"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


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quinta-feira, 25 de março de 2010

Os mitos sobre a moeda chinesa

22/03/2010

Os mitos sobre a moeda chinesa

International 
Herald Tribune

Pieter Bottelier e Uri Dadush

  • Funcionária do Banco da China 
confere cédulas de yuan em Pequim, capital do país

    Funcionária do Banco da China confere cédulas de yuan em Pequim, capital do país

A febre da China está atacando Washington novamente à medida que o Tesouro norte-americano se aproxima de seu prazo, em meados de abril, para declarar se a China está manipulando sua moeda para obter uma vantagem injusta no comércio.

Embora faça parte dos interesses da China voltar a ter uma moeda mais flexível e valorizada, alguns mitos perigosos sobre a economia chinesa, e sobre os benefícios que os EUA teriam com um renminbi [outro nome para o yuan] mais caro, estão se espalhando novamente, alimentando a crítica entre os chineses e os lobbies protecionistas, enquanto colocam em risco a relação crucial entre os dois países. Eis alguns dos mitos:

O crescimento da China depende principalmente das exportações. As exportações são importantes para a China, mas a demanda doméstica é o principal motor do seu crescimento. Embora as importações da China tenham crescido quase tão rápido quanto as exportações durante a década anterior à crise, as exportações líquidas responderam por apenas um ponto percentual da taxa média de crescimento anual do país de 9,5%.

A China não contribuiu o suficiente com a demanda global durante a crise. Como resultado do agressivo e bem sucedido programa de estímulo da China, a demanda doméstica expandiu-se 12,3% em 2009 (enquanto nos EUA ela diminuiu 2,6%). Como resultado, o atual superávit da China e o déficit norte-americano caíram drasticamente. A China fez mais do que qualquer outro país para tirar o mundo da recessão.

O consumo da China não está crescendo rápido o suficiente. O consumo doméstico cresceu em média 7,5% ao ano durante os dez anos anteriores à crise, mais rápido do que em qualquer outra grande economia, embora o investimento e o PIB tenham crescido mais ainda, fazendo com que a relação entre o consumo e o PIB caísse a um nível extraordinariamente baixo. Em 2009, o consumo da China cresceu mais rápido do que o PIB pela primeira vez em muitos anos.

A valorização do renminbi ajudará os Estados Unidos. O efeito imediato da valorização da moeda chinesa será o aumento dos preços para os consumidores dos EUA. Uma valorização de 25% do renminbi, que alguns economistas dizem que é necessária – se não for compensada por uma redução nos preços da China – acrescentaria US$ 75 bilhões (R$ 132 bilhões) à conta de importação dos EUA. E como os EUA importam três vezes mais da China do que exportam para o país, o aumento das exportações dos EUA para a China não chegaria nem perto de compensar a perda de poder aquisitivo dos consumidores norte-americanos devido ao aumento dos preços da China.

No fim das contas, embora algumas companhias norte-americanas possam sair ganhando e alguns empregos possam ser criados no setor de exportação, o consumidor norte-americano sairá perdendo.

A valorização do renminbi é fundamental para reduzir o desequilíbrio do comércio global. Mas a revalorização por si só não faria muito para corrigir o desequilíbrio, e poderia, como foi mencionado, levar inicialmente a um déficit ainda maior no comércio entre os EUA e a China. A menos que a demanda interna dos EUA caia por outros motivos, é mais provável que no final o déficit de comércio dos EUA como um todo mal se modifique à medida que o país passe a importar mais de outros locais.

A China manipulou sua moeda durante anos. Cerca de 60 países fixam suas taxas de câmbio em relação ao dólar hoje, e nem todos as manipulam. A China fixou o renminbi no meio da crise asiática em 1997, ganhando a aclamação dos EUA e de outros países por contribuir com a estabilidade regional.

As queixas surgiram em 2003 com o aumento do superávit comercial da China e do déficit comercial dos EUA-China, uma tendência que se acelerou nos anos subsequentes.

A moeda da China se desvalorizou principalmente por causa de algumas políticas macroeconômicas questionáveis dos EUA e da falta de fiscalização do sistema financeiro dos EUA, o que contribuiu para uma explosão de liquidez e uma explosão do consumo financiado por dívidas e alimentado, em parte, pelas importações baratas da China.

O rápido crescimento da produtividade no setor manufatureiro da China, devido a reformas agressivas de mercado desde o final dos anos 90, combinado com a promoção da exportação e as políticas de substituição de importações, contribuíram para os desequilíbrios cada vez maiores no comércio. Em 2005, a China adotou uma política de valorização gradual do renminbi. Sua moeda subiu 21% ao longo de três anos até julho de 2008, quando uma queda brusca nos pedidos de exportação, por causa das condições de crise nos EUA, suspendeu a política.

Debates estéreis sobre a moeda chinesa tiram a atenção das reformas mais importantes, porém politicamente mais difíceis, que os EUA precisam realizar, como o aumento do consumo e das tarifas de energia.

Quanto à China, uma moeda mais flexível e valorizada é claramente de seu interesse, uma vez que daria ao país maior controle sobre sua política monetária e reduziria o preço dos produtos importados para seus consumidores.

A taxa de câmbio nominal da China é muito menos importante do que os ajustes de política interna necessários em ambos os países.

(Pieter Bottelier é professor adjunto da Universidade Johns Hopkins e acadêmico visitante no Carnegie Endowment, onde Uri Dadush é associado sênior.)

Tradução: Eloise De Vylder

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