"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 6 de abril de 2008

Do mercado para os braços do governo: o movimento pendular do capitalismo

LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Governos intrometidos


O Fed e seus pares não têm outra alternativa: é preciso "pensar o impossível" e conter a contração do crédito


JÁ DISSE o historiador Eric Hobsbawn: desde o final dos anos 1970, os ideólogos proclamavam que "era preciso terminar com tudo aquilo". A palavra de ordem era desarticular os controles sociais e políticos criados para "administrar" o capitalismo pós-Grande Depressão dos anos 30. A crise financeira atual exibe as dissonâncias do "grande desmonte", prelúdio à utopia dos mercados financeiros auto-regulados, peça de ficção ensaiada pelos fanáticos do livre mercado.
Na segunda metade do século 20, o sucesso das intervenções governamentais amainou a severidade das flutuações econômicas e suscitou hipóteses otimistas a respeito do controle do ciclo econômico. O economista Hyman Minsky escreveu, em meados dos anos 1980, que "a economia e os mercados financeiros (na crise de 1974/75) mostraram grande resistência à deflação cumulativa de preços dos ativos e ao risco de uma depressão profunda. Os choques foram absorvidos, e suas repercussões, atenuadas."
Ao prometer a salvação sem castigo a inocentes e a pecadores, os governos intrometidos fortaleceram a fé na eficiência dos mercados e, melhor, promoveram o ganho sem risco. Ao longo dos últimos 30 anos, a complacência disseminou-se entre bancos, empresas e consumidores.
O moral hazard chegou ao clímax quando Greenspan reduziu rapidamente a "policy rate" para abortar a crise da Nova Economia e impulsionar mais um ciclo de crédito nos EUA. Os preços dos imóveis residenciais foram às alturas. A valorização das casas impulsionou o endividamento acelerado das famílias, insaciáveis no apetite por consumo.
Os economistas divergem sobre a profundidade e o alcance dos problemas criados nos mercados de hipotecas e seus derivativos. Os pessimistas já formam um contingente majoritário no mercado de opiniões.
Uma conjugação de fatores adversos pode levar a uma recessão mais prolongada, devido aos "ajustamentos" viciosos entre a desvalorização da riqueza, a tentativa das famílias de reduzir o endividamento cortando os gastos e a subseqüente queda na renda e no emprego.
A curto prazo, o Fed e seus pares no mundo desenvolvido não têm outra alternativa: é preciso "pensar o impossível" e conter a qualquer custo a contração do crédito. É a moral "hypocrisy" em seus melhores momentos. Bernanke ultrapassou o mandato do Fed e, no afã de impedir a deflação de ativos, cuidou de organizar a salvação do Bear Stearns.
Diante da continuada desvalorização do dólar, há quem augure para os EUA de hoje destino semelhante ao da Inglaterra no entre-guerras.
Analogias históricas são perigosas.
Conservadores ilustrados, como Martin Feldstein, por exemplo, entendem que é necessário rediscutir o sistema monetário internacional.
Propõe que a reforma contemple a redução do papel do dólar como moeda de reserva, sua substituição progressiva por um sistema plurimonetário. Recomenda ressuscitar a proposta européia da chamada "conta de substituição". Discutida na reunião do FMI em 1979, foi rejeitada por Volker, que reafirmou o poder do dólar ao impor ao mundo uma elevação brutal da taxa de juro.


LUIZ GONZAGA BELLUZZO , 65, é professor titular de Economia da Unicamp. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).

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