Hoje é o dia do aniversário de Brasília e vários jornalistas e comentaristas tiraram o dia para falar mal de Brasília. É um equívoco.
1. Brasília é a síntese do modelo brasileiro de desenvolvimento. Várias da críticas feitas à brasileira nada mais são do que críticas que deveriam ser generalizadas para o Brasil. A divisão entre o moderno e o arcaico, entre a alta renda e a baixa renda, pobreza, ilegalidade, especulação imobiliária, corrupção, tudo isso é o Brasil.
2. Na origem se imaginou fazer uma cidade perfeita que sinalizasse o rumo que o Brasil tomaria a partir dali, uma cidade que não retratasse o nosso atraso. Logo que a construção foi iniciada, Brasília já se inseriu na realidade mais crua da sociedade brasileira, com os movimentos migratórios, com as habitações improvisadas nas bordas da cidade planejada. O espaço de Brasília foi organizado pára refletir uma integração social, comunitária, democrática que se esperava que fosse o padrão a ser generalizado para o Brasil. Um projeto arquitetônico que sintetizasse uma plano de mudança para o Brasil. Não sabemos se este plano seria viável e se concretizaria se tivessem dado continuidade. Mas é sabido que o regime militar interrompe este processo do ponto de vista social. E que após a Constituição de 1988, Joaquim Roriz irá se encarregar de destruir esta projeto do ponto de vista espacial, econômico, etc. Brasília era para sinalizar uma mudança, uma transformação social e foi levada na prática pelos governos militares e por Roriz e seus asseclas a sinalizarem a permanência do status quo. E isto aparece em coisas triviais. Estive em Gramado há mais de uma semana e uma das coisas que surpreenderam as pessoas que foram para Gramado é que os motoristas (da cidade, porque os turistas…) paravam na faixa de pedestre. Durante o governo Cristovam Buarque em Brasília, isto se tornou o padrão depois de intensa campanha. Brasília voltava a se civilizar a partir de coisas simples como o respeito às leis de trânsito, voltava a ser um exemplo. Bastou o Cristovam perder a eleição e o Roriz voltar para isto se perder rapidamente. O trânsito volta a ser terra de ninguém. Brasília é a vítima, não é a causa das nossas mazelas.
3. Brasília surge como uma carte de intenção sobre o que se queria fazer do Brasil. Na medida em que este projeto é abandonado, Brasília é entregue às traças. Recuperar o projeto brasileiro de desenvolvimento começa por recuperar Brasília e com isso os sonhos que Brasília simbolizava. Concretamente hoje isso passa pela intervenção federal em Brasília, e pela mudança no modelo de governo da capital federal.
4. As superquadras de Brasília são uma idéia excelente e ainda servem como modelo de organização urbana. Brasília é uma cidade bonita, agradável e habitável.
5. Para resolver boa parte dos problemas de Brasília é preciso uma aplicação rigorosa da lei em relação a ocupação dos espaços. Se tudo que for construído infringindo a lei for demolido, especialmente a ocupação irregular de classe média e alta, Brasília começa a deixar de ser terra de ninguém. Obviamente que para os setores populares é preciso definir uma política de oferta de imóveis que cesse o crescimento descontrolado da cidade sem qualquer tipo de infra-estrutura, e que coloca esta população refém de políticos do tipo Joaquim Roriz.
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