Qualquer análise de ma crise deve partir da identificação dos seus atores e dos seus interesses. Então no caso da crise andina a primeira questão é a quem interessa a crise?
1. A crise interessa ao presidente colombiano Álvaro Uribe. Já está claro que a invasão do território equatoriano foi premeditada, planejada, e não uma ação impulsiva durante uma perseguição que avançou pela floresta. Por que Uribe tomou a decisão sem negociar com o Equador? Álvaro Uribe está tentando mudar a Constituição colombiana para que ela permita uma nova reeleição. E toda a política de Uribe desde o seu primeiro mandato esteve voltada para um enfretamento militar com a guerrilha colombiana, especialmente as FARC através do Plano Colômbia (ou seja com apoio militar americano) e através dos grupos para-militares de direita (que são numerosos na Colômbia). Em nenhum momento, Álvaro Uribe teve interesse em negociar o fim do conflito como já fizeram o governo de El Salvador, o governo do Reino Unido e outros governos para resolver conflitos similares. Então a política iniciada por Hugo Chávez de negociar com as FARC a libertação de reféns, a intervenção da França, Espanha e Suiça para libertação de reféns colocava em xeque a estratégia de Uribe, mostrava que existia uma possibilidade de solução do conflito que não passava pelo aprofuncamento do enfrentamento militar, ou seja, não só a estratégia de Uribe poderia ser equivocada como ele era dispensável, não seria necessário lhe dar um terceiro mandato para garantir a paz na Colômbia. Portanto, era do interesse de Uribe impedir o avanço das negociações. A perseguição militar e o assassinato dos guerrilheiros em territorio colombiano serviu a esta necessidade. Obviamente que para o plano de Uribe dar certo, ele contava com a reação intempestiva de Hugo Chávez que teria uma reação exagerada e assim favorecia a polarização que interessa a Uribe.
Hugo Chávez age baseado em princípios e parece não consultar nenhum assessor antes de tomar qualquer decisão. Portanto reage de forma intempestiva. Ao contrário do que os analistas pensam, Chávez não parece agir pensando numa estratégia de longo prazo, responde às circunstâncias e por isso erra muitas vezes na estratégia. No caso em questão é evidente que deveria mobilizar tropas para a fronteira com a Colômbia, mas isto se faz em silêncio. Além disso, romper relações diplomáticas é o gesto mais dramático nas relações bilaterais em tempos de paz, então só se faz em último caso, quando se negociou durante muito tempo e a outra parte não cede em nada, e vc se considera ultrajado, não pode ser o primeiro ato. No caso, favoreceu Uribe, permitiu que ele radicalizasse e acusasse o Equador e a Venezuela de proteger as FARC, e isso numa momento em que a Colômbia estava em xeque, seria forçada a um veemente pedido de desculpas. Com isso, Chávez trouxe Uribe de volta para o combate. Além disso, ao chamar de volta o embaixador na Colômbia, Chávez faz com que nas negociações que irão ocorrer a partir de agora aumente as chances dele aparecer como perdedor porque ele necessariamente terá que fazer concessões. E antes certamente quem teria que fazer mais concessões seria a Colômbia. Chávez também erra ao chamar o embaixador de volta antes que o Equador fizesse. É legítimo Chávez defender um aliado, mas ao tomar a frente Chávez cria um problema para o Equador que aparece como estando sendo tutelado pela Venezuela, e isso não é bom. A influência de um país sobre o outro sempre deve ser disfarçada para que a subordinação não apareça como um fardo para o país fraco. No lógica de Hugo Chávez falta estratégia e planejamento, e sobra ações impulsivas fundadas apenas em princípio e não na defesa de interesses concretos. E assim Chávez erra quando não seria necessário.
É equivocado pensar que Chávez está estimulando conflito para recuperar popularidade na Venezuela. É preciso separar o apoio ao governo Chávez do resultado do referendo sobre a Constituição. Basicamente o que foi derotado no referendo foi a proposta de reeleições ilimitadas e não o conjunto da reforma constitucional e nem o governo Chávez.
Hugo Chávez ganharia mantendo relações com a Colômbia e continuando as negociações com as FARC para a libertação de reféns gerando um constrangimento tanto para o governo colombiano quanto para o governo americano que teriam que assumir que para resolver problemas por aqui eram obrigados a aceitar a intermediação de Chávez. Assim a radicalização de Chávez na questão equatoriano o enfrequece e fortalece seus adversários.
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