"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 26 de abril de 2009

A política, os políticos e eu

Desde criança gostei de política, sempre acompanhei. No início da década de 80, se não me engano, 1982, passei a receber o jornalzinho da prefeitura da minha cidade. Porque sempre ficava fazendo perguntas e minha mãe falou para eu escrever para o prefeito perguntando e falando das minhas preocupações. A assessoria do prefeito respondeu e partir dali passei a receber sempre o informativo da prefeitura até mudar o prefeito. O sucessor foi o segundo pior prefeito que a minha cidade teve. O pior veio logo depois, Barra do Garças aparecia na imprensa nacional de vez em quando pelas denúncias de corrupção que o deputado da cidade fazia na Câmara dos Deputados contra o prefeito. Quando da eleição deste aí que eu descobri o quanto brasileiro é complicado. Uma senhora que trabalhava na faxina no Banco Real tinha votado no sujeito, mesmo sabendo dos problemas dele e votaria de novo. Aí ela falou que votou porque ele a tinha ajudado (ele era médico). Eu na minha ingenuidade disse, mas a senhora pode votar em outro candidato que ele nem vai ficar sabendo o voto é secreto. E  ela: não ele vai ficar sabendo sim, é só olhar. Na visão dela um político conseguiria vigiar os eleitores para acompanhar quem votou ou não nele. E isso quando o voto era em papel, fico imaginando o que não pensam hoje quando o voto é na urna eletrônica.

Quando o Tancredo Neves foi eleito, uma das primeiras cidades que ele visitou foi Barra do Garças. Ele iria se encontrar lá com o governador de Mato Grosso e com o governador de Goiás. Mas como em Barra do Garças não tinha aeroporto na época, ele posou em Aragarças. Conforme pode ser visto na imagem abaixo, a esquerda está Aragarças-GO, no meio, já no Mato Grosso, o Pontal do Araguaia (na época ainda parte do município de Torixoréu) e a direita (e não apenas no mapa) Barra do Garças.

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Perturbei meus pais para ir lá. Aí fui esperar pra ver o Tancredo Neves no aeroporto de Aragarças, uma longa espera no sol. E depois fomos acompanhar a visita dele à Câmara de Vereadores de Barra do Garças, onde se reuniria com os políticos locais e os governadores. Obviamente Tancredo Neves foi muito aplaudido. Mas lá por aquelas bandas, o mais popular era sem dúvida o governador de Goiás Íris Rezende. E o impopular era certamente o governador do Mato Grosso, Júlio Campos. Nos discursos para o povo, obviamente o governador Íris Rezende foi muito mais aplaudido. Graças a isso, Barra do Garças ganhou um aeroporto, porque Júlio Campos ficou revoltado e disse que nunca mais pousaria em Goiás e mandou construir um aeroporto na Barra.

Da pré-escola à oitava série estudei em escola católica particular das freiras salesianas, onde não havia segundo grau ou melhor havia apenas o magistério. Por idiossincrasia local, o colégio dos padres salesianos, onde havia segundo grau, era público, estadual, e em geral todo mundo fazia o segundo grau lá. No ano que eu deveria começar no segundo grau, ou no ano anterior eu não lembro, abriu um colégio Objetivo. Eu não quis ir para nenhum dos dois. Fui para uma outra escola pública onde começaria a primeira turma de segundo grau. Nem irei comentar o contraste entre a escola de onde eu estava saindo e a que eu estava indo. O que interessa é que era 1989 e todos os professores eram petistas. A escola era uma animação, não para estudar, mas para fazer política. E isso foi muito bom. Mas como eu ainda não podia votar mais observava e analisava do que qualquer outra coisa. Porque lá eu era suspeito, porque todo mundo sabia que a minha família não só era antipetista, mas nutria muitas simpatias pela UDR e o Ronaldo Caiado. Eu não era nem uma coisa nem outra, o que meus irmãos e eu fizemos nestas eleições foi visitar todos os comitês de candidato que tinham na cidade pegando propaganda. Se a minha mãe não jogou fora estão todas arquivadas. Foi uma eleição histórica. Obviamente que o material mais fácil de conseguir era o Collor, portanto do candidatos mais conhecidos é o que tem mais. Apesar do PMDB ser forte lá, o cuidado do Ulisses Guimarães foi abandonado então tem pouco, como tem pouco material do Lula, porque a maior parte do material de campanha não era dado, mas vendido pela escassez de recursos para propaganda. Certamente o que mais contribuiu para o crescimento do Lula, além evidentemente dos problemas do país, foi a rede povo, os programas de TV eram ótimos. Também tem muito material do Guilherme Afif Domingos e seus dois patinhos na lagoa, que também tinha um grande comitê na cidade. O PL era uma alternativa para a direita local que não ficou no PFL. Por falar no PFL, nem sei se tem material do Aureliano Chaves. Se o João Baptista Figueiredo não fosse burro, o Aureliano Chaves teria sido presidente e imagino que um presidente melhor que o Sarney.

Nas eleições de 1994, eu estava na UnB. O Centro Acadêmico, agora nem sei se foi o Carel, o capol, ou cadir, ou todos juntos, resolveu convidar os presidenciáveis para um debate na UnB. Foi um fracasso, porque depois que a campanha engrena é difícil conseguir que presidenciáveis pareçam em eventos desta natureza. O então senador Espiridião Amin aceitou participar, mas a UnB entrou em greve, e aí quando ele foi lá havia pouquíssimos alunos no anfiteatro Joaquim Nabuco da FA. Mas ele foi ótimo, porque fez o discurso dele, conversou com todo mundo. E mostrou o que é um político tradicional. Dois dos meus colegas de turma eram de Santa Catarina, estado do senador, quando eles disseram que eram de  SC, o senador disse de quais cidades eram as famílias deles, fez perguntas sobre pessoas que eles deveriam conhecer e etc. Idéias, propostas para discutir, ele não tinha. Mas até minha amiga de SC que era muito esquerdista na época quase foi seduzida politicamente pelo senador. E é engraçado como certas coisas marcam, eu já tinha uma visão positiva do senador Espiridião Amin de quando ele foi governador de Santa Catarina no início da década de 80. Houve uma grande enchente em Santa Catarina em 1983 ou 1984 quando ele era governador, que assistindo pela TV a presença e a ação dele nos lugares afetados pela enchente, e isso me marcou na época. Dentre a direita brasileira, e da Santa Catarina em particular, melhor Espiridião Amin do que Jorge Bornhausen. E não sei não, mas acho que melhor Espiridião Amin do que Ideli Salvati.

Após as eleições para prefeito de 1996, o então deputado José Genuíno foi até a UnB para discutir os resultados das eleições. Foi uma noite qualquer lá, a discussão foi numa sala de aula, não foi uma palestra, foi feito um círculo composto pelo deputado e os presentes. O deputado respondeu todas as questões. Depois os colegas reclamaram, porque eu monopolizei um pouco a palavra, sempre atropelando para perguntar e questionar antes. Por incrível que pareça retrospectivamente, o que eu mais questionei foi a ausência de uma política de alianças, e pior a traição das alianças para manter o PT sempre na cabeça de chapa. Nas eleições de 1996, o caso emblemático sobre o comportamento do PT foi a eleição para a prefeitura de Belo Horizonte. O mui honrado presidente Cardoso ainda não tinha inventado a reeleição. Então o Patrus Ananias, hoje ministro, era o prefeito e o Celso de Castro do PSB era o vice-prefeito. O natural era que o candidato da coligação fosse o Celso de Castro, mas o PT não aceitou dar a cabeça da chapa para o PSB e então saiu duas candidaturas ligadas ao governo, o Celso de Castro pelo PSB e outra candidatura do PT. E o PT perdeu as eleições. (Depois como o FHC inventou a reeleição, o  Celso de Castro podia ser candidato a reeleição, então aí o PT aceitou ser vice na chapa) Voltando ao José Genuíno, neste debate toda vez que eu queria questionar o que ele havia dito usava o caso de Belo Horizonte. Fui um chato! Especialmente porque já então o Genuíno já era o grande defensor da política de alianças dentro do PT.

Estava na Feira do Livro de Brasília em 1993 ou 1994, quando anunciaram nos auto-falantes que acabava de adentrar ao recinto o Exmo. sr Presidente da República, Itamar Franco. O Itamar se comportava como uma pessoa normal dentro do possível, óbvio. Ele estava namorando na época uma policial militar de Minas Gerais. Eles se sentaram numa arquibancada que tinha lá local. Não houve tumulto, aglomeração e nem havia seguranças em volta impedindo as pessoas de chegarem perto. Então criei coragem, porque sou tímido, e fui lá conversar com ele e pedir um autógrafo. Ele autografou em um dos livros que eu havia comprado, o livro do Robert Dahl, Um prefácio a democracia econômica.

