"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?
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domingo, 8 de maio de 2011

Eric R. Kandel. Em Busca da Memória: o nascimento de uma nova ciência da mente.

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“Tendo estudado história e humanidades, campos em que cedo se aprende o quanto a vida pode ser depressiva, fico feliz por ter, no final das contas, mudado para biologia, onde um otimismo ilusório ainda existe em abundância.”

Eric R. Kandel. Em Busca da Memória: o nascimento de uma nova ciência da mente.

Os olhos de Laura: somos todos loucos em algum recanto de nossas vidas.

 

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“o que é estar louco? É ter certeza visceral, irracional da verdade, do que se pensa e do que se faz. Diferentemente do neurótico, que acredita ou não acredita nos fundamentos do que pensa ou do que faz, o louco que às vezes somos, no momento mesmo da loucura, não duvida e sabe cegamente o que deve fazer; a paixão é mais forte do que a razão. Estar louco é ir obstinadamente atrás da sua ideia, uma ideia fixa e falsa que irrompe sempre nas mesmas circunstâncias, toma conta de nós e nos impele a agir. Estar louco é não ouvir mais nada além do que se quer ouvir. É isso a ruptura psicótica com a realidade! A mente cega curva a realidade à sua ideia, em vez de submeter sua ideia à realidade.”

Juan-David Nasio. Os olhos de Laura: somos todos loucos em algum recanto de nossas vidas.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Língua Portuguesa

Quando vinha de Goiânia para São Paulo fiquei duas horas no aeroporto de Goiânia esperando o vôo. Como já havia lido os livros que estavam comigo fui comprar algumas revistas para ler enquanto esperava. E por causa das chamadas na capa comprei dois números de uma revista que eu nunca havia lido “Conhecimento Prático Língua Portuguesa”. Excelente revista, fiquei surpreso. Para estudantes, para quem não tem domínio da linguagem, para curiosos é um excelente material. Em  um dos números há um artigo sobre intertextualidade. Uma dificuldade que muita gente encontra ao ler um texto é a incapacidade de perceber a intertextualidade, e se ela não for percebida, a leitura é profundamente empobrecida. Outro sobre coerência textual. Uma análise de trecho de um poema de Manuel Bandeira, que eu achei um pouco forçada, exagerada, mas que demonstra como se analisa um texto, se pensa um texto. Uma questão bastante curioso sobre sobre a classificação gramatical e sintática do “eis que”. Problema que atingiria também frases com “tomara” e “oxalá”. Muito interessante.

O outro número traz uma análise da metonímia em Vidas Secas de Graciliano Ramos, artigo sobre abreviaturas, inclusive contando histórias do uso em português, outro texto sobre clichês.

Aproveitando recomendo outra revista que comprei nesta mesma oportunidade, “O mundo em 2010” da The Economist editada em português pela “Carta Capital”. Um bom panorama do mundo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Procurando por livros chatos?

Os outros dois livros que li recentemente são chatos. “Ensaio sobre a lucidez” do Saramago tem alguns bons momentos, mas no geral é tedioso. Mas o outro é pior inventei de comprar e ler “Andrei Rublióv: roteiro literário” de Andrei Tarkovski. Uma chatice. Se o filme espelhar o seu roteiro deve ser desanimador.

Mais uma leitura de viagem: Tratado sobre a Convivência de Julián Marías

Segue abaixo uma parte das notas de leitura do livro “Tratado sobre a Convivência” do filósofo espanhol Julián Marías.

MARÍAS, Julián. Tratado sobre a convivência: concórdia sem acordo. São Paulo, Martins Fontes, 2003.

p.60- “Uma das mais profundas verdades formuladas por Ortega é a de que o homem faz tudo por razões “líricas”. Comprovei-o – e pratiquei-o – ao longo de toda minha vida, e vi a esterilidade do prosaísmo, cuja consequência imediata é o tédio, inimigo público de nossa época.”

p.21- “No homem, o que “é” quer dizer primariamente o que pretende ser, isto é, o projeto. Quando se carece deste, ou não é atraente, sobrevêm o descontentamento, o desalento, a mesquinharia e a propensão a culpá-los, a “eles”, aos outros seja quem for que se invente.”

p.75- “Dir-se-á que o indivíduo tem capacidade de reagir, de rejeitar e corrigir, de restabelecer a verdade e a importância efetiva. Mas será verdade? É preciso contar com a limitação, a unilateralidade, a propensão ao fanatismo. São muitos os espanhóis – e não só os espanhóis, infelizmente – cujo único meio de comunicação é a televisão; dela se nutrem, sendo para elas o equivalente da realidade”

p.79- “A dificuldade se baseia em esquecer ou não entender o caráter projetivo da vida. Cada idade é uma fase de projetos, convergentes e articulados num projeto principal, como a de maior alcance num foguete, o que permite a articulação desse movimento contínuo e sem interrupção alguma que é a vida – a não ser que se leve em conta a mínima e essencial que é o sono, o que torna possível que se volte a começar a cada dia.

“Esse caráter projetivo é fundamental e engloba tudo; insisti que se recorda e se narra a partir dos projetos e, naturalmente, a partir deles se imagina e antecipa o futuro.”

p.79- “Creio que a qualquer altura da vida, em todas as idades, se fazem projetos. A partir deles, evoca-se o passado. Que por isso “revive”, se modifica, é interpretado, ganha novas significações. O argumento vital reflui sobre o já vivido, vai se incorporando às novas fases, vai se depositando assim no que se chamará uma personalidade.”

p.81- Senancour em “Obermann” a partir de Unamuno: “O homem é perecível; é possível; mas pereçamos resistindo e, caso nos esteja reservado o nada, não façamos que seja uma injustiça.”

p.81- “A ânsia de perduração de Unamuno o levava a concordar fervorosamente com essa atitude. Trata-senada menos, de Resistir ao nada. Como pode isso ser feito? Evitar o nada, a destruição da pessoa que somos, sua aniquilação não está em nossas mãos; mas a resistência ao nada, fazer com que este não se justifique, é algo que podemos fazer. Em nossa época, são muitos os homens que o aceitam passivamente, porque lhes disseram que “é assim”, sem perceber que o disseram aqueles que, por certo, não o sabem nem o poderiam justificar. Dão-no como válido, chegam ocasionalmente a orgulhar-se disso, agem como se “já” não estivessem na vida.”

p.82- “Como se pode resistir ao nada? Projetando sem fim, sem limite. Diz-se e repete-se que nada podemos levar conosco depois da morte. Se se pensa em “coisas”, certamente é verdade: nem riqueza, nem títulos, nem honrarias. O único que podemos levar conosco são nossos projetos. Não que os levemos “conosco”, como se fossem uma bagagem – temos de ir “leves de bagagem”; é que somos esses projetos, consistimos neles. Sem eles, não somos “nós”, cada um de nós. Aqueles que nos constituíram em nossa vida, em sua revisão e recapitulação, em sua posse final, são nossa realidade, aquela que chamamos “eu” e que tem um nome próprio. Isso é o que pode e deve resistir ao nada.”

p.103-104- “A maior parte da ocupação humana, inclusive intelectual, consiste em lidar com coisas. Os conceitos usados constantemente se referem a elas.

“Mas ocorre que nós não somos coisas, mas pessoas. Algo radicalmente distinto, definido por atributos inteiramente próprios e originais, irredutíveis. Não “somos” propriamente, mas “vivemos”; não somos exclusivamente reais, mas consistimos essencialmente em irrealidade – imaginação, projeção, insegurança; somos realidades dramáticas, escolhidas por nós mesmos, que imaginamos quem pretendemos ser e procuramos realizá-lo.”

“Nada comparável às coisas, embora levemos nossa vida com elas, embora algo de nossa realidade seja “coisa” – aquilo com o que fazemos nossa vida. Isso é tão evidente que, mal é afirmado, todos o compreendem. Mas com o decorrer do tempo, quando voltam os olhos em outra direção, muitos deixam de ver-se como pessoas e aceitam passivamente a “coisificação” que de todos os lugares lhes é oferecida de modo insistente. Abandonam a evidência que possuíram transitoriamente e recaem no erro inveterado de ver-se como coisas, como o que não são nem podem ser.

“O homem tem de fazer a sua vida, certamente com as coisas; mas tem de afirmar sua realidade, com a tensão criadora que é sua condição e seu destino, evitando que as coisas o desestabilizem e o reduzam ao contrário de sua realidade. Ser homem é um permanente e inseguro esforço de hominização, uma conquista do que se é: uma pessoa.”

p.105- “Não se deve tentar contentar aqueles que não vão se contentar.”

p.107- sobre as concessões políticas e direitos que são feitas apenas para evitar conflitos, protestos: “Deve haver a convicção de que nunca se tem toda a razão, de que os outros têm alguma, e é preciso dá-la; mas não se pode dar-lhes a que não têm.”

p.110- “É a definição que Goethe dá do diabo: “Der Geist, der stets verneint”, o espírito que sempre nega. Recordei certa vez que a palavra decisiva é “sempre”, o que desvela a monotonia do demônio. “Sim ou não, como Cristo nos ensina” é um ditado popular espanhol. É preciso dizer ambas as coisas, segundo exija a realidade. A atitude diabólica é o negativismo, a negação sistemática diante de tudo, o espírito destrutivo. Ele se exercita de maneira muito particular contra o que tem verdadeira realidade, em especial se tem relação com a bondade. É o contrário da atitude amorosa diante do real, que pode e deve ser crítica e negar o que seja infiel ao exigido, precisamente por ser adesão ao que algo deve ser, tem de ser; essa negação concreta e limitada é o instrumento que busca a perfeição.”

p.133- “Convivência, inclusive colaboração, é uma coisa. Cumplicidade é outra bem diferente.”

p.137- “Falar-se-á de liberdade de expressão: pode-se dizer o que se quiser da liberdade dos outros, que pode ir da recusa a conversar com os que transgridem as normas imperdoáveis à ruptura da colaboração com as ações legais oportunas. O que não se pode aceitar é que alguém desabafe ao bel-prazer à custa da dignidade de outros, ou da própria realidade, que é o mais respeitável deste mundo, e tudo continue como antes, sem sanção nem conseqüência.”

p.141- “A verdade é coerente; não entra em conflito consigo mesma; se se compara o dito por alguém com outras coisas que esse alguém disse, e se a comparação resiste, pode-se concluir que todas elas são, se não “verdadeiras”, porque o erro é sempre possível, ao menos “verazes”, ou seja, que o autor as julgou verdadeiras.

“A mentira é o critério decisivo. Não pode ser admitida nem aceita, porque isso envolve cumplicidade; não se pode fingir que se acredita no que diz aquele que mente.”

p.148- “A incapacidade de admiração é um indício infalível da inferioridade e desconfiança.”

p.152- “Nada é plenamente público se não adquire o relevo necessário, se não é “notificado” à sociedade em seu conjunto, e isso não se limita à imprensa escrita, mas ainda mais ao rádio e à televisão.”

p.152- “A ignorância é um fator decisivo, com o qual é preciso contar. É assombroso o número de coisas importantes que são desconhecidas pela imensa maioria das pessoas.”

p.152- “Quando se diz a verdade, reconhece-se a razão que cada um tem, e não se dá razão a quem não a tem; e com isso se consegue um reflexo fiel da realidade, que é o mais respeitável deste mundo.”

p.153- Péricles: “Aquele que sabe e não se explica bem se iguala àquele que não pensa”

p.153-154- “Há três formas de comunicação pública: a retórica, a propaganda e a administração. A primeira, nascida na Grécia, que teve épocas gloriosas, é a arte de comover os homens sem profaná-los, a partir da verdade, nutrida por ela, potencializada pela beleza da palavra. A propaganda, sinistra manifestação de alguns tempos, e muito especialmente do nosso, é a técnica de manipular os homens, sem dúvida profanando-os, mediante a demagogia e a mentira, para conseguir alguns fins que envolvem uma degradação que pode ser duradoura.

“Quando não se tem o talento da boa retórica e não se quer cair na abjeção da propaganda, pode-se recorrer à “administração”, isto é, à notificação apagada, inerte, frequentemente flácida, de conteúdos aceitáveis e “verdadeiros”.

“Escrevi verdadeiros entre aspas porque não estou certo de que o sejam. Verdade – em grego, “alétheia” – é desvelamento, franqueza, manifestação, iluminação. Consiste em que o real apareça, fulgure, brilhe. Se isso não acontece, algo não será falso mas não resplandecerá em sua verdade.

p.154- “A política pode ser degradante, mas também pode ser uma arte nobilíssima, merecedora de admiração e gratidão. Mas não se pode esquecer que é uma “arte”, que precisa ser dominada, ou de todo modo aprendida. Se me apressam, direi que é a primeira e mais importante condição. Se se quer um nome de político, estrangeiro e já falecido, recordarei os nomes e as frases cunhadas por Churchill, que, como se fosse pouco, legou ao mundo o gesto do V [Vitória].”

p.156- “Dá-se muitas vezes o nome de “espírito crítico” ao negativismo, o que é um erro; o espírito crítico consiste em observar atentamente o real, distinguir o bom do mau, o existente do inexistente, “le vrai d’avec le faux”, o verdadeiro do falso, como dizia Descartes.”

p.157- “Os males existem, com certeza, e ninguém em seu juízo perfeito poderia negá-lo. A maldade existe também, e é muito mais grave. Repugna-me indizivelmente que se tratem como “calamidades” as maldades humanas. Fala-se das matanças, das crueldades, das opressões, das humilhações impostas às pessoas, como se fossem comparáveis com os terremotos, com as inundações, a erupção de vulcões, as ondas de calor ou de frio, os temporais. Os males procedem da engrenagem das causas naturais, do acaso, das limitações do mundo, que as técnicas procuram superar na medida do possível. A maldade tem sua raiz na liberdade do homem – o mais valioso dele, mas também o mais perigoso; por isso, a maldade é gravíssima, em particular porque é “evitável”, porque está em nossas mãos não deixá-la brotar ou remediá-la e corrigi-la.”

p.169- “A perda principal, então e em outras conjunturas históricas, é a da autenticidade.”

p.181- “Só a abertura à realidade, a convicção de que esta é rica, fecunda, inesgotável, porque está repleta de possibilidades, podem antecipar o futuro e buscar uma imagem atraente para ele.”

p.181- “Não há nada mais “realista” do que a imaginação, que não consiste em “lançar ao ar” caprichosamente uma fantasia vaga, mas em prolongar com rigor e exigência os trações do que se encontra, que são inexorável ponto de partida.”

p.239- “Fala-se agora – demasiadamente – de “globalização”; sob essa palavra se oculta a falácia de que o mundo atual é uno. Não é verdade; há vários, não inteiramente comunicáveis, imperfeitamente compreensíveis; mas todos estão presentes e é preciso levá-los em conta.”

p.249- “O homem sempre teve recursos escassos para seus projetos; agora, pela primeira vez, grande parte do mundo tem mais recursos do que projetos, e o resultado é o tédio, o grande inimigo do homem, a grande ameaça. E disso deriva o “prosaísmo” que afeta grande parte da humanidade, ausência de um “lirismo” sem o qual a vida decai.”

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Theotonio dos Santos e Ruy Mauro Marini

Theotonio dos Santos e Ruy Mauro Marini são dois grandes intelectuais latino-americanos de nacionalidade brasileira que são muitas vezes ignorados por aqui. Gostaria de chamar a atenção para o link para as obras de Ruy Mauro Marini disponíveis em um site mantido pela Universidad Nacional Autónoma do México e para o blog mantido pelo professor Theotonio dos Santos. Os links se encontram na lista de sites disponível à direita no blog. Os posts mais recentes no blog do professor Theotonio tratam da sua presença na China.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

“À mesa de Betânia: a fé, a tumba e a amizade”

Acabei de ler esta madrugada um livro de Marko Ivan Rupnik intitulado “À mesa de Betânia: a fé, a tumba e a amizade”. Marko Ivan Rupnik é um padre jesuíta que se dedica ao estudo da espiritualidade cristã oriental e à pintura de ícones. O livro é um reflexão sobre a relação entre Marta, Maria, Lázaro e Jesus a partir das situações que aparecem nos Evangelhos.

Vou transcrever três passagens, as duas últimas achei bastante curiosas.

“Com efeito, sabedoria é saber contar os amigos quando se chora, e não quando se ri. É fácil ter amigos no divertimento. Mas a verdade da amizade revela-se nas lágrimas, na prova. As lágrimas, como indica nossa espiritualidade, são uma realidade complexa. Podem ser lágrimas de egoísmo ofendido, de orgulho ferido, de desespero, de tristeza, ou também lágrimas de impotência diante de uma tragédia. Mas podem também ser lágrimas de compaixão, de um amor que assume a dor e a tragédia do outro, e que sofre com quem sofre. Podem ser, ainda, lágrimas do penitente, que se transforma em lágrimas do perdão, da gratidão por ser perdoado. E podem ser lágrimas do pai que abraça de novo o filho que estava morto, mas que voltou à vida.”

“Um pensamento passional conspira, por isso não pode favorecer a vida, a não ser aparentemente, como, do mesmo modo superficial, um pensamento passional parece reunir as pessoas. Caifás colhe o consenso do sinédrio, aparentemente reunido, mas não se trata, de fato de uma reunião verdadeira, visto que não garante a vida. Ao pensamento passional, aderem os passionais. A lógica que impulsiona um passional a amontoar-se aos objetos a fim de preencher o abismo sobre o qual se encontra é a mesma que espera que a multidão garanta e salve a vida. Mas, como sabemos, “multidão/legião” é o nome dado ao demônio. Em Mc5,9, o endemoninhado apresenta-se com o nome de Legião, dizendo “porque somos muitos”. A legião é um dispersar-se na multidão das afirmações da multiplicidade despersonalizada, onde se decompõe, ainda, a consciência do eu, ou seja, o princípio da unidade pessoal. A multidão fragmenta a vida, divide-a, e isso constitui a obra do diabo. A multidão, portanto, não pode agir em favor da vida; pode-o somente a comunhão, a unidade. Somente em uma comunhão livre está garantida a vida de cada um.”  Será que mais alguém vê pontos de contato desta afirmação com idéias de Adorno e Horkheimer?

“O amor materno e paterno é predominantemente unilateral e não pode exigir retribuição. Os pais devem amar os filhos, e o mandamento de Deus não diz que os filhos devem amar os pais, mas honrá-los. Quando os pais exigem o amor dos filhos, açulam dinâmicas estranhas que garantem aos filhos anos de sofrimento psíquico e espiritual. O amor conjugal, o amor entre homem e mulher, é um amor que, quanto mais exclusivo, mais é absoluto e mais sadio, mas é um amor que, justamente em sua lei intrínseca de exclusividade, protege a reciprocidade. Precisamente porque vive o amor conjugal, um pai não exige o amor dos filhos, a fim de que, assim, os filhos possam crescer num relacionamento livre, não condicionante. Por assim dizer, tanto o amor dos pais quanto o dos cônjuges, de algum modo, crescem rumo à amizade, crescem em direção a um amor baseado abertamente sobre o fato de serem redimidos.”

sábado, 31 de outubro de 2009

Lendo o texto do post anterior me lembrei do post sobre o livro de Gorz e o reproduzo novamente

DOMINGO, 25 DE MAIO DE 2008

O amor pensado e vivido, o livro de André Gorz, Carta a D.

Cheguei de Brasília neste sábado. No aeroporto de Brasília vi um livro de André Gorz intitulado "Carta a D. História de amor". Peguei o livro para comprar, fui para a fila, mas a fila estava lente apesar de ter apenas três pessoas, e como faltavam apenas 13 minutos para o horário de saída do avião desisti de comprar lá o livro. Mas quando cheguei em Congonhas, logo fui procurar a livraria do aeroporto, neste caso ser uma livraria da mesma rede do aeroporto de Brasília foi um bom negócio, mas é lamentável o crescimento dasa redes de livraria, porque agora são sempre os mesmos livros expostos, entrou em uma, já visitou todas. E extamente por isso já sabia exatamente onde encontraria o livro, e lá estava ele. Comprei o livro acabei de lê-lo.

