"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Força de vontade, determinação, sentido de auto-sacrifício. Aaaaaaah se todos os alunos fossem assim!

06/06/2008

A fantástica doutora Natália

Pensei ontem o dia inteiro numa forma de fazer a introdução dessa história prender os “zóios” ou os  “zuvidos” de vocês, até o fim do post. Desculpem, mas não consegui dar em palavra a dimensão de grandeza que a trajetória da doutora Natália Sousa Gonçalves, de 23 anos, merecia.

Ela se formou há pouco em medicina em uma das melhores universidades do país, a UnB (Universidade de Brasília). Durante os DOIS primeiros ANOS da faculdade, aqueles melhores, onde a gente acha que a vida começou, ela assistia às aulas deitada em uma maca. Povo, vou repetir: deitada em uma maca (imaginem vocês entrando numa sala de aula assim. Imaginou?).

Como Natália havia ficado muito tempo sentada, estudando, se preparando para o vestibular, contraiu escaras (feridas imensas que dão na BUNDA, sobretudo). Então, ela não podia mais usar a cadeira de rodas até que se currassem os machucados.

Agora, formada, essa cearense deslumbrante de linda, começou a fazer residência médica. No futuro, estuda se especializar em REABILITAÇÃO.

Sabe, Natália, poucas vezes na vida eu tive desejo de ficar em pé. Mas confesso que, para gente “Assim como Você”, eu gostaria.... e gostaria para poder te aplaudir: clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap, clap....

Meu povo, ajeitem a cadeira, peguem um copo de água, mandem os meninos calarem a boca e viagem nessa história. Aguardo vocês lá no final, nos “coments”, aplaudindo comigo.

 

Blog - Conta um pouco sobre sua deficiência 

Natália de Sousa Gonçalves: Tive uma lesão medular não traumática aos cinco anos. Estava em uma festa e subitamente parei de andar, sem sentir nada antes. Fui internada para investigação e recebi o diagnóstico de Mielite Transversa. A mielite é resultado de uma ativação do sistema imunológico contra a medula espinhal que ocorre geralmente quando existem infecções virais ou bacterianas. Pode também ocorrer após vacinações ou associada a doenças imunes (lúpus, por exemplo). Mas, na maioria das vezes, como em meu caso, o fator que causou a mielite não é identificado.

Blog: Já aconteceu de o paciente achar que havia entrado na sala errada quando viu você na cadeira? Algo do tipo: ‘ai gzuis, entrei na ortopedia’?

Natália: Já aconteceu do paciente ficar um pouco desconfiado, pergunta se sou a médica que vai atender. Mas, depois que começo a consulta, nunca tive problemas, as pessoas passam a confiar. Às vezes, muitas vezes, as pacientes mais velhinhas, querem saber tudo que aconteceu comigo, até esquecem que foram pra se consultar e parece que são médicas! Perguntam tudo sobre minha paralisia! Outras vezes não tem cadeira pra levar o paciente (hospital público neh...) e o acompanhante olha pra mim e fala "Ah, se a doutora emprestasse a cadeira dela só um pouquinho... "

Blog: Conta da sua família ‘pa nóis’?

Natália: Desde quando tive a lesão, minha família me deu todo o apoio, todo empenho, como todos os pais. Passei anos fazendo fisioterapia diariamente. Só tenho a agradecer por meus pais terem me dado a mesma educação e criação que minhas outras irmãs. Fui criada com meus cuidados peculiares, mas sem um tratamento diferenciado, sem muito mimo. Tenho três irmãs que também sempre foram compreensivas e prestativas.

Minha mãe deixou de trabalhar e sempre me levou em tudo que precisei. Fisioterapia de manhã, colégio à tarde... Uma maratona! Andava de órtese e bengala. Quando vim morar em Brasília (ela era de Fortaleza, no CE), aos 12 anos, passei a consultar no Sarah e lá  comecei a usar a cadeira de rodas.

Foi uma das minhas maiores felicidades!!! Como foi melhor usar a cadeira em vez dos aparelhos. A vida fica mais prática! Acho que sou uma das poucas pacientes que ficou feliz ao saber que poderia andar de cadeira de rodas! (eu também, eu também!!!)

Desde pequena, antes mesmo da lesão, dizia que ia ser médica. E as idas aos hospitais, às consultas constantes, e as cirurgias só aumentaram minha vontade de ser médica. Continuei com esse objetivo. Vim morar em Brasília e ao terminar o terceiro ano entrei na faculdade de medicina aqui na UnB (Universidade de Brasília).

Ai veio o momento mais difícil.... Quando passei no vestibular, estava com uma escara enorme... Afinal, passei muuuuito tempo sentada, estudando pra passar nas provas hehehehehe! Me foquei muito nos estudos e esqueci que não há traseiro que agüente muito tempo sentado!! Ai, me colocaram numa encruzilhada: ou trancar a faculdade e esperar a cicatrização ou ir pra faculdade e assistir as aulas deitadas!

Ansiosa pelos estudos, escolhi assistir às aulas deitadas. E foram dois anos assim, até a escara fechar! Parecia a aluna mais folgada assistindo às aulas deitada.... Mas deu tudo certo! Com a ajuda da minha mãe e o apoio dos amigos consegui fazer o curso direitinho. Depois, entrei pra parte prática do hospital e controlei bem o tempo sentada. Passei a usar as almofadas Roho (custa bem caro, vou contar para vocês depois) e nunca mais tive problemas com escaras (olha eu fazendo propaganda ahahahaha).

Blog: Fico imaginando você numa situação de ter de operar alguém ou um procedimento numa maca. Você anda com capangas para te suspender e ficar na altura da mesa de cirurgia?

Natália: Não faço cirurgias, ainda bem!!! Não gostei nada da área da cirurgia, por isso mesmo resolvi fazer clínica médica. Mas procedimentos a gente da um jeitinho, sempre tem alguma maca mais baixa que da pra fazer! Tudo é uma questão de costume e adaptação. Quando a gente entra no curso de medicina não sabe fazer nada disso, aprendemos do nosso modo. Eu aprendi a fazer tudo sentada, e não acho muito estranho. Agora, pra quem já aprendeu de outro modo, pode ser mais complicado. Nada de capangas! Hahahahaa! Mas, se precisasse, seriam escolhidos a dedo!

Blog: Você escuta muito a frase: ‘Doutora, deixa que eu te empurro’? Como reage?

Natália: Acho que ninguém resiste a uma cadeira de rodas! Sempre tem alguém querendo nos empurrar. Mas geralmente nego a ajuda! Gosto muito de tocar a cadeira sozinha, me viro muito bem. Falo que prefiro ir sozinha para fazer um exercício e as pessoas compreendem.

Blog: Muitos vêem no médico a perfeição, o cara que tudo sabe, que tudo resolve. Isso te abala de alguma maneira diante da sua realidade?

Natália: A sociedade "endeusa a medicina". Esperam que os atos sejam sempre corretos, que temos a obrigação de sempre curar e resolver todos os problemas. Acho que a deficiência e a cadeira de rodas de certa forma ajudam a quebrar um pouco dessa expectativa excessiva e dessa perfeição esperada. O paciente vê que o médico é uma pessoa como todas as outras e que pode sim ter algum problema.

A entrevista completa neste link:

http://assimcomovoce.folha.blog.uol.com.br/

http://assimcomovoce.folha.blog.uol.com.br/arch2008-06-01_2008-06-07.html#2008_06-06_09_07_13-129797961-0

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