São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009
Na Unasul, Brasil insistirá em garantia colombiana
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Apesar de sucessivas negativas colombianas, inclusive do chanceler Jaime Bermúdez, que esteve em Brasília na semana passada, o Brasil vai insistir na reunião de chanceleres e ministros da Defesa da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) na necessidade de a Colômbia apresentar garantias por escrito de que a ampliação de seu acordo militar com EUA não extrapolará o combate ao narcotráfico nem as fronteiras do país. A reunião será nesta terça-feira, em Quito.
O recado a ser dado será claro: para o Brasil e outros vizinhos, como a Argentina, se a Colômbia não der respaldo jurídico à promessa de que a presença de tropas americanas em até sete bases no país se restringirá ao território colombiano, poderá ficar isolada, com uma permanente desconfiança pairando no ar.
O Brasil será representado pelos ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Nelson Jobim (Defesa). Jobim já esteve no início do mês na Colômbia e no Equador, tentando fazer uma mediação entre esses dois países. Eles estão com as relação diplomáticas suspensas desde o ano passado, após Bogotá realizar uma operação contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em território equatoriano.
Além disso, Jobim ainda irá amanhã à Bolívia, que integra o eixo antiamericano da região com Venezuela e Equador.
A Colômbia, que está "na berlinda", por causa do acordo com os EUA, exige que os ministros discutam também as alianças da Venezuela com o Irã e com a Rússia e as suspeitas de envolvimento de outros países (numa referência à própria Venezuela e ao Equador) com grupos narcotraficantes.
Até anteontem, havia ao menos três propostas circulando entre as chancelarias. Elas serão levadas à reunião de terça.
Duas são de autoria equatoriana. Elas estipulam a instituição de uma espécie de "código de conduta" relativo a gastos militares e a instalação de uma comissão com a incumbência de fomentar relações de confiança entre os 12 países da Unasul, planejando troca de visitas e de informações na área da defesa.
Transparência
A outra proposta é do Brasil e vai na linha de mais transparência, com a criação de um dispositivo que formalizaria a obrigatoriedade de os países da Unasul notificarem seus acordos de cooperação militar, sobretudo dos que envolvam grau de presença ou equipamento estrangeiro. Assim, seria criado uma espécie de "catálogo".
A ideia, chamada de "projeto transparência", seria colocada na cúpula de presidentes em Bariloche, Argentina, no final de agosto. Mas a reunião foi consumida pela retórica.
Para dar "exemplo", o governo brasileiro diz estar disposto a dar explicações sobre os acordos recentemente firmados com a França para aquisição de helicópteros, submarinos convencionais e a construção de um submarino de propulsão nuclear, além da disposição de empregar até 4 bilhões na aquisição de 36 aviões de caça para a FAB.
Se questionado, o Brasil dirá, segundo fontes diplomáticas, que essas ações são "perfeitamente proporcionais às necessidades de defesa e de segurança que o país tem".
Também defenderá que não há necessidade de manter isso sob sigilo -um diplomata inclusive citou a possibilidade de colocar na internet os acordos assinados com a França, seguindo o exemplo do Chile, que é o único país que escancara sua força bélica pela rede.
Recentemente, a Venezuela comprou fuzis, tanques, helicópteros e três submarinos da Rússia. Na última quinta-feira, em Moscou, o presidente Hugo Chávez e seu par russo, Dmitri Medvedev, selaram acordo para o fornecimento de mais tanques a Caracas.
Outros países latino-americanos também foram às compras. O Chile adquiriu fragatas e outros equipamentos do Reino Unido e da Holanda. O Equador comprou aviões Supertucano do Brasil, helicópteros militares da Índia e fragatas do Chile. E o Peru tem um plano de reequipamento de até US$ 650 milhões.
Para o Brasil, tais movimentações justificam a necessidade de mais troca de informação na região, com o intuito de evitar curtos-circuitos capazes de estimular uma corrida armamentista entre vizinhos.
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