03/09/2009
Lula gigante
Lula é o maior presidente do Brasil. A melhor ponte até aqui entre as extremidades do país. Seu capitalismo sindical, mesmo tão defeituoso, gerou um consenso propulsor no momento em que a economia mundial engatava uma quinta marcha. O Brasil foi junto. E mudou.
Ricos e pobres nunca ganharam tanto dinheiro, provando que a melhor forma desses extremos avançarem é conjuntamente, não um contra o outro.
Graças ao acúmulo de inéditos 15 anos de estabilidade econômica, da qual Lula foi garantidor depois de Itamar e FHC, o enorme potencial econômico brasileiro começa a realizar-se.
Perto de Lula e sua popularidade sem precedentes, os outros políticos brasileiros, ainda mais os seus contemporâneos, são anões. A diferença de estatura histórica e simbólica o torna um gigante, que manipula como quer nosso imaturo, fisiológico e corrupto sistema político e o que depende dele. Lula hoje faz o que quer. Ponto.
Sua intuição e genialidade política, que o levaram de migrante miserável a liderança global, se deram contribuição essencial para o avanço brasileiro, agora são usadas para garantir a viabilidade de sua candidata a sucedê-lo, Dilma Rousseff. Nada mais importa.
O gênio do bem vira gênio do mal.
O abraço no PMDB de José Sarney e Renan Calheiros, que Lula tirou do noticiário com o lançamento do pré-sal, mostra que, para ele, mais importante do que depurar a política do seu Nordeste dos grupos que exploram e impõem a miséria regional, é ganhar tempo na TV e alianças na campanha de 2010.
Já as propostas de exploração do petróleo do pré-sal, uma riqueza que pode ser transformadora, são reduzidas para se encaixar nos pequenos interesses do calendário eleitoral e do jogo de alianças.
Não há no mundo motivo que justifique regime de urgência para a tramitação das propostas do pré-sal no Congresso além da necessidade de apresentá-las como plataforma eleitoral de Dilma.
O pacote petrolífero-eleitoral está pronto: Lula, pai dos pobres (e mãe dos ricos), formatou a exploração do petróleo para supostamente erradicar a pobreza do país. Só Dilma, sua ungida, pode realizar o plano. Já a oposição, se eleita, entregará o petróleo a estrangeiros e a empresas gananciosas.
Lula, gigante, ainda tripudia sobre a oposição, anã. Na cerimônia de lançamento do pré-sal, atacou, sem cerimônia e protocolo, o governo anterior e o PSDB, para desconforto de um constrangido e inerte José Serra, convidado para o dilmício.
Como o governo foi bem na administração da crise econômica global, Lula já planeja capitalizar eleitoralmente o feito, o que é natural. Vai dizer que é prova de como o PT também é bom de gestão, o que já foi bandeira do PSDB. E a economia deve rodar bastante acelerada em 2010, o que só favorece Lula e sua candidata. Ou seja, Lula vai crescer mais, de mãos dadas com Dilma.
E, para completar, há ainda o filme "Lula, o filho do Brasil", sendo finalizado pelo clã dos Barreto (o PMDB do cinema nacional). Quem já viu trechos diz que é de chorar e arrepiar. O blockbuster certamente elevará a lulamania a patamares nunca antes vistos neste país desde Getúlio Vargas.
A trajetória de Lula é de fato heróica e lacrimejante. Mas, como o ditador gaúcho que tanto bem (e mal) fez ao país, seu apoio explícito ao banditismo político brasileiro manchará seu enorme legado.
Filho do Brasil, não poderia ser diferente.
Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.
E-mail: smalberg@uol.com.br
http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/sergiomalbergier/ult10011u618904.shtml
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