"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?
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quinta-feira, 11 de março de 2010

Perspectiva do mercado para quem cursa relações internacionais 2

Post já publicado anteriormente: http://corival.blogspot.com/2007/06/quem-cursa-relaes-internacionais-est_16.html

Abaixo segue parte da primeira aula para a turma do oitavo período sobre o futuro de quem se gradua em relações internacionais:

é preciso que você não tenha uma definição rígida do que seja relações internacionais, é ótimo que você queira atuar na área de relações internacionais. Mas em poucos lugares haverá uma correspondência entre o que você estudou e as atividades profissionais que você irá exercer, mas isso não quer dizer que você não está atuando no campo para o qual se preparou. Se você idealizar a área de relações internacionais, você será definitivamente infeliz profissionalmente. Tenho uma ex-orientanda que trabalha em uma área que, pra mim, é relações internacionais dentro do que pode ser relações internacionais no setor privado. Mas, para ela, não. Para ela, não é relações internacionais e ela se sente permanentemente insatisfeita com o emprego e buscando outro trabalho na área de RI. Mas ela nunca irá encontrar. Por quê? Porque ela idealiza o que são as relações internacionais. Não façam isso. Do ponto de vista do setor privado, as relações internacionais podem ser qualquer coisa no Brasil. Por quê? Porque no Brasil nem mesmo as grandes empresas possuem setores de análise, e de formulação de cenários prospectivos. E as multinacionais possuem estes departamentos em geral no exterior. Então o mercado para você usar teoria das relações internacionais é exíguo. Se vocês consultarem o site da empresa do Rodrigo, que ele acha que é uma consultoria de relações internacionais, de fato, não é. O que faz a consultoria do Rodrigo? Consultoria de comércio exterior e lobby. É relações internacionais? Pode ser que não. Mas se você trabalhar com isso e ficar sempre pensando que perdeu seu tempo cursando relações internacionais, porque não trabalha com RI, você estará condenado a ser infeliz profissionalmente.

Mas isto não quer dizer que você deva se tornar prisioneiro do curso de relações internacionais. Vendo que o curso de relações internacionais foi insuficiente para catapultar a sua careira. Você deve começar outro curso, vocês são novos, tem idade para começar de novo. Da minha turma de graduação, de 18, quatro foram fazer direito. Além de terem ficado entre os melhores alunos do curso de direito, pois já tinham bagagem intelectual, acharam um meio de colocar em prática também as relações internacionais.

Outra coisa que vocês devem se lembrar é que há outros concursos públicos que combinam com quem cursou relações internacionais além do concurso para diplomata, há o concurso para Oficial de Chancelaria do próprio MRE, Analista de Comércio Exterior no Ministério do Desenvolvimento, Analista de Políticas públicas no Ministério do Planejamento e outros . Claro que para estes concursos vocês teriam que estudar matérias que vocês não viram no curso de RI, mas vocês têm condições de fazê-lo e no exercício da atividade estariam sempre próximos da área de RI. Mesmo na Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária, vocês podem estar próximos da área de RI, pois foi lá que ocorreram as discussões para a formulação da posição brasileira em relação às patentes de medicamentos na OMC. Então em diferentes agências do Estado você pode atuar na área de RI e não apenas no Itamaraty, até porque o Itamaraty tem glamour, mas as coisas relevantes são realizadas fora do Itamaraty.

Em uma Conferência do MRE no RJ no início de julho, o presidente da FUNAG, Jerônimo Moscardo, disse que o Itamaraty deseja descentralizar a formulação da política externa e para isso quer que todos os Estados e municípios brasileiros criem uma secretaria de relações internacionais para participarem da formulação da política externa brasileira. Eu acho a idéia boba e que piora a situação da política externa brasileira. No entanto, do ponto de vista do mercado de trabalho para RI será um estímulo. Então, vários de vocês moram nas cidades da grande São Paulo e portanto, devem ficar atentos a estas oportunidades. E aqueles que por ventura tenham relações com os políticos locais podem mesmo levar à idéia aos políticos, estimulá-los para assim criar um emprego para você. Pois o embaixador pediu que fizéssemos exatamente isso, pressionarmos as prefeituras para que criem a secretaria e se preocupem com as relações internacionais do Brasil. Comigo, eu disse que ele não poderia contar, pois sou contra. Mas vocês podem ser pioneiros e criar carreiras para os próximos bacharéis em relações internacionais.

E quem quiser efetivamente prestar o concurso para diplomata? Deve estar disposto a sofrer ainda mais, a sacrificar-se. Por exemplo, muita gente vê fraude no fato de filhos de diplomatas ou políticos serem aprovados no concurso, mas é óbvio que eles possuem vantagem. Quais? A vantagem de ter sempre estudado para ser diplomata, a vantagem de ter tempo livre para estudar para o concurso. O mesmo vale para quem estudou nas universidades federais, o sujeito teve mais tempo para estudar, os cursos são diurnos o que significa que o aluno não precisa, em tese, trabalhar. Então as chances são maiores. E ainda assim, o candidato pode se perder por se desviar do foco, tenho um colega que se matava de estudar. Mas um belo dia ele se apaixonou, perdeu-se, o tempo que antes era dedicado aos estudos agora era dedicado a namorada. Então, vocês devem decidir o quanto vocês estão dispostos a sacrificar. Se você trabalha o dia inteiro e quer passar no concurso, sua vida social deve ser encerrada. Encontrar-se com o namorado ou namorada, uma vez por mês, e vá logo para os finalmentes, nada de preliminares, você não pode perder tempo. Se você pode se dedicar apenas aos estudos, então você pode reservar uma noite por semana para a vida social e outra noite para a namorada ou namorado com tempo para as preliminares. Em qualquer caso é bobagem fazer cursinho de final de semana, um cursinho onde você tem uma aula de cada disciplina por mês é inútil. Só vai para lá quem não vai passar. Então como se estuda? Sozinho, com a bunda na cadeira, leia, leia, leia e anote, livro por livro da bibliografia de todos os assuntos. Leia toda a bibliografia, resuma todos os livros, prepare respostas para algumas questões para você se preparar para responder a prova. Decore datas importantes e tratados dos quais o Brasil faça parte, especialmente os sul-americanos. E nas vésperas da prova, reveja as suas notas de leitura.

Os cursos de especialização, erroneamente chamados de pós-graduação ou MBAs, não tem qualquer relevância acadêmica, nem fará com que você encontre emprego. Então você só deve fazer um curso de especialização caso a empresa onde você trabalha leve isso em consideração na progressão da carreira, ou se tendo um emprego consolidado você deseje se preparar para mudar de emprego e função. Mesmo um curso de especialização no exterior é bobagem, serve apenas desperdiçar dinheiro, use-o em outra coisa. Curso de MBA no Brasil é um curso de especialização. No exterior é mestrado. No Brasil o nome MBA é usado apenas para dar status, não são equivalentes aos MBAs do exterior. Então se você for rico, compensa fazer um MBA no exterior. Em qualquer outro caso, uma outra graduação fará mais diferença que um curso de especialização.

Outra opção é começar um mestrado. O mestrado pode fazer diferença do ponto de vista do mercado trabalho, mas é bobagem fazer mestrado só por isso. Você deve avaliar se tem efetivamente interesse nas questões acadêmicas e a questão crucial é: você gosta de teoria? Você gosta de discutir teoria? Você gosta de conversar sobre firulas intelectuais? Se respondeu “não” para uma das questões, você não deve fazer mestrado. Se respondeu talvez, pode ser, experimente cursando uma disciplina como aluno especial no mestrado em ciência política da USP. Os mestrados importantes em relações internacionais são o da UnB, da PUC-Rio, o San Tiago Dantas, o da USP e o da Unicamp. O da USP e da UNICAMP são mais difíceis pois a prova de seleção é de ciência política e lá dentro você se especializa em relações internacionais. Então na prova haverá muita coisa que vocês não estudaram. Assim a seleção da UnB, PUC e San Tiago Dantas são mais fáceis. E ao se candidatar vocês devem fazer um projeto perfeito, pois eles sempre darão preferência aos candidatos de universidades públicas. É injusto? É. Mas não tem jeito é preciso conviver com isso.

A que conclusão chegamos de tudo isso? Que há caminhos, que há possibilidades. A vida é cheia de fardos dos quais jamais nos livraremos, mas possui oportunidades. As oportunidades são restritas, então são bem-sucedidos apenas aqueles que estão dispostos a se sacrificarem para agarrar as oportunidades. O seu sucesso e o seu fracasso é resultado das suas escolhas, das suas ações, das suas decisões. Isso significa também que todo o resultado que você teve na faculdade é irrelevante, começa um novo jogo, com novas regras, então você ainda pode se recuperar.

Perspectiva do mercado para quem cursa relações internacionais 1

Post já publicado anteriormente: http://corival.blogspot.com/2007/06/quem-cursa-relaes-internacionais-est.html

Esta semana dois alunos me procuraram para conversar sobre o curso de relações internacionais angustiados com as perspectivas de futuro.
É verdade o curso de relações internacionais não permite uma identificação clara de qual é a atividade a ser exercida após a conclusão do curso. Num curso de relações internacionais stricto sensu, seguindo o currículo padrão das universidades do exterior e o que se pratica na UnB, os alunos irão estudar basicamente política e economia política, um estudo centrado no Estado. Em tese, estaríamos formando diplomatas, mas obviamente não é verdade, a maior parte dos que se graduam em relações internacionais não irão trabalhar para o Estado nem no Brasil nem no exterior. Num país como EUA e ou nos países europeus, há uma grande divisão do trabalho que faz com que dentro das empresas haja espaço para analistas políticos de diferentes espécies, então os profissionais graduados em relações internacionais podem encontrar emprego fora do Estado, mas em atividades, setores que se relacionam com o Estado. E no Brasil? No Brasil não há essa divisão do trabalho, então torna-se mais difícil encontrar empregos no setor privado em atividades relacionadas com o Estado. Mas isto quer dizer que os profissionais de relações internacionais ficarão desempregados mais do que outros profissionais? Terão mais dificuldade para encontrar emprego? Certamente terão mais dificuldade para encontrar nos classificados dos jornais o nome do seu curso, mas não é verdade que terão mais dificuldade para encontrar emprego. Os graduados em todos os cursos enfrentam dificuldades.
Os graduados em administração trabalham em quê? Os graduados em direito? Os graduados em economia? Os graduados em sociologia? Os graduados filosofia? Os graduados em psicologia? Por exemplo, há algum tempo peguei um texto (e apesar de detestar ficar conversando com o taxista) fiquei sabendo que ele era formado em psicologia, tinha trabalhado durante anos em uma empresa como psicólogo, mas havia abandonado a profissão e se tornado taxista pelas circunstâncias. Se todos os administradores fossem administrar empresa, acho que faltaria empresa neste país, quantos caixas de banco estudam administração? Quantos chegaram a gerente? Quantos serão a vida inteira caixas? Quantas empresas no Brasil contrata economistas por serem economistas e aquela atividade só poder ser exercida por economista segundo o CFE? Que atividade no Brasil é efetivamente exclusiva de administrador? Nem todo economista trabalha com economia, nem todo administrador administra. E os filósofos? Quem contrata filósofos? Quantos filósofos temos no Brasil trabalhando como filosofia? Alguém conhece alguém que contrata sociólogos ou alguma atividade exclusiva de sociólogos? E os milhares de coitados que se graduam em Direito, quantos conseguem ser aprovados na prova da OAB? A minoria, ou seja, mais de 70% dos graduados em direito jamais serão advogados ou qualquer outra coisa relacionada ao direito, exceto assistente em algum escritório advocatício, atividade que poderia ser exercida por qualquer outro profissional. E esta é a questão, o mercado de trabalho é mais complexo do que a doutrina que diz que quem se qualifica encontra emprego diz. Vejamos:
1. nem sempre o chefe é o mais qualificado da empresa. Há várias pessoas que identificam como principal problema no seu emprego o fato do chefe ser menos qualificado, isso significa que nem sempre e nem todo empresa leva em consideração as "qualificações acadêmicas" na promoção dentro da carreira, mas o desempenho do funcionário dentro da empresa, tanto do ponto de vista técnico, pessoal, quanto político.
2. o mercado de trabalho é bastante estratificado. Os empregos de maior salário são de alta especialização. Quem acha que cursar ciência da computação garante um bom emprego se equivoca, é preciso se diferenciar, dominar tecnologias que poucos no mercado de trabalho domina. Do mesmo modo, quem faz relações internacionais e acha que inglês ou espanhol irá fazer diferença no mercado se equivoca, ele será jogado na massa, se quiser se diferenciar no mercado de trabalho de consultoria internacional tem que dominar línguas de domínio restrito como chinês, russo, finlandês, etc., que permita a entrada numa mercado de concorrência imperfeita, como poucos estão neste mercado o ganho é maior. O economista precisa de qualificações, o psicólogo, etc. Para que estes profissionais precisam destas qualificações para ficar no mercado de bacharéis de relações internacionais, de administradores, de economistas, de sociólogos, etc.
3. Quem não tem especializações, qualificações extra que permitam uma profunda diferenciação da massa ocupa o mesmo mercado de trabalho. Ou seja, graduados em RI, em economia, em administração, etc. ocupam o mesmo lugar no mercado de trabalho e disputam as mesmas vagas. Neste mercado de trabalho de massa, a graduação fez pouca diferença desde que o indivíduo consiga exercer as funções que a empresa demanda. De fato neste mercado, graduação só é efetivamente lembrada no momento de contratar estagiários e trainees porque a lei assim exige.
4. Então, a qualidade mais necessária fora do mercado altamente especializado é a flexibilidade, a capacidade de mudar de função, de se adaptar a diferentes atividades. E obviamente, que quando se fala de flexibilidade está se falando de atividades de nível médio na empresa, na base não há espaço para flexibilidade. Mas como a expectativa é que quem se gradue em RI não seja o operário, então o curso de RI pode proporcionar uma vantagem que é o desenvolvimento da capacidade de pensar que permite que o profissional tenha flexibilidade. Não se deve subestimar a importância desta vantagem a maioria das pessoas jamais pensaram, os pensamentos entram na cabeça delas, porque elas nem são sábias para serem capazes de silenciarem os pensamentos, nem são intelectualmente desenvolvidas para pensar os próprios pensamentos.l Então vivem a rotina de repetir o pensamento alheio e repetir procedimentos, qualquer um que rompa com isso consegue vantagens no mercado de trabalho e qualquer outro lugar. O curso de RI contribui para isso.
5. Concluindo, apenas uns poucos, os melhores, os que estudarem mais atuarão na área específica do curso, e ainda assim precisarão se especializar além do que qualquer curso de graduação pode proporcionar. Vale para relações internacionais, vale para os outros cursos. No resto do mercado de trabalho, todos são iguais.
6. O curso de relações internacionais tem dois problemas. O primeiro é que não existe um mercado de baixo nível para relações internacionais, então ou o sujeito estuda e se qualifica e atua em alto nível ou não atuará em uma área que seja estritamente relações internacionais. O segundo problema (que parece trivial, mas não é) é que não existe um termo para designar o profissional de relações internacionais, o que aumenta a insegurança sobre qual a atividade a ser exercida pelo graduado e gera confusão também para o empregador identificar o que o graduado está apto a fazer. No entanto, pergunte para alguém o que faz o economista? Ou o que faz o sociólogo? Ou o que faz o cientista política? Ou o engenheiro de alimentos? Ou o geógrafo? O que faz um matemático? Qual a diferença entre o cientista da computação ou engenheiro da computação? Alguém que cursa processamento de dados e outro que curso ciência da computação estão no mesmo mercado de trabalho são concorrentes?
7. Deve-se estudar relações internacionais quando se gosta de estudar política interna, política mundial, economia política internacional, quando está disposto a ler, a ter discussões teóricas, a ver muita teoria, a pensar de forma cada vez mais abstrata. Se tiver estes pré-requisitos, os resultados virão do ponto de vista acadêmico e no mercado de trabalho não encontrará dificuldade maior do que o estudante de qualquer outro curso mesmo que a apreensão seja maior do que a dos alunos dos outros cursos, porque o curso e seu potencial é desconhecido pelos próprios alunos. Mas deve ser lembrado que quem escolhe cursar relações internacionais é porque tem pretensões maiores do que quem escolhe administração, comércio exterior, letras, ciências contábeis, arquivologia ou outros, então a incerteza também é maior, quanto maior o salto que se quer quer dar maior o risco de fracasso. Mas o curso de relações internacionais não é um trampolim inferior aos outros cursos, ao contrário, é melhor, mas proporciona riscos maiores. Pode-se pilotar como o Senna ou como Rubinho, como Rubinho pode bater o record de corridas, mas nunca será campeão. Como o Senna, bate-se records de vitórias, torna-se campeão, mas corre-se o risco de não terminar a prova. Para cursar relações internacionais não precisa ser um Senna, mas certamente não pode ser um Rubinho. O Rubinho cursaria administração, direito, etc.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Iniciação Científica

Quem desejar se candidatar à vagas de iniciação científica do INEU pode ler o edital aqui. Os candidatos devem estar cursando entre o 4° e o 7º semestres de Relações Internacionais, Ciências
Sociais ou Economia.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sobre a esperança

Há dias que quero postar sobre o último discurso de formatura que fiz, mas sempre outro trabalho passa na frente e acabo não postando. Então agora que são 5:20 da madrugada e eu já terminei de escrever os dois textos que tinha que escrever para enviar para uma amiga, irei escrever sobre o discurso, porque mais ou menos 20 minutos acordado não é o que fará diferença no meu dia.

Todos os discursos de formatura são iguais e alguns são iguais mesmos. O sujeito só pega o discurso que fez no ano anterior e repete. Como gosto de achar que sou uma pessoa criativa e que sabe trabalhar com as palavras não faço isso, fico esperando até o último minuto para ver se a inspiração vem.

Então na tarde do dia da colação de grau estava sentado na minha poltrona lendo o livro “Pós-Guerra” de Tony Judt, um livro de mais de 800 páginas sobre a história da Europa do fim da Segunda Guerra Mundial aos dias de hoje. Mas não é um livro como os do Hobsbawn, parece mais uma enciclopédia. E por parecer um enciclopédia poderia ser melhor dividido. Mas o que importa é que eu estava lendo o livro, a parte sobre o estado de calamidade da Europa após a guerra. Um mundo onde os que não haviam morrido tinham a morte dentro de si, e a viam a todo instante ao seu redor. Diante de um cenário onde a única realidade palpável é a morte, o que faz o indivíduo resistir?

Havia achado o meu discurso: A esperança não é a última que morre. A esperança não é a única coisa que fica na caixa de Pandora. A esperança é que está sempre lá. A esperança não morre. Viver é viver em espera. Espera-se um mundo novo, esperamos mudar nossas vidas, esperamos um novo emprego, esperamos terminar o curso. Esperamos. Esperamos, porque por pior que sejam sempre as condições atuais de existência, o futuro é uma obra em aberto. O futuro está por construir, e portanto sempre podemos alimentar a esperança que o fardo que hoje nos aflige amanhã já estará superado. Podemos esperar que o fardo que hoje pesa sobre a existência seja amanhã apenas a lembrança da nossa capacidade de luta e superação para reconstruir as nossas próprias vidas. A esperança garante assim que estamos vivos ainda que cercados pela morte e lutando contra ela. A esperança garante que a mudança é possível, mas garante que sobrevivemos também ainda que o mundo não mude. Portanto mais do que felicidade, desejo a todos vcs, esperança. Que todos tenham sempre esperança.

domingo, 26 de abril de 2009

Senador Eduardo Suplicy

Gostaria de fazer um agradecimento e um elogio públicos ao senador Eduardo Suplicy.

Desde o primeiro contato com a assessoria do senador fui impecavelmente atendido. Fiz o convite para dar uma palestra no Unibero e quando retornaram, já o fizeram aceitando o convite e propondo uma data. Mesmo quando disse que provavelmente a palestra teria que ser numa sala de aula para 70 alunos, porque não havia auditório disponível, não foi colocada qualquer dificuldade. O senador faria a palestra ainda que fosse numa sala de aula.

Na sexta-feira, dia 24/04, para variar choveu em São Paulo e o trânsito se complicou. O senador pessoalmente me ligou  para dizer que estava há uma hora parado no trânsito, mas que chegaria ainda que se atrasasse. E logo depois ligou novamente para avisar que haviam conseguido se livrar do congestionamento e já estavam chegando, estavam no quarteirão acima. De fato, nem se atrasou. Não chegou rodeado de assessores como sempre imaginamos os políticos, havia apenas o motorista com ele. Nenhum cordão de puxa-sacos.

Antes de ir para o anfiteatro fez tranquilamente um lanche na lanchonete da faculdade ainda que parando para tirar fotos com os alunos que se aproximaram.

O senador aparentou ser uma pessoa tímida, mas diante do público de alunos se transformou num verdadeiro showman. Interagiu com os alunos fazendo perguntas, instigando o interesse deles pelo tema. E junto destes momentos mais leves e engraçados, destilou toda a sua cultura para apresentar o tema que move sua atuação política atualmente, a Renda Básica de Cidadania. Não fez simplesmente um discurso político, mas uma ampla apresentou da questão típica dos meios acadêmicos, citou uma enorme quantidade de autores que provavelmente a maioria dos alunos nunca havia ouvido falar por ter uma enorme diversidade de cursos no auditório.

Ao fim da palestra, que os alunos adoraram, o senador apesar de já estar tarde e ter compromisso ainda tirou uma enorme quantidade de fotos e deu autógrafos para vários alunos.

Sempre que faz elogios a políticos corre-se o risco de parecer apenas bajulação, mas de fato o povo ter contato com políticos no Brasil é raro fora das eleições, e mais raro ainda ter contato com políticos que têm idéias. Então certamente foi uma situação proveitosa para todos os que acompanharam a aula do senador.

O senador deixou três livros de sua autoria para a biblioteca do Unibero: “Um notável aprendizado: a busca da verdade e da justiça do boxe ao Senado”, “Renda básica de cidadania: a resposta dada pelo vento”; “Renda de cidadania: a saída é pela porta”.

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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O mundo é mesmo muito pequeno!

Fala-se muito da globalização, sobre o quanto o mundo é pequeno e está interconectado hoje. Muita coisa é exagero difundido pelas ideologias liberais que atuam contra o controle democrático do mercado. Mas há elementos reais neste discurso e por isso ele ganhou força. Quando eu esperaria, por exemplo, ter um aluno trabalhando em Cingapura? E o mais singular é que não foi uma empresa daqui que o mandou para lá, ou começou numa filial da empresa aqui. Trabalhando numa empresa no Brasil manteve contatos com gente na China, em Cingapura. Saiu da empresa no Brasil, passado alguns meses, uma das pessoas que ele conheceu entra em contato com ele convidando-o para ir trabalhar em Cingapura com eles. Certamente é um mundo estranho, que demanda flexibilidade para adaptar-se e transpor o conhecimento para diferentes realidades. Convenhamos para um brasileiro adaptar-se a Cingapura não é nada fácil. Porque deve ser adaptado tudo, inclusive o senso de humor. Por isso se tornou rotina jogadores brasileiros fracassarem no exterior. Há uma história melhor do que a do Viola que não se adaptou à comida da Espanha. A imprensa esportiva conta que o Marcelinho Carioca teve que sair dos Emirados Árabes ou Arábia Saudita (não lembro agora) sob proteção para não ser morto porque se vestiu com roupas de mulher e foi ao shopping. Se para jogador de futebol que é bajulado porque acham que todo brasileiro é craque, imagine para um trabalhador comum! E mais, adaptar-se sem deixar de ser brasileiro.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O mercado de trabalho para RI

Neste link o diplomata Paulo Roberto de Almeida analisa o mercado de trabalho para o bacharel em relações internacionais no setor público.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Estudar se transforma em sucesso apenas com esforço e sacrifício

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI19881-15228-1,00-O+TRIUNFO+DO+TALENTO.html
19/12/2008 16:42
O triunfo do talento
Gilberto Giuzo protagonizou um milagre. Trabalhava na roça, interrompeu os estudos aos 14 anos, fez supletivo – e chegou ao ITA, a melhor escola de Engenharia do país. O que sua história ensina sobre o modo como o Brasil trata seus superdotados
Ivan Martins e Ana Aranha

RICARDO CORRÊA
SOBREVIVENTE
Gilberto no Memorial Aeroespacial Brasileiro, em São José dos Campos. Ele superou a precariedade do ensino público

Nova Bandeirantes é um município de 13 mil habitantes no extremo norte de Mato Grosso. Fica longe, quase no ponto onde o Estado faz divisa com Pará e Amazonas. Foi ali, na zona rural (região de onça, jibóia e gado nelore), que Gilberto Giuzo passou a maior parte de sua vida. O menino magrelo de olhos esverdeados, filho de migrantes paranaenses, demonstrou desde cedo um talento incomum: aos 4 anos já fazia contas de cabeça, para surpresa dos pais, sitiantes sem instrução. A vocação matemática não impediu que levasse a vida da roça. Cresceu em lombo de cavalo, tratava do gado, erguia cercas na propriedade da família. As escolas que freqüentou eram precárias mesmo para os padrões brasileiros. Desde a infância dividia seu tempo entre as aulas e o trabalho.

Neste ano, aos 24, Gilberto terminou o 2o ano do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, de São José dos Campos. Lá se forma a elite da engenharia brasileira. Também neste ano, conseguiu uma das 38 bolsas da Fundação Estudar, disputada por 6 mil candidatos. O prêmio tenta identificar os jovens mais promissores do país. Gilberto é um deles. Passou pelos obstáculos sucessivos do mau ensino público, da privação cultural, do trabalho infantil, do abandono escolar e do isolamento geográfico. Fez de si mesmo um milagre estatístico. Em um país que joga fora a maior parte de seu potencial humano, resistiu. Ele representa um triunfo do talento, um triunfo da vontade, um caso em um milhão. Sua história ajuda a retratar – pelo reverso – a tragédia do desperdício humano brasileiro. Quantos Gilbertos haverá por aí, perdidos, vivendo abaixo de seu potencial?

Em Nova Bandeirantes está começando a estação das chuvas. Manoelina dos Santos Costa, mãe de Gilberto, conta, divertida, que uma manada de porcos-do-mato invadiu o sítio onde a família cria gado de corte. Fala bem, dona Manoelina. Ela conta que o menino, segundo de seus três filhos, único homem, foi diferente desde cedo. “A irmã era hiperativa, deu muito trabalho, mas ele era reservadinho”, diz. “Acho que sempre foi meio adulto.” O pai descobriu que Gilberto era capaz de fazer contas de cabeça e passou a exibi-lo aos amigos. Logo virou o centro das atenções. “Ele nem sabia segurar o lápis”, diz a mãe. Ela deixa claro que isso era coisa do menino. Nenhum dos pais estudou além da 4a série.

Gilberto foi para a escola rural aos 6 anos. Havia ali uma única classe, com alunos de todas as idades. As várias séries ficavam juntas na mesma sala, divididas em grupos de carteiras. A professora se alternava entre eles. Essa é uma forma antiga de ensinar, usada modernamente apenas quando faltam professores. Há no Brasil 53.609 escolas multisseriadas, com 1,2 milhão de alunos. Mais de 49 mil delas estão na área rural. “Na escola sempre me falavam que ele era muito inteligente, que tinha de estudar”, diz a mãe.



RICARDO CORRÊA
VOLUNTÁRIO
Gilberto, à esquerda, com os colegas que trabalham no cursinho dos alunos do ITA para jovens carentes

Estudar não é a regra na zona rural de Mato Grosso, pelo contrário. O porcentual de abandono na 4a série em 2005 foi de 10,5%. Para fazer a 5a série, as crianças da roça freqüentemente têm de se deslocar para a cidade. Ou desistem. Gilberto percorria uma distância de ida e volta de 12 quilômetros de bicicleta para estudar. Seu pai havia morrido em 1991 – por complicações da malária, endêmica na região –, e a vida não estava nada fácil. “As pessoas na região achavam que estudar era um jeito de fazer corpo mole e evitar o trabalho”, diz o rapaz. Em sua casa não era muito diferente. A mãe casou-se novamente, e ele parou de estudar no meio da 8a série, aos 14 anos. Voltou um ano depois, terminou o ensino fundamental, parou de novo. Nesses períodos sem aulas, trabalhava no campo o dia todo. “Estudar era chato, mas o trabalho era muito pior”, diz Gilberto, lembrando seus sentimentos da época. “Percebi que as pessoas faziam a mesma coisa havia 30 anos.”

Em 2002, iniciou o ensino médio. Para estudar à noite, andava 50 quilômetros de ônibus. Levantava às 6h30, para trabalhar no sítio, voltava para casa depois da meia-noite. Vivia cansado. A pressão doméstica para que parasse de estudar retornou, acentuada. Gilberto resolveu apressar o processo de sua educação: optou por prestar os exames supletivos. Com a ajuda do padrasto, comprou cinco livros que resumiam as matérias do colégio e passou a estudar por conta própria. Em casa, ele lia à luz de velas, porque o sítio não recebia luz elétrica. Fez as provas e passou. Sua pior nota foi 6,5, em Português. “Era muito fácil”, diz Gilberto, sem nenhuma vaidade aparente. Os exames de supletivo costumam ser fáceis, mas Gilberto não tinha exatamente uma sólida formação escolar.

Na semana passada, ele explicava sua insistência em estudar nos termos de uma fábula animal. “Fiz como o burro bordoso”, diz ele. Isso significa um bicho teimoso, que volta ao lugar aonde deseja ir, por mais que o espantem. “Eu insisti com a família”, diz ele, com um sorriso. O rapaz de 24 anos continua magro, bem magro, mas agora tem 1,76 metro de altura e cabelos pretos, espetados. É evidente que gosta de conversar, embora mantenha certa reserva. Fala com desenvoltura e modéstia sobre suas realizações, que não são poucas.

Depois do supletivo, conseguiu fazer 55 de 63 pontos possíveis no Enem, pontuação muito acima da média de 34 pontos das escolas públicas de Mato Grosso. Com essa nota, obteve uma bolsa do ProUni para estudar Engenharia na PUC de Campinas, em São Paulo. Não ingressou na faculdade porque sua família tinha títulos de terras e o ProUni é reservado para estudantes carentes. Gilberto lembra que quase desmoronou. Estava lá, praticamente na universidade, viu os alunos começar as aulas e foi excluído, na última hora. “Achei que as coisas nunca dariam certo para mim”, diz ele. Pensou em voltar para Mato Grosso, mas, dessa vez, a família se opôs. A mãe disse a ele por telefone que ficasse. A tia Idalina Santos Soares, em cuja casa ele estava, repetiu a mesma mensagem.

Gilberto ficou e resolveu se preparar “direito” para o vestibular, fazendo cursinho. Queria o ITA, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, porque era uma escola de Engenharia onde “havia salário e alojamento”. Mas a prova para preencher as 120 vagas anuais é simplesmente a mais difícil do Brasil. Há bons estudantes do país inteiro que tentam passar por ela três ou quatro vezes, sem sucesso. Gilberto percebeu que precisava de um emprego para pagar o cursinho e manter-se na cidade. Apareceu uma vaga de pedreiro, ele agarrou. Mas já no dia seguinte conseguiu coisa melhor, no laboratório de uma ótica no centro de Campinas. Trabalhava de dia para pagar o cursinho, noturno. Morava com a família da tia e ajudava nas despesas. Esse arranjo durou pouco, porém.

No primeiro simulado do cursinho, Gilberto tirou a melhor nota entre os 220 alunos. O dono do preparatório, ele mesmo egresso do ITA, espantou-se. Veio procurá-lo com a oferta de uma bolsa integral, na turma preparatória para o ITA, mas exigiu dedicação integral. “Para um menino do campo, que fez supletivo no interior, o simulado dele foi estupendo”, diz Eliel Barbosa da Silva, dono do cursinho Elite. “Já conheci gente inteligente como ele, mas ninguém partiu de onde ele partiu.” Foi nesse momento que a tia Idalina (servente em uma escola pública, casada com um frentista, mãe de três filhos) fez sua parte no destino do sobrinho: disse a ele que estudasse sem preocupação de trabalhar. Gilberto nunca tivera essa chance e se atirou a ela de cabeça. “Ele estudava das 7 da manhã às 11 da noite”, diz Idalina.

GUIA
RICARDO CORRÊA
Como identificar o talento?

A partir de janeiro, as escolas estaduais de São Paulo vão receber o livro Um Olhar para as Altas Habilidades. A idéia é ensinar os professores a identificar alunos superdotados. A autora, Christina Cupertino, uma das maiores autoridades brasileiras no assunto, enumera as principais características desses alunos, dá dicas sobre o comportamento deles e conta como outros professores já fizeram a identificação. A experiência tem como base a formação de supervisores e coordenadores que acontece em São Paulo há um ano e já ajudou a achar 397 superdotados.

Como tinha dificuldades em escrever, fez o maior número de redações que alguém já havia feito durante um ano no cursinho. Nas outras matérias não era muito diferente. Em poucos meses, foi apresentado a uma multidão de conteúdos que nunca vira. No início, sofreu. Mas, no fim do ano, já fazia perguntas que obrigavam os professores a parar e pensar. Gilberto aprende rápido e trabalha duro. Resultado: entrou em primeiro lugar na Engenharia da USP em São Carlos, foi primeiro lugar da Engenharia Elétrica da Unicamp, foi aprovado no Instituto Militar de Engenharia e, claro, no ITA. “Meu filho teve muita garra”, diz a mãe, Manoelina. “Eu era contra estudar, queria ele por aqui. Hoje, me arrependo.”

Se as estimativas estão corretas, há no Brasil pelo menos 1,6 milhão de crianças e adolescentes como Gilberto, com grande facilidade de aprendizado. É o que se chama normalmente de superdotados. O número corresponde a 3% da população escolar do país, de 53 milhões de estudantes entre a pré-escola e o ensino médio. Identificados, porém, há apenas 2.902 alunos desse tipo. Não é preciso ser superdotado para fazer a conta do desperdício de talentos: para cada Gilberto Giuzo que aparece, há 550 que o sistema educacional brasileiro não soube identificar. Na tentativa de melhorar essa estatística, o Ministério da Educação criou, em 2006, uma rede nacional de atendimento, os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades. Há um por Estado, sempre nas capitais. Sua finalidade é identificar e ajudar os jovens com maior potencial de aprender. Parece, porém, que a coisa não está funcionando muito bem. Fora o núcleo de Brasília, que existe desde 1976 e serviu de inspiração para o programa federal, o trabalho ainda é embrionário. A identificação dos superdotados é lenta, a estrutura que se oferece a eles é frágil. “O cenário é desanimador”, diz a professora Eunice Soriano de Alencar, da Universidade de Brasília, especialista com 20 anos de experiência no estudo de superdotados. “Investimos nada nessa área. A educação pública é muito ruim. A estrutura é perversa. As crianças pobres que conseguem sobressair são verdadeiros milagres.”
No primeiro simulado do cursinho, Gilberto foi o primeiro entre 220 alunos. O dono veio falar com ele

Como em outras áreas da educação, o Brasil está ficando para trás. Há bons programas para atendimento aos alunos superdotados em diversos países. Inglaterra, Israel, Taiwan e Chile são algumas das referências mundiais. A China, embora atrasada, está investindo pesado em identificação e estímulo aos supertalentos. No Chile, onde se faz o melhor trabalho da América Latina, os professores da rede pública são treinados e recebem um guia com as características da superdotação. Na 5a série, quando têm entre 10 e 11 anos, os alunos identificados passam a freqüentar cursos e oficinas. “Um aluno talentoso que nasça na região de Temuco, por exemplo, será identificado e atendido”, diz a psicopedagoga Sonia Bralic, fundadora do programa. “Mas há milhares que moram em regiões onde não há cobertura dos programas.”

Em Mato Grosso, o Núcleo de Altas Habilidades funciona desde 2007, em Cuiabá. Até agora treinou professores de três escolas para identificação de superdotados. Todas na capital. Se houver outro aluno talentoso em Nova Bandeirantes, de onde veio Gilberto, a 1.020 quilômetros de Cuiabá, ele não será percebido. “Ainda não há perspectiva de levar o serviço para aquela região”, diz Márcia Aparecida Molinari, coordenadora do Núcleo de Altas Habilidades do Estado. As conseqüências da não-identificação são terríveis, afirmam os especialistas. A criança muito inteligente se frustra de forma profunda com a anemia intelectual do ensino normal, inclusive o da escola privada. Daí para o desinteresse, a depressão e o abandono é um passo. Que ocorre freqüentemente. “Este moço, Gilberto, é um caso muito raro”, diz a psicóloga Ana Fortes Lustosa, da Universidade do Piauí. “O apoio da família e da escola é essencial para que as crianças se desenvolvam. Ele teve enorme automotivação. Viu sozinho uma saída.”

Anderson Schneider
RESGATADO
Evaldo, o estudante de Brasília, com suas moedas. O núcleo de apoio a superdotados (ao lado) fez com que ele se interessasse novamente em aprender

Em um bairro da periferia de Brasília, Evaldo Pereira de Rezende não via mais motivos para ir à escola. Aos 11 anos, preferia ficar em casa, estudando as moedas de sua coleção. Ele tem mais de mil. Os pais não entendiam por que o filho faltava tanto. “Pensei que ele tinha brigado com algum menino”, diz a mãe, Ana Pereira de Rezende. Foi tanta falta que ele repetiu a 4a série. Preocupada, a orientadora pedagógica da escola passou a prestar atenção no aluno. Na 6a série, com a ajuda dos especialistas do Núcleo de Altas Habilidades de Brasília, ele foi identificado como superdotado. Depois do Núcleo, sua vida mudou. Ele deixou de faltar à escola e suas atividades fora de casa aumentaram. Escreve artigos e dá palestras sobre a história das moedas. Agora, aos 17 anos, quer fazer três faculdades: Sociologia, Ciência Política e História. “Vou ser pesquisador ou professor universitário”, diz.

Outro caso, bem menos feliz, é o de João Sperandio Neto. Aos 22 anos, ele foi indiciado em novembro pela Justiça de São Paulo por aplicar golpes pela internet em valor superior a R$ 2,2 milhões. O delegado que acompanhou o caso, Luiz Storni, diz que ficou surpreso ao saber a idade do rapaz. “Ele sabia muito para uma pessoa tão jovem.” Sperandio é de família simples e, segundo o delegado, parece autodidata. Tudo sugere que era o especialista técnico de uma quadrilha com outros integrantes. Ao programa Fantástico, da TV Globo, o rapaz disse que começou a praticar crimes virtuais aos 15 anos, por diversão. Afirmou já ter trabalhado para os criminosos, mas sob ameaça. Pode ser. Mas os especialistas vislumbram cenários em que a colaboração entre a inteligência e o crime ocorra de forma voluntária. “Esses meninos precisam exercer seu potencial, sob o risco de ser atraídos pelo crime”, afirma Olzeni Ribeiro, coordenadora do Núcleo para Superdotação do Distrito Federal. “Se um menino desses é cooptado por uma gangue, dificilmente será resgatado. É o contexto em que ele mais se sente desafiado, em que sua inteligência é mais valorizada.”
Gilberto não sabe explicar de onde veio sua ambição. “Talvez da televisão”, diz ele. “Era um mundo novo”

Gilberto escapa do perfil típico do superdotado. Os psicólogos modernos dizem que há vários tipos de habilidades mentais e elas raramente andam juntas. O raciocínio matemático freqüentemente não se dá com a facilidade verbal. Outras vezes não coincide com as habilidades sociais conhecidas como inteligência emocional. Gilberto parece ter várias delas, em grau elevado. Ele se expressa bem. Ele interage muito bem com as pessoas, mesmo quando vêm de situações sociais diferentes da sua. Ele inspira confiança. Ele demonstra inteligência prática na forma de organizar e conduzir sua vida. Mesmo sua persistência, que parece uma virtude de caráter, pode ser outra manifestação de seu talento intelectual. Os especialistas chamam a obstinação de “envolvimento com a tarefa”, uma característica comum entre os muito inteligentes. Renata Maia Pinto, que até maio era responsável no Ministério da Educação pelos projetos de superdotados, percebe essa característica em Gilberto. “Ele teve muita perseverança. Isso é típico”, diz ela.

Eliel Silva, do cursinho Elite, aponta na trajetória de Gilberto outra provável manifestação de uma inteligência incomum: a capacidade de imaginar algo que não tinha nenhuma relação com a vida que ele conhecia. “Pense num garoto conduzindo um carro de boi no interior de Mato Grosso e se imaginando aluno do ITA, algo que nem poderia saber como era”, diz. “É extraordinário.” As experiências dos educadores com crianças muito pobres é bem diferente. Elas em geral não têm grandes horizontes. Têm dificuldade em se imaginar fazendo coisas importantes como adultos. Não se vêem como advogados, médicos, engenheiros, artistas. “Quando a criança é pobre, seu projeto de vida não é individual”, afirma Ana Lustosa, do Piauí. “Ela chega em casa e já tem de ajudar, limpar, fazer o jantar ou até sair para trabalhar. Ela não tem estímulo para pensar em si, mas no projeto coletivo, da família.” Parece a situação doméstica de Gilberto.



Múltiplas habilidades
A vida de Gilberto mostra que ele reúne diferentes formas de inteligência, da matemática à emocional
RICARDO CORRÊA

Automotivação
Gilberto nunca desistiu de aprender, apesar da oposição da família e das circunstâncias adversas. Ao fim do dia de trabalho, estudava à luz de velas na escrivaninha que ele construiu. Os desdobramentos desse tipo de inteligência:
- Persistência, concentração e compromisso com as tarefas
- Motivação interna, não depende de estímulos de outras pessoas
- Iniciativa, autoconfiança e envolvimento com seus interesses

Talento matemático
Os amigos da família chamavam Gilberto de “matemático”, porque o menino resolvia contas de cabeça aos 4 anos. As características dessa forma clássica de inteligência:
- Capacidade para associar símbolos
- Organização interna do raciocínio
- Facilidade para identificar causas para os fenômenos observados

Talento verbal
Gilberto se expressa de forma clara e segura. Aos 8 anos, conversava com os professores da irmã, sete anos mais
velha. Como o talento se expressa:
- Domínio da comunicação e da língua
- Precisão e concisão no modo de se expressar verbalmente

Inteligência emocional
Sua mãe diz que Gilberto sempre “pareceu adulto”, pela maneira tranqüila com que tratava os mais
velhos. Hoje, circula sem problemas entre colegas com origem social e formação cultural totalmente
diferentes das suas. As características dessa inteligência:
- Senso avançado de tato, confiabilidade e empatia
- Capacidade para persuasão e influência, boa sintonia com o grupo
- Maturidade e autocontrole

Fonte: Desenvolver Capacidades e Talentos, de Zenita Guenter

Há também a questão do trabalho infantil, que foi sempre uma sombra em sua vida. É algo comum no Brasil. No ano passado, havia 4,8 milhões de crianças e adolescentes dando expediente no país, um em cada dez brasileiros entre 5 e 17 anos. Além dos riscos físicos, o trabalho prejudica a concentração na escola e o desenvolvimento intelectual. Renato Mendes, coordenador no Brasil do Programa de Combate ao Trabalho Infantil da OIT, a Organização Internacional do Trabalho, diz que no campo o contexto cultural é diferente, talvez mais grave.

“Em geral, os pais querem que os filhos estudem, mas o modelo de educação no campo não faz sentido para eles”, afirma Mendes. Ele sustenta que as escolas rurais deveriam tratar de atividades ligadas ao trato da terra e da criação, para cumprir uma função prática. Mas o modelo educacional é urbano e percebido como inútil. “O pai acha que o menino vai andar 6 quilômetros para não aprender o que precisa. Não vê perspectiva na educação”, diz Mendes. Na casa de Gilberto, parece ter sido assim. Os pais precisavam de ajuda no sítio e achavam, com base na própria experiência, que seria melhor para o menino se dedicar desde cedo ao trabalho. Quando começou a escola à noite, a mãe temia que ele, magrinho, não fosse agüentar o esforço do trabalho físico e do pouco sono. Hoje, tendo visto o sucesso do filho, tremendamente orgulhosa dele, Manoelina se constrange em lembrar as discussões familiares causadas pela insistência do filho em estudar. “Prefiro não falar sobre isso”, diz ela.

Gilberto não sabe explicar de onde veio seu sonho e sua determinação. Ele quis ser engenheiro sem saber o que era um engenheiro. Em um lugar onde não havia engenheiros. Em uma família na qual nunca houve um engenheiro. “Talvez tenha sido a televisão”, diz. Quando a TV chegou a sua casa, ele teria uns 13 anos. Lembra de um impacto tremendo. Aquela avalanche de novidades. Um mundo inteiro que não existia antes. O Jornal Nacional. Pode ter sido isso. Ou talvez o sonho tenha vindo do exemplo de Rosângela, meia-irmã, filha do primeiro casamento do pai. Ela se formou em Direito no Paraná, enfrentando enorme adversidade. Era parte da lenda da família. Distante, mas, de alguma forma, presente. “Eu realmente não sei”, diz Gilberto.

Hoje em dia, ele tem planos claros: quer formar-se engenheiro e trabalhar algum tempo no mercado financeiro. Com isso, pretende juntar dinheiro e experiência para empreender. Deseja tornar-se empresário e está construindo ferramental para isso. Neste mês, enquanto a maioria dos universitários goza férias, ele inicia estágio em uma das fábricas da AmBev, em Campinas. “Acredito muito em trabalho”, diz Gilberto. Nem poderia ser de outro jeito. Os jovens de famílias abastadas nascem cercados de privilégios que nem sequer percebem. Para Gilberto, cada um deles é uma conquista: o acesso ao conhecimento, os contatos humanos, as viagens. Freqüentemente, há choques. Tendo crescido no interior, em uma família religiosa, ele se espanta ao ouvir colegas de escola que se declaram ateus. “Ainda fico chocado”, diz. “Não sou muito religioso, mas acredito em Deus.” É espantoso, na verdade, que o convívio de Gilberto com os colegas de escola e da Fundação Estudar seja tão natural, considerando as enormes diferenças de origem. Todo mundo ao redor de Gilberto fala inglês e quase todos vêm de famílias de classe média. Têm experiências culturais muito mais cosmopolitas que as dele. Ele percebe a diferença, claro, mas parece lidar com ela sem complexos.

“Gilberto é da geração Y, que está recebendo dos pais uma agenda pronta e não mostra muita iniciativa. Mas ele é totalmente diferente”, diz a psicóloga Bruna Dias, da Companhia de Talentos, consultoria de RH especializada em orientação de carreira. Bruna já fez uma discussão individual com o jovem de Mato Grosso e participa com ele de sessões de grupo sobre trabalho e futuro profissional, como parte das atividades da Fundação Estudar. Ela não tem dúvida de que Gilberto é comprometido, obstinado, faminto por aprender e conquistar. “Ele vai longe”, afirma. Quer dizer: mais longe.

domingo, 2 de novembro de 2008

Aos Alunos

Gostaria de recomendar fortemente aos alunos que visitassem os links que estão sugeridos ao lado. Tem links de economia, política, relações internacionais. Além de permitir conhecer onde se pode pesquisar sobre os mais diversos temas, permite ter uma visão geral mais sobre os diferentes debates e temas tratados nas ciências sociais em geral. Para facilitar hoje retirei alguns links não prioritários, e obviamente que as besteiras não precisam ser visitadas, por exemplo site sobre o Chaves do oito, mas a maioria é essencial.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Decálogo de auto-avaliação!

  1. quantos textos vc leu para aprofundar as questões do texto principal e buscar esclarecimentos para as dúvidas?
  2. quanto tempo vc parou para pensar nas questões postas pelo texto, e especialmente nas conseqüências das idéias apresentadas no texto?
  3. quanto tempo vc dedicou para avaliar se as idéias apresentadas pelo autor são similares às idéias expostas em outros textos que vc já leu?
  4. quanto tempo vc dedicou para pensar se vc concorda ou não com o que autor está dizendo?
  5. quanto tempo vc dedicou para encontrar problemas no argumento do autor?
  6. quantas anotações sobre o texto vc fez?
  7. quantas questões suscitadas pelo texto vc anotou?
  8. quantas dúvidas sobre o texto vc apresentou em sala?
  9. quantas questões vc colocou em discussão em sala para debater a partir da leitura do texto?
  10. quantas idéias surgidas a partir da reflexão sobre o texto vc apresentou?

terça-feira, 3 de junho de 2008

Atenção alunos do Unibero

Inscrevam-se na lista de discussão da coordenação. Se vc já se inscreveu, lembre os seus colegas de se inscreverem.

http://groups.google.com/group/ri-unibero

Já está disponível para download as instruções para as atividades complementares do segundo semestre.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Palestra com deputado Aldo Rebelo

O deputado federal Aldo Rebelo fará uma palestra no Unibero nesta segunda-feira (02/06) sobre "O Legislativo e as relações exteriores do Brasil". Será às 19:30 hs no Teatro Bibi Ferreira. Peço que todos os alunos compareçam.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Atenção alunos do Unibero!

Para facilitar a comunicação da coordenação com os alunos solicito que todos os alunos entrem na lista de discussão que foi criada e está no seguinte endereço:

terça-feira, 29 de abril de 2008

Semana de Relações Internacionais

E também na quarta-feira, 23/04, Sua Eminência Sheikh Ali Abu Raya palestrou na faculdade UNIBERO em São Paulo, e foi acompanhado pelo Sr. Nasereddin Khazraji que traduziu toda a sua palestra para o português. Primeiramente, Sua Eminência falou de uma forma resumida sobre a grandiosa religião islâmica, seu conteúdo e seu pensamento em relação a sua crença, história, conhecimento, avanço, convivência com outros povos e nações, e também falou sobre a visão do Islam em relação a mulher e outros variados assuntos. Depois, a sessão foi aberta para perguntas e respostas onde os alunos perguntaram sobre a visão do Islam em relação a Jihad, mulher, tolerância com outros povos, nações e religiões, células tronco e outros assuntos. O professor Corival, o qual convidou o Centro Islâmico no Brasil, agradeceu imensamente ao Sheikh Ali e ao Sr. Nasereddin Khazraji, e também direcionou seus sinceros votos de agradecimento pelos livros publicados pelo Centro Islâmico no Brasil e também o Alcorão Sagrado em Português que recebeu como presentes, e disse que depois de muitos anos ter-se-ia uma fonte de conhecimento islâmico original na biblioteca da faculdade.
Centro Islâmico no Brasil

http://www.arresala.org.br/not_vis.php?op=14&cod=610

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Dos sentimentos que nos distanciam dos outros e do conhecimento

Quando eu era criança perdia meu tempo assistindo o programa da Xuxa, e como ocorre até hoje, periodicamente ela tinha as suas crises públicas de solidão e fazia alguns comentários sobre isso. Num destes comentários ela dizia que a falta de um amor era compesada pela relação com o público, porque a admiração era uma forma de amor à distância. Então mesmo não encontrando um homem que a amssa ela tinha uma forma de amor. Obviamente era uma forma de jogar com os sentimentos do público, mas era um observação sagaz. O problema da definição dela é que o peso recai sobre a distância e não sobre o amor. Ou seja, a admiração é um sentimento que afasta as pessoas, porque as coloca em situações desiguais, estabelece um hierarquia, a admiração produz distanciamento e não pode ser convertida em amor de fato. O amor só pode ocorrer entre os iguais, do contrário uma parte sempre sairá perdendo. Esta é uma questão geral, as relações frutíferas apenas são possíveis entre pessoas que se reconhecem como iguais, onde não há hierarquia.

Aqui darei um giro de 180 graus para transferir a lógica para as questões intelectuais. É óbvio que Weber foi muito mais culto do que eu, que Marx sabia muito mais do que eu, que Aristóteles dominava muito mais do conhecimento da sua época do que eu seria capaz em alguns encarnações. Entretanto, é óbvio que eu sei coisas que eles não sabiam, experiências que eles não tiveram, e isto permite que faça perguntas para eles que eles não sabem responder, perguntas que me ajudam a aprender, a construir meu próprio conhecimento. Se pensar na minha ignorância e no quanto eram sábios Marx, Weber, Hobbes e etc. fica impossível estabelecer uma relação construtiva com eles. Nesta relação  é melhor invejar, considerar a fama deles injusta. É impossível aprender e construir o próprio conhecimento se assumir a posição que alguém tem o que ensinar, sabe tudo o que é preciso, enquanto vc apenas precisa ouvir a verdade que está sendo proferida. Ninguém ensina ninguém. É preciso tomar a decisão de aprender e construir o próprio conhecimento.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Notas de um discurso

Abaixo segue as notas para o discurso proferido na colação de grau realizada em 14/04/2008:

Vou começar pedindo a colaboração de vcs. Às vezes parece que os ex-alunos são menos importantes para a faculdade do que os que ainda estão no curso. Ledo engano. Os formandos são fundamentais, são nossos embaixadores, nossos representantes no mercado de trabalho, são a cara da faculdade no mundo real, e penso estarmos bem representados, é com isto que eu conto para termos sempre novos alunos.

Os ex-alunos também são importantes porque podem nos trazer informações sobre o mercado de trabalho, informações sobre os rumos e os caminhos que o curso deve tomar. Conto com vcs também para este trabalho. E, claro, numa sociedade que demanda cada vez mais a formação permanente, cabe a nós colocarmo-nos a disposição para atender as contínuas demandas de formação de nossos alunos. Estejam certos que estamos à disposição.

Lembrar isto também é uma forma de expressar o meu egoísmo, meu lamento por ver os meus alunos irem embora, então fico imaginando formas de trazê-los de volta. Professor deve ser desapegado, porque ao longo do tempo passarão muitas vidas na sua vida, pessoas que irão cativá-lo, mas que depois precisam seguir em frente. Mas ainda não consegui a virtude do desapego, cada aluno que parte é uma perda, a cada início de semestre os corredores parecem vazios ainda que o número de alunos tenha aumentado, porque faltam muitos dos rostos que me conquistaram. Por isso peço não desapareçam, alegrem o meu dia enviando notícias do sucesso que vcs estarão conquistando no mercado de trabalho. Permitam-me que continue partilhando do caminho que vcs irão seguir e partilhem também do caminho que o nosso curso irá tomar. Muito obrigado.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Sendo repetitivo

Nesta quinta depois de ter dado um sermão em sala, um aluno veio me falar que eu já tinha escrito isso no blog, ou seja, estou sem criatividade até para dar sermão. Estava dizendo para os alunos que é preciso encontrar uma razão para estudar, é preciso dar sentido a isso. Mas ao falar sobre isso enfrento um grande problema, eu não sirvo de exemplo, porque o exemplo que os alunos em geral precisam é de alguém que não gosta de estudar, mas que ainda assim encontrou motivação para estudar. Eu não apenas sempre gostei de estudar como ainda gosto, e pior, perco tempo com coisas sem o menor sentido. Deveria estudar para escrever textos, artigos. Mas na maior parte do tempo, leio por ler, pelo simples gosto de conhecer uma nova idéia ou novos fatos. Segunda-feira, por exemplo, eu estava lendo Outubro 1930 de Virgílio Melo Franco sobre a Revolução de 30, sobre os eventos que levaram à revolução e sobre os preparativos e a execução da revolução. Virgilio Melo Franco narra como junturam dinheiro para contrabndear armas da Tchecoslováquia, como ele viaja de automóvel entre o Rio e Juiz de Fora e mesmo Belo Horizonte para não ir de trem, pois estes eram vigiados pelo governo. Para que serve ler isso? Não daria aula disso, não escreverei artigo sobre isso, então não serve para nada, mas li o livro em três horas, ávido pelas informações. Mas de fato o certo seria leituras organizadas com objetivos definidos, isto que é próprio do trabalho intelectual. Então não sirvo de exemplo, mas é fato ainda que seja repetitivo que é preciso pensar qual o objetivo de se cursar um curso de relações internacionais.

Em relação a isso, eu tenho outro problema, cursei graduação em relações internacionais e cometeria o mesmo erro novamente. Já conhecendo o mundo das relações internacionais ainda faria graduação novamente na área, a única diferença é que faria matérias da área de exatas como disciplinas optativas.  Mas para quem vai fazer um trabalho intelectual o curso de relações internacionais não representa uma barreira. Agora e para o resto do mercado de trabalho?

Sábado fui numa pizzaria com alguns ex-alunos (não vou falar que já são amigos para não encher a bola deles) e obviamente é impossível não se falar sobre a faculdade. E aí eles começaram a conversar sobre se fariam o curso de novo e o que aprenderam no curso. E depois eu comentei com um deles que ao ouví-los parecia que eu que estava falando, disseram exatamente o que eu penso. O que eles aprenderam foi a pensar, analisar, identificar problemas, questionar as respostas simplistas e dar respostas adequadas aos problemas. Aprende-se um método que é aplicável em qualquer situação da vida, e portanto, em qualquer situação no mercado de trabalho. Obviamente que para isso é preciso participar do debate de idéias, confrontar pensamentos durante a faculdade. O curso de relações internacionais não cria robôs, mas indivíduos capazes de se mover no mercado de trabalho. Evidentemente, que em tese, todo curso superior deveria fazer com que o aluno chegasse neste estágio, mas há cursos que certamente não favorecem, administração, contabilidade, economia (dependendo da faculdade e vertente teórica). No curso de relações internacionais não tem jeito ou ele conquista isso ou ele sai sem nada. A natureza do curso impede que alguém possa sair satisfeita do curso simplesmente por ter um diploma, só há portanto dois tipos de egressos o feliz e o arrependido.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Pensar, só se pensa sozinho! Aprender, só se aprende com os outros!

Há alguns dias estava dando um sermão numa das salas e dizia que eles que deveriam inserir os estudos na vida deles, que deveria fazer parte da vida e não um intervalo entre uma e outra atividade. E que o melhor modo de inserir os estudos na vida é fazer com ele faça parte da relação entre os amigos, é conversar sobre o que se está estudando, é usar o que está sendo estudado na conversa com os amigos, é pensar o conjunto de fatos da vida a partir das visões de mundo, das teorias que se aprende na faculdade. Dizia inclusive que pode-se tonar as fofocas sobre os colegas mais interessantes colocando por exemplo Maquiavel na história, qualquer pessoa e as suas relações no mundo se tornam mais interessantes quando olhadas pelos olhos de Maquiavel. Então entre uma balada e outra, eles deveriam utilizar os amigos para conversar mais ilustradas ainda que fosse fofoca.

As pessoas não aprendem apenas lendo livros ou estudando solitariamente. É preciso colocar as idéias em debate, é preciso colocar as idéias em discussão, é preciso para testar se elas são boas mesmo, e o seu domínio sobre elas. Pensar só se pensa sozinho, cada indivíduo isoladamente, e por isso, o pensar é livre, pode-se pensar qualquer coisa, qualquer besteira e desenvolver o pensamento. Agora é preciso lançar o pensamento no mundo para que ele seja debatido, questionado, testado, conversado, e que para daí possa resultar alguma conhecimento. É nesta elaboração coletiva do conhecimento que o aprendizado ocorre. Por isso até para aprendermos de verdade precisamos de amigos, precisamos dos outros. Na série de tv, House, vemos isso de forma radical, como os diagnósticos do dr. House são feitos? Cada um dos médicos auxiliares e ele vão lançando idéias sobre qual seria a doença, discutem, discordam, e aí vão fazer exames para testar a melhor hipótese que sobrou após a discussão. Caso o diagnóstico estivesse errado (e como é série de tv o primeiro diagnóstico nunca está certo) volta-se a discussão. Esta é uma situação generalizável se não se conversar, debater sobre o que se estuda, não se aprende.

Na UnB eu aprendi a estudar em biblioteca graças aos meus amigos. Estudar é algo metódico, significa definir qual o conteúdo será estudado, escolher qual material será utilizado, colocar a bunda na cadeira e começar a estudar. Evidentemente, o ambiente mais propício para estudar é numa biblioteca, numa boa biblioteca. Como sempre tive boa biblioteca em casa nunca tive o hábito de ir estudar em bibliotecas até o segundo grau. Aprendi a estudar na biblioteca da UnB graças à Raquel, ao Jeferson, à Giovana, à Renata. A Raquel, a Renata e a Giovana moravam em casas muito cheis, não eram propícias ao estudo, então iam para a biblioteca. A Renata e a Giovana moravam na casa dos tios da Giovana, ótimas pessoas, sempre cabia mais um na casa, mas para se concetrar nos estudos não dava. A Raquel morava na casa de irmã dela com sobrinhos pequenos, então também era melhor ir para a biblioteca. Depois a Raquel foi morar no C.O., onde o Jeferson morava. O C.O. é o Centro Olímpico da UnB, obviamenteo ninguém mora lá, mora no CEU que fica ao lado, mas todo mundo chama de C.O. O CEU não é o céu, é o Casa do Estudante Universitário, para o meu espírito seria impossível habitar lá, mas os apartamentos são duplex (não se enganem com essa informação), relativamente espaçosos, mas com gente demais ( o que dificulta estudar se os colegas de quarto estiverem lá) e com um defeito generalizado em Brasília com concreto exposto. Já disse isso antes no blog, não vejo beleza no concreto. Eu morava sozinho num local mínimo e, portanto, não tinha como trazer os livros que estavam em Barra do Garças, e como estava somente a seis meses em Brasília ainda não havia compreado livros suficiente para dizer que tinha uma biblioteca em casa, mas ainda sem ter espaço ela cresceu rápido. Então mesmo para mim a melhor coisa seria estudar na biblioteca, mas eu jamais teria ido se lá não estivessem a Raquel, a Renata, a Giovana, o Jeferson. E a Renata nem fazia relações internacionais, estudava odontologia. O curso de Introdução á Economia com professor Antônio Dantas começou desastroso, todo mundo foi mal, a minha pior nota na faculdade foi na primeira prova do Dantas, tirei 3, que no sistema de notas da UnB é MI, e no sistema ABC, seria D, mas na nota semestral fiquei com SS, que seria no sistema usado em São Paulo A. E isso graças aos meus amigos, graças às horas de estudo em grupo, com quem eu conversaria sobre conceito de demanda e oferta? Com quem eu poderia conversar sobre custo marginal decrescente? Ora, se não for com os seus amigos, ou mesmo apenas colegas de turma, só sobra o professor, porque o resto da humanidade não está interessada. E o professor lhe dará resposta para perguntas, não resolve o seu problema, porque as palavras do professor vc vai querer é decorar como resposta sem se preocupar em entender e questionar. Por isso aprende-se mais conversando com os amigos. E com isso biblioteca passou a fazer parte da minha vida de estudante, durante todo o período na UnB sempre estudava na biblioteca e sempre com tempo para conversas teóricas e para me atualizar nas fofocas. As longas conversas com a Ana Patrícia sobre o neoliberalismo e sobre os autores liberais foram fundamentais para o que eu penso hoje. Na minha dissertação de mestrado, nos agradecimentos, agradeci ao Fernando por sempre me atualizar sobre o que pensa a direita brasileira, sobre os erros da direita brasileira. Claro que coloquei assim para encher saco. Mas é verdade. Conheci o Fernando na graduação em relações internacionais na UnB, e conversar com ele sobre o Brasil e omundo sempre foi ótimo para desenvolver a tolerância com a divergência (não concordamos sobre quase nada) e para ver as frauqezas dos meus próprios argumentos. Para a Raquel, eu disse qu ela é minha consciência ética. Poucas pessoas são tão íntegras quanto à Raquel, então é óbvio que conversando com ela, ouvindo-a, eu estava aprendendo. Como a idéia já ficou clara não irei me estender mais, mas é evidente que no mestrado foi a mesma coisa. Aprendi pelas conversas que tive sobre o Brasil e o mundo. Então o que somos intelectualmente deve-se mundo ás conversas que estabelecemos, aos nossos interlocutores, se não os temos não percorreremos um caminho frutífero.

Já escrevi aqui no ano passado um libelo sobre uma das turmas que vi formar, que só tiveram a melhor formação, só foram a melhor turma, porque se dedicaram coletivamente, porque foram um bom grupo. Então se quer aprender, se quer crescer intelectualmente encha o saco dos seus colegas e amigos para que eles também queiram e participem deste processo.

PS 1: A biblioteca da UnB é a melhor biblioteca universitária que eu conheço pelo horário de funcionamento. Funciona praticamente 24 horas, das 08:00hs da manhã até às 06:00 hs da manhã do dia seguinte.

PS 2: Em São Paulo, voltei a ser comodista. Tenho que reaprender a usar bibliotecas públicas apesar da minha ser quase sempre mais do que suficiente.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Nova Enquete!!!!!

Coloquei uma nova enquete no Blog. Na enquete anterior todos votaram que o Chávez era o melhor presidente do mundo por ser amigo do Fidel. Fiquei profundamente surpreso com o resultado. Agora a enquete é "Por que você estuda relações internacionais?". Obviamente que como a pesquisa é do meu próprio blog, eu não posso responder, mas se eu fosse responder certamente diria que é porque eu sou discípulo de Gandhi e quero promover a paz no mundo.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Atenção Alunos de Tópicos!

As instruções para o trabalho da disciplina Tópicos Avançados em Relações Internacionais está neste link http://corival-topicos.blogspot.com/.