"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A SAE não foi criada para ele, mas lhe caiu perfeitamente bem

O Plano Brasil 2022

Cristiano Romero

30/12/2009

O ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, trabalha em ritmo acelerado para entregar ao presidente Lula, até 30 de junho, o plano "Brasil 2022". O tempo é curto, mas o embaixador está confiante no cumprimento do prazo. Ele já conversou com cada um dos mais de 30 ministros e criou grupos de trabalho para cada área. O plano será submetido, por meio de seminário, a especialistas de quatro grandes áreas (de infraestrutura, social, econômica e institucional) e debatido com entidades da sociedade civil.

Cada grupo de trabalho tem quatro integrantes: um da SAE - a secretaria de Pinheiro Guimarães -, um do IPEA, outro do ministério em questão e um da Casa Civil, a quem cabe coordenar as ações de governo. Os grupos vão trabalhar, como informou o ministro a esta coluna, a partir do que já existe em termos de diagnóstico e mesmo de planejamento estratégico feito por equipes que o antecederam na SAE. Eles vão identificar metas e propor ações estratégicas para cada uma delas.

Haverá, por exemplo, uma meta de renda per capita. Em 2008, a renda brasileira foi de US$ 8,6 mil, para um PIB estimado de US$ 1,9 trilhão. Mencionando previsão publicada pela revista inglesa "The Economist", segundo a qual, o Brasil terá um PIB, pelo conceito de paridade do poder de compra (PPP, na sigla em inglês), de US$ 5,7 trilhões em 2025, o ministro diz que a renda de 2022 deve acompanhar essa evolução - como o IBGE projeta população de 212,4 milhões de pessoas em 2025, a renda per capita atingiria, nesse caso, US$ 26,8 mil (o equivalente hoje à da Eslovênia, segundo o Banco Mundial).

Fixar metas é, sem dúvida, uma novidade. Em geral, os planos de longo prazo formulados no país são meras cartas de intenção. Dessa vez, haverá metas setoriais a serem cumpridas até o não muito distante ano de 2022. Evidentemente, o plano em questão será uma peça política para o ano sucessório - no decorrer da campanha, o governo deixará claro que ele só será executado se o ganhador do pleito presidencial for a ministra Dilma Rousseff, a candidata de Lula. De qualquer forma, seja quem for o ganhador da eleição, encontrará uma proposta de trabalho em cima da mesa. Mal isso não faz.

É vital que o Brasil planeje ações de longo prazo. Dotado hoje de estabilidade política e econômica e reconhecidamente detentor de potencialidades, o país precisa pensar estrategicamente o futuro. Que país queremos ser? Uma potência exportadora de commodities agrícolas e minerais ou uma economia industrializada e inovadora? Pinheiro Guimarães diz que uma visão de longo prazo tem que contemplar três coisas: uma visão do mundo em 2022, outra da América do Sul e a terceira, naturalmente, do Brasil. A pedido desta coluna, ele refletiu sobre o ponto de partida: "o Brasil de hoje".

"A grande característica do Brasil não é a pobreza, mas as disparidades", diz o ministro. Disparidades de todos os tipos: regionais; entre cidade e campo; entre centro e periferia metropolitanos; de gênero; de origem étnica; de renda e de riqueza. "A disparidade de renda mencionada muitas vezes nos estudos, o índice de Gini e essas coisas todas, é baseada na renda do trabalho. Esquecem a renda dos aluguéis, dos juros e dos lucros. A disparidade de riqueza, portanto, é extraordinária."

O embaixador diz que, mesmo depois dos avanços dos últimos anos, o Brasil padece de vulnerabilidades em pelo menos cinco áreas. A primeira é política. "O Brasil não faz parte ainda dos principais mecanismos de decisão em nível internacional. Não faz parte do Conselho de Segurança da ONU, do G-8", pondera. Uma outra vulnerabilidade está na área de defesa. "O país não tem recursos militares suficientes para defender seu território do ponto de vista terrestre, marítimo e aéreo."

A terceira área onde há deficiências é a tecnológica. Pinheiro Guimarães lembra que