deu o horário de término, o representante se levantou e começou a se despedir das pessoas para elas irem embora. A partir destes contantos o meu amigo chegou a ganhar uma viagem para conhecer Taiwan. Também fui fazer uma visita a alguns diplomatas da embaixada da China com o professor Galvão, mas eles eram mais fechados, conversaram menos. Também fui em ventos da embaixada do Irã, foi a primeira vez que comi caviar e detestei, nunca mais, realmente não gosto de nada que venha do peixe ainda que seja caro. Fui também num evento da embaixada da Hungria que eu já citei aqui no blog há algum tempo quando coloquei as frases de poetas húngaros que eu anotei, era a inauguração de uma exposição de fotografias de cemitérios húngaros e abixo de cada foto colocaram trechos de poesias húngaras, lamentei não ter levado papel, só pude anotar as frases que couberam no extrato bancário que estava na minha carteira. E ainda participei com o professor Galvão da articulação de uma candidatura de um professor da Faculdade de Educação para reitor. Mas logo a Rel Jr entrou em crise e eu me cansei destas coisas. Foi uma das experiências que me ajudaram a perceber que eu não gostaria de ser diplomata.

Nesta história de Taiwan nós conhecemos muita gente, entre elas, o mestre Wu, mestre em Tai Chi Chuan. Eu morava na 103N e o mestre Wu morava na 105, entre a SQN 104 e a SQN 105 há um espaço aberto gramado, uma quadra esportiva. E lá o mestre Wu dava aulas gratuitas de Tai Chi Chuan as 06 ou 06:30hs da manhã. E o inacreditável é que ele me convenceu a ir lá participar. Acordar de madrugada para fazer Tai Chi Chuan. Ele era especialista nestas coisas orientais, uma vez eu fui fazer acunputura com ele. Não adiantou eu insitir em pagar e deixar o cheque lá, ele não queria receber e nunca depositou o cheque em gratidão pela homenagem que havíamos feito a Taiwan. Aí também não voltei mais lá porque fiquei com vergonha.

sábado, 15 de dezembro de 2007

100 anos de Niemeyer!

Oscar Niemeyer completa 100 anos. Obviamente é um momneto para fazer elogios à pessoa (certamente ele receberia mais se não se declarasse comunista) e à obra. Mas irei por outro caminho, obviamente. O que mais gosto em Brasília deve-se ao urbanista Lúcio Costa, é distribuição espacial da cidade, o Plano Piloto, a concepção teórica das cidades satélites, a organização em quadras e blocos. Mas com Niemeyer eu tenho um problema sério, não consigo achar bonito o concreto armado. Uma construção em concreto armado só fica bonita quando se junta ao trabalho um bom paisagista. O concreto em si mesmo exposto é feio ainda que as suas formas sejam delicadas, suaves como do Palácio do Planalto. Por isso, acho o Ministério da Justiça mais bonito. O Congresso Nacional é um prédio bonito, mas entendo que o locus do poder deve ter o caráter de obra faraônica, o que certamente as obras de Niemeyer não têm. O prédio do STF é de uma simplicidade franciscana. A Catedral de Brasília é bonita, mas não tem a grandiosidade da Catedral da Sé (que é feia). O prédio do Itamaraty em Brasília é outro prédio que não me atrai.

