Uma guerra sem guerra?
Cristina Pecequilo
ESPECIALISTA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Do Iraque ao Afeganistão, de Guantánamo a Wall Street, Obama enfrenta uma agenda pesada de desafios, alternando o cumprimento de promessas de campanha com retrocessos. Além das dificuldades em administrar a crise, ele debate com vozes dissonantes do Partido Democrata, e representantes do legado anterior, como Dick Cheney, questionam a agenda, classificando-a como apaziguadora de terroristas e Estados bandidos.
Dentre estes Estados, Irã e Coreia do Norte surgem como preocupação, com foco na proliferação nuclear e na repetida postura desafiadora de seus líderes Ahmedinejad e Kim Jong-Il aos EUA, à ONU e ao restante do mundo. Teria Cheney razão como provariam as críticas do Irã a Israel? E os últimos testes nucleares da Coreia do Norte e a declaração de que o país não mais se sente obrigado a respeitar o armistício com a Coreia do Sul? Estamos perto de outra guerra regional?
Mais do que um conflito militar, as ações da Coreia e do Irã buscam a reafirmação de seus governos, autoritário no caso norte-coreano e diante de uma eleição presidencial no Irã, que externalizam dilemas de baixo desenvolvimento e descontentamento social. O poder nuclear é usado como uma expressão de força em tempos de fraqueza, elevando o poder de barganha.
As opções de Obama são restritas, e a tendência é que se observe o padrão que acompanha o dilema nuclear de Pyongyang desde a década de 90: agressão norte-coreana, negociações via Conselho de Segurança, concessões econômicas pelos EUA em troca de bom comportamento e regionalização das pressões pelas Conversações de Seis Partes (EUA, Rússia, Japão, China, Coreia do Norte e do Sul).
Instituída pela administração Bush filho que hoje critica a postura branda de Obama, ainda que a secretaria de Estado Clinton tenha alertado a Coreia para as "consequências" de suas ações, as Conversações das Seis Partes indicam a volatilidade asiática, mas ao mesmo tempo a impossibilidade da guerra real pela presença do elemento nuclear e a proximidade das fronteiras. Ou seja, Cheney não tem razão e, no extremo, está, como Bush, na raiz da tolerância diplomática com Kim.
Estamos diante de uma guerra sem guerra: uma dinâmica de reposicionamentos estratégicos globais e regionais, nos quais a confrontação por meio da proliferação assume um papel tático de chantagem para a sustentação destes Estados, elevando o risco de rupturas, escaladas e renovadas corridas armamentistas.
http://jbonline.terra.com.br/leiajb/noticias/2009/05/28/temadodia/uma_guerra_sem_guerra.asp
Nenhum comentário:
Postar um comentário