"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 1 de junho de 2008

O Brasil potência

Lula no Haiti: sub-imperialismo brasileiro em ação

Escrito por Sandra Quintela

30-Mai-2008

No último dia 28 de maio, o presidente Lula visitou o Haiti pela segunda vez. A primeira havia sido em 2004, junto com a seleção brasileira, que desfilou pelas ruas de Porto Príncipe em carro (de guerra) aberto. Desta vez, chegaram na comitiva a Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, entre outras empresas convidadas. Uma delas, cujo nome é mantido sob sigilo, já recebeu US$ 80 milhões do Banco de Desenvolvimento Europeu para a primeira fase das obras de reestruturação de rodovias haitianas. No mesmo momento, o movimento social haitiano Batalha Operária solicitou autorização à Polícia para fazer um ato na porta do Palácio Nacional, em Porto Príncipe, para protestar contra a presença das tropas militares no país. A Polícia Nacional haitiana negou o pedido.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, a tropa da elite – o Bope – treinou na favela Tavares Bastos, que ocupa, desde 2000, parte das tropas brasileiras que compõem o efetivo de 1.213 homens das Forças Armadas que estão no Haiti desde 2004.

Lá, a população que já não agüenta de tanta fome, vai às ruas protestar contra a alta abusiva dos alimentos. Aqui, a população vai às ruas nas favelas protestar também de forma espontânea contra os abusos policiais que matam diariamente 7, 8, 9 pessoas em cada incursão na suposta busca de traficantes.

Aqui como lá, a estrutura da desigualdade é gritante. No Brasil, segundo dados recém-lançados pelo IPEA (Instituto de Políticas Econômicas Aplicadas), 10% dos mais ricos detêm 75% da riqueza. Lá, a profunda deterioração da economia haitiana levou 76% da população a viver em situação de pobreza.

A situação sócio-política do Haiti se agudiza. As tropas da Minustah cada vez mais cumprem um papel de polícia com todas as táticas de repressão a populações empobrecidas utilizadas pela polícia do Rio de Janeiro. A lógica é a mesma. Cada vez mais os inimigos do sistema são as populações empobrecidas. O Haiti e o Rio têm servido muito bem de campo de experimentação dessas novas estratégias do sistema capitalista.

A proximidade do governo Lula com governos que põem em prática essa estratégia é também aqui e lá. As visitas de Lula e seus ministros ao Rio são freqüentes. As chacinas também. A do Complexo do Alemão, ocorrida em 27 de junho de 2007, deixou 19 mortos e 10 pessoas gravemente feridas. O ministro Tarso Genro, em reunião com secretários de segurança de todo o país para discutir o chamado PAC da Segurança (Pronascin - Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania), um dia depois da dita chacina, considerou a operação no Rio um exemplo de parceria e disse: "É uma ação das polícias militar e civil, comandada pelo governador do estado e pelo secretário de segurança, que têm a retaguarda da Força Nacional" - Correio Brasiliense, 29 de junho de 2007.

Também o Itamaraty considera um exemplo de parceria o que o Brasil está fazendo no Haiti. Em reunião no último dia 26/05/08, integrantes da Rede Jubileu Sul foram levar um manifesto assinado por 73 organizações sociais brasileiras. Um funcionário da Divisão das Nações Unidas daquele ministério afirmou: "o Haiti também é prioridade para o governo brasileiro – é a missão mais importante por ser um país da região. É também a única onde o Brasil tem tropas, com apoio do Congresso".

No último 7 de abril, em Porto Príncipe, 7 pessoas foram assassinadas ao protestarem junto a mais 3 manifestantes contra a subida generalizada dos preços dos alimentos. No 1º de maio, nas manifestações pelo Dia Internacional do Trabalho, os nomes de todas as pessoas que fizeram uso do microfone durante a marcha foram recolhidos por parte da Minustah e da Polícia Nacional.

O povo haitiano também tem saído às ruas para protestar pela presença de tropas estrangeiras no país. Cresce o clamor pela retirada das tropas compostas em grande parte por soldados dos países do sul. A avaliação negativa da efetividade de missões como a Minustah cresce. Recentemente, ativistas, vencedor de prêmio Nobel e intelectuais também assinaram um documento afirmando que essas tropas "violam os direitos humanos com total e escandalosa impunidade, em flagrante contradição com o mandato definido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas que lhes atribuem a tarefa de impulsionar o respeito aos direitos humanos e reforçar o sistema judicial".

A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, MINUSTAH, foi estabelecida em 30 de abril de 2004, segundo resolução 1542 do Conselho de Segurança, e tem mandato até 15 de outubro de 2008 (S/RES/1780). É urgente e necessário que seja feito um esforço no Brasil no sentido de pressionar/constranger os governos nacionais a retirarem suas tropas a partir de um plano discutido com setores representativos do povo haitiano.

Ao mesmo tempo, é urgente o debate em torno da militarização das periferias urbanas como estratégia de apropriação de territórios onde vivem os mais pobres. Lula leva na sua comitiva para o Haiti as mesmas empresas que farão grande parte das obras do Plano de Aceleração do Crescimento. O Complexo do Alemão é palco de uma das obras do PAC. Precisou entrar a polícia para limpar o território e garantir a obra. Não seria justo questionar que o mesmo papel está fazendo também a Minustha para garantir que essas mesmas empresas realizem seus trabalhos no Haiti?

Limpar território de negros, mulheres, velhos e crianças pobres; será que é mesmo isso que está por trás dessas políticas tanto aqui como no Haiti?

Sandra Quintela, Pacs/Jubileu Sul. E-mail: jubileubrasil@terra.com.br

http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1875/59/

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