"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 8 de junho de 2008

Brasília!

No fim de semana de Corpus Christi fui rapidamente à Brasília. Fui na sexta e voltei no sábado. Cheguei por volta das 10 da manhã de sexta-feira, e as 18:30hs de sábado eu já estava dentro do avião para voltar para São Paulo. Neste curto período já vi uma das coisas que eu detesto em Brasília, a exibição poder que não sem tem. É impressionante como as pessoas gostam de contar vantagem, lá todo mundo manda. Como a história de fato, eu não posso contar, vou exemplificar com uma que eu já contei aqui há algum tempo. Quando morava em Brasília eu estava na fila do supermercado Pão de Açúcar do Conjunto Nacional, e obviamente a minha fila não andava, empacou por incompetência da funcionária e pelas besteiras de um cliente. Ótimo. Na minha frente estava um homem com uma crinaça de uns 6 anos que diante da demora virou para o pai falou assim "fala que vc é do Itamaraty". Meus Deus! A criança tem seis anos e já é doente, já padece da síndrome de Brasília.Na hora imaginei como seria engraçada a cena, o pai falando o cargo e aí todo mundo iria começar a falar o seu para disputar quem realmente teria precedência. É uma vergonha.

Na sexta-feira à tarde fui acompanhar meu irmão que saiu para passear com o nenê dele, meu sobrinho. Fomos no Parque Olhos D'àgua (antigamente era isso, ou imagino que fosse, não sei se ainda é), e para minha supresa encontrei o professor Antônio Dantas. O Dantas foi meu professor de economia no segundo semestre na UnB. Uma amiga minha fez a matéria com ele no primeiro semestre e reprovou. Aí quando chegamos na sala e vimos que ele seria o professor todo mundo ficou assutado pelo que tinham ouvido falar dele. Como sempre sou uma pessoa ponderada, lembrei o pessoal que a nossa amiga tinha sido reprovado, então estava chateada, e podia estar superdimensionado eventuais problemas. No fim, ela estava certa e errada. A matéria "Introdução à economia" era difícil. Mas hoje sei que é impossível alguém algum professor dar bem dado "Introdução à economia" e terminar o curso sendo amado pelos alunos porque a matéria é difícil, muitas vezes a lógica da teoria econômica viola o senso comum. Agora o Dantas era uma excelente pessoa. Ele nasceu no Maranhão, e um dos vínculos que cultivava com o passado estava em dar todos exemplos baseados em costumes nordestinos, sempre tinha comércio de bode na história. Nos fez estudar de verdade. Fui muito mal na primeira prova, mas me recuperei, terminei o semestre com SS. Na nota de uma amiga, ele foi injusto ao fazer a passagem da nota em números para letras. Com absoluta certeza ele não ligou o nome à pessoa. Minha amiga jamais iria lá conversar com ele sobre notas, bons alunos não questionam notas, não perguntam sobre notas. Mas eu não tinha nada com a história. Fui lá conversar com ele, o encontrei quando ele estava chegando no Departamento de Economia. "Professor, o senhor cometeu uma injustiça com a fulana, deu tanto para o beltrano e ela, que é muito melhor, ficou com MM". Ele só disse "Não converso sobre notas"  e continuou andando. Ele estava passando pela porta do departamento, eu ainda disse quem era a fulana, a cidade de origem, estado, para ele ligar o nome à pessoa. Ele corrigiu a nota, ela ficou com MS. E ele tomou a decisão certa. Depois de vez em quando eu ia ao departamento de economia conversar com ele. Fui mais ainda quando eu decidi fazer o mestrado em economia e ele era o coordenador da seleção nacional da ANPEC. Apesar de ser professor de economia, ele escreveu um romance. Um romance que é ao mesmo tempo psicológico, policial e autobiográfico. Gira em torno de um homem que vai morar e estudar no exterior e depois retorna à sua cidade de origem. Havíamos perdido contato depois que ele se aposentou da UnB, foi bom tê-lo reencontrado. Não está mais se dedicando aos romances, mas ao mercado de capitais. É o mundo globalizado e financeirizado.

Fui almoçar com alguns amigos num restaurante chinês na sábado. Durante todo o período que estudei em Brasília, certamente os diferentes restaurantes de comida chinesa foram os locais que eu mais fui. Sempre íamos num da 406N (desta vez fomos numa filial deste na 411N), um na 112S, outro, por quilo, que acho que era na 102S. O da 112S começamos a ir depois de termos feito negócios com a representação de Taiwan no  Brasil e sempre que íamos almoçar com eles era lá que nos levavam e claro que pagavam a conta porque éramos pobres estudantes ajudando Taiwan. Dentro os citados era obviamente o melhor. Obviamente que encontrando meus amigos em Brasília lembramos de nosos professores e falamos mal deles. Há algo para ser pesquisado, porque é irresistível falar mal de professores? Mas também os defendi depois de falar mal, porque hoje os entendo. Sempre gostei de Brasília, acho uma cidade bonita, às vezes estragada pelos caminhos de rato, às vezes pela seca, mas é uma bela cidade. Sempre pensei que voltaria para Brasília, hoje já não sei mais. Ir lá após 4 anos confirmou a sensação que tinha, Brasília se tornou uma cidade triste, porque se tornou uma cidade de lembranças, é uma cidade nostálgica. Independentemente de serem eventos bons ou ruins. Em Brasília, é impossível para mim pensar o presente ou o futuro, só enxergo o passado. E ainda que o passado seja alegre, ninguém pode ser feliz no passado, provavelmente nem no futuro, mas com absoluta certeza no passado é impossível.

Nenhum comentário: