"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Do blog do Juca Kfouri!

70 Anos de "Foot-ball mulato" de Gilberto Freyre

por Túlio Velho Barreto
Cientista político e pesquisador da Fundaj

e Jorge Ventura de Morais
Sociólogo e professor do PPGS-UFPE

Há 70 anos, exatamente no dia 17 de junho de 1938, este Diario publicava o que poderia ter sido apenas mais um artigo do escritor, sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, então colaborador assíduo dos Diarios Associados. O título expressava bem seu conteúdo e trazia uma palavra inglesa, ainda sem tradução para o português. Mas “Foot-ball mulato” não era a sua primeira incursão no tema. Pelo menos uma vez, o já consagrado autor de Casa Grande & Senzala (1933) e Sobrados e Mucambos (1936) escrevera sobre querelas entre torcedores no RJ, então capital federal no país. E também não seria a última, pois ele voltaria a escrever sobre futebol nas décadas seguintes.

De fato, embora intelectuais do porte de Monteiro Lobato, Lima Barreto, Alcântara Machado, Graciliano Ramos, Oswald de Andrade e outros tenham escrito sobre o futebol, “Foot-ball mulato” foi o primeiro texto de um intelectual brasileiro em que se identificava o jeito próprio da maioria dos brasileiros jogar o futebol e procurava explicá-lo a partir de traços culturais de parcela de nossa população, isto é, os negros. E ia mais além: expressava e definia tal estilo como “o” estilo tipicamente brasileiro de praticar o esporte bretão vis à vis o estilo europeu, sobretudo o de seus inventores.

A motivação para o artigo é apontada nas primeiras linhas: “Um repórter me perguntou anteontem o que eu achava das admiráveis performances brasileiras nos campos de Strasburgo e Bourdeaux”. Tratava-se da participação de nossa seleção na Copa do Mundo da França, em 1938, quando alcançamos o 3o lugar. Para Freyre, a resposta era simples: “uma das condições dos nossos triunfos, este ano, me parecia foi a coragem, que afinal tivéramos completa, de mandar à Europa um team fortemente afro-brasileiro. Brancos, alguns, é certo; mas grande número de pretalhões bem brasileiros e mulatos ainda mais brasileiros”.

E ia mais além e classificava o nosso estilo como “dionisíaco” e o europeu, “apolíneo”: “o nosso estilo de jogar foot-ball me parece contrastar com o dos europeus por um conjunto de qualidades de surpresa, de manha, de astúcia, de ligeireza e ao mesmo tempo de espontaneidade individual. Os nossos passes, os nossos pitus, os nossos despistamentos, o alguma coisa de dança e de capoeiragem marcam o estilo brasileiro de jogar o foot-ball, que arredonda e adoça o jogo inventado pelos ingleses e por eles e por muitos outros europeus jogado tão angulosamente”. Assim, 20 anos antes de o Brasil vencer uma Copa do Mundo, dava claros contornos ao que o mundo logo chamaria de “futebol-arte”.

Não é exagero dizer que o artigo de Freyre inaugurou profícua tradição de estudos culturalistas nas Ciências Sociais a respeito do futebol, além, é claro, de ter influenciado nossa crônica esportiva, que ainda se inventava, da qual faziam parte Mario Filho, Nelson Rodrigues e José Lins do Rego, todos seus amigos. Tal tradição chegouaos nossos dias nos trabalhos de autores como Roberto DaMatta, José Sérgio Leite Lopes, Simoni Guedes, Antonio Jorge Soares, Fátima Antunes, José Miguel Wisnik, Arlei Damo e outros, que, adotando ou contestando as idéias de Freyre, dialogam com ele, sobretudo a partir do breve mas substantivo “Foot-ball mulato”. O que mostra sua importância e perenidade.

Por isso, nós, que integramos o Núcleo de Sociologia do Futebol (PPGS-UFPE /Dipes-Fundaj), fazemos questão de lembrar hoje os 70 anos de “Foot-ball mulato”. E mais: promoveremos um seminário nacional, na última semana de agosto, com a presença de vários daqueles especialistas, para debater as razões que fazem do artigo de Freyre um clássico capaz de lotar muitos Maracanãs.

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