O Gorz não está entre meus autores prediletos. Mas é insólito um intelectual renomado escrever sobre o amor, predomina de fato, o silêncio porque a expressão do amor sempre aparece como pueril, como uma comportamento juvenil e não racional. O livro é uma carta de Gorz à esposa, falando sobre o quanto a ama e sobre como ela foi importante para a vida dele no sentido mais profundo da palavra vida. O livro é escrito porque a mulher estava doente, com uma doença degenerativa. Seguem as transcrições do texto:

"Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo voc~e mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpor contra o meu é capaz de preencher.

Eu só preciso lhe dizer de novo essas coisas simples antes de abordar questões que, não faz muito tempo, têm me atormentado. Por que razão você está tão pouco presente no que escrevi, se a nossa união é o que existe de mais importante na minha vida? Por que, em Le Traître, passei uma falsa imagem de você, que a desfigura? Esse livro deveria mostrar que a minha relação com você foi a reviravolta decisiva que me permitiu desejar viver. Por que, então, deixar de fora essa maravilhosa história de amor que nós tínhamos começado a viver sete anos antes? Por que eu não disse o que me fascinou em você?"

"Por que você havia escolhido este Austrian Jew sem um tostão? No papel, eu era capaz de demonstrar - invocando Hero e Leandro, Tristão e Isolda, Romeu e Julieta - que o amor é o fascínio recíproco de duas pessoas por aquilo que elas têm de menos dizível, de menos sociolizável; de refratário aos papéis e imagens delas mesmas que a sociedade lhes impõe; aos pertencimentos culturais. Nós podíamos pôr quase tudo em comum exatamente porque a princípio não tínhamos quase nada. Bastava que eu consentisse em viver o que eu estava vivendo, em amar mais do que tudo o seu olhar, a sua voz, o seu cheiro, seus dedos afilados, o seu jeito de habitar o seu corpo, para que todo o futuro se abrisse para nós.

"Era isso: você havia me dado a possibilidade de escapar de mim mesmo e de me instalar num outro lugar, do qual você me trouxera a notícia. Com você, eu podia deixar de férias a minha realidade. Você era o complemento da irrealização do real, estando eu mesmo nele compreendido desde sete ou oito anos antes, através da atividade de escrever. Você era quem punha entre parênteses esse mundo ameaçador, no qual eu era um refugiado de exist~encia ilegítima, cujo futuro nunca ultrapassa três meses. Eu não tinha a menor vontade voltar à Terra. Encontrava refúgio numa experiência maravilhosa e não aceitava que ela fosse alcançada pela realidade. Eu recusava, no fundo de mim mesmo, aquilo que, na idéia e na realidade do casamento, implica esse retorno ao real. Até onde consigo lembrar, eu sempre procurei não existir. Você deve ter trabalhado anos a fio até me fazer assumir minha existência."

"Eu soube naquele momento que não tinha necessidade de nenhum prazo para refletir; que teria saudades para sempre se a deixasse partir. Você foi a primeira mulher que consegui amar de corpo e alma, com quem eu me sentia em ressonância profunda; meu primeiro amor verdadeiro, para dizer tudo. Se eu fosse incapaz de amá-la, nunca poderia amar ninguém."

Por causa da doença da mulher Gorz antecipou a aposentadoria e eles mudaram para uma casa no campo. "Ao longo dos vinte e três anos passados na nossa casa, publiquei seis livros e centenas de artigos e entrevistas. Nós recebemos dezenas de visitantes vindos de todos os continentes, fui entrevistado dezenas de vezes. Eu certamente não estive à altura da resolução que havia tomado havia trinta anos: a de viver o presente, atento mais que tudo à riqueza que é a nossa vida comum. Agora eu vivo de novo, e com um sentimento de urgência, os instantes em que tomei essa resolução. Não tenho nenhuma obra mais importante em elaboração. Não quero mais - segundo a fórmula de Georges Bataille - "deixar a exist~encia para mais tarde". Estou atento à sua presença como estive desde o início, e gostaria de fazê-la sentir isso. Você me deu toda a sua vida e tudo de si; e eu gostaria de poder lhe dar tudo de mim durante o tempo que nos resta.

"Você acabou de fazer oitenta e dois anos. Continua bela, graciosa e desejável. Faz cinqüenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. Recentamente, eu me apaixonei por você mais uma vez, e sinto em mim, de novo, um vazio devorador, que só o seu corpo estreitado contra o meu pode preencher. À noite eu vejo, às vezes, a silhueta de um homem que, numa estrada vazia e numa paisagem deserta, anda atrás de um carro fúnebre. Eu sou esse homem. É você que o carro leva. Não quero assistir à sua cremação; nem quero receber a urna com as suas cinzas. Oulo a voz de Katheen Ferrier cantandor: "Die Welt is leer, Ich will nicht leben mehr" (O mundo está vazio, não quero mais viver), e desperto. Eu vigio a sua respiração, minha mão toca você. Nós desejaríamos não sobreviver um à morte do outro. Dissemo-nos sempre, por impossível que seja, que, se tivéssemos uma segunda vida, iríamos querer passá-la juntos."

Gorz e sua mulher, Dorine, se suicidaram 1 ano e três meses após a redação do livro para morrerem juntos.

domingo, 12 de julho de 2009

Retirando o desenvolvimento do ostracismo

Retirando o desenvolvimento do ostracismo

Escrito por Corival Alves do Carmo

01-Jul-2009

Neste momento em que o mundo está mergulhado na crise financeira surgiu uma discussão sobre o papel da ajuda externa ao desenvolvimento, mais particularmente sobre o papel da ajuda externa a África. A economista Dambisa Moyo, ligada ao think thank liberal Cato Institute, publicou um livro intitulado “Dead Aid: Why Aid is Not Working and How there is a Better Way for África”.

O objetivo do livro é fazer uma crítica à ajuda externa aos países africanos. A tese da autora é que a ajuda externa empobreceu os países africanos. Os países da África são mais pobres hoje do que eram na década de 1970, ou seja retrocederam. Segundo a autora a ajuda externa é responsável por isso na medida em que permitiu que os diversos governos sobrevivessem e mantivessem o país às custas da ajuda externa sem implementar as reformas necessárias ao desenvolvimento dos diferentes Estados nacionais e populações. Obviamente, que as reformas, que segundo a autora, estão sendo indefinidamente adiadas são relacionadas à liberalização da economia de modo a permitir o mercado funcionar.

Continua em:

http://revistaautor.com/index.php?option=com_content&task=view&id=471&Itemid=1

terça-feira, 2 de junho de 2009

Os livros de hoje

Chegou hoje alguns livros que eu comprei, quero comentar sobre alguns deles.

O primeiro “O Estruturalismo Latino-Americano” de Octavio Rodríguez, economista uruguaio. O livro é uma verdadeira enciclopédia sobre o pensamento econômico latino-americano ligado ao estruturalismo da CEPAL. Um livro de 700 páginas que certamente para em pé. A se lamentar apenas o prefácio que é de Fernando Henrique Cardoso, não se poderia escolher ninguém melhor para desvalorizar o livro, cuja ligação com o estruturalismo encontra-se num passado remoto, pré-histórico, se é que algum dia houve ligação. Certamente haveria nomes melhores para escrever o prefácio. Em todo caso, vale a pena o livro. Outro livro do autor especificamente sobre a CEPAL, também excelente, mostra a complexidade da teoria cepalina para além do esquematismo da vulgarização feita pelos críticos e pelo tempo.

O outro livro é uma homenagem a Ruy Mauro Marini, “A América Latina e os Desafios da Globalização. Ensaios dedicados a Ruy Mauro Marini” coordenado por Emir Sader e Theotonio dos Santos. Nem todos os artigos são sobre a obra de Marini, mas a maioria toca algum ponto. Marini é um dos principais autores da teoria da dependência e é praticamente ignorado no Brasil por razões políticas e ideológicas. Os escritos de Marini foram barrados no Brasil e consequentemente sua produção está difundida muito mais na América hispânica do que aqui. De fato, seus discípulos são muito ativos no México tendo criado inclusive um site com a maior parte das obras de Marini http://www.marini-escritos.unam.mx/.

O terceiro livro é de Johan Galtung, “Transcender e transformar: um introdução ao trabalho de conflitos”. Galtung é o pai da disciplina “Estudos e pesquisas para a paz” e do conceito de violência estrutural. Os trabalhos dele e dos seguidores podem ser acompanhados no site http://www.transcend.org/. O livro em questão é uma abordagem para a solução de conflitos.

O quarto livro é “Lords of Finance: the bankers who broke the world” de Liaquat Ahamed. Por mais que o título faça parecer que o livro trata da crise atual, o livro é sobre a crise dos anos 30. Mas os atores são sempre os mesmos.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Livros para se emocionar e pensar 1

Acabo de ler três livros judaicos. Pode-se dizer três romances. Dois de Elie Wiesel e um de Zvi Kolitz. A primeira coisa que li de Eli Wiesel foi um livro que é uma longa entrevista com Elie Wiesel e com o teólogo católico Johann Baptist Metz. Comprei o livro, intitulado “Esperar a pesar de todo” pensando na entrevista de Metz. Mas gostei mais da entrevista de Elie Wiesel. Mostrou algo que aprecio muito, a sensibilidade para compreender o mundo, o outro a partir de pequenos indícios.E desde então espero a oportunidade para comprar e ler alguma obra dele. E o fiz neste final de semana. Dois romances: “Uma vontade louca de dançar” e “O tempo dos desenraizados”.

O terceiro livro foi uma sugestão de terceiro. O livro se chama “Yossel Rakover dirige-se a Deus”. Não havia ouvido falar sobre este livro anteriormente e após lê-lo, creio que isto dá a medida da minha ignorância.

“Yossel Rakover dirige-se a Deus” é um texto de ficção apesar de durante muito tempo ter sido muitas vezes considerado o último relato de um combatente do gueto de Varsóvia. Mas de fato foi escrito por um judeu do Leste Europeu enquanto visitava a Argentina, mas retrata de forma viva o que sentiram os judeus no gueto de Varsóvia e mais as questões que homens de fé, homens cuja existência está toda fundada na fé em Deus, se colocam quando são confrontados com uma realidade onde não parece haver Deus em parte alguma para socorre-los. Diz Yossel Rakover:

“As coisas sendo como são, não espero evidentemente um milagre e não Lhe peço, meu Deus, que tenha piedade de mim. Que Ele se comporte com relação a mim com a mesma indiferença que Ele demonstrou, ao esconder Sua face, em relação aos milhões de outros filhos de Seu povo. Não sou uma exceção à regra e não espero nenhum privilégio. Não tentarei mais salvar-me e não fugirei daqui.”

“Creio no Deus de Israel, mesmo que ele tenha feito de tudo para que eu não acredite Nele. Creio em Suas leis, mesmo que eu não possa encontrar justificativa para os Seus atos. Agora não tenho mais com Ele uma relação como a do escravo e seu senhor, porém como a do aluno com seu professor. Curvo minha cabeça diante de sua grandeza, mas beijarei a vara com a qual ele me flagela. Eu O amo. Mas amo ainda mais a Sua Torá. Mesmo que eu tenha estado iludido com Ele continuarei a observar Sua lei. Deus significa religião, mas sua Torá significa uma regra de vida! E quanto mais morrermos por essa regra de vida, tanto mais ela se tornará imortal.

“Eis porque me permito, Deus, pedir-te explicações antes de morrer. Daqui em diante liberado de todo medo, pleno de uma absoluta tranquilidade e segurança interiores, quero dirigir-me a Ti pela última vez em minha vida.

“Tu dizes que pecamos? Mas é evidente! E que seríamos punidos? Isso também posso compreender. Porém, eu quero que Tu me digas se neste mundo existe um pecado que mereça castigo tal como aquele que nos foi infligido?

“Tu dizes que farás nossos inimigos pagarem por seus crimes? Estou convencido de que Tu o farás implacavelmente, sem piedade. Não tenho dúvida disso. Mas quero que me digas se pode existir no mundo um castigo passível de expiar os crimes cometidos contra nós?

“Talvez me dirás que não se trata no caso presente de pecado e de punição – mas, simplesmente, o que acontece quando Tu velas Tua face e abandonas os homens aos seus instintos?

“Mas então quero perguntar-Te, Senhor – e essa questão me queima como fogo abrasador: o que mais? Oh, dize-o a mim, o que deve ainda advir para que Tu descubras novamente a Tua face e a reveles ao mundo?”

“E tenho ainda outra coisa a dizer-Te: não estiques demais a corda! Pois a corda poderá romper-se. A provação em que Tu nos mergulhaste é tão dura, tão intoleravelmente dura, que Tu deverias – Tu deves – perdoar àqueles do Teu povo que no seu desespero e na sua cólera afastaram-se de Ti.

“Perdoa àqueles que se afastaram de Ti na sua infelicidade, mas perdoa igualmente àqueles que se afastaram de Ti na felicidade. Tu transformaste nossa vida num combate tão horrível e perpétuo que os covardes forçosamente procuraram escapar-lhe tão logo vislumbraram uma saída. Não te abatas sobre eles! Não se castigam os cavardes, há que se ter piedade deles. Senhor, mostra-Te mais misericordioso para com eles do que para conosco!

“Perdoa também àqueles que blasfemaram contra Teu nome, que foram servir a outros deuses e que se tornaram indiferentes em relação a Ti. Tu os testaste tão duramente que eles não podem mais pensar que Tu sejas seu Pai, nem mesmo que eles tenham um pai.”

“Fizeste de tudo para fazer-me duvidar de Ti, para que eu não creia em Ti. Mas morro exatamente como vivi, com uma fé inquebrantável.

“Louvado seja para sempre o deus dos mortos, o deus vingador, da verdade e da justiça, que muito em breve mostrará novamente Sua face ao mundo e que com a Sua voz todo-poderosa fará tremer este mundo nos seus alicerces.”

Livros para se emocionar e pensar 2

Os dois romances mencionados de Elie Wiesel não são relatos do holocausto, mas os tem como pressuposto e como uma realidade que permeia a existência dos personagens dos livros. São livros perturbadores, angustiantes. Ambos de algum modo abordam a impossibilidade de se viver o amor e relações duradouras, ou mesmo, a incapacidade de viver de forma plena.

“Uma vontade louca de dançar” se passa na maior parte do tempo num consultório psicanalítico. É a história de Doriel contada sem qualquer cronologia, de modo meio desconexo, típico da literatura contemporânea. O início é meio chato. Não é chato como o início do Pêndulo de Foucault  do Umberto Eco, mas é chato, uma leitura lenta. Mas depois é a ótima história da relação do paciente perturbado com a sua analista. Analista incapaz de decifrar e compreender o drama existencial de Doriel que o afastou da vida apesar de dinheiro não lhe faltar. Um sortudo sobrevivente tanto da expansão alemã no Leste Europeu, Doriel é um homem cujas perguntas a vida se mostra incapaz de responder o que o impossibilita viver. Paralisado existencialmente, com dinheiro para gastar em busca de respostas, mas vazio, ou prisioneiro de si mesmo. Ou o sofrimento é o prisioneiro e Doriel, o carcereiro. O sofrimento é vigiado, controlado para que não fuja, para que fique lá. Não há solidão maior do que ser abandonado pelo seu próprio sofrimento.

“O grito mais profundo e mais poderoso, disse um rabi hassídico, é o que mantemos encerrado no peito.”

“Poderia haver excesso de memória?”

“Eu luto, e não me lembro mais por quê. Muitas vezes penso não passar de um entrelaçamento de rachaduras abertas para o horror.”

Livros para se emocionar e pensar 3

“O tempo dos desenraizados” é história de Gamliel cujos pais morreram no holocausto e que vive perdido no mundo em busca da sua identidade. Pedidas as referências familiares, tentando escapar do passado, sem um futuro que se projete sobre ele, o presente é o vazio, é o nada, é a falta de identidade, é o desenraizado no sentido mais forte do termo. “Diz-se que o homem torturado e a mulher violada continuarão a sê-lo pelo resto da vida; o mesmo se aplica ao desenraizado. O ex-refugiado continua a ser refugiado pelo resto da vida. Escapa de um exílio para projetar-se em outro, sem conseguir sentir-se em casa em lugar algum, sem jamais esquecer de onde vem, sem deixar de viver no provisório. Para ele, a felicidade é o repouso do instante. O amor que dizem eterno? Um piscar de olhos. Para um homem em sua situação, a cada passo o fim parece próximo.”

“Mas a guerra é indizível, ao contrário da paz. A palavra incita ao ódio assassino que é a guerra sem panos quentes. Teoricamente, não devia ser possível descrever a guerra e seus horrores, a blasfêmia que é a guerra, a agonia grotesca que é a carnificina legal e glorificada. James Joyce e Franz Kafka não escreveram nada sobre o primeiro conflito mundial. Na verdade, a guerra não devia fazer sonhar, pois mata tanto o sonho quanto o sonhador e limita a imaginação ao privá-la de horizonte.”

“Não vê então, meu caro senhor. que a inocência os torna doentes a todos? Neste mundo a inocência é uma doença.”

“É melhor não acreditar no acaso; o senhor nos proíbe. Sou velho o suficiente para invocar minha experiência: no mundo dos homens, tudo é encontro. A rigor, eu diria que estamos aqui, eu e você, reunidos por uma força que nos escapa, cabe-nos agir como se tudo tivesse sido feito para que este encontro acontecesse.” “Talvez só tenhamos atravessado nossa vida, cada um de seu lado, para chegar a este momento, a este encontro.”

“Não é o inimigo que nós odiamos mais, mas as pessoas que estão próximas. O amigo que nos decepciona, o irmão que nos trai, o vizinho que nos denuncia.”

“É grande o suficiente para saber que o amor está perto demais da felicidade para não beirar o sofrimento.”

domingo, 10 de maio de 2009

Avanços no Brasil

Finalmente está havendo uma prática ainda não generalizada de publicar textos clássicos no idioma original e com a tradução em português. Textos, por exemplo, de São Tomás de Aquino estão sendo publicados em latim e português. Wittgenstein em alemão e português.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Mais livros e a pobreza das relações internacionais!

Acabei de ler de Elizabeth Roudinesco, "Filósofos na tormenta: Canguilhem, Sartre, Foucault, Althusser, Deleuze e Derrida" e o "O liberalismo igualitário: sociedade democrática e justiça internacional" de Álvaro de Vita. Depois de ler estes livros e sempre que leio livros similares fico chocado com a pobreza teórica das relações internacionais, do profundo vazio metodológico e da supericialidade das discussões. Os dois autores mais compelxos são o Kenneth Waltz e Robert Jervis. Os dois de fato entendem da questão metodológica e conseguem pôr a discussão. Entretanto, ainda sim, especialmente no caso de Waltz, a questão é simples, gira em torno da definição de sistema. E apesar de simples, ninguém respondeu no mesmo nível de abstração. Ou seja, os críticos do neorealismo estrutural são incapazes de lidar com a questão sistêmico no alto nível posto por Waltz, as críticas são sempre descritivas. Rebaixam a discussão por serem incapazes de acompanhá-la. As relações internacionais são sempre a mesma lenga-lenga, mas se acham descobrindo a pólvora como a discussão sobre o construtivismo, que não passa de uma vulgarização de certas posições habermasianas. Vulgarização, porque toda a densidade teórica se perde. As relações internacionais estão longe das demais disciplinas porque apesar de não serem capaz de definir um objeto específico encontra dificuldades em dialogar com as outras áreas do conhecimento sem desaparecer. Aí fica prisioneira do superficial, incapaz de ir aos fundamentos das teorias.

sábado, 5 de julho de 2008

O cachorro de Rousseau

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Acabei de ler um livro chamado "O cachorro de Rousseau". Vi o livro anunciado no site da livraria Cultura e acabou que foi irresistível comprar. O livro trata das relações entre Jean-Jacques Rousseau e David Hume. Ou melhor da rápida relação entre os dois. Rousseau, luminar da intelectualidade francesa. Hume, da cultura inglesa, ou melhor, que seria luminar da intelectualidade britânica. Porque na realidade em sua época era bastante questionado e especialmente sofria com o preconceito por ser escocês. Rousseau era célebre, mas não era bem-vindo em nenhum lugar, periodicamente precisa se mudar às pressas devido as perseguições políticas. Ao mesmo tempo Rousseau tinha um temperamento difícil, muito emotivo, sensível, era fácilo magoá-lo. Por outro lado, Hume era considerado uma pessoa afáve, um bom amigo, cordato. Esse temperamento fez com que no período que viveu na França estebelecesse muitos laços com a intelectualidade francesa, fizesse muitos amigos. No fim, Hume era mais respeitado em Paris do que em Londres. Mas Hume estava em Paris como secretário do embaixador britânico na França, então quando houve a troca do embaixador Hume deve que retornar para Londres. E na baggem levou Jean-Jacques Rousseau. Hume não conhecia Rousseau. Na verdade se ofereceu para ajudar Rousseau que estava mais uma vez fugindo por causa dos amigos comuns que mantinham. Inicialmente Hume fciou deslumbrado com Rousseau, depois a convivência diária com as idiossincrasias de Rousseau que dificultam tanto ajudá-lo financeiramente quanto encontrar uma casa para ele foram irritando Hume. No fim o que mais problemas causou foi a mania de perseguição de Rousseau, que passou a identificar em Hume um aliado dos seus inimigos. O principal inimigo de Rousseau era Voltaire, em todos os problemas e percalços via o dedo de Voltaire. Vendo conspirações em toda parte, Rousseau rompe com  Hume. E Hume entra em pânico com medo do que Rousseau pode escrever sobre ele. Ele temia a autobiografia que Rousseau estava escrevendo, a eloqüência de Rousseau pareceria mais persuasiva do que sua análise fria. E por isso, Hume tentará atacar antes publicando um livro sobre os conflitos entre eles. No fim Hume que terá o comportamento irascível, porque Rousseau nada disse sobre ele na sua autobiografia já que ela ficou incabada.

O livro tem um viés pró-Rousseau no conflito. Do ângulo de Hume, o livro poderia chamar-se "O cachorro do Rousseau". Agora o que tem a ver o título com o livro? Rousseau gostava de cachorros, no momento da relação com Hume, ele tinha o Sultan. Mas o título se explica pela concepção de amizade defendida por Rousseau e que era uma dificuldade nos seus relacionamentos e nas ações para ajudá-lo. Para Rousseau, a amizade só pode ser uma relação entre iguais que não pode envolver qualquer relação de dependência entre as partes. Ou seja, ele não poderia aceitar jamais depender fincanceiramente de seus amigos, ainda que eventualmente isso tenha ocorrido. Uma das causas da briga com Hume estava relacionado a uma mentira que foi contada para Rousseau para que ele aceitasse que um coche levasse a sua mudança de Londres para o interior onde ele iria morar. Hume disse para Rousseau que não haveria custos porque o coche estava retornando, então iria fazer o favor levá-lo. Mas de fato foi alugado. Sobre isso quando eles já estavam brigando Rousseau escreveu em uma carta para Hume "As mentiras a que chamamos mentirinhas  são verdadeiras mentiras, porque agir de modo enganoso por interesse próprio ou alheio não é menos injusto do que agir de modo enganoso contra os interesses alheios." Rousseau fazia uma defesa veemente da verdade sempre, e segundo o autor se considerava um apóstolo da verdade. A verdade sempre deve ser proclamada. Para a personalidade de Rousseau a amizade também não poderia ser expresa apenas em atos, mas deveria ser expressa através dos sentimentos, da emoção. Aí foi outro problema com Hume que era considerado por todos um sujeito frio, distante, e portanto incapaz de comprrender a linguagem de Rousseau e se expressar nela. Para outra amiga Rousseau escreveu "O que eu digo raramente tem o sentido habitual, pois é sempre meu coração em comunhão com você, e algum dia talvez você entenda que seu idioma não é o mesmo de outros corações." Isto é um problema sério para os intelectuais dar significado próprio às suas palavras e ações tornando mais difícil a compreensão. Os ritos, as convenções sociais visam facilitar as relações entre pessoas, fazer com que compreendem uma às outras, a criação de uma linguagem própria trava os relacionamentos. Já citei aqui no blog o caso de Lukacs, onde todos que lêem as cartas dele e da mulher que me esqueci o nome percebe que os dois estão fazendo um declaração de amor, mas cada um não lê o outro deste modo por dar significado distintos ao amor. Seja como for, Rousseau idealiza a amizade, espera uma relação de tal profundidade que não consegue encotrá-la jamais. Ao contrário, a idealização perturba as amizades reais por torná-las falsas!

Outras considerações:

1. O livro é um bom retrato das relações entre os grandes intelectuais da época. E meu deus! como gostavam de uma fofoca, de pequenas intrigas. Nada diferente do mundo acadêmico de hoje.

2. As cartas. O livro pode ser escrito em função das cartas trocadas pelos diferentes personagens da época. No futuro os historiadores terão dificuldades de construir um livro semelhante. Vivemos no mundo do efêmero, das relações via e-mail que se apagam. A era do excesso de informações sonegará informações ao historiadores do futuro e isso é lamentável.

3. O tamanho do mundo. Superestimamos as mudanças no mundo. O mundo intelectual do século XVIII era profundamente integrado ainda que pelo correio as idéias, as notícias circulavam rapidamente.

4. Decadência. É nítida a decadência do mundo. Jean-Jacques Rousseau era uma celebridade no século XVIII, os jornais buscavam fofocas sobre a vida dele. Noticiar Rousseau vendia jornal. Hoje as pessoas só querem notícias sobre ex-BBBs. De fato, os intelectuais são desconhecidos. Hoje, para ficar com autores brasileiros, ninguém sabe quem é Celso Furtado, Belluzzo, Maria da Conceição Tavares. Nem meus alunos que deveriam saber.

5. Coerência. Tenho dois alunos que são incutidos com coerência. Buscam coerência. Ficariam surpresos com a incoerência dos dois.

5.1. Primeiro Hume. Hume é o pai do ceticismo. Formulador da célebra questão metodo lógica do problema da indução. Ou seja, a partir da observação não é possível tirar qualquer conclusão. Por exemplo, a frase "o sol nascerá amanhã" é uma frase metodologicamente insustentável, por quê? Porque o indivíduo afirma isso simpesmente pelo fato do sol ter nascido, hoje, ter nascido ontem, e anteontem e assim há vários séculos e milênios. Mas desta observação não sai a conclusão que o sol nascerá amanhã, porque não há relação de causalidade entre o sol nascer hoje e nascer amanhã. Portanto é inconsistente afirmar que o sol nascerá amanhã. E isso significa que todo o conhecimento humano é incerto, não é possível ter certeza sobre nada, porque os fundamentos do conhecimento são frágeis. Ora tudo isso é verdade, mas o que fazer se não se pode afirmar que o sol nascerá amanhã? Isso paraliza completamente o indivíduo. Se todo o conhecimento humano for permanentemente questionado o estrago no mundo é muito maior do que o provocado pela incompetência da Telefônica. E o próprio Hume sabe disso. O resultado é uma cisão entre as suas sobres filosóficas sobre o conhecimento humano e as obras sobre economia, história que precisa aceitar alguma relação de causalidade e a validade do conhecimento. Também do ponto de vista existencial Hume reconhece que o homem não pode viver em dúvida permamente mesmo que esta seja a realidade. Outra contradição de Hume está no seu comportamento, boa parte do ódio que ela passou ter de Rousseau foi por Rousseau apontar as contradições da personalidade de Hume.

5.2. "Por que o amigo da humanidade não pode ser amigo dos homens?" Esta frase foi dita por um dos amigos de Rousseau que imediatamente se tornou seu desafeto. Rousseau, o homem, que inspirou revoluções e movimentos políticos basicamente urbano, era averso às grandes cidades, ou mesmo às cidades, não gostava de aglomerações, preferia viver no campo, isolado. E isolado não era força de expressão sequer tinha interesse em se relacionar co meia dúzia de pessoas de modo permanente. Uma vantagem que ele dizia de ter ido morar na Inglaterra é que os seus vizinhos não falavam francês, ele não falava inglês então não precisava se comunicar. Enfim, o homem da democracia direta, dos conselhos, queria viver só. Isso se reflete, por exemplo, nas perseguições políticas que sofreu, foi mais pelo que publicou do que pela ação. Não foi um conspirador, não foi um revolucionário apesar de apoiar os grupos que defendiam a democratização de Genebra contra a gerontocracia calvinista. A frase é ótima, entretanto, extamente por ser amigo da humanidade que Rousseau não pode ser amigo dos homens, se a humanidade foi pervertida pela sociedade e o progresso, os homens também o foram e não são amigáveis. Entretanto, Rousseau não era o novo homem da sua própria utopia, e ele sabia disso, mas daí não concluía que este homem era impossível. Mas que para este homem surgir deveria ser criado fora da sociedade, isolado da sociedade, é pedagogia de Rousseau. No entanto, Rousseau chegou às suas conclusões mergulhando no mundo, e provavelmente no que havia de pior no mundo.

domingo, 30 de março de 2008

Impossível melhor título: Quem se sente totalmente feliz é um cretino!

ENTREVISTA: ENTREVISTA UMBERTO ECO

“El que se sienta totalmente feliz es un cretino”

JUAN CRUZ 30/03/2008

Es un jubilado que no ejerce como tal. Sigue enseñando, y publica en España su última obra, ‘Decir casi lo mismo’. Visitamos al profesor a pocas semanas de las elecciones en Italia.

Umberto Eco es un hombre casi feliz. Un profesor que disfruta de sus alumnos y que ahora, jubilado a los 76 años de sus múltiples ocupaciones académicas, sigue trabajando “aún más que antes”, impartiendo clases doctorales, escribiendo libros (“¡ni media palabra sobre el que hago ahora!”, exclama, poniéndose el dedo sobre los labios), asistiendo a congresos (cuando le vimos, estaba a punto, de ir a uno en el que tenía que hablar de las matemáticas locas, y ahora vendrá a Granada, a principios de abril, al Mapfre Hay Festival), leyendo tebeos (“ahora son demasiado intelectuales”) y riendo como un chiquillo. Serio cuando habla de Italia, cuyas elecciones se le vienen encima con la amenaza cierta de que las gane Berlusconi, y optimista cuando habla de España. “¡Ustedes tienen la suerte de Zapatero!”. Cuando Jordi Socías le pidió que posara con un borsalino, el tipo de sombrero que ha hecho mundialmente conocido a su pueblo, Alessandria, se divirtió como si volviera al patio de su familia, en ese lugar que cada vez está más cerca de su memoria, como si la edad le hiciera recuperar los sabores perdidos de la adolescencia.

Vive en una casa espléndida, llena de libros y de ejemplares antiguos, muchos de los cuales consigue en una librería que está cerca de aquí, en la calle de Rovelo; cada tarde, cuando está en Milán y no viaja, este hombre que ya se queja de que le quitan la sal de las comidas y ahuyenta los dulces como una tentación maldita, acude a esa librería de libros viejos, repasa catálogos y procedencias, y luego se va a tomar el aperitivo a un café donde Eco es il professore. Cerca de la librería, por cierto, está Antonio, su peluquero, que ha colocado en la puerta de cristales un retrato de Eco con su borsalino; dentro está retratado mientras Antonio le hace la barba. La barba, por cierto, ya tiene las canas de un hombre que se dice a sí mismo viejo, pero que mantiene la marcha que le ha hecho legendario entre los académicos del mundo, por su actividad y por la variedad de sus gustos.

Sigue siendo ese hombre feliz (“casi feliz, ¡quien diga que es totalmente feliz es un cretino!”) que canta, recita, se sabe de memoria citas enteras, se interesó antes que nadie por las nuevas tecnologías, las usó para sus trabajos (el último, Decir casi lo mismo, publicado por Lumen, aparece ahora, traducido por Helena Lozano) y las usa constantemente, aunque tiene el telefonino (sobre cuyo uso tanto ha escrito) casi siempre apagado, pero usa el mail obsesivamente, como si fuera una prolongación natural de las conversaciones. Charlando sigue siendo aquel hombre tímido que teme meter la pata –“si hablo demasiado, es para rellenar los tiempos muertos”–, pero cuando agarra un asunto que le divierte, su carcajada llena el escenario, se convulsiona, es feliz, casi. En su libro Decir casi lo mismo, que es sobre la traducción, cuenta un chiste que sólo pueden entender los que hablan español y los que hablan italiano; es el de un empresario extrañado de que uno de sus operarios se vaya cada día a la una en punto de la tarde para regresar, siempre, a las tres en punto, dos horas más tarde. El empresario dispone que otro de sus empleados le vigile y le informe. “Este hombre se va cada día a la una, se compra una botella de champán, se va a su casa y se entretiene con su mujer”. “Pero”, exclama el empresario, “¿y no podría entretenerse por la noche, como todo el mundo?”. Después de muchas idas y venidas, el investigador le explica a su jefe: “Quizá usted lo entienda si me deja tratarle de tú”.

Ha escrito El nombre de la rosa, que fue un éxito mundial absoluto; El péndulo de Foucault; abrió las puertas de la fama como ensayista con Apocalípticos e integrados ante la cultura de masas, pero sigue confiando en que la comunicación, de la que es un maestro, sólo se digiere si el que la emite es ameno, capaz de ponerse a la altura del que le oye. Por eso, tanto en la conversación como en los libros siempre pespuntea con chistes así sus reflexiones o sus apólogos. Cuando fuimos a comer, a un restaurante donde le tratan como si fuera el dueño de Milán, o del Milan, seguimos la conversación que habíamos tenido en su casa, y le sacamos el asunto de la juventud, qué le pasa a la juventud. Y él nos explicó: “La juventud es como ese anciano que va al urólogo porque se orina encima y el urólogo le receta una especie de tranquilizante. Al cabo de un mes vuelve el viejo a la consulta y le explica al médico que está curado. ‘¿Curado?’, pregunta el médico, ‘o sea, que ya no se orina encima’. ‘Sí, me sigo orinando encima, pero ahora me da completamente igual’. Y así es la juventud, lo está pasando igual de mal que siempre, no sabe adónde ir, pero ahora le da completamente igual”.

Hablamos de España, de sus amigos españoles (Beatriz de Moura, Esther Tusquets, su primera editora; Jorge Semprún, “lo quieren hacer doctor honoris causa en la Complutense, qué alegría”), del premio Príncipe de Asturias que recibió en 2000 y de la comida. Le pusieron una lubina, sin sal “no sabe a nada”, y los ojos se le iban hacia la focaccia, un manjar que terminó apartando. Sigue estudiando; cuando le dejamos se iba a su casa, acaso a ocuparse de Carlomagno (“Di Carlomagno, así creerán que escribo sobre él en mi pró­ximo libro, y empezará el boca a boca”). Divertido siempre, y siempre casi feliz. En la casa, al volver, le esperaba su mujer, Renate, y las camelias que ésta cultiva con el mismo entusiasmo con que su marido explora los libros viejos de la calle de Rovelo, y con el esmero con el que Antonio impide que la barba de Eco deje de ser la que ya se asocia a la cara del professore.

Hay una escena en su vida, cuando toca la trompeta para los partisanos, tiene trece años, está en la plaza de Alessandria. Esa escena transmite felicidad, y usted siempre parece tan feliz. Ahí hay dos cosas: aquel niño y la felicidad. Son diferentes, no pueden coincidir. Yo no creo en la felicidad, si le digo la verdad. Creo solamente en la inquietud; o sea, nunca estoy feliz del todo, siempre necesito hacer otra cosa. Pero admito que en la vida hay felicidades que duran diez segundos, o incluso media hora, como cuando nació mi primer hijo; en ese instante estaba feliz. Pero son momentos brevísimos. Alguien que es feliz toda la vida es un cretino. Por eso prefiero, antes que ser feliz, ser inquieto.

Y ha mencionado al niño; ese niño es el que sale en El péndulo de Foucault, y aquél fue un momento feliz, por supuesto, pero no estoy seguro de haberlo sido de verdad en aquel momento o en el momento en que lo estaba contando. Hay momentos de felicidad cuando logras expresar algo de lo que te sientes contento, y además porque mientras contaba sobre aquel niño estaba feliz porque –sé muy bien que es una afirmación muy reaccionaria– creo que la vida sirve sólo para recordar la propia infancia.

Ahí está la literatura. Eso dicen. Cada momento en que consigo recordar bien un instante de mi infancia es un momento de felicidad, pero esto no quiere decir que los de mi infancia hayan sido momentos de felicidad. Yo creo que la infancia y la adolescencia son periodos muy tristes. Los niños son seres muy infelices. Quizá yo, mientras tocaba la trompeta, con miedo a que esa fuera la última vez que tocaba aquel instrumento, era un niño infeliz. Me siento feliz ahora recordándolo, y quizá sea éste el motivo por el cual escribo, para encontrar estos momentos muy breves de felicidad que consisten en recordar momentos de la propia infancia. Sí, por eso escribo.

Y para eso se envejece. Algo muy hermoso que ocurre al envejecer es que se recuerdan un montón de cosas de la infancia que estaban olvidadas. El otro día me ha venido a la mente el nombre de mi dentista, de cuando tenía ocho o nueve años. No sólo me acuerdo del dentista, sino también del técnico que le ayudaba, el doctor Correggia y el señor Romagnoli. No sé, pero estaba contentísimo de volver a pensar en mi dentista, al que había olvidado totalmente. Por tanto, yo voy al encuentro con el progreso de mi vejez con mucho optimismo, porque cuanto más envejezco, más recuerdos tengo de mi infancia.

Claro, y cada día más cerca de Alessandria, de aquella familia suya… Mi padre era el primero de 13 hermanos. Era una familia enorme; hubo un primo que murió a los 20 años y que yo no conocí… Haga el cálculo: si cada hermano tuvo dos hijos, eran 26 primos, de modo que era difícil tener relación con todos. Mi relación más estrecha fue con mi abuela materna, que fue la que me inició en la literatura. Era una mujer sin cultura alguna, creo que hizo cinco años de primaria, pero tenía pasión por la lectura. Estaba suscrita a una biblioteca, así que traía a casa un montón de libros; leía de manera desordenada. Un día podía leer a Balzac, y luego, una novelita de amor de cuatro perras, y le gustaban las dos. Y así hizo conmigo: me daba a leer, a los 12 años, una novela de Balzac y una novela de amor de ínfima calidad. Pero me transmitió el gusto por la lectura.

Y, aparte de la abuela, ¿quiénes fueron los otros maestros? El maestro de la escuela primaria aparece en mi novela La misteriosa llama de la reina Loana; era un fascista, que hizo la marcha sobre Roma, que pegaba a sus alumnos, no a mí, sino a los más pobres. Y aunque conmigo se portó siempre bien, no era una buena persona. En cambio, tuve una educadora fabulosa, aunque tan sólo durante un año; era la señorita Bellini, que todavía vive, tiene 91 años, y cada vez que sale un libro mío nuevo se lo envío. Era una gran educadora; nos estimulaba a escribir, a contar, a ser espontáneos, y ha sido una de las personas que más han influido en mi vida.

Pocas veces se habla de usted como profesor. ¿Qué aprendió para enseñar? Ante todo, sigo aprendiendo. El primer curso que di como profesor versó acerca de la poética de Joyce, que aparece en Obra abierta. Conocía el argumento, pero al empezar a dar clase me di cuenta de que no sabía nada sobre el tema. Aprendí, y sigo aprendiendo… Cuando escribes un libro puedes aparentar que sabes mucho, pero en clase es distinto. Lo que hice desde aquella primera experiencia es hablar a partir de los libros que iba a escribir, no de los libros que había escrito. Quiero decir que mi relación con los estudiantes siempre ha sido una relación de aprendizaje, porque enseñándoles aprendo yo también.

Una relación de ida y vuelta. Una relación erótica, porque la de un profesor con un estudiante es como la relación de un actor con su público: cuando sales a escena es como si salieras por primera vez, y tienes la sensación de que si no has conquistado al público en los primeros cinco minutos, lo has perdido. Eso es lo que yo llamo una relación erótica, en el sentido platónico del término. Además, hay una relación caníbal: tú comes sus carnes jóvenes y ellos comen tu experiencia. Hay gente infeliz que pasa los primeros años de su vida con gente más joven que ellos para poderlos dominar, y cuando envejecen están con gente más anciana que ellos. A mí me ha pasado lo contrario: cuando yo era joven estaba con gente mayor que yo para aprender, y ahora, teniendo estudiantes, estoy con jóvenes, que es una manera de mantenerse joven. Es una relación de canibalismo, nos comemos el uno al otro. Por eso no he dejado, a pesar de mi jubilación, de tener una relación universitaria.

¿Y usted a quién mordió? A la persona que dirigió mi tesis, Luigi Paris; a Norberto Bobbio… Tengo un buen recuerdo de mis maestros. Mi profesor de filosofía en el instituto era uno de estos profesores que podían interrumpir la clase para hacerte escuchar a Wagner, o si le preguntabas por Freud, dejaba de hablar de Platón y te hablaba de Freud. Era en verdad un gran maestro. Todo eso está en mis novelas, donde siempre hay una relación entre un joven y un maestro más anciano.

Tantos estudiantes… A lo mejor recordándolos halle usted una historia de la evolución de la juventud en este último medio siglo… No se puede dar una respuesta porque a lo largo de los años el diálogo con tus estudiantes cambia. La relación ideal entre maestro y alumnos es de 15 años de diferencia. Tú tienes 30 años, y el alumno, 20. Fue precisamente en ese periodo cuando he tenido una relación más intensa con mis alumnos. Porque si los estudiantes tienen menos años no hay relación, y si la diferencia es más grande ya no podemos ser amigos. Con los estudiantes de los años sesenta salíamos a cenar, a bailar; con los de ahora no se puede, les da vergüenza ir contigo. En el 68 fue interesante, ahí coincidías con estudiantes que tenían 15 años menos que tú; no podía ser como ellos, pero no me veían como su enemigo, por eso había una relación a veces polémica, a veces amistosa y continua.

Ahora vivimos un momento raro, usted dice que como el del final del Imperio Romano… En concreto, en Italia creen que en España estamos en el mejor de los mundos, y en España se habla de crisis… Estáis en un momento muy interesante en España, mejor que en Italia.

¿Y cómo está Italia? En uno de los peores momentos de su historia, con una clase política vieja que no se renueva. Hubo un extraño equilibrio que duró 50 años entre la Democracia Cristiana y los partidos de izquierda. Ahora se ha roto. El 50% de los italianos vota a Berlusconi, que es un índice de una profunda inmadurez política. Es un momento extremadamente triste, en el que los elementos de esperanza y de entusiasmo son muy pocos y donde emerge cada vez más la condena eterna de los italianos.

¿Cuál es esa condena? Una vez me encontraba en un taxi en Nueva York, y el conductor, que era paquistaní o indio, me preguntó de dónde era. Contesté que de Italia, y él quiso saber dónde se encontraba ese país. Me di cuenta de que tenía ideas muy vagas, como si le estuviera hablando de Surinam a un italiano, y él siguió preguntándome: “¿Qué idioma habláis?”. “El italiano”, dije, y él me preguntó: “¿Y cuál es vuestro enemigo?”. Le pregunté qué quería decir, y me contestó que cada país tiene un enemigo contra el que lucha desde hace siglos. Le contesté que no tenemos. Y me miró muy mal, porque un pueblo sin enemigo era poco viril. Pero luego reflexioné: nuestro enemigo es interno. A lo largo de toda nuestra historia nos hemos masacrado unos a otros, y ésa es también nuestra manera de entender la política. Nuestra fragmentación es en doscientos mil partidos diferentes, el Gobierno de Prodi cae por sus propios aliados, no por la oposición. Nunca como hoy ha caído tanto Italia en su enemistad interna.

¿Y de dónde viene esto? Italia se ha convertido en un Estado unitario hace 150 años, antes no lo era, y España lo fue por lo menos desde 1300, ¡desde el Cid Campeador!, y han sido unitarios Francia, Inglaterra. Italia era una pluralidad de tribus que hablaban un idioma diferente antes de que llegasen los romanos. Vosotros tenéis a los vascos y a los catalanes, y a los gallegos… pero nosotros éramos cuatrocientos, cada cinco kilómetros había una diferencia como la que existe entre Cataluña y Galicia. El Imperio Romano unificó, pero no lo suficiente. Además, si no hubiera existido la Iglesia, quizá las ciudades italianas habrían encontrado una forma de Estado unitario por la que regirse. El único Estado que ha quedado es la Iglesia, y lo demás es una fragmentación de ciudades que ha hecho que en Italia no exista el sentido del Estado. Por ello existe la corrupción, porque la gente no paga impuestos, porque no existe el sentido del Estado.

¿Y por qué gana Berlusconi? ¡Porque dice que no hay que pagar impuestos! Él fomenta la falta de sentido del Estado porque no lo tiene.

Usted habló de un taxista. Yo le nombro otro, el que me trajo del aeropuerto. Dijo: “¿Cómo se puede elegir de presidente a un hombre con tantos juicios pendientes?”. Da por efecto lo que es la causa. Berlusconi ha conseguido instaurar un tipo de poder fundado en la desconfianza en la magistratura y la justicia, por lo que puede gobernar, a pesar de tener juicios pendientes. Berlusconi no es el efecto en este caso, sino la causa. Ha hecho unas leyes precisamente para permitir a los que están enjuiciados llegar al Parlamento, y ataca continuamente a la magistratura. Berlusconi pudo llegar al Gobierno atacando a las fuerzas del orden, estimulando los instintos más bajos del italiano medio. Y ahora está cerca de tener el poder otra vez.

¿No hay solución para esta maldición italiana? ¡Que España haga una guerra de conquista! ¡Ja ja ja!

¿Ve a España como ejemplo? En este momento, España se encuentra en una situación económica de crecimiento, Zapatero es simpático, y, por tanto, me alegro de que haya ganado las elecciones. Está sin duda en una fase más dinámica con respecto a Italia. En los tiempos de Franco, ustedes venían aquí a contemplar el milagro económico de Italia, y ahora nosotros miramos a España con mucha admiración.

Así que el futuro italiano… Depende de que mueran unas decenas de personas que ya son muy mayores; es un hecho biológico. Y luego tendría que venir una nueva clase política. Somos el país con la clase política más anciana del mundo.

¿Y Veltroni? Sí, Veltroni es un joven. Tiene cincuenta años, pero los demás son muy viejos. Berlusconi tiene más de setenta años. En Italia, aunque alguien pierda las elecciones, vuelve a presentarse, es como si Al Gore volviera a ser candidato en Estados Unidos, o como si en Francia volviera a presentarse Jospin. En Italia, sin embargo, vuelve siempre el de antes. Éste es el síntoma de una clase política que no quiere renunciar al poder.

A lo mejor eso contribuye a que la gente dispare siempre contra la política, los jóvenes lo consideran algo ajeno. Los jóvenes de todas las épocas y países son los que se excitan con las grandes ideas de transformación; son revolucionarios, pero se quedan dentro del famoso esquema, “todos nacemos incendiarios y morimos bomberos”. Ahora, con la globalización y el fin de las ideologías, ya no se presentan tantas posibilidades de transformación, porque la transformación es planetaria, y hay que esperar las grandes tragedias ecológicas, la muerte de la Tierra. El gran error de las Brigadas Rojas en Italia fue tener una idea justa, aunque muchos pensaban que era delirante, que era atacar a las multinacionales del mundo, y otra idea equivocada, que había que hacer terrorismo para crear una revolución en Italia. Si existe el gobierno de las multinacionales, no lo arreglas haciendo la revolución en Italia. El proyecto terrorista estaba condenado al fracaso; ya entonces existía la globalización, aunque no tan intensa. Ya no hay posibilidad de transformación planificable, a no ser que ocurra como cuando la caída del Imperio Romano, con el nacimiento de las órdenes monásticas: te encerraban en el monte, en un convento, e intentabas salvar lo poco de la espiritualidad y el conocimiento mientras el mundo se desmoronaba. Hoy puede haber jóvenes que van al desierto a poner en práctica una vida ecológica. Eso es lo máximo que se puede hacer: no cambiar el mundo, sino retirarse del mundo; por eso existe el desinterés por la política.

En Italia acabó el terrorismo, y en Alemania, y en Irlanda. En España permanece. Y han surgido otros. ¿Cuál es su opinión sobre los terrorismos que han emergido en los noventa? El deseo de revolución, entre comillas, permanece siempre. Incluso allí donde no puedes hacerla, lo intentas… En países donde existen grupos étnicos hay el territorio suficiente para que se produzcan insurrecciones. En Italia, esos enfrentamientos se convierten en riñas futbolísticas. Y en otros territorios funciona la violencia, el fanatismo, la superstición; llevado eso al terreno de la política, pues ya se ve cómo acaba…

Estamos hablando el 11 de marzo de 2008, cuatro años después del atentado más grave de la historia de Europa, y fue en España. Al Qaeda fue la responsable. ¿Este terrorismo es la celebración del mal? Hay que diferenciar los terrorismos. El hecho de que utilicen métodos parecidos no los hace iguales. Los terrorismos internos no utilizan formas suicidas. Lo de Al Qaeda es un fenómeno bélico; es un grupo fundamentalista que se siente en guerra contra el mundo occidental y que, no pudiendo usar los instrumentos de la guerra tradicional –no habría ejércitos suficientes–, usa el terrorismo suicida. Esto no quiere decir que haya un enfrentamiento entre el mundo occidental y el mundo islámico, pero sin duda hay una parte del mundo islámico que se siente en situación de inferioridad y está en guerra.

El 11-S cambió el estado de ánimo del mundo, ahora somos menos felices… El 11-S ha creado un estado de miedo, pero tanto en España como en Italia ha habido atentados, han entrado y salido asesinos, hemos tenido guerras civiles, y sin embargo, Estados Unidos era la primera vez que sentía en sus carnes un ataque así. Los americanos no lo han digerido, y por esto han tenido reacciones irracionales, como la guerra en Irak, que ha creado más terrorismo que el que había. Es precisamente la reacción de alguien que no estaba acostumbrado a la guerra en el propio territorio.

¿Hay alguna salida a este malestar universal? Por el momento no. ¡Y si tuviera la receta, la vendería al presidente de Estados Unidos por unos miles de millones de dólares!

Por cierto, ¿quién será? Y yo qué se, los escritores no somos Nostradamus.

Lo que sí es cierto es que hace años usted dijo que iríamos rapidísimo, y ahora vamos a velocidades supersónicas… Y todo lo que ahora existe será obsoleto dentro de nada, hasta el mail será obsoleto porque todo se hará con el móvil. A lo mejor las nuevas generaciones se acostumbrarán a eso, pero hay una velocidad del proceso de tal calibre, que quizá la psicología humana no conseguirá adaptarse. Estamos a tal velocidad, que no hay ninguna bibliografía científica americana que cite libros de más de cinco años. El que está escrito antes ya no cuenta y ésta es una pérdida también de relación con el pasado.

La fe ciega en Internet crea monstruos, por otra parte. Sí, parece que todo es cierto, que tienes toda la información, pero no sabes cuál es buena y cuál equivocada. Esta velocidad provocará la pérdida de memoria. Y esto ocurre en las jóvenes generaciones, que ya no recuerdan ni quién era Franco ni quién era Mussolini, ¡o incluso Felipe González! La abundancia de información sobre el presente no te permite reflexionar sobre el pasado. Cuando yo era chico podían llegar a la librería tres libros por mes, hoy llegan mil. Y ya no sabes qué libro importante fue publicado hace seis meses. Eso también es una pérdida de la memoria. La abundancia de información sobre el presente es una pérdida y no una ganancia.

La memoria es el olvido, que diría Mario Benedetti. Es la historia de Funes, el memorioso, de Borges. El que tiene toda la memoria es un estúpido.

Tanta información hace que los periódicos parezcan irrelevantes. Ése es uno de nuestros problemas contemporáneos. La abundancia de información irrelevante y la dificultad de seleccionarla, y la pérdida de memoria del pasado, no digo ya la histórica. La memoria es nuestra identidad, nuestra alma. Si tú pierdes hoy la memoria, ya no hay alma, eres una bestia. Si sufres un golpe en la cabeza y pierdes la memoria, te conviertes en un vegetal. Si la memoria es el alma, disminuir mucho la memoria es disminuir mucho el alma.

¿Cuál sería hoy el papel de la información? Yo creo que perdemos mucho tiempo en plantearnos estas cuestiones mientras las generaciones más jóvenes sencillamente han dejado de leer los periódicos y se comunican a través de SMS. Yo no puedo desprenderme de los periódicos; para mí, la lectura de prensa es la oración de la mañana del hombre moderno; no puedo tomar café por la mañana si no tengo por lo menos dos periódicos para leer. Pero a lo mejor somos los restos de una civilización, porque los periódicos tienen muchas páginas, no mucha información. Sobre el mismo tema hay cuatro artículos que a lo mejor dicen lo mismo… Existe la abundancia de información, pero también la abundancia de la misma información. No sé si se acuerda de mi teoría del Fiji Journal. Yo estaba en las islas Fidji buscando información sobre los corales para mi libro La isla del día antes, y a mi hotel llegaba cada mañana el Fiji Journal, que tenía ocho páginas, seis de publicidad, una de noticias locales y otra de noticias internacionales. Aquel mes que estuve allí estaba a punto de estallar la primera guerra del Golfo, y en Italia había caído el primer Gobierno de Berlusconi. Me enteré de todo porque en una sola página de noticias internacionales, en tres o cuatro líneas, me daban las noticias más importantes.

Como Internet. Acudimos a Internet para conocer las noticias más importantes. La información de los periódicos será cada vez más irrelevante, más diversión que información. Ya no te dicen qué decidió el Gobierno francés, sino que te dan cuatro páginas de cotilleo sobre Carla Bruni y Sarkozy. Los periódicos se parecen cada vez más a las revistas que te daban en la peluquería o en la sala de espera del dentista.

Volvamos al principio, profesor. ¿Qué le hace a usted feliz? No sé, ya dije que no creo en eso, pero, en fin, me hace feliz encontrar un libro que buscaba hace mucho tiempo. Cuando lo compro y lo tengo, lo miro, soy feliz, pero allí se acaba la sensación. Mientras que la infelicidad es lo que me produce no tener este o aquel libro. La verdadera felicidad es la inquietud. Ir de caza, no matar al pájaro.

Es raro: un español y un italiano, y en hora y media de conversación, la palabra ‘Iglesia’ ha salido sólo tres veces. Se está produciendo un retroceso al siglo XIX, cuando había un enfrentamiento entre el Estado liberal y la Iglesia. ¿De quién es la responsabilidad? No es una casualidad que este enfrentamiento se haya hecho más duro con la llegada de Ratzinger; por tanto, a lo mejor se debe a la política clerical del nuevo pontífice. Su lucha contra la cultura moderna, el llamado relativismo, ha vuelto a los grandes temas de la Iglesia del siglo XIX, que hablaba contra la revolución y contra la ciencia moderna. Emergen ahora muchas posiciones anticlericales y mucha gente se declara atea. Ya nadie pensaba en eso. Ha subido al trono un Papa que piensa como un Papa del siglo XIX.

Usted ha escrito que Napoleón sólo vivió la Revolución Francesa… y yo he vivido la II Guerra Mundial, la caída del fascismo, la guerra partisana, la bomba de Hiroshima, la caída de la URSS, y la Guerra Civil española. Hay una maldición china que dice: “Espero que vivas en una época interesante”. Hay jóvenes generaciones que han vivido sólo épocas tranquilas, como la de la guerra fría. Ah, por cierto, eso que dije de Napoleón está equivocado, porque no sólo vivió la Revolución Francesa, sino también la historia de Napoleón. ¡Ja ja ja!

http://www.elpais.com/articulo/portada/sienta/totalmente/feliz/cretino/elppgl/20080330elpepspor_8/Tes

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Livros das férias

Li vários livros e irei comentar alguns.
Já em dezembro, na última semana de trabalho, no Graminha (que tem uma pizza horrível) um colega me recomendou um livro que ele havia lido para uma disciplina na USP, “O Tupi e o Alaúde” de Gilda de Mello Souza. O livro se propõe pelo subtítulo a ser uma interpretação do Macunaíma de Mario de Andrade, mas na prática faz mais do que isso. Analisa a obra de Mario de Andrade, a sua visão de literatura e coloca uma questão sobre a autonomia da cultura brasileira, em que medida uma obra que pretendia ser uma afirmação da nacionalidade brasileira na literatura alcança este propósito e o quanto continua sendo a reprodução de padrões estéticos externos, ou para ser neutro, universais. A conclusão é pela utilização de padrões forâneos.
No mesmo dia que recebi a sugestão do livro, ouvi uma boa história sobre a acidez crítica de Gilda de Mello e Souza. Ela foi casada com Antonio Cândido, importante intelectual uspiano, o que ofuscou um pouco a importância dela. Um dia ele se aventurou a escrever contos, e escreveu cinco páginas e deu para Gilda avaliar. Depois de ler ela disse, não escreva nem mais uma linha e desista da idéia. E aí ele continuou apenas como crítico literário.
Quando fui comprar “O Tupi e o Alaúde” pelo site da Livraria Cultura vi um anúncio de um livro chamado “Lembrar escrever esquecer”, fui imediatamente seduzido pelo título. O título é ótimo. A autora é Jeanne Marie Gagnebin, é francesa, mas professora da PUC-SP e da Unicamp, não a conhecia. É especialista em Grécia Antiga, em autores gregos. Gostei muito do livro e por isso não irei comenta-lo agora em detalhes porque ele dará origem a vários posts no futuro.
Li também “Sete lições sobre as interpretações do Brasil” de Bernardo Ricupero e fiquei impressionado com o quanto se desperdiça de papel no Brasil e a importância do apadrinhamento. É um livro pueril que não passa de uma singela introdução aos autores, quem tem cultura mediana sobre o Brasil e seus intérpretes pode ignorar o livro. O livro dele sobre Caio Prado Jr é interessante. Uma curiosidade é que o livro “Entre a nação e a barbárie” não está entre os que o autor recomenda para leitura.
Sobre tema similar, mas muito mais consistente, recomendo a leitura de “Linhagens do pensamento político brasileiro” de Gildo Marçal Brandão. Desse livro deriva um programa de pesquisa e quem pretende entender o Brasil e as idéias que se debatem no Brasil deveria lê-lo, especialmente o primeiro capítulo intitulado “Linhagens do pensamento político brasileiro”. Também para quem tem dúvida sobre porque se deve ler e reler os clássicos da política recomenda-se a leitura do capítulo 6 “Teoria política a partir do Sul da América?”. A tese é que qualquer país que queira desenvolver o seu próprio pensamento político deve formular a sua própria interpretação dos clássicos do pensamento político. O capítulo 3 intitulado “O revolucionário da Ordem” é sobre o grande ídolo do professor Alexandre Hage, Oliveiros Ferreira. O texto defende a insólita tese que seria partilhada por Francisco Weffort que Oliveiros Ferreira seria o grande pensador brasileiro efetivamente original pela sua obra “Os 45 cavaleiros húngaros” que utiliza Gramsci de forma não-ortodoxa ou não-marxista, ou ainda para alguns gramscianos, de forma não gramsciana.

domingo, 18 de novembro de 2007

O general Juarez Távora é um grandíssimo fdp!

Diz a ética dos blogs que não se deve modificar um post sem avisar nem apagá-los. Então em respeito a isso deixarei o post lá debaixo sobre o general Juarez Távora, mas ele é uma grandíssimo fdp. Ele continua sendo melhor que os políticos atuais porque eles estão abaixo de qualquer crítica ainda mais se considerarmos deputados e senadores. Agora, o general Juarez Távora conspirou descaradamento contra o Brasil na questão da energia atômica. Sempre soube que o general Juarez Távora era um liberal, mas o reputava como exceção entre os liberais, supunha que fosse bem intencionado. Mas como todo liberal, o Juarez Távora é um grande fdp e vendilhão da pátria. Junto com os americanos, ele boicotou o programa nuclear brasileiro como se depreende do depoimento de Renato Archer no livro "Renato Archer, Energia Atômica, Soberania e Desenvolvimento". E como se sabe quem está dizendo a verdade? Como disse o professor João Manuel, os conservadores dizem a verdade, o problema é que prendem a gente, já liberais são amigos, mas sempre mentem. Baseado neste princípio e no fato que Renato Archer foi preso, sofreu, limitou a sua carreira por defender princípios, enquanto Juarez Távora ganhou dinheiro com o que defendeu, não há margens para dúvidas quem diz a verdade é Renato Archer. Que apenas para constar não era conservador, era nacionalista, por isso foi enganado pelos liberais e preso pelos conservadores. Além de acabar com Juarez Távora, o livro é um excelente compêndio sobre como o Itamaraty já traiu o Brasil para ajudar os EUA, e sobre como os EUA fizeram o possível para atrapalhar o Brasil e sobre como foram ajudados com esmero por brasileiros que deveriam defender o Brasil. É um horror.