"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 21 de novembro de 2009

“Eu queria ser feliz, mas não sei como”

Uma aluna conversando comigo pelo msn escreveu “Eu queria ser feliz, mas não sei como”. Eu pensei, se eu tivesse a resposta, eu seria rico, não seria professor. Mas de fato, a questão da felicidade é um falso problema, pelo menos quando a pergunta feita é como ser feliz. É evidente que não há um como, porque a felicidade não pertence ao âmbito do ter ou do fazer ou do consumir. Na nossa sociedade procuramos reduzir toda a existência ao ter, fazer ou consumir. Os problemas são resolvidos através de uma receita pronta, é só fazer alguma, realizar uma ação que os problemas se resolvem. Ninguém quer viver a vida e seus problemas e dificuldades, quer resolvê-los como se a tristeza, a felicidade fossem coisas que se tratasse como uma máquina de lavar quebrada, chama o técnico e ele diz o que fazer para resolver o problema. Por isso, há tantas pessoas que lucram com revistas com receitas miraculosas, com simpatias, magias, livros de auto-ajuda, cursos. Estamos em um mundo louco onde as pessoas crêem que as dificuldades existem porque ela ainda não encontrou a receita para a solução do problema. Aparentemente, haveria um remédio para a vida que não seria a morte.  Hoje, as pessoas mudam de religião como trocam de roupa, a cada momento aparece uma novidade no mercado da fé para oferecer uma solução para o problema. Na medida em que as receitas fracassam, as pessoas vão passando de um produto para outro. A vida passa a girar em torno do consumo. A própria personalidade das pessoas passa a ser diferenciada pelos produtos que ela consome, pelas roupas que usa. Como a pessoa apenas busca fora dela as razões para viver, a existência aparece cada vez mais vazia e sem sentido. Mas não é a vida que é vazia e sem sentido é a própria pessoa. Vivemos uma era de empobrecimento espiritual, psíquico. As pessoas resumem os seus sentimentos em uma meia dúzia de palavras-chaves que explicam tudo. Quantas pessoas já responderam testes de revista para saber se está em depressão? E quantas tiveram como resultado que não está em depressão? A depressão existe e uma doença séria, mas hoje, tudo é depressão, a depressão explica tudo. Qualquer coisa, a pessoa diz que está deprimida, e isso lhe poupa de conhecer a multiplicidade de sentimentos que convivem no seu interior, bloqueia o crescimento psíquico e espiritual. Há uma fuga do mundo e de si mesmo que impede que cada indivíduo assuma a responsabilidade pelo mundo e por si mesmo. É realista pensar viver num estado de harmonia permanente com o mundo que lhe é externo? É realista pensar numa satisfação permanente consigo mesmo e o mundo? Não é realista, e portanto pensar a felicidade nestes termos só aumenta a infelicidade e só nos joga na roda louca do mundo. É preciso sair dela, de forma consciente e racional, se a felicidade é possível, ela surge dos valores, dos princípios com os quais o indivíduo se relaciona com o mundo exterior. E não é algo permanente, mas algo a ser sempre conquistado, depende do conhecimento de si mesmo, do mundo, dos outros, conhecimento que permite mudar a sua visão de mundo. A maior parte das visões de mundo que adotamos impede que nos aproximemos da felicidade. Para voltar à minha aluna, depois de eu brincar com ela que problema de mulher era falta de marido, roupa para lavar e filhos para cuidar. Ela disse que às vezes pensava que casar a faria feliz. Obviamente, eu disse que não era verdade, não havia relação entre as duas coisas. Ao contrário, esta visão de mundo na verdade não só a afasta da felicidade como provavelmente levaria um casamento dela ao fracasso. A construção de um relacionamento é um processo árduo, trabalhoso. Esperar a felicidade como resultado automático de um relacionamento só pode resultar em frustração e fracasso. Neste sentido entendo como lapidar a seguinte afirmação de Erich Fromm: "A fé na vida, em si próprio, nos outros deve ser construída sobre a pedra sólida do realismo. Isto quer dizer, com a capacidade de ver maldade, onde ela está, de ver o embuste, a destruição, o egoísmo, não somente quando for óbvio, mas em seus vários disfarces e racionalizações. De fato, fé, amor e esperança devem caminhar juntos com tamanha paixão de ver a realidade com toda sua nudez, que o estranho ficaria propenso a chamar esta atitude de "cínica". E ela é cínica quando nós pretendemos com isso a recusa em sermos conduzidos às mentiras suaves e plausíveis que encobrem quase tudo o que é falado e acreditado. Porém, esta espécie de "cinismo" não é cinismo, é ser intransigentemente crítico, uma recusa em participar de um jogo num sistema de decepção." Apenas sobre uma visão realista e crítica do mundo, mas esperançosa, se pode construir um projeto de felicidade pessoal e social. Uma visão idílica, romantizada, infantil da vida nos idiotiza enquanto indivíduos e nos paralisa, nos deprime periodicamente por não permitir termos um desenvolvimento psíquico, intelectual e espiritual suficiente para lidar com o real, especialmente em todas as esferas da vida. Veja que idealizamos mesmo a política, quando dizemos que todos os políticos são ladrões e não há o que fazer, nos colocamos como quem esperava que a honestidade fosse resultado de um processo natural e não produto da nossa própria ação, assumimos postura passiva. Como passivos são os relacionamentos relâmpagos, os quais começam sempre como se fossem um grande amor e depois sucumbem por não conseguir manter no plano ideal sem qualquer esforço tenha sido feito, sem sacrifício. De fato, é preciso ser realista e crítico, para compreender que a felicidade, a mudança para algo melhor envolve sacrifício e sofrimento, e é preciso aceitar e enfrentar isso. Qualquer tentativa de fuga desta realidade é uma fuga da possibilidade de ser feliz e de mudar o mundo.

Nenhum comentário: