"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 19 de setembro de 2009

Le Monde diz que Lula acertou, crise foi uma marolinha

A recuperação do crescimento mundial depende do Bric

Le Monde

Jean-Pierre Langellier (no Rio de Janeiro)
Marie Jégo (em Moscou)
Julien Bouissou (em Nova Déli)

O presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), Ben Bernanke, celebrou do seu modo o primeiro aniversário da falência do banco de investimentos Lehman Brothers ao anunciar, na terça-feira (15), que a recessão econômica havia "provavelmente terminado" nos Estados Unidos.
No mesmo dia, confirmando suas declarações, o Departamento de Comércio americano divulgou que as vendas no varejo haviam subido 2,7% no mês de agosto, a maior alta desde janeiro de 2006. Se é sinal de que o consumidor americano recuperou um pouco do apetite, os economistas também concordam em dizer que a dona-de-casa do Texas não poderá mais exercer o papel de motor do crescimento da economia mundial, como acontecia há duas décadas. Chegou a hora do desendividamento e da poupança para os americanos. Também não é com a velha Europa, presa em seus problemas estruturais de dívida pública, de deduções de impostos obrigatórios recordes e de atraso tecnológico, que a economia mundial pode contar para recuperar seu dinamismo do passado.

É nos grandes países emergentes, o famoso Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) que a esperança recai hoje - a esperança que a fase de recuperação do atraso de seu nível de vida comparado aos países ocidentais continuará, ou até se acelerará. E que seus modelos de crescimento, até hoje muito baseados nas exportações, seja de camisetas ou de matéria-prima, cederão aos poucos o lugar a um novo modo de desenvolvimento, dando destaque à demanda interna.
Balanço das economias do Bric, um ano após a turbulência.
China
Com vendas de veículos em alta de quase 30% nos oito primeiros meses do ano, uma retomada contínua das importações de matéria-prima e uma Bolsa superaquecida, a China não dá a impressão de estar sofrendo com a crise mundial. A taxa de crescimento anual de 8% do PIB, objetivo inicial do governo para 2009, deverá ser atingida, declarou recentemente a Agência Nacional de Estatísticas.
A força do crescimento chinês se explica pelo mega plano de estímulo de 4 trilhões de yuans (cerca de R$ 1 trilhão) em dois anos anunciado no fim de 2008, fonte de um frenesi de investimentos em infraestrutura sem igual na história econômica mundial. Como emergência, o governo chinês ordenou aos bancos que abrissem todas as comportas de crédito. E após uma grande desaceleração em julho, os créditos voltaram a crescer em agosto.
Essa estratégia de estímulo com esteróides, que permitiu amortecer o choque sobre o desemprego e evitar que explodisse o caldeirão social, também tem desequilíbrios: parte do dinheiro dos bancos obviamente foi dirigido à especulação (bolsa, setor imobiliário, matéria-prima), enquanto futuras dívidas duvidosas/incobráveis se acumulam. Diversos economistas chineses reunidos nos dias 12 e 13 de setembro no Davos chinês, em Dalian, denunciaram que o modelo econômico chinês pende um pouco mais para o lado errado, o dos investimentos em detrimento do consumo.
Índia
Apesar da crise mundial que veio à tona há um ano, o crescimento indiano prosseguiu em um ritmo contínuo. Ele atingiu 6,7% no ano fiscal que termina em 31 de março de 2009, e deverá cair para cerca de 6% no exercício seguinte. A fraca monção deste verão, com metade do país atingido pela seca, explica essa ligeira queda. Com exceção da agricultura, todos os setores foram poupados pela crise. A produção industrial viu em junho seu melhor desempenho em um ano e meio. E o setor de serviços manteve seu ritmo de crescimento de 6,3% no primeiro trimestre de 2009. A Índia deve seu bom desempenho à força de sua demanda interna e à resistência de seu sistema financeiro, "pouco conectado ao resto do mundo", como observa Rajiv Kumar, diretor do Conselho Indiano para a Pesquisa sobre as Relações Econômicas Internacionais (Icrier).
Em um país onde somente 15% da economia depende das exportações, a demanda interna foi pouco afetada pela recessão mundial, sobretudo nas zonas rurais, que constituem metade da receita nacional. Graças aos programas sociais e ao aumento dos investimentos públicos em infraestrutura, o setor rural viu sua receita aumentar. O Estado paga um preço alto por isso, com um déficit orçamentário que representa 6,8% do PNB. E a agência de classificação de risco Standard & Poor's passou de "estável" para "negativo" seu rating soberano (nota de risco de crédito) sobre a Índia. O país continua sendo, no entanto, um destino atraente para os investidores do mundo inteiro, pois é visto como uma área de crescimento ideal para os mercados saturados, e atingidos pela crise, dos países desenvolvidos.

Saiba o que mudou no Brasil em um ano de crise

Nem uma marolinha, como chegou a prever o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nem um tsunami, como esperavam muitos empresários. É assim que analistas descrevem o resultado da crise no Brasil, pelo menos até o momento. Um ano depois da quebra do banco de investimentos Lehman Brothers, alguns indicadores econômicos, entre eles o crédito e o desemprego, já voltaram aos níveis pré-turbulência

Brasil
Ao prever com ironia um ano atrás que "o tsunami" da crise provocaria em seu país uma simples "marola", o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, acertou: a recessão só duraria um semestre.
O produto interno bruto aumentou 1,9% no segundo trimestre de 2009, depois de ter recuado durante dois trimestres consecutivos: -3,4% (outubro-dezembro 2008) e -1% (janeiro-março 2009).
Segundo o ministro da economia, Guido Mantega, o gigante sulamericano deverá recuperar em 2010 sua velocidade média anterior à crise, em torno de +4,5%.
Atingido pela recessão mais tarde que a maioria dos países do mundo, o Brasil também saiu dela antes, como mostram dois outros índices: a Bolsa de São Paulo retomou seu alto nível de um ano atrás e a moeda, o real, recuperou toda sua força frente ao dólar e o euro.
A rápida recuperação do Brasil mostra como foi acertada a estratégia adotada pelo governo, com enfoque sobre o apoio do mercado interno. Reduções de impostos na indústria automobilística e de eletrodomésticos mantiveram as vendas nesses dois setores industriais cruciais.
O Banco Central ajudou os bancos em dificuldades, retirando de suas gordas reservas - US$ 200 bilhões - para irrigar o mercado que havia secado. Grandes empresas, como a gigante mineradora Vale, ficaram com medo, congelando seus investimentos, o que é criticado pelo presidente Lula hoje. Mas a confiança dos consumidores não foi abalada: "A economia sobreviveu graças aos mais pobres", ressalta Lula.
Rússia
Bem mais atingida pela crise do que os outros países do Bric (Brasil, Índia, China), a Rússia vive um vislumbre de retomada. Seu PIB cresceu 0,4% em junho e 0,5% em julho.
O ministro russo das Finanças, Alexei Kudrine, se mostra otimista: o país emergirá "completamente" no terceiro trimestre de 2009. "A longo prazo e por diversas razões, a Rússia continuará tendo um sólido crescimento" que lhe permitirá se elevar "à sexta posição da economia mundial".
Após um crescimento econômico sem precedentes nos últimos dez anos, a Federação Russa mergulhou de cabeça na crise. Seu PIB despencou 9,8% no primeiro trimestre em um ano, e 10,9% no segundo trimestre.
Essa aterrissagem brutal se explica pelo modelo russo de crescimento, focado nas exportações de matéria-prima e no recurso maciço aos créditos estrangeiros. A crise revelou o fracasso das autoridades em aplicar reformas estruturais no momento em que o Estado colhia as receitas da venda do petróleo. Cientes dessas fraquezas, as autoridades russas falaram nos últimos meses em favor de uma diversificação e de uma modernização de infraestrutura.
Essas boas resoluções correm o risco de logo serem esquecidas. O estremecimento atual da economia tem uma única causa, a subida do preço do petróleo, que passou de US$ 33 em dezembro de 2008 para US$ 70 nos últimos meses. Quanto aos empréstimos feitos do exterior, eles secaram, o que sinaliza o fim do consumo desenfreado e dos projetos de desenvolvimento. "Vinte anos de tumultuosas mudanças em nosso país não mudaram sua humilhante dependência das matérias-primas. (...) Com raras exceções, nossas empresas não criam os bens e a tecnologia necessárias para a população", ressaltou recentemente o presidente Dmitri Medvedev.

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2009/09/17/ult580u3936.jhtm

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