"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 21 de novembro de 2010

Política externa altiva e ativa- LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA

São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Política externa altiva e ativa


Decisão mais importante da diplomacia do Brasil foi rejeitar a Alca sem entrar em conflito com os EUA


Em entrevista para a Folha (15/11) o ministro Celso Amorim afirmou que o presidente Lula e ele procuraram fazer uma política externa "altiva e ativa". Terão sido bem-sucedidos?
Estou convencido que sim, mas para responder a esta questão é preciso considerar que vivemos na era da globalização na qual os Estados-nação experimentam uma contradição essencial.
Nunca foi tão intensa a competição entre eles, mas, em contrapartida, nunca foi tão necessário que cooperassem e coordenassem suas ações.
Os grandes países não mais se ameaçam com guerras, mas, como os mercados foram abertos e as exportações cresceram mais do que a produção, a competição econômica entre eles aumentou.
E, visando regular essa competição e resolver uma série de problemas globais como o aquecimento global, as máfias das drogas, as epidemias globais, as catástrofes e tsunamis, a cooperação entre as nações é cada vez mais necessária.
Por outro lado, os EUA, a Europa rica e o Japão (o Império) continuaram a dificultar o desenvolvimento econômico dos países que se industrializaram tardiamente.
Suas armas são seus conselhos e pressões.
O mais danoso deles é o de que procurem crescer apoiados na "poupança externa" e, portanto, aumentem seu endividamento externo. Dessa forma os países ricos dão vazão a seu excesso de capital ao mesmo tempo em que nos fragilizam financeiramente e nos tornam dependentes.
As decisões que os países em desenvolvimento precisam tomar para enfrentar essas pressões são internas, mas uma política externa nacionalista e cooperativa pode ajudar nessas tarefas.
A decisão mais importante foi a de rejeitar a Alca -o Acordo de Livre Comércio das Américas- sem entrar em conflito com os EUA.
Quando o Brasil condicionou sua entrada na Alca ao respeito a uma série de princípios de autonomia nacional, os EUA desistiram.
As políticas de fortalecimento do Mercosul, de criação da Unasul, e de solidariedade ativa, mas limitada aos países pobres da América Latina governados por partidos nacionalistas e de centro-esquerda foram também bem-sucedidas.
Na relação com a Bolívia, que precisava renegociar contratos danosos, o Brasil mostrou a diferença entre ser imperial e imperialista.
Os críticos afirmam que ao negociar com países com governos autoritários que não respeitam os direitos humanos o Brasil estaria fortalecendo esses governos.
Não há, entretanto, nenhum governo de grande país que estabeleça essa condição para negociar.
Ela é apenas lembrada para justificar pressão e intervenção em países com governos nacionalistas.
Afirmam também que a política externa fracassou em relação à candidatura ao Conselho de Segurança da ONU.
Em compensação, o Brasil passou a participar do G20, e, depois de sua tentativa de intermediação do problema Irã, tornou-se claro para todos que sua participação nos principais foros internacionais é necessária.
Naturalmente o Império não aceitou a intermediação, mas Brasil e Turquia marcaram um ponto.
Na verdade, nestes oito anos, o Brasil marcou muitos pontos no plano internacional.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Diplomacia CDF?

Ao fazer algumas observações recentemente, me surgiu uma questão. Há um retrocesso na formação do quadro de diplomatas brasileiros. Não a formação intelectual, mas a personalidade. O formato atual da prova, o aumento do número de vagas fizeram com que o perfil de candidatos fosse sendo modificado. Antes era um concurso elitista, a seleção não era exatamente daqueles que haviam se esforçado mais para ter decorar coisas, para ter os conhecimentos necessários, para dominar os idiomas estrangeiros, os aprovados eram regra geral que tinha algum tipo de vivência que fazia com este conhecimento parecesse algo natural, vinha da família, dos círculos sociais que frequentava, alguns da formação de seminaristas, e outros de um dedicação individual, de um esforço individual para elevar o seu nível cultural. Na medida em que o concurso foi se popularizando os cursinhos para o Instituto Rio Branco se popularizaram. Cursos preparatórios sempre existiram, mas eram pequenos e exclusivistas. Agora são populares, recebem todos, sendo que a maioria não tem condições nem de começar a preparação ainda quanto mais ser aprovado. Por outro lado, a fórmula cursinho associado ao tipo de questão atual se torna o paraíso do cdf, da personalidade introvertida, tímida, mas que é excelente em memorização, irá lembrar para marcar na prova se o tratado tal  foi ratificado pelo Brasil com ou sem ressalvas. Mas interessa ao Brasil selecionar os candidatos que se lembram se o tratado X foi ratificado com ou sem ressalvas? Neste caminho é provável que se forme uma geração de diplomatas com muita informação, mas sem iniciativa. E se forem um conjunto de diplomatas tímidos, sem inciativa e com ideias liberais, aí sim será o fim, diplomacia CDF e liberal.

Venezuela 5

Na volta da Venezuela, li no avião, o livro Casas Muertas de Miguel Otero Silva; O livro havia sido mencionado em uma das apresentações na PDVSA, uma das participantes da mesa de Desenvolvimento Social o mencionou, e logo vários de nós, nas visitas a sebos e livrarias tentaram comprar o livro, apenas um dos pesquisadores conseguiu no sebo. Na festa de encerramento do projeto, que virou um pequeno sarau,  o Wagner leu um trecho do livro “Casas Muertas”. Ao ouvir a leitura fiquei convencido que eu deveria ter comprado o livro. Na véspera da viagem fui a outra livraria, não consegui o livro principal que estava procurando, mas comprei dois livros do Miguel Otero Silva, o Casas Muertas e Oficina nº1. Os livros tem uma sensibilidade muito grande para os problemas venezuelanos. O autor também foi fundador do jornal “El Nacional”, que hoje não tem a sensibilidade para a realidade venezuelana que seu fundador demonstrava nos anos 50 e 60.

“Carmen Rose se asomó muchas veces a la puerta de la esculea para verlos pasar. Iban en automóviles andrajosos, inverosímiles, de capotas cruzadas por costurones mal zurcidos o en camiones enclenques, despatarrados, con una rueda a punto de salirse del eje, una rueda que bailoteaba grotescamente al andar. Atravesaban aquel pueblo derrumbado, hablando a gritos, cantando retazos de canciones tabernarias, escupiendo salivazos oscuros de nicotina. Eran hombres de todas las vetas venezolanas, mulatos y negros, indios y blancos, en franela o con el tórax desnudo, defendiéndose del sol con sombreros de cogollo o con pañuelos de colorines anudados en las cuatro puntas. No saludaban nunca a aquella linda muchacha enlutada que los veía pasar desde la puerta de una escuela sin niños y cuyo dolor, cuando la miraban, imponía más respeto que las casas muertas de aquella ciudad desintegrada.

“Venían de las más diversas regiones, de las aldeas andinas, de las haciendas de Carabobo y Aragua, de los arrabales de Caracas, de los pueblos pesqueros del literal. Los había campesinos y obreros, vagos y tahúres, comerciantes de baratijas, jugadores de dados, oficinistas hartos dele scritorio, muchachos tímidos, rostros con cicatrices, un negro tocando una guitarra. También chinos cocineros, nortemaericanos enrojecidos por el sol y por la cerveza, cubanos de bigotes meticulosamente diseñados, colombianos de inquientante mirada melancólica. Todos iban en busca del petróleo que había aparecido en oriente, sangre pujante y negra que manaba de las sabanas, mucho más allá de aquellos pueblos en escombros que ahora cruzaban, de aquel ganado flaco, de aquellas siembras misarables. El petróleo era estridencia de máquinas, comidas de potes, aguardiente, otra cosa. A unos los movía la esperanza, a otros la codicia, a los más la necesidad.

(…)

“No transitada un ser humano por las calles, ni se refugiaba tampoco entre los muros desgarrados de las casas, cual si todos hubiesen escapado aterrados ante el estallido de un cataclismo, ante la maldición de un dios cruel.

“Apenas, desde un rancho misarable, llegaba el estertor de un hombre que sudada su fiebre agarrotado entre hilos sucios de su chinchorro. a su alredor volaban sosegadamente las moscas, moscas verdes, gordas, relucientes, único destello de acción, única revelación de vida entre los terrones de las casas muertas.”