Dois eventos esta semana me deixaram saudosista. Em primeiro lugar ter ido à colação de grau festiva da turma de relações internacionais que conclui o curso no segundo semestre de 2007. Descobri que ainda vai demorar para eu ficar insensível em formaturas. Em primeiro lugar, porque gostei muito da minha. A minha colação de grau foi perfeita. E claro, antes que algum aluno/amigo se manifeste, pela linda homenagem do ano passado.
Acho que já contei sobre a minha formatura, mas irei recontar. Fiz questão de fazer parte da comissão de formatura para que a formatura tivesse um pouco a minha cara, e foi ótima. Primeiro, porque ocorreu no auditório do Senado Federal. As formaturas dos cursos de relações internacionais e ciência política ocorriam, naquela época, no auditório do Itamaraty (agora todas ocorrem na horrível tenda da UnB), mas eu detestava o auditório, um auditório, escuro, feio. Então, como o pessoal de ciência política era sempre insatisfeita das formaturas ocorrerem no Itamaraty o que demonstrava um predomínio do curso de relações internacionais, apoiei a idéia deles de fazer em outro lugar, e no caso decidimos que seria o Senado. Só havia um problema, o Senado havia proibido este tipo de evento lá. E para conseguir seria necessário conseguir uma autorização por parte do primeiro-secretário na época, senador Ronaldo Cunha Lima. Uma das formandas em ciência política era do Maranhão e a família dela era próxima do senador Edson Lobão. Então através do senador Edson Lobão conseguimos que o fosse liberado o auditório do Senado. Em retribuição agradeceríamos no convite de formatura aos dois senadores, mas esqueci disso, e aí só no discurso de formatura que eu agradeci aos dois.
Duas figuras lapidares morreram no ano que me formei. Darcy Ribeiro que foi fundador da UnB e Ruy Mauro Marini, teórico da dependência e professor do REL. Então alguns colegas sugeriram que dêssemos o nome do Darcy Ribeiro à turma, fui contra porque muita gente na UnB faria o mesmo. Outros nomes rotineiros, como Rui Barbosa, foram sugeridos. Ruy Mauro Marini seria um bom nome, mas não seria vencedor. Então eu sugeri Theotonio dos Santos. Theotonio dos Santos é também um dos pais da teoria da dependência, era professor apossentado do REL e ainda estava (e está) vivo. E para ganhar na votação ainda garanti que eu conseguiria trazê-lo para a colação de grau. Na véspera da formatura uma colega veio conversar comigo (ela tinha defendido outro nome) para me tranquilizar dizendo que se ele não viesse não haveria problema, ninguém ficaria chateado. Mas ele foi na formatura. Ainda organizamos uma palestra com ele na UnB para aquele período o que reduziu os custos da viagem para ele, e isso permitiu que eu lesse em primeira mão os textos que estão no livro Teoria da Dependência: balanço e perspectivas.
Para paraninfo nós convidamos o professor Cristovam Buarque, hoje senador e na época governador do DF, ele não só aceitou como compareceu. E eu ainda atrasei o início da cerimõnia para esperar uma amiga minha e dei um chá de cadeira no governador apesar da chateação de professores para começar logo, porque ele foi pontual e teve que ficar escondido para chegar só quando fosse começar, sendo o governador, pelo protocolo, ele não poderia entrar no recinto e aguardar que outra pessoa chegasse para a cerimônia começar. O Cristovam Buarque falou maravilhas sobre o meu discurso, inclusive levou a minha cópia, e disse que todos deveriam pedir uma cópia. E apesar desta bajulação quando ele foi candiato a presidente eu não votei nele, mas minha família votou.
Além disso na minha formatura teve outro fato que me deixou bastante contente, recebi uma homenagem surpresa dos demais formandos pela minha atuação na comissão de formatura. Então foi um dia radiante. Terminei o dia extremamente otimista.
O ano passado, ano em que completou dez anos da minha colação de grau, recebi uma homenagem linda da turma que concluiu o curso no final de 2006. Novamente uma homenagem supresa, porque eu não era o professor oficialmente homenageado, com direito à faixa e discurso, e presentes, garrafas de água como a que eu sempre levava para a sala. Este ano, oficialmente homenageado, não havia como não entrar no clima de formatura já que formaturas só me trazem boas lembranças. E no discurso este ano comecei citando o meu blog e a minha pesquisa sobre as razões que levam alguém a cursar relações internacionais.
Outro momento de saudosismo ocorreu nesta quarta-feira conversando com o cônsul da Venezuela em São Paulo que veio fazer uma palestra no Unibero. Lembrei também da UnB, da Rel Júnior e do professor Galvão. A Rel Júnior é a empresa júnior de relações internacionais que criamos na UnB. Através da Rel Jr conheci o professor Galvão que trabalhava na área internacional da reitoria e tinha bom trânsito com diplomatas estrangeiros e adorava recepções diplomáticas. O primeiro evento que rpomovemos com ele foi levar um diplomata da República Tcheca para falar sobre a divisão da Tchecoslováquia. E logo no meu primeiro evento descobri que não podia contar com presença voluntária, havíamos colocado cartazes em toda FA, mas a sala estava vazia. Tive que cassar público nas salas de aula. Na UnB, as aulas não param para eventos, as coisas ocorrem simultaneamente, o aluno escolhe. Foi constrangedor, mas consegui público. Através do professor Galvão, um amigo e eu nos aproximamos da Representação de Taiwan no Brasil, que ficava na SCRN 714. Organizamos um seminário com o representante de Taiwan na UnB. O representante seria o embaixador caso o Brasil reconhecesse Taiwan como Estado soberano. Como o país não é reconhecido, eles dão enorme atenção a quem se interessa por eles. Almoçamos várias vezes com eles, nos deram vários livros de presentes, moedas comemorativas, e uma borboleta de ouro. Também fomos jantar na casa do representante de Taiwan no Lago Sul. Tive que comer coisas que eu não gostava. Duas coisas interessantes, os convidados foram distribuídos em várias mesas e com lugar marcado e com pessoas que vc não conhecia para obrigar a conhecer, felizmente eu fiquei na mesa do senhor Chang que era o segundo na hierarquia da representação e que era muito engraçado. Ele era engraçado sem querer ser engraçado, era o jeito dele mesmo que era engraçado. E nesse dia ele ainda levou uma bebida típica deles pra mesa que ele queria que todo mundo virasse o copo e bebesse de uma vez, obviamente eu fiz isso uma vez e só, mas ele continuou então no fim estava mais engraçado ainda. Outro fato curioso é que no convite trazia o horário de início e término do jantar. Quando deu o horário de término, o representante se levantou e começou a se despedir das pessoas para elas irem embora. A partir destes contantos o meu amigo chegou a ganhar uma viagem para conhecer Taiwan. Também fui fazer uma visita a alguns diplomatas da embaixada da China com o professor Galvão, mas eles eram mais fechados, conversaram menos. Também fui em ventos da embaixada do Irã, foi a primeira vez que comi caviar e detestei, nunca mais, realmente não gosto de nada que venha do peixe ainda que seja caro. Fui também num evento da embaixada da Hungria que eu já citei aqui no blog há algum tempo quando coloquei as frases de poetas húngaros que eu anotei, era a inauguração de uma exposição de fotografias de cemitérios húngaros e abixo de cada foto colocaram trechos de poesias húngaras, lamentei não ter levado papel, só pude anotar as frases que couberam no extrato bancário que estava na minha carteira. E ainda participei com o professor Galvão da articulação de uma candidatura de um professor da Faculdade de Educação para reitor. Mas logo a Rel Jr entrou em crise e eu me cansei destas coisas. Foi uma das experiências que me ajudaram a perceber que eu não gostaria de ser diplomata.
Nesta história de Taiwan nós conhecemos muita gente, entre elas, o mestre Wu, mestre em Tai Chi Chuan. Eu morava na 103N e o mestre Wu morava na 105, entre a SQN 104 e a SQN 105 há um espaço aberto gramado, uma quadra esportiva. E lá o mestre Wu dava aulas gratuitas de Tai Chi Chuan as 06 ou 06:30hs da manhã. E o inacreditável é que ele me convenceu a ir lá participar. Acordar de madrugada para fazer Tai Chi Chuan. Ele era especialista nestas coisas orientais, uma vez eu fui fazer acunputura com ele. Não adiantou eu insitir em pagar e deixar o cheque lá, ele não queria receber e nunca depositou o cheque em gratidão pela homenagem que havíamos feito a Taiwan. Aí também não voltei mais lá porque fiquei com vergonha.