São Paulo tem coisas curiosas. Ontem conheci um taxista especializado em levar e buscar jovens na balada, tem mais de mil cadastrados. Numa noite de sábado para domingo, ele já recusou 96 corridas. Então hoje ele não tem ponto nem pega ninguém na rua. E segundo ele o negócio começou com ele parando perto de um McDonalds em Pinheiros onde havia muitos adolescentes de classe média alta, aí ele ficava batendo papo, e depois o pessoal acabava fazendo uma corrida com ele, ele levava mesmo quem não tinha o valor todo da viagem, e aí ia fazendo o cadastro dele e amizade com o pessoal que passava o telefone dele para outros colegas de escola e faculdade. Segundo ele, hoje ele já seleciona os clientes por escola e faculdade. Alunos do Equipe, ele prefere não transportar. Esta é a divisão social do trabalho que uma cidade do tamanho de São Paulo permite.
"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."
Ignácio Ellacuría

O que iremos fazer hoje, Cérebro?
sábado, 27 de fevereiro de 2010
domingo, 28 de junho de 2009
Andando de trem em São Paulo
Já tem um mês que quero escrever sobre os trens em São Paulo. Usei o trem durante um mês para ir para São Caetano do Sul. Tomava o trem na Luz e descia na estação São Caetano. Completamente diferente do metrô ou quase. Primeiro dia, não tinha nenhuma noção do intervalo entre os trens e acabei indo cedo demais para a Luz e chegando cedo demais em São Caetano, porque não confiei na informação sobre o tempo que demorava para chegar lá. O povo na estação da Luz na passagem do metrô para o trem se comporta como gado e consequentemente foi organizado como tal. O gado fechado no curral quando se abre a porteira, todos querem sair ao mesmo tempo, um pula em cima do outro para sair primeiro. Quando vai se vacinar o gado e se abre o tronco para eles entrarem é preciso fechar os compartimentos para deixar cada um sozinho porque antes mesmo de dar a injeção já está um pulando em cima do outro para tentar sair primeiro. Não há qualquer racionalidade, vão pisoteando uns aos outros. Quem nunca viu um curral em funcionamento pode ir visitar a Luz para aprender. Se uma criança cair no chão ali morre pisoteada. Após sobreviver à multidão, vc chega a região das escadas que levam para as plataformas dos trens. Qual a plataforma? Não é uma informação simples. E aí aparece um outro problema, que está relacionado à burrice humana. Quando se olha o mapa de trens e metrô em São Paulo são todos caracterizados pela cor e pelo número. Uma coisa bastante intuitiva. Mas no caso dos três esta história de cor não passa de ficção, só colocam cores para combinar com o mapa do metrô nas estações e linhas do metrô. Não se faz uso nenhum disso lá. Não só na estação para vc se localizar, mas também ao longo do percurso. Ao contrário, as cores das estações de trem são horríveis, pelo menos desta linha, são tristes, deprime qualquer um. Pior as placas com o nome da estação são geral marrom, péssimo para se enxergar à noite, e estão na altura e lugar errados, é preciso se esforçar para conseguir ver e dependendo de onde esteja não se vê as placas. E isso é fundamental, porque pelo menos nessa linha, o motorista do trem só fala qual é a próxima estação quando lhe dá na veneta. Uma hora não fale, outra fala baixo. E assim vai. Ou seja, há aspectos onde seria fácil melhorar o serviço. Fiquei impressionado que há muitos trens, mas poucos pela quantidade de gente no horário de pico. Entrar no trem é um horror, é uma briga entre quem sai e quem entra. Na linha que vai para São Caetano ainda é uma briga com regras quase civilizadas. Agora ficava observando o trem que vai da Luz para Francisco Morato, aí não há qualquer resquício de civilidade. Praticamente se disputa no braço. Se alguém me dissesse que pegou o trem Em Francisco Morato para Luz, e acabou voltando para Francisco Morato porque não conseguiu descer na Luz, porque não deixaram, eu iria rir da tontice da pessoa, mas acreditaria na história. Isto é um problema, quando a situação é difícil, as pessoas em grupo colaboram muito para degradar ainda mais a situação. Vira a lei da selva. Obviamente sempre esperava ir uma manada para pelo menos estar na frente na próxima manada e torcer para no próximo haver menos gente. Aí entrei, claro que sendo empurrado, na medida de velocidade do pessoal que está atrás de vc pra entrar, vc sempre está devagar demais. Mas entrei, sentei. E vou observar as pessoas. Aí entra uma senhora usando os seus instintos primitivos como todos os outros. E aí eu penso, num mundo desse faz sentido eu ser educado e me levantar para oferecer o lugar para ela?
Mas o metrô também pode ser um inferno nos horários de pico. Para ir para a estação da Luz peguei o metrô duas vezes na estação Paraíso. Que horror! Sem dúvida teria sido melhor ir para a Sé por outros meios e de lá ir para a Luz para ser mais rápido. Entretanto, como não me comporto como gado, não chego na estação desesperado atropelando os outros para entrar no trem. Chego, observo para ver se há algum lugar com menor concentração de gente. Espero um pouco para ver se vem um trem menos cheio e dei sorte de quando estava lá esperando chegou um trem vazio, que estava sendo colocado em operação a partir do Paraíso para desafogar a estação. Claro que na segundo vez que tive que ir a partir da estação Paraíso já foi pronto para esperar esse trem e dei sorte novamente.
Enfim, o governo segmenta e estigmatiza a população de forma descarada em São Paulo, na diferenciação entre trem e metrô, e na forma como trata cada uma das linhas. Sempre que eu vejo um anúncio sobre os 16 novos trens para a linha Verde, eu fico pensando, e se ela não passasse pela avenida Paulista para onde iriam os novos trens? Ou melhor comprariam novos trens?