31/03/2009 - 16h01
Índia teme que economia forte aumente violência política
DANIEL GALLAS
enviado especial da BBC Brasil a Nova Délhi e Mumbai
Combater a ação de grupos extremistas internos e externos que ameacem sua estabilidade é o principal desafio na área de segurança para a Índia se consolidar como potência econômica em 2020.
Analistas ouvidos pela BBC Brasil ressaltam que grupos extremistas --de inspiração religiosa ou política-- rejeitam a imagem de uma Índia moderna e se ressentem da aproximação do país com o Ocidente, particularmente com os EUA.
Isso, afirmam especialistas, aumenta ainda mais o risco de atentados e de conflitos externos armados, o que poderia afugentar investidores estrangeiros e levar a custosos conflitos bélicos, prejudicando o crescimento econômico do país.
Para tentar fazer frente à ameaça, a Índia está aumentando seus gastos militares. O país negocia ainda um acordo de cooperação nuclear com os EUA, para aumentar seu poder de dissuasão militar.
Ao longo das duas últimas décadas a Índia passou a ser alvo frequente de ataques terroristas, perpetrados por grupos com motivações religiosas e políticas --alguns deles, segundo o governo indiano, com apoio de governos estrangeiros como o do vizinho Paquistão.
Além disso, internamente, grupos de insurgência de inspiração maoísta fortaleceram-se com o aumento da desigualdade social no campo.
"A Índia vive um paradoxo. De um lado o país parece estar brilhando com o crescimento econômico, mas na outra ponta há problemas de segurança que estão crescendo, tanto no front externo como na dinâmica interna do país", afirma o analista Uttam Sinha, do Institute for Defense Studies and Analyses (IDSA), órgão baseado em Nova Délhi ligado ao Ministério da Defesa indiano.
"A grande ironia do crescimento econômico indiano e do surgimento da Índia como potência emergente é que isso está também fortalecendo movimentos de violência política", diz ele.
Ameaça externa
Externamente, afirmam especialistas, a principal ameaça à Índia é o Paquistão, rival histórico desde o surgimento dos dois Estados, em 1947.
Ambos os países possuem armas nucleares e estão envolvidos há décadas numa tensa disputa pela região da Caxemira. Em 1999, Índia e Paquistão estiveram perto de declarar guerra, mas ao longo da última década as relações oficiais melhoraram e os países se aproximaram.
No entanto, grupos islâmicos e hindus vêm promovendo atentados frequentes na tentativa de colocar os dois países novamente em rota de choque.
Em novembro do ano passado, a tensão voltou a subir com os ataques terroristas em Mumbai, que mataram quase 200 pessoas, em diferentes pontos da cidade. A ação foi atribuída ao Lashkar-e-Taiba, grupo de militantes islâmicos que lutam contra a Índia na Caxemira.
A Índia acusa o governo do Paquistão de não combater --e até de abrigar-- grupos como o Lashkar-e-Taiba.
Mumbai foi escolhida pelos agressores por ser a capital financeira do país, como polo que atrai investimento externo. Entre os alvos escolhidos estavam hotéis e restaurantes frequentados por empresários do Ocidente.
O analista de segurança internacional Paul Kapur, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, afirma que os ataques em Mumbai voltaram a deixar claro como a relação da Índia com o Paquistão é um difícil dilema para o governo indiano:
"A Índia decidiu que o crescimento econômico é sua prioridade número um para as próximas décadas e tenta a todo custo evitar qualquer conflito com o Paquistão. Eles estão sendo nitidamente comedidos na resposta aos ataques de Mumbai, mesmo percebendo que houve claramente um elemento paquistanês nos atentados", diz Kapur.
No entanto, ele afirma que a Índia pode pagar caro por não responder com força aos ataques. Isso, segundo Kapur, poderia estimular o aumento de ações terroristas e provocar insatisfação entre os indianos em relação à linha cautelosa adotada pelo atual governo, que é controlado por uma coalizão liderada pelo Partido do Congresso Indiano.
O aumento da violência poderia fortalecer partidos nacionalistas como o Bharatiya Janata Party (BJP), que defende uma resposta mais contundente da Índia ao Paquistão. O BJP --maior partido de oposição do país-- é o principal rival do Partido do Congresso Indiano nas eleições gerais de abril e maio.
"Pode ser que os eleitores decidam que não estão mais dispostos a aturar apenas uma resposta comedida. Vamos ver como o público vai reagir, pode haver uma mensagem nas próximas eleições sobre o futuro da Índia", diz o analista.
Ameaça interna
O Paquistão e grupos terroristas supostamente baseados no exterior não são a única preocupação da Índia no que diz respeito à segurança. Em 2007, o premiê indiano, Manmohan Singh, alertou para o perigo que representam os insurgentes de extrema-esquerda no país.
Os naxalitas, como são conhecidos os radicais que pregam a reforma agrária e a revolução contra o governo, controlam um 'corredor vermelho' que se estende da fronteira da Índia com o Nepal até a região central do país.
O grupo é relativamente pequeno em comparação com a gigantesca população indiana - estima-se que existam cerca de 12 mil insurgentes armados. Mas os naxalitas já formaram um partido político e têm se tornado mais influentes junto aos governos locais.
"Os naxalitas têm forte influência nos Estados centrais da Índia, como Jharkhand e Chhattisgarh", explica Bharat Karnad, analista do Centre for Policy Research, de Nova Délhi.
"Esses são alguns dos locais mais ricos em recursos naturais do país. Se a Índia realmente prosperar no futuro, estes recursos terão de ser explorados em uma escala muito maior do que o que está acontecendo agora. Se isso acontecer, a Índia terá que pacificar os movimentos de lá", conclui.
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