"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Brasil e Honduras

Independentemente do resultado que aponta para uma vitória dos golpistas apesar da derrota eleitoral dos mesmos (e de fato desconfio do candidato vencedor apesar de não ser do partido dos golpistas), o Brasil tomou a decisão acertada.

1. O Brasil é uma potência emergente, incensado pela imprensa, teria todo interesse em agir como a China e não fazer uma defesa de valores no sistema internacional, olhar apenas para os seus interesses econômicos e geopolíticos. Mas o Brasil mostrou que ainda que as relações internacionais sejam pautadas por interesses, há momentos em que os interesses devem ser deixados de lado para uma defesa de valores que são importantes, defender o princípio da democracia no América Latina é um valor importante, e compensa deixar de lado os interesses materiais para reafirmar este valor quando ele está ameaçado. O Brasil não é um grande potência, não deve se comportar como tal, passando por cima de qualquer valor. Este comportamento poderia se voltar contra seus interesses nas relações com os vizinhos.

2. Ao contrário do que diz a imprensa o Brasil não defendeu Manuel Zelaya, o Brasil defendeu um princípio. E neste caso não apenas a democracia, mas a idéia que um nacional não pode ser expulso de seu próprio país. Agora mesmo um dos líderes da luta pela independência do Saara Ocidental foi expulso do Marrocos, enviado para as Ilhas Canárias, e a Espanha defendeu os seus direitos? Não! Caso Zelaya tivesse sofrido um processo de impeachment legalmente sustentado não seria uma questão brasileira.

3. Nunca esteve em questão a incapacidade do Brasil impor uma solução em Honduras. O Brasil não mantém relações políticas e econômicas densas com Honduras para tenha condições de fazer pressão a ponto do governo de turno ceder diante da ação brasileira. O Brasil sempre dependeu da ação internacional, da cooperação internacional para encaminhar uma solução para a questão de Honduras. De fato sempre dependeu que os EUA se sentissem pressionados a atuar em favor da solução brasileira.

4. Aí aparece um erro da diplomacia brasileira. O Brasil acreditou em Obama. De fato pareceu ao Brasil que Obama não apenas representava a esperança, mas representaria de fato um novo momento nas relações entre os EUA e a América Latina. É possível que o próprio Obama em determinado momento no início da crise hondurenha tenha acreditado nisso. Mas logo foi enquadrado pelo establishment que domina e define a política externa norte-americana para a região. Se o Brasil não tivesse acreditado em Obama poderia ter pensando em alternativas de saída que não estivessem baseadas na “bondade” americana, poderia ter envolvido mais organizações internacionais como as Nações Unidas; poderia ter buscado mais apoio nos países da América Central. Evidentemente Oscar Árias é um aliado fiel dos EUA desde os anos 80, mas ele é muito mais vulnerável a pressão dos que os EUA, o Brasil poderia ter buscado uma aproximação da Costa Rica e pressionado o presidente Oscar Árias para apresentar um plano mais condizente com as demandas de democracia na América Latina, isso representaria uma pressão maior sobre os EUA. Se reconhecessem que Obama é apenas mais do mesmo, o Brasil poderia ter buscado o apoio do México. O México vive um período de ostracismo internacional, poderia ter interesse em afirmar sua presença na América Central atuando no caso. O México, apesar de recentemente ter praticamente um aliado incondicional dos EUA, ao longo do tempo manteve um discurso de política externa compatível com uma ação em defesa da democracia na região, o Brasil deveria ter mobilizado o México.

5. A irrelevância de Honduras no sistema internacional desde o início jogou a favor dos golpistas, quem se interessa pelo que se passa em Honduras? Qual país, grupo, movimento social estaria disposto a se sacrificar e realizar uma mobilização de longo prazo para defender a democracia em Honduras? Quem vai se preocupar se o presidente de Honduras é A, B, C ou D? Os países da região e ainda assim por pouco tempo, o que também favorece que mais cedo ou mais tarde as eleições realizadas em Honduras sejam aceitas.

6. Obama já teve vários momentos para demonstrar que representaria uma mudança na política internacional dos EUA. Não conseguiu demonstrar isso em nenhum caso. E teoricamente´é muito mais difícil alterar a política para a China, o Oriente Média, o Iraque, o Afeganistão  do que para Honduras. Se Obama não é capaz de alterar a política externa americana para Honduras, Obama não é capaz de alterar a política externa americana.

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