Os dois romances mencionados de Elie Wiesel não são relatos do holocausto, mas os tem como pressuposto e como uma realidade que permeia a existência dos personagens dos livros. São livros perturbadores, angustiantes. Ambos de algum modo abordam a impossibilidade de se viver o amor e relações duradouras, ou mesmo, a incapacidade de viver de forma plena.
“Uma vontade louca de dançar” se passa na maior parte do tempo num consultório psicanalítico. É a história de Doriel contada sem qualquer cronologia, de modo meio desconexo, típico da literatura contemporânea. O início é meio chato. Não é chato como o início do Pêndulo de Foucault do Umberto Eco, mas é chato, uma leitura lenta. Mas depois é a ótima história da relação do paciente perturbado com a sua analista. Analista incapaz de decifrar e compreender o drama existencial de Doriel que o afastou da vida apesar de dinheiro não lhe faltar. Um sortudo sobrevivente tanto da expansão alemã no Leste Europeu, Doriel é um homem cujas perguntas a vida se mostra incapaz de responder o que o impossibilita viver. Paralisado existencialmente, com dinheiro para gastar em busca de respostas, mas vazio, ou prisioneiro de si mesmo. Ou o sofrimento é o prisioneiro e Doriel, o carcereiro. O sofrimento é vigiado, controlado para que não fuja, para que fique lá. Não há solidão maior do que ser abandonado pelo seu próprio sofrimento.
“O grito mais profundo e mais poderoso, disse um rabi hassídico, é o que mantemos encerrado no peito.”
“Poderia haver excesso de memória?”
“Eu luto, e não me lembro mais por quê. Muitas vezes penso não passar de um entrelaçamento de rachaduras abertas para o horror.”
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