sábado, 28 de abril de 2007

Lembranças pelo aniversário de Brasília

Escolhi cursar relações internacionais analisando o Guia do Estudante da editora Abril descobri que era o curso que tinha um pouco de tudo o que eu gostava. Então logo comecei a me informar sobre ele. A primeira vez que eu fui para Brasília foi para fazer a minha inscrição no vestibular, quis ir pessoalmente para já conhecer, minha mãe e minha tia, irmã do meu pai, resolveram ir junto, obviamente o programa seria me inscrever no vestibular e visitar outros parentes em Brasília, e viajar no mesmo dia para Jataí-GO. Quando cheguei à Brasília pela primeira vez era um vento frio na Rodoferroviária, mas que vento, senão me engano era mês de maio. A Rodoferroviária ainda era limpa, não estava cheia de ambulantes. Um primo do meu pai serviu de motorista pelo dia inteiro. O que mais chamou a atenção em Brasília foi o que chama a atenção de todo mundo, as avenidas largas, os prédios padronizados, adorei a esplanada dos Ministérios, o melhor é que ainda não estava muito seco. A inscrição para o vestibular era no ICC-norte (parte norte do minhocão). Gostei da UnB, os espaços amplos, típicos de Brasília. Um defeito era o fato dos prédios serem muito funcionais. A segunda visita à Brasília foi para prestar o vestibular, fiquei hospedado na casa do primo do meu pai em Ceilândia, então conheci Taguatinga e Ceilândia e tinha que levantar muito cedo por causa do trânsito das cidades-satélites para o Plano Piloto. No segundo vestibular, fui com um grupo de vestibulandos de Goiânia onde fiz cursinho e ficamos hospedados no Manhattan no Setor Hoteleiro Norte. Aí eu conheci a rodoviária de Brasília, o Conjunto Nacional de Brasília e o Conic (são interligados) que juntamente com o Setor Comercial Sul são os únicos lugares no Plano Piloto onde há realmente circulação de pessoas pelas ruas. Consegui a façanha de me sair pior no segundo vestibular para o qual eu havia me preparado do que no primeiro que não tive preparação alguma porque o meu segundo grau terminou em abril por causa das greves. Mas eu me mudei para Brasília mesmo assim, porque só queria prestar vestibular para relações internacionais (como eu era ingênuo, nunca prestei nenhum outro vestibular) e na UnB. Fui morar na 704N e fazia cursinho na 702/703N. Passei no vestibular e aí eu pude mesmo conhecer Brasília. Em geral, as pessoas não gostam de Brasília. Gosto muito de Brasília. Gosto da organização da cidade, hoje já não está bem assim depois de tantos governos Roriz, o Distrito Federal como um todo ficou mais confuso. Mas é no mínimo interessante uma cidade que tenha um setor chamado Setor de Motéis, e os motéis estejam lá, um Setor de Postos ou o SIA (Setor de Indústria e Abstecimento) ou que tenha um setor chamado Setor de Mansões, outro Setor Hospitalar. E como é bom, as ruas não terem nomes, basta a pessoa entender a lógica do sistema de endereços que os mapas são totalmente dispensáveis. Só precisa entender um monte de siglas SQN, SQS, SCRN, SCRS, SHS, SHN, SCN, SCS. Mas é fácil. As ruas não têm nome tem uma letra e um nome, mas só duas são realmente chamadas pelo seu “nome” W3 sul e norte, L2 sul e norte, apelidos o eixão e o eixinho. E tem o Eixo Monumental, onde num extremo está a Rodoferroviária e no outro a Praça dos Três Poderes. Eu pegava o ônibus para ir para a UnB na W3norte, pegava a Linha W3/L2 norte ou o Grande Circular, que circulava na Asa Sul e na Asa Norte. A UnB fica na Asa Norte, descia no ponto da 407N em geral, em frente da Loja Rosacruz Amorc de Brasília e da Fundação Educacional do Distrito Federal, atrás está a UnB, aí cada um procurava o seu rumo à FT, FA, minhocão (ICC-Norte e ICC-Sul), FS, CO, ou seja, Faculdade de tecnologia, prédio da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, Instituto Central de Ciências (se não falar minhocão quase ninguém sabe dizer onde fica e como é chato achar sala no ICC), Faculdade de Saúde, Centro Olímpico. Para cada uma destas unidades outro monte de siglas. REL, ADM, CIC, ECO, DIR, etc., Departamento de Relações Internacionais e Ciência Política, Departamento de Administração, Departamento de Ciências Contábeis, Departamento de Economia, Departamento de Direito (hoje Faculdade da Direito). A FA era uma zona, um pedaço ficava no prédio da FA, outra parte no minhocão. A alocação de espaço na UnB só não é mais confusa que a organização de Institutos e faculdades, agora está melhorando. A FA fica numa altitude acima em relação ao minhocão e por lá estarem os cursos de Direito e Relações Internacionais era sempre mal falada como Olimpo e pessoal que estudava lá considerado meio metido. A UnB tem biblioteca central, a BCE, outra sigla, a Biblioteca Central dos Estudantes. E em tempos de Hugo Chávez, há um busto de Simón Bolívar logo chegando à Biblioteca. Como disse um professor de lá tudo o que se faz com a Venezuela leva o nome de Bolívar, exceto a cátedra Andrés Bello, que levou o nome de quem? No minhocão fica o ceubinho, o nome vem de uma faculdade de Brasília, onde o primo do meu pai do começo da história trabalha, o CEUB. O ceubinho é local onde não há nenhum pensamento, onde os alunos ficam só enrolando, batendo papo, daí a maldade. No ceubinho fica a livraria do Chiquinho, o último lugar onde vc deve ir se estiver com pressa para conseguir um livro. Ele vai te dizer que consegue o livro para amanhã, mas ele nunca consegue. Como todos sabem neste aspecto, nós não combinamos, passei raiva até descobrir e deixar claro que se ele enrolasse comigo não compraria mais lá, pelo menos comigo quando não dava ele passou a falar a verdade. É uma figura, matou minha amiga de raiva ao me contar o livro que ela havia comprado pra mim, e para piorar eu tinha o livro. A livraria dele é uma bagunça, nem ele consegue encontrar o livro que o cliente procura, várias vezes encontrei o livro que ele procurava para outros clientes por ter boa memória visual, porque não tinha nenhuma lógica, começava logicamente e logo a lógica sumia.
Agora, vou dizer uma heresia, o local que eu mais gosto de Brasília é o Congresso Nacional. Com absoluta certeza o local que eu mais visitei, claro entre pontos turísticos, a UnB não é ponto turístico. Como já faz alguns anos que não vou a Brasília, faz anos que não vou ao Congresso, a vigilância deve ter aumentado apesar do fato que a entrada na casa do povo deve ser livre. Sempre que eu ia ao Congresso, especialmente se entrava pela Câmara dos Deputados, eu dizia que iria na biblioteca, pois aí não havia nenhuma pergunta, apenas pegavam o seu documento e davam o crachá de visitante. Andei por todos os buracos, por todos os corredores do Congresso, onde não tem nada para os visitantes verem, apenas para saber onde ficava cada sala, cada liderança, muitas vezes não havia ninguém no corredor. Claro que também circulava nos corredores movimentados onde se encontra os repórteres de televisão e os deputados. Na maioria das vezes que visitei a Câmara peguei as enormes esteiras rolantes que levam ao Anexo IV onde está a maioria dos gabinetes dos deputados. Circulando pelos corredores além de ver se há gente trabalhando pode-se ver quais as idéias do deputado (quando as tem) pelos cartazes colados nas portas, parece CA. O anexo IV fica ao lado do bolo de noiva (Q.G. do Collor antes da posse) e anexo do Itamaraty. No Congresso, vc só sabe que passou da Câmara para o Senado porque o tapete passa de verde para preto, significa que vc passou do salão Verde para o salão Negro. Logo quando eu mudei para Brasília era possível passar livremente da Câmara para o Senado. Aí enquanto eu ainda estava na graduação os seguranças começaram a ser chatos, quando vc queria passar do Salão Verde para o Salão Negro sem ter um crachá de identificação do Senado também. Mas era fácil resolver o problema era só descer a escada do Salão Verde para o piso inferior se localiza os bancos salão de beleza, e subir a escada para o Salão Negro depois do ponto onde os seguranças ficavam e pronto. Os seguranças que circulavam pelo Senado nunca olhariam o seu crachá. Aí eu podia circular por todas as Alas, assistir às audiências livres e ir à Biblioteca do Senado, Biblioteca Luiz Viana Filho (desconheço o nome da Biblioteca da Câmara apesar de ter ido mais lá). O único lugar que sempre foi difícil para ir é o Plenário, pois só é possível quando os deputados não estão lá. Hoje já mais segurança, da última vez que fui, o segurança do Senado queria que eu saísse fosse a uma entrada do Senado pegar um crachá do Senado, tentei passar pelo subsolo e também não funcionou, desisti de visitar o Senado. Construir Brasília foi um acerto de JK, não levar a idéia ao seu limite um dos problemas, TODA a administração pública federal deveria ter sido transferida para Brasília.
É verdade, em Brasília, as pessoas desejam prestar um concurso público. Mas em outras partes do país também querem. Não é uma questão de comodismo, reflete o fato de que o trabalho no emprego público é melhor. Do mesmo modo que numa cidade como São Paulo, os meus alunos vivem para trainee. O que desejam é o mesmo, a obsessão muda porque a oportunidade para concurso em São Paulo é menor e a possibilidade de fazer trainee e carreira em empresa privada é praticamente zero. O resto é preconceito. A maior parte da população não está empregada no setor público, mas está ligada a ele, pois o setor privado é de pequenos negócios basicamente não há alternativa. Há uma enorme quantidade de pessoas que fazem concurso pelo conformismo, conheço muitos. Mas também já conheci, reconheço que muito menos, quem faça por idealismo, queira trabalhar para o Estado e a sociedade, o problema é que o Estado não favorece em nada a vida destes.