"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 25 de agosto de 2007

IV Congresso sobre Defesa Nacional (Palestras)

Então depois de termos falado sobre a cidade do Rio de Janeiro, falemos sobre o IV Congresso Acadêmico sobre Defesa Nacional. O Congresso é organizado pelo Ministério da Defesa para aproximar as instituições de ensino superior civis e militares. Então sempre participam a Academia da Força Aérea (AFA), a Escola Naval, a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), o Instituto Militar de Engenharia (IME). O evento ocorre no interior de uma das academias militares, AFA, Escola Naval e AMAN. Os dois primeiros Congressos foram na AMAN, o ano passado na AFA e o deste ano na Escola Naval, participei apenas dos dois últimos. As instituições civis são escolhidas entre faculdades de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Minas Gerais, este ano teve instituições de Roraima e espera-se que seja ampliado no ano que vem. Apesar de ser apresentado como um fórum para troca de informações entre civis e militares, na prática funciona como um locus para a visão dos militares sobre o Brasil, sobre a questão da defesa e para tentar conquistar apoio na sociedade civil para as suas demandas. O primeiro palestrante do Congresso foi o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães que expôs as suas idéias já clássicas sobre a situação do Brasil no mundo e sobre como deveria se comportar o que se casa perfeitamente com o pensamento militar. De fato parece que a forte simbiose entre o pensamento elaborado nas Casas de Rio Branco, Caxias e Tamandaré durante o regime militar não foi desfeita com a redemocratização apesar perdeu espaço no interior do governo. E gostam de realçar estas ligações como por exemplo o Samuel Pinheiro Guimarães lembrando que em 1808 foi criada a Secretaria de Negócios Estrangeiros e da Guerra, mostrando que o MRE e o ministério da Defesa surgiram juntos. É curioso notar como sempre associam o início das instituições brasileiras ás instituições portuguesas atribuem um elo de continuidade incomum entre a metrópole e o colonizador, e o resultado é afirmação de que a Marinha e o Exército existiam antes mesmo que o Brasil existisse, que o Estado existisse. Então na pergunta quem vem antes, quem tem a prioridade, já sabemos a resposta. A apresentação do ministro foi interessante, mas ele está numa posição curiosa, apesar de ser considerado o ideólogo da política externa brasileira, de fato ele não está no mainstream, não apóia algumas das principais opções como a questão agrícola ou questões de política externa. Então o discurso dele é muito bom, mas não é o que norteia as decisões do Estado brasileiro na questão da política externa.E disse uma coisa importante sobre Conselho de Segurança, o importante de estar no Conselho é para tirar as questões que lhe interessam do Conselho, neste aspecto sou obrigado a concordar, participar do Conselho seria importante, evitar que o Brasil fosse objeto de deliberações do Conselho, mas para que isso ocorra de fato precisaríamos de um poder militar maior e não apenas da vaga no Conselho. Um problema na análise dele é tratar a China como periferia, ela é, mas não nas questões de poder, o que significa que ela não faz parte da periferia. Mostrou também o equívoco da preocupação do governo brasileiro com os subsídios agrícolas americanos da ordem de 13 bilhões de dólares, enquanto o subsídio para desenvolvimento tecnológico através do orçamento da defesa chega a 670 bilhões de dólares. Outra coisa interessante é que o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães partilha com os militares a preocupação com relação ao perigo que a presença das ONGs na Amazônia representa. Eu perguntei ao embaixador se a política interna era capaz de sustentar a política externa e ele me enrolou porque as perguntas tiveram que ser feitas por escrito. Saiu falando sobre a atuação do BNDES na América do Sul e sobre as políticas sociais do governo.

O general Santa Rosa faz uma apresentação focada na ausência de um projeto estratégico nacional estável que permitisse planejar as ações de futuro. Enfoca uma questão central para o Ministério da Defesa e o lobby militar, que a defesa nacional é um problema de toda sociedade. A segurança deve ser garantida para que a soberania e a integridade do território tenham eficácia. Vê na difusão do ambientalismo uma questão de manipulação, propaganda, disputa de poder. Para resolver os problemas da Amazônia seria preciso, integração, vivificação (colocar mais gente na região especialmente nas fronteiras), ações de presença do Estado, desenvolvimento sustentável, e integração indígena (ou seja, incorporação ao mundo branco). Definiu estratégia como a arte de arrumar os meios para atingir os objetivos da política. Há cinco anos tramita no Congresso nacional projeto sobre Sistema nacional de Mobilização. Dentro da idéia de ligação metrópole-colônia sem perceber o rompimento, o general disse que em cada unidade da Amazônia deveria haver uma estátua do Marquês de Pombal em homenagem ao seu esforço de defender a Amazônia e deveríamos prosseguir no seu esforço de militarizar a Amazônia para protegê-la. Da série de conflitos desconhecidos na América do Sul, o general mencionou que a Venezuela demanda 2/3 do território da Guiana.

Novamente o Almirante Vidigal estava lá, mas não a Suzeley. Inicialmente pensei que o Almirante irei cometer a indelicadeza intelectual de sacanear com a adversária do Congresso anterior sem ela estar presente. Ele fez alguns comentários um tanto maldosos já que conflito tinha sido agudo, mas não foi deselegante. Fora isso repetiu em linhas gerais o discurso do ano passado, reafirmou a necessidade de forças armadas já que desconhecemos o cenário futuro e o mundo muda muito rapidamente, como sempre exemplificando com o fim da URSS. Impossibilidade uma diplomacia eficiente sem respaldo do poder militar

As entrevistas do professor Francisco Carlos Texeira da Silva na Globonews são chatíssimas, chatíssimas. Mas a apresentação dele foi muito boa apesar de não trazer uma idéia nova. Apontou uma deficiência no pensamento militar de caráter acadêmico no Brasil, não houve um desenvolvimento. Pensamento militar calcado em logística e administração, mas isso não é um problema para o pensamento militar. Diz que é um equívoco pensar que a América do Sul é uma área de paz, porque hoje o campo de guerra é difuso, cita os ataques contra alvos judeus na Argentina. Necessidade de pensar a guerra e a segurança em termos brasileiros. Na guerra tecnológica, a questão é inventar para a guerra e não adaptar o existente. Necessidade de utilizar o conceito de securitização, já que a segurança total é impossível, cria-se áreas e níveis de segurança. Questão central, a segurança hoje pode chocar-se com os direitos civis e os custos tendem a ser crescentes. Os problemas fundamentais de segurança no futuro devem ser segurança alimentar e energética. Afirma que na Venezuela não houve quebra da cláusula democrática respondendo a uma pergunta. É preciso notar que diante dele o almirante Vidigal amarelou, conteve o anti-esquerdismo, anti-petismo e anti-chavismo. Até mesmo os alunos notaram.

Na quarta-feira houve as apresentações do General Villas Boas e do Almirante Ademir Sobrinho. O professor que estava dividindo o quarto comigo e eu perdemos a hora de levantar, voltamos a dormir quando as cornetas se aquietaram e eu cheguei atrasado para a primeira apresentação e fiquei sem café-da-manhã, mas o general repetiu o discurso feito na AFÃ o ano passado atacando as ONGs, as reservas indígenas, a ausência de uma política de ocupação terrotorial, o ambientalismo, etc. A outra apresentação foi espetacular, o Almirante Ademir Sobrinho é um showman, o assunto Amazônia Azul é uma chatice, mas ele conseguiu transformar o tema num assunto interessante manter a atenção de todo o auditório, houve muitas informações importantes. Mas estas não anotei, pegarei do texto escrito, das projeções. E cheguei a conversar com ele sobre a possibilidade de fazer esta apresentação aqui em São Paulo, realmente foi muito boa. Todos os alunos gostaram. A piada mais infame foi que deveríamos abandonar o Projeto Tamar e começar o Projeto Matar. O projeto Tamar deu tão certo que não precisa de dinheiro, tem tartarugas demais e agora é a hora de comer as tartarugas e resolver o problema da povo das populações pobres da região.

Na quinta-feira (23/08), as apresentações foram sobre ciência, tecnologia e defesa. As apresentações foram de membros do governo, então foi um discurso burocrático. No entanto pelas informações e pelo discurso apresentado nota-se a existência de um esforço no interior da burocracia para se fazer alguma coisa, mas os recursos são efetivamente escassos e ciência e tecnologia não é prioridade do governo federal. O presidente da FINEP, Luis Manoel Rebelo Fernandes informou sobre o edital que será lançado para desenvolvimento de diferentes sistemas de tecnologia (por exemplo, desenvolvimento de sistema de navegação de controle de satélites), a idéia é ótima, o que sempre deveria ser feito, a questão a ser esclarecida é a punição aos que fracassarem, isso que eu gostaria de ver no edital, e nunca houve na prática, pois aqui o fracasso sempre é perdoado especialmente quando o dinheiro desperdiçado é público. Então tenho que me lembrar de acompanhar para ver o edital quando for publicado e ver as contrapartidas exigidas do setor privado para ver se o Brasil está mudando.

Por fim, na sexta-feira (24/08), o general Gleuber Vieira falou sobre o poder nacional nos termos tradicionais concebido pelo exército brasileiro e ainda mostrou uma forte influência das idéias aplicadas durante o governo Geisel.

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