Em 1994, eu estava no Conjunto Nacional em Brasília indo para a Rodoviária pegar o ônibus para ir para a UnB. Aí quando eu olho, o Lula está lá na plataforma superior da rodoviária fazendo campanha de rua, aproveitei e peguei um autógrafo no meu caderno e matei de inveja minha amiga petista de Santa Catarina. Em 1994, eu já votaria no PT, em hipótese alguma no FHC. Como minha família nunca votaria no Lula então, eu fiz campanha em família para votarem em outro. Que votassem no Espiridião Amin, até no Quércia se fosse o caso. Mas no FHC não. Não adiantou nada, mas pelo menos três votos eu consegui tirar do FHC.

As eleições em Brasília eram uma festa. Um ótimo lugar para se vivenciar as eleições. Em 1994, as eleições para governador de Brasília foram contagiantes, altamente polarizadas entre Valmir Campelo, o candidato do Roriz, porque o FHC ainda não tinha inventado a reeleição, e Cristovam Buarque, o candidato do PT. O Cristovam Buarque venceu as eleições e civilizou Brasília pelo menos durante seu mandato. Quando ele foi eleito governador já tinha feito a disciplina Formação Econômica do Brasil na UnB, onde o professor utilizou parte do livro “A Revolução nas Prioridades”, eu tirei xerox, e nem gostei da parte que lemos, porque entendo ser teoricamente equivocado tratar dos dez erros da sociedade brasileira, porque a sociedade não erra, conceitualmente não faz sentido dizer que uma sociedade errou, porque de fato uma sociedade não para e decide, é o processo histórico que define o que a sociedade é hoje, e não escolhas propriamente. E eu só não tive a disciplina com ele, porque ele estava em campanha. Depois de eleito, ele continuou dando aulas e sempre estava lá na UnB. Encontrei-o um dia na livraria do Chiquinho no ceubinho (área de lanchonetes, xerox, livraria no ICC-Norte ou ainda minhocão), e puxei o primeiro livro dele que achei no stand para ele autografar pra mim. Depois quando fui formar, a turma o escolheu para paraninfo, e ele esteve presente na colação de grau. Ele chegou pontualmente, mas aí e ali ele era o governador, e, portanto, ele não entraria no recinto para ficar esperando começar. Ele só viria quando fosse efetivamente começar e eu dei um chá de cadeira no governador. Toda hora chegava pra mim, alguém falando que o governador já havia chegado e não podia deixar ele ficar esperando. Mas uma amiga minha estava atrasada, não havia chegado, e  eu não deixaria começar sem ela. Enquanto ela não chegasse, eu não autorizaria começar. E fiz com que o ensaio e as instruções fossem repetidas várias vezes, quando ela chegou, eu disse agora acabou o ensaio, podemos começar. E minha amiga disse, bem que minha mãe me falava no carro que você não deixaria começar antes de chegarmos. O governador chegou, e aí como já contei aqui outra vez, a participação dele foi ótima, porque o discurso dele foi elogiar o meu discurso.

Também já contei aqui outra coisa da formatura. Mas como este post é sobre política, políticos e eu. As colações de grau dos cursos de relações internacionais e ciência política eram sempre no Itamaraty, mas o pessoal de pol achava ruim porque o Itamaraty era mais identificado obviamente com o curso de rel. Eu não gostava do auditório do Itamaraty, um lugar escuro e feio. Então apoiei o pessoal de pol para ser em outro lugar. Obviamente que para ser em outro lugar tinha que ser num lugar que chamasse tanta a atenção quanto o MRE. Então decidimos ver para ser no auditório do Senado. Mas o Senado havia proibido a realização de formaturas lá. Só que a família de uma das formandas de pol era do Maranhão e tinha relações de amizade com o Edson Lobão, senador e atualmente ministro. Na época o primeiro secretário que é o responsável por estas coisas era o senador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima. Então esta colega falou com o Edson Lobão que falou com o Ronaldo Cunha Lima, que liberou para que nossa colação de grau fosse no auditório do Senado, sem dúvida um auditório maior e mais bonito do que o do Itamaraty. Se conseguir o auditório não foi difícil, conseguir a colaboração dos funcionários do Senado responsável pelo auditório foi, o chefe lá queria nos boicotar, porque ficar cuidando de som de formatura era difícil. Mas depois de ter dito que não daria para fazer o serviço, ele voltou atrás e saiu quase tudo certo. Erraram na hora de colocar uma música. E como parêntesis, é impressionante como mestre de cerimônias erra nomes, erra o que é ensaiado e os fáceis com a mesma naturalidade. Eu ensaie com ele todos os nomes difíceis, mostrando como se pronunciava. A criatura foi errar justo um fácil, um dos sobrenomes da minha amiga do parágrafo anterior, só vi a cara da mãe dela olhando pra mim.

Ainda morando em Brasília, gostava de circular pelo Congresso Nacional, agora é mais chato, porque há controle de fato na passagem da Câmara para o Senado. Mas naquela época não havia e podia-se circular tranquilamente por todas as dependências das duas Casas. O melhor para fazer isso era dizer na portaria que você iria na biblioteca. Eu sempre digo que vou à biblioteca, porque aí é certeza que não vão ligar para ninguém para pedir autorização, vc entra e pronto, pode ir onde quiser. Já circulei em todos os corredores das prédios principais, mesmo onde não passa ninguém, onde fica os gabinetes que ninguém quer. A primeira vez que eu fui ao Congresso e visitei a Esplanada dos Ministérios foi quando estava fazendo cursinho em Goiânia. Aí o sindicato de professores de Goiás ia em alguns ônibus protestar contra o substitutivo Darcy Ribeiro, que finalmente foi aprovado e hoje é a atual LDB, e uma das minhas primas professoras perguntou pra outra prima e pra mim se nós não queríamos ir e aí lá fomos nós conhecer o Congresso e a Esplanada dos Ministérios.

Em 1996, ou início de 1997, eu estava cursando a disciplina Movimentos Sociais e o trabalho final era pesquisar um movimento social e precisava entrevistar alguém do movimento social. Resolvi fazer sobre o MST. Iria entrevistar o deputado Adão Pretto do RS e falecido agora em 2009. Eu passei o dia anterior da entrevista, o dia inteiro em pé fazendo boca de urna na eleição para reitor da UnB. Nessa eleição já havíamos montado a Rel Jr, aí um dos apoiadores deste candidato a reitor havia dado muito apoio para nós. De fato o apoio dele era mais importante para conhecer gente do que para negócios, porque esse professor era arroz de festa, como ele trabalhava na área internacional na UnB, ele vivia nas recepções nas embaixadas. Tem umas frases de escritores húngaros que já postei uma vez no blog, que acho lindas, que copiei numa exposição de fotos de cemitérios húngaros promovida pela Embaixada da Hungria. Ele também nos apresentou aos representantes de Taiwan no Brasil e ganhamos alguns presentes com isso, até massagem grátis por organizar uma palestra na UnB com o representante de Taiwan expondo a bandeira de Taiwan e tocando o hino, o que em tese não deveria ocorrer oficialmente no Brasil, porque o Brasil não reconhece Taiwan, e por isso eles são sempre emotivos quando se faz isso. Como este professor estava nos ajudando e era ligado a um dos candidatos a reitor, ele nos apresentou o candidato e o candidato nos convidou para ir tomar um chá com eles na casa do candidato que fica no Lago Sul, uma casa muito bonita, com uma vista mais bonita ainda. E depois das conversas típicas de políticos sobre projetos e etc. quando estávamos no carro indo embora, eu perguntei pro meu amigo, foi impressão minha ou ele estava nos oferecendo cargo se ele for eleito? Chegamos a uma consenso que sim, que ele insinuou isso sim. Então diante de tal oferta como não fazer campanha? rsrsrs Nada disso, como já estava comprometido politicamente com o professor que ajudava a Rel Jr não havia como não fazer campanha. Passei o dia em pé fazendo boca de urna e a noite fui para a apuração. E depois do sacrifício perdemos a eleição. Então no dia seguinte eu estava morto de cansado, desesperado para dormir e ficar com os meus pés quietinhos sem tocar o chão. Mas era preciso entregar o trabalho no dia seguinte, e a entrevista estava marcada e lá fui eu. Como sempre ocorre nestas situações, o deputado estava preso no plenário e eu teria que aguardar, e os minutos e horas vão passando e eu praticamente dormindo sentado, com o pé latejando de dor. E sempre a secretária falando que o deputado está preso no plenário. Desisti meu sono e meus pés são mais importantes que um trabalho de faculdade. Entreguei o trabalho sem nenhuma entrevista. E engraçado foi a professora me dizer depois que ao ler o trabalho achava ruim não poder me dar SS (A), e dar MS (B), mas que eu merecia mesmo era um MM (C).

Como considero estes contatos com a política e os políticos importante. Sempre penso que meus alunos devem ter isso de algum modo. O ano passado convidei o deputado Aldo Rabello para fazer uma palestra na faculdade. Sendo um dos poucos deputados que se interessam por política externa demos sorte dele estar, naquele momento, postulando uma vaga de candidato a prefeito e foi bastante proveitoso ouvir a análise do deputado sobre as relações externas do Brasil e sobre o papel da Câmara dos Deputados nestas questões.

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