É irônico que depois de décadas de liberalização dos mercados financeiros em função do domínio da retórica neoliberal, a solução da crise hipotecária passe pela profunda intervenção do Estado no mercado. A diferença é que nossos amigos liberais irão assumir a dívida para salvar os bancos e não fazer um intervenção nos bancos propriamente dito. Então ainda será uma intervenção neoliberal. Mas isto mostra que no âmbito do capitalismo não há alternativas, a solução para crise liberal é o aumento da intervenção do Estado. E a solução para a crise do Estado é a liberalização. Não há outra possibilidade, o que esvazia toda a discussão ideológica sobre mais ou menos Estado. Há na prática um movimento cíclico, que ocorre independente de liberais e intervencionistas. E é interessante como nestas horas os economistas liberais desaparecem. Também deve ser notado que a solução proposta não difere em nada teoricamente da solução que a Argentina deu para sua própria dívida. A diferença é que a Argentina não tinha ninguém para assumir a dívida por ela, então simplesmente deu calote. Ou seja, em escala mundial falta um emprestador em última instância de jure, que posso encaminhar soluções para além da legalidade estrita. Como não há, só resta utilizar da soberania. Coisa que o Brasil, por exemplo, preferiu não fazer. Também será engraçado ver os EUA produzirem uma profunda intervenção na economia, enquanto o Brasil mantém o seu discurso ortodoxo. É como já dizia Marx, a ideologia dominante é a ideologia da classe dominante. O problema é que a classe dominante usa estas idéias de acordo com as circunstâncias, enquanto os dominados acreditam realmente nas ideologias. O Brasil deveria aprender com o neoliberal Bush e intervir na economia antes que a valorização do real jogue a economia num novo colapso. A ocorrência da crise no Brasil é sempre uma questão de quando, nunca sobre se ocorrerá, então todo governo que se preze deve trabalhar para prevenir a crise e se preparar para a crise. É ao ignorar isso que o governo Lula copia o pior do governo FHC.
21/03/2008 - 16h01
Governo Bush estuda "intervenção radical" para aliviar crise hipotecária
Washington, 21 mar (EFE).- O secretário de Habitação e
Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos, Alphonse Jackson, propôs
ao presidente do país, George W. Bush, uma "intervenção radical"
para aliviar a crise vivida por donos de imóveis que não conseguem
pagar suas hipotecas, afirmou hoje o diário "The Washington Times".
"Propus que asseguremos de 80% a 85% do empréstimo dos
proprietários que estão em dificuldades", disse Jackson, ao
referir-se aos imóveis cujo preço de mercado ficou abaixo do
montante nominal do empréstimo hipotecário.
Desde o início de 2007 os preços das casas caíram em média 10% em
todo o país, com prejuízos ainda maiores sendo registrados em
cidades como Miami (Flórida) e Las Vegas (Nevada).
Em geral, as hipotecas não podem ser refinanciadas quando o preço
da propriedade no mercado fica abaixo do montante nominal do
empréstimo, e esta é a razão principal pela qual milhares de pessoas
decidiram deixar de lado as casas que estavam comprando.
Esta semana, o Governo Bush, em outro passo intervencionista na
crise dos mercados financeiros causada pelas hipotecas de alto
risco, autorizou injeções de até US$ 200 bilhões no mercado.
http://economia.uol.com.br/ultnot/efe/2008/03/21/ult1767u116440.jhtm
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