"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 2 de fevereiro de 2008

As pessoas mudam? Podemos mudar os outros?

Por incrível que pareça as pessoas mudam. Posso atestar isso. Entretanto, as pessoas não mudam por causa de outras nem mudam simplesmente porque querem mudar. E evidentamente não mudam quando tomam a decisão de mudar. Tenho uma prima que irei chamar de criatura que todo mundo sempre ficava aconselhando a criatura a mudar. Mudar tudo praticamente, não adiantava nada. Uma dia ela começou a dizer que agora tinha mudado, que fazia isso, fazia aquilo, se comportava assim e assado. E veio me falar isso. Ah Corival agora eu mudei. Como todos imaginam, eu respondi com o meu entusiasmo costumeiro: "Nada disso, criatura, vc está falando que mudou, pode estar querendo mudar, mas só daqui uns 10 anos é que a gente vai saber se vc mudou mesmo, se vc tiver mudado, aí eu vou chegar pra vc e dizer nossa criatura, como vc mudou, sem vc precisar dizer nada. Quando vc diz que mudou vc está é querendo mudar a imagem que as pessoas têm de vc, mas não mudou nada ainda." Claro que não foi um grande estímulo para a mudança dela, mas eu disse a verdade. Os dez anos não se passaram e aquels pretensas mudanças não se consolidaram in totum. Houve algumas melhoras, mas com recuos periódicos e a intenção de mudar já não é mais firme. Eu digo que quando conheço alguém não me interesso pelas qualidades, ora é óbvio que se vc olhar para as qualidades da pessoa, vc vai gostar dela. Eu olho para os defeitos, o que me interessa nas pessoas são os seus defeitos, porque para decidir sobre se uma pessoa é boa para ser minha amiga ou não são os defeitos que importam. A pergunta essencial é, gosto da pessoa com esses defeitos? Sou capaz de conviver com esta pessoa com ela mantendo estes defeitos para sempre? É o tipo de defeito que eu suporto? Estes defeitos podem me prejudicar? Ora, pode parecer estranho, mas são as questões importantes, porque em princípio o que atrapalha a relação entre as pessoas são os defeitos que cada uma tem. É preciso ver como os defeitos se encaixam. Se ao conhecer uma pessoa e ao pretender tê-la como amiga, namorada ou o que for o seu pensamento for que para isso a primeira coisa que vc deve fazer é mudá-la, siga em frente, não traga a pessoa para a sua vida, não a atormente criando nela uma necessidade de mudar, um conflito. Porque toda pessoa padece de um grande problema, espera corresponder a expectativa das outras. Então ao tentar mudar alguém vc estará criando um problema para pessoa, criando uma necessidade que ela não identificava, e aí ele nunca vai conseguir atingir nem as suas expectativas nem os dos novos anseios que vc introjetou nela. Os dois serão infelizes. Óbvio, como bom pessimista diria que de todo modo os dois serão infelizes, mas com a demanda por mudança a infelicidade aumenta porque vem acrescentada de inconformismo com o que se é. A mudança que gera frutos e se sustenta é que surge por demanda da própria pessoa, quando ela identifica que mudando pode ficar mais satisfeita consigo mesma, o que não quer dizer que as relações com os outros irão melhorar, ao contrário, em geral se complicam. Toda pessoa que efetivamente muda se sente um estranho no ninho, porque os outros de suas relações continuam esperando as mesmas respostas anteriores. Então mudar é algo difícil e doloroso. Por isso, em geral, as pessoas apenas mudam de fato e rapidamente sob o impacto de circunstâncias externas muito dramática. Um câncer aos 25 anos. Ver o pai ser assassinado. A morte de um filho. As tragédias obrigam as pessoas a assumirem um novo posicionamento frente à vida. Então nestes casos, sempre há mudanças (mesmo que não sejam para melhor). Então as pessoas mudam, e são mudadas pelas tragédias, mas não são mudadas pelas outras. Então quem pensa que deveria tentar mudar alguém, deveria pensar se a o certo não seria mudar a si mesmo para aceitar o outro como ele é. A estrutura mental a qual vc tem acesso é a sua, então é apenas ela que vc pode mudar, em relação aos outros vc pode apenas tornar a vida deles mais miserável tentando mudá-los.

Uma outra prima adolescente veio conversar comigo e disse que pagar um psicólogo era pagar para ter um amigo, então era pra quem não tinha amigos. Aí eu disse para ela: "Nada disso. Uma diferença básica é que o seu amigo vai julgar os seus sentimentos, vai dizer vc não pode sentir isso, sua vida é tão boa, vc deveria era ficar feliz. E se vc continuar sentido as mesmas coisas perde o amigo. O psicólogo, não. O psicólogo é alguém pra quem vc pode dizer que odeia a sua mãe e ele vai considerar isto normal." Ou seja, o amigo não vai te ajudar a mudar, porque ele não te aceita como vc é. O psicólogo contribui para a sua mudança pelo simples fato de te aceitar como vc é, e por reconhecer que qualquer coisa que vc  venha a ser só pode ser construída a partir daquilo que vc é. Pais, amigos, irmãos, namarados, esposos, etc., se partissem desse mesmo pressuposto tornaria a relação muito mais suave e construtiva. Sempre que alguém quer definir o que o outro deve ser a relação é maculada.

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