O Lula é uma figura, parece banal e trivial o que ele disse pela simplicidade com que ele conta a história. Mas na verdade, é uma ação de profundo simbolismo. Como simbólico é o fato do Bush ser´o último a chegar, ele chegou, e o presidente dos EUA chega por último para mostrar importância e para que os presentes façam exatamente isso, se levantem.
Quem assistiu a série “The West Wing” deve lembrar que sempre que o presidente Bartlet se deslocava pela Casa Branca, todos os funcionários paravam o que estavam fazendo e se levantavam, até seus assessores diretos que falavam com ele dezena de vezes “por dia”. Num dos episódios, em um evento na Casa Branca estava presente uma mulher (não lembro qual era exatamente o papel dela) que fez críticas a políticas do governo, tinha posição bastante conservadora. Era para o presidente Bartlet passar rapidamente pelo evento, mas quando ele chegou, ele viu que a mulher estava presente, e que não havia se levantando quando ele adentrou à sala. Então ele começou a fazer um discurso, que se tornou um discurso dirigido especificamente a visitante e em certo momento ele diz que ali sempre que o presidente entra num recinto todos se levantam, e ela constrangida se levanta. Obviamente que o Lula não correu este risco, mas dá uma idéia do simbolismo.
Outra parte do discurso que não está no vídeo acima mas que pode ser visto aqui, Lula lembra o episódio no qual Celso Lafer se humilha tirando o sapato para revista para entrar nos EUA. Dificilmente algum diplomata conseguiu ser mais subserviente aos que o Celso Lafer neste episódio.
Acho a política econômica do Lula fraca, convencional. A política social é ampla, significativa, mas desestruturada, não faz parte de nenhum plano ou projeto mais amplo de mudança da estrutura da economia brasileira. Entendo que o governo Lula é pouco ousado, muito conservador. Ele se destaca porque os governos anteriores foram muito ruins e provavelmente se destacará ainda mais confrontado com seus sucessores. Porque de José Serra não é possível esperar qualquer ousadia, será prisioneiro da necessidade de se mostrar diferente do Lula e será refém dos grupos conservadores que o apóiam. A Dilma, por outro lado, estará limitada a dar continuidade ao que o Lula fez, terá pouco margem para avançar muito, especialmente se o Lula pretender voltar mesmo em 2014. Neste quadro de marasmo geral, o governo Lula deverá se destacar ainda mais na paisagem. Se a situação é assim numa área na qual o Lula não fez grande coisa, na política externa, que foi o destaque do governo Lula, os seus sucessores provavelmente encolherão o tamanho do Brasil na esfera internacional por não terem o carisma do Lula e por falta de ousadia. A política externa foi menos estruturada do que os governistas afirmam, mas talvez seja a primeira vez que o Brasil de fato fez política externa e não andou apenas a reboque dos acontecimentos. Não há parâmetro de comparação com a Política Externa Independente que tinha uma posição idealista das possibilidades do Brasil no sistema internacional, e foi feita mais de declarações de intenções do que de ações.
Segue abaixo a notícia do UOL sobre o discurso:
20/04/2010 - 14h45
Lula diz que política externa deu inimigos ao Brasil e ironiza ministro de FHC
Maurício Savarese
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Em cerimônia com formandos do Instituto Rio Branco, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (20) que a política externa do seu governo trouxe inimigos ao Brasil porque o país ficou mais importante. O mandatário acusou o governo de Fernando Henrique Cardoso de ser subserviente a interesses norte-americanos e europeus e ironizou o ex-chanceler Celso Lafer.
“Quando o país fica importante, começa a causar ciúmes, arranjar inimigos. Por muito tempo fomos induzidos a termos complexo de vira-lata neste país”, disse Lula aos formandos, ao lado do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. “Estabeleci uma relação de amizade com os presidentes. Mas sempre com a antena ligada de que o Brasil está colocando o pé em espaços onde não estava colocando o pé.”
Lula ironizou o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Lafer, que em 2002 foi levado a tirar os sapatos três vezes durante visita aos Estados Unidos. “Quando inventaram a história de tirar o sapato, eu disse para o Celso: ‘Ministro que tirar o sapato deixará de ser ministro. Se tiver que tirar o sapato, volte para o Brasil’.
“Lembro de como fomos vítimas aqui quando compramos um avião. Pergunte para o Celso se não melhorou substancialmente ele agora poder fazer uma viagem no avião da FAB. Chegar com muito orgulho em um avião fabricado pela Embraer em qualquer país do mundo. Não ter que ir para São Paulo para pegar uma ponte aérea para ir a não sei onde para chegar a Nova York, tirar o sapato para entrar lá”, afirmou o presidente, que foi aplaudido pelos formandos em seguida.
Lula também defendeu Amorim das críticas que recebeu ao longo de sua passagem pelo Palácio do Itamaraty. O ministro filiou-se ao PT e adversários do governo o consideram advogado da aproximação do Brasil com regimes autoritários, como o iraniano. “Ninguém critica o embaixador por participar de coquetéis toda a noite. Criticam é quando ele tem posições políticas assumidas, de auto-estima de defender o seu país”, disse o presidente.
Em maio a política externa do governo deve voltar ao foco por conta da visita de Lula ao Irã. A teocracia islâmica é acusada pelo Ocidente de almejar a construção de armas nucleares. O presidente Mahmoud Ahmadinejad diz que o processo de enriquecimento de urânio que promove tem fins pacíficos e energéticos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário