"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 5 de abril de 2008

De Antônio Gramsci: os indiferentes!

Como um dos meus alunos se deu o trabalho de digitar o texto para colocar no blog dele, eu irei aproveitar e colocar aqui também. O texto faz parte do primeiro volume das obras complestas de Gramsci editadas pela Civilização Brasileira. Acho um desperdício editar as obras completas de Gramsci no Brasil se não temos ainda a de Marx, ou Lukacs e muitas outras. Mas no caso, o texto é interessante e se casa bem com o que identificamos na sociedade dominada pelo pós-modernismo. A indiferença é a outra face do comodismo, do consumismo, do privatismo, da impotência e da desesperança. Ficar indiferente é anormal, não é o comportamento humano, ficamos indiferentes quando já estamos nos degradando, quando a nossa humanidade já está se bestializando. Aí naturalizamos o sórdido, o mal para não termos que fazer nada a não ser assistir a vida. Num mundo onde cada vez mais as forças impessoas dominam e comandam os processos socias maior tende a ser a indiferença, porque já não nos responsabilizamos pelo o que o mundo é.

E colocar este texto aqui me cria um problema que é escolher em qual categoria classificar, vou colocar marxismo, mas a minha sofrerá muito com isso. Porque se Gramsci é marxista, Marx certamente não pode ser.

Segue o texto de Gramsci:

Indiferentes
Odeio os indiferentes. Creio, como Friedrich Hebbel, que “viver é tomar partido”. Não podem existir os que são apenas homens, os estranhos à cidade. Quem vive verdadeiramente não pode deixar de ser cidadão, e de tomar partido. Indiferença é abulia, é parasitismo, é covardia, não é vida. Por isso, odeio os indiferentes. A indiferença é o peso morto da história. É a âncora que paralisa o inovador, a matéria inerte onde se afogam freqüentemente os mais esplêndidos entusiasmos, o pântano que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, já que traga em suas areias movediças os que a combatem e os dizima, os desencoraja e, muitas vezes, os faz desistir do empreendimento heróico.
A indiferença atua poderosamente na história. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade, aquilo com que não se pode contar; é o que abala os programas, inverte os planos mais bem construídos; é a matéria bruta que se rebela contra a inteligência e a destroça. O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de valor universal) pode gerar, não se deve tanto à iniciativa dos poucos que atuam quanto à indiferença, ao absenteísmo dos muitos. O que acontece não acontece tanto porque alguns querem que aconteça, mas sobretudo porque a massa dos homens abdica de sua vontade, dedicando que outros façam, que se formem os nós que depois só a espada poderá cortar, que se promulguem as leis que depois só a revolta fará ab-rogar, que subam ao poder os homens que depois só um motim poderá derrubar. A fatalidade que parece dominar a história não é mais, precisamente, do que a aparência ilusória dessa indiferença, desse absenteísmo. Fatos amadurecem na sombra, poucas mãos (não submetidas a nenhum controle) tecem a rede da vida coletiva – e a massa ignora, porque não está preocupada com isso. Os destinos de uma época são manipulados de acordo com pontos de vista estreitos, com finalidade imediatas, com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos ativos – e a massa dos homens ignora, porque a ela nada disso importa. Mas os fatos que amadureceram terminam por vir à tona; e a rede tecida na sombra se conclui – e, então, parece que é a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não passa de um enorme fenômeno natural, uma erupção, um terremoto, do qual todos são vítimas, e os que quiseram e os que não quiseram, os que sabiam e os que não sabiam, quem foi ativo e quem foi indiferente. E este último se irrita; gostaria de escapar das conseqüências, gostaria de que ficasse claro que ele não quis, que não é responsável. Uns se lamentam piedosamente, outros blasfemam obscenamente, mas nenhum ou só poucos se perguntam: se eu também tivesse cumprido com meu dever, se tivesse buscado pôr em prática minha vontade, minha opinião, teria ocorrido o que ocorreu? Mas nenhum ou só poucos se culpam pela própria indiferença, pelo próprio ceticismo, por não ter dado seu apoio e sua atividade aos grupos de cidadãos que combatiam precisamente para evitar aquele determinado mal, que se propunham obter aquele determinado bem.
A maioria deles, ao contrário, diante dos fatos consumados, preferem falar de ruínas dos ideais, de programas definitivamente fracassados e outras tolices do gênero. Voltam assim a não assumir qualquer responsabilidade. E não por não terem uma clara visão das coisas e, em alguns casos, por não serem capazes de projetar belíssimas soluções para os problemas mais urgentes, ou para aqueles que, mesmo exigindo ampla preparação e soluções permanecem belissimamente infecundas. Mas essa contribuição à vida coletiva não é animada por nenhuma luz moral: é produto de mera curiosidade intelectual, não do pungente sentido de uma responsabilidade histórica que quer que todos sejam ativos na vida, que não admite agnosticamente e indiferenças do tipo.
Odeio os indiferentes também porque me dão tédio suas lamúrias de eternos inocentes. A cada um deles peço contas do modo como enfrentam a tarefa que a vida lhe pôs e põe cotidianamente peço contas do que fizeram e, sobretudo, do que não fizeram. E sinto que posso ser implacável, que não preciso desperdiçar minha verdade, que não tenho por que compartilhar com eles minhas lágrimas. Tomo partido, vivo, sinto que já pulsa nas consciências viris do meu partido a atividade da cidade futura que estamos construindo. E, nela, a cadeia social não pesa apenas sobre poucos; nela, nada que sucede se deve ao acaso, à fatalidade, mas é obra inteligente dos cidadãos. Não há nela ninguém que fique olhando pela janela enquanto poucos se sacrificam, consumindo-se no sacrifício; ninguém que fique à atividade de poucos cria e que manifesta sua desilusão ofendendo o sacrificado, o que consumiu, porque este não teve êxito em sua tentativa.Vivo, tomo partido. Por isso, odeio quem não se compromete, odeio os indiferentes.

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