"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 19 de maio de 2007

Não acredito no que vou dizer!

Não acredito que irei recomendar que alguém leia Luiz Carlos Bresser-Pereira, mas farei isso, o que ele diz na entrevista abaixo puclicada na Folha é bastante pertinente.

19/05/2007 - 20h35

Para Bresser, Brasil deve crescer pouco

CRISTIANE BARBIERI

da Folha de S.Paulo

O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira lança, nesta semana, o livro "Macronomia da Estagnação". Resultado de sete anos de pesquisas sobre a economia brasileira, o livro faz sérias críticas ao modelo que orientou a política econômica brasileira nos últimos anos.

Bresser propõe em seu livro o que chama de "terceiro discurso". O novo desenvolvimentismo, como foi batizado, seria um modelo intermediário entre a ortodoxia "ditada pelo Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial para os países em desenvolvimento" e o velho desenvolvimentismo, baseado na forte intervenção do Estado na economia.

Para ele, o Brasil vive hoje "numa armadilha, um ciclo vicioso formado pelos juros altos, baixa taxa de câmbio e ajuste fiscal frouxo". Ele recebeu a Folha para a seguinte entrevista:

Folha - O que é o novo desenvolvimentismo?

Luiz Carlos Bresser-Pereira - É um terceiro discurso entre a ortodoxia convencional e o velho desenvolvimentismo. A ortodoxia é o conjunto de diagnósticos, recomendações e pressões que os países ricos, por meio do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, fazem aos países em desenvolvimento. Já o desenvolvimentismo era baseado na forte intervenção do Estado na economia, que o Brasil não precisa mais. O país ainda precisa de política industrial mas, o essencial, é ter uma estratégia nacional de desenvolvimento, o novo desenvolvimentismo.

Folha - O segundo mandato do governo Lula está dando passos nessa direção?

Bresser - Estou mais otimista e esperançoso em relação ao segundo governo Lula. Ele montou um ministério competente. O ministro da Fazenda [Guido Mantega] é muito melhor do que o primeiro ministro, não tem comparação. No BNDES, temos o Luciano Coutinho e, no FMI, o Paulo Nogueira Batista, excelentes economistas. O PAC não resolve nossos problemas mas é um passo correto.

Folha - Por que não resolve?

Bresser - Porque o que não fizemos ainda foi mudar a política macroeconômica. Esse é o tema fundamental do livro, que está todo organizado em cima da taxa de câmbio, da taxa de juros, da taxa de inflação e do ajuste fiscal.

Folha - As tão faladas reformas estruturais não são essenciais para o crescimento mais vigoroso?

Bresser - Elas são importantes, mas não é por falta de reformas que o Brasil não está crescendo. Estamos fazendo reformas como devem ser feitas,graduais. O Brasil não cresce porque não consegue uma verdadeira estabilidade macroeconômica.

Folha - Como assim?

Bresser - A ortodoxia define estabilidade macroeconômica como estabilidade de preços. Ganhamos muitos elogios vindos do Norte por isso mas, o fato de estarmos quase estagnados há 27 anos não importa.

Folha - O que é, então, a estabilidade macroeconômica?

Bresser - É ter estabilidade de preços, taxa de juros moderada que garanta o equilíbrio fiscal, taxa de câmbio competitiva que garanta o equilibrio das contas externas e, finalmente, o pleno emprego. Hoje temos inflação controlada e, no momento, equilíbrio das contas externas. Mas estamos com sofrendo da doença holandesa que é incompatível como o equilíbrio das contas externas a longo prazo.

Folha - O que é a doença holandesa?

Bresser - É a doença que atinge os países produtores de petróleo ou que têm recursos naturais abundantes e baratos, como ferro e agronegócios, no Brasil. Chama-se doença holandesa porque, na década de 1960, foi descoberto gás de petróleo na Holanda e a taxa de câmbio começou a se valorizar. Com isso, perceberam que o país estava ameaçado de trocar a Philips, por exemplo, pelo gás de petróleo.

Folha - Por que?

Bresser - Porque países que sofrem da doença holandesa têm dinheiro, mas as indústrias que estejam utilizando tecnologia no estado da arte internacional são impedidas de serem competitivas por causa da apreciação do câmbio.

Folha - Qual foi a solução?

Bresser - Eles colocaram um imposto de exportação no gás e trouxeram a taxa de câmbio para patamares mais próximos do interesse de toda indústria.

Folha - Colocar um imposto em setores fortemente exportadores não vai contra tudo o que o país faz hoje? O barulho não seria enorme?

Bresser - Esse imposto causa um receio muito grande nos exportadores mas sem motivo. Atividades como mineração e agronegócio são muito importantes para o Brasil. São tecnologicamente sofisticadas, com empresários modernos e competentes. Se colocarmos um imposto de R$ 0,50 sobre uma taxa de câmbio de R$ 2, eles não perdem nada. Ao contrário, até ganham um pouco na venda de seus produtos com o câmbio valorizado. E toda a economia em geral ganha mais.

Folha - O senhor citou o caso da Holanda na década de 1960. Funcionaria nos dias de hoje, da economia globalizada?

Bresser - O Chile faz isso hoje com o cobre. Mas quem faz isso com maestria é a Noruega, que descobriu petróleo no Mar do Norte, 20 ou 30 anos atrás. O dinheiro do imposto de exportação foi colocado num fundo de títulos e ações internacionais. Assim, o dinheiro não entra na economia e não pressiona câmbio e inflação. Só o rendimento líquido desse fundo entra na Noruega.

Folha - Por que o senhor diz que o brasileiro é hoje um refém?

Bresser - Os brasileiros são reféns porque a ortodoxia ameaça o tempo todo: "se vocês baixarem os juros, a inflação volta". Mentira! Volta coisa nenhuma! Se fizerem o que proponho e isso envolve depreciação da taxa de câmbio, a inflação vai voltar um pouco, sim.

Folha - Mas isso não é arriscado?

Bresser - A inflação sobe um pouquinho e depois volta para baixo se os preços públicos forem desindexados.

Folha - Economistas dizem que suas idéias pertencem ao passado.

Bresser - Sei que vou ser chamado de nacionalista atrasado. Ser nacionalista é vestir a camisa do seu país. É entender que no mundo da globalização existe a possibilidade e a necessidade da cooperação entre povos e nações, mas que a regra fundamental é da competição.

Folha - O que isso significa?

Bresser - O capitalismo é baseado na competição não apenas entre empresas, mas também entre os Estados-nação. Se a globalização é uma grande competição, o desenvolvimento econômico é o sucesso dessa competição. Nós estamos fracassando miseravelmente há 27 anos. Estamos ficando para trás, para trás e para trás.

Folha - Por que?

Bresser - Com a crise dos anos 80, o Brasil perdeu a idéia de nação e voltou a aceitar uma estratégia dada pelos concorrentes, que não têm interesse em que sejamos bem-sucedidos.

Folha - Qual é a solução?

Bresser - Há países que estão crescendo extraordinariamente, como China, Índia, Malásia, Rússia e, agora, Argentina porque têm estratégias nacionais de desenvolvimento a seu modo, definindo sua taxa de câmbio, pondo juros a níveis civilizados, com ajuste fiscal e um pouco de política industrial.

Folha - No seu livro, o senhor diz que esses fatores levaram o Brasil a uma armadilha.

Bresser - O Brasil vive uma armadilha de altos juros, baixa taxa de câmbio e ajuste fiscal frouxo. O Brasil só voltará a crescer quando tiver taxa de juros moderada, câmbio competitivo e um ajuste fiscal para valer, como estão fazendo esses países.

Folha - Como romper esse ciclo?

Bresser - A coisa fundamental hoje para o Brasil é neutralizar a doença holandesa. Para isso, o câmbio tem de ser administrado, mantendo-o flutuante. Sou contra voltar o câmbio fixo, mas deve-se mantê-lo flutuante. Já se viu que a compra de reservas não é suficiente. Mas pode-se fazer com controle de entradas. Há países que têm feito isso sistematicamente. Não funciona 100%, mas razoavelmente bem.

Folha - Não é intervencionismo demais?

Bresser - Insisto muito na idéia de que hoje a intervenção que o Estado precisa fazer na economia é muito menor do que antes. O Brasil estava num outro estágio de desenvolvimento. Se você fizer uma política econômica decente, neutralizar a doença holandesa e alguma política industrial, também limitada, como nossos concorrentes fazem, a coisa funciona perfeitamente. O mercado é que vai coordenar a economia.

Folha - As palavras ajuste fiscal estão presentes em todo discurso de quem se identifica com as teorias das quais o senhor discorda. Por que o senhor diz que, no fundo, no fundo, eles não querem o ajuste fiscal?

Bresser - Não é no fundo, no fundo. É no raso, no raso mesmo. A ortodoxia não tem interesse em que o ajuste fiscal aconteça. Primeiro, eles não usam o conceito de déficit público porque inventaram o superávit primário, para esconder os juros. Mas é uma conta é simples. Para o Brasil zerar o déficit público teria de ter um superávit primário de 7,5% a 8% do PIB, que é o que ele paga de juros reais. No entanto, eles colocam como meta de superávit 4,25% e aceitam 3% a 3,5% de déficit público. Estão fazendo um ajuste frouxo. Para fazer ajuste duro, tem de cortar despesas corrente do Estado, mas tem de cortar os juros também.

Folha - É possível baixar as taxas de juros como o senhor propõe?

Bresser - Claro, só tem de fazer a reforma. O setor financeiro faz suas ameaças, dizendo que eles pararão de financiar o Estado e a dívida não rolará.

Folha - Que reforma?

Bresser - A reforma não é reduzir juros de uma hora para outras, mas determinar a suspensão definitiva da emissão de qualquer título pós-fixado. Os títulos que estão nos bancos continuarão sendo honrados, mas vão acabando e sendo substituídos por novos que não são pós-fixados.

Folha - Não haveria uma gritaria?

Bresser - Os investidores vão reagir no começo, mas eles não têm onde por o dinheiro e continuarão financiando o governo. Não há perigo.

Folha - Por que o senhor considera o câmbio o problema mais importante do Brasil?

Bresser - O câmbio se valoriza nos países em desenvolvimento por quatro razões. Uma, política, é que, valorizada, ela aumenta salário e facilita a reeleição dos governantes, enquanto não resultar numa crise. Outra é que a taxa de câmbio valorizada abaixa a inflação. Essas duas coisas, juntas, dão origem ao chamado populismo cambial.

Folha - Quais são as outras?

Bresser - Uma é a doença holandesa. Mas, a razão mais grave é a aceitação, pelos países em desenvolvimento, da política recomendada pela ortodoxia convencional de crescimento com poupança externa. A tese foi dita e repetida infinitamente no Brasil nos anos 90: que o país só poderia crescer se tivesse acesso à poupança externa. Isso é uma grande tolice. Quando você recorre à poupança externa pensa que está aumentando o investimento mas não, você está aumentando principalmente o consumo.

Folha - Como assim?

Bresser - Há uma alta taxa de substituição da poupança interna pela externa. No Brasil dos anos 90, essa taxa foi mais de 100%. É uma substituição total. É um desastre para o país.

Folha - O senhor diz que seu livro não foi escrito apenas para economistas. É comum em outros países a população entender tão a fundo teoria econômica?

Bresser - Quanto mais forte for o Estado, suas instituições e a organização do Estado que garante essas instituições, menos você precisa de governo. Na Suíça, por exemplo, imagino que o debate econômico deva ser muito pequeno porque as questões nacionais são garantidas pelo Estado. Já num país como o Brasil, o Estado ainda não está bem organizado, as instituições que o Estado garante e define não estão bem formuladas, de forma que o governo é muito decisivo.

Folha - É possível comparar o crescimento atual do Brasil com o da China? Ela não está vivendo agora um período bem-sucedido pelo qual passamos há muitos anos?

Bresser - Brasil e China estão em desenvolvimento, sua renda por habitante é muito menor do que os países ricos. Temos uma faixa empresarial importante, uma classe média grande e instituições razoáveis, mas deveríamos crescer a taxas bem mais elevadas para alcançarmos os países ricos.

Folha - Por que o senhor diz que o Brasil precisa ter um sentimento de nação para voltar a crescer?

Bresser - Uma nação é um grande acordo entre empresários, trabalhadores, classe média e os técnicos do governo, a burocracia pública e os intelectuais. Todos eles podem ter conflitos entre si, debates mas, quando se trata de competir internacionalmente eles estão juntos. E têm uma estratégia nacional para competir, portanto. Não é tudo escritinho, mas todos sabem para onde vão e como estão indo. O governo tem de criar condições favoráveis para ao investimento privado, ao mesmo tempo em que monta uma sociedade mais equilibrada, por meio de uma série de compromissos feitos entre os grupos. É isto que todos os países fazem e é isto que perdemos a capacidade de fazer no momento em que nos subordinamos à ortodoxia convencional. Aceitamos essa taxa de câmbio, essa taxa de juros e todos os elogios que recebemos todos os dias dos representantes de Washington, Nova York, Paris, Londres, Frankfurt. O que me interessa é voltar a crescer e este livro é uma tentativa de contribuir para o debate sobre esse assunto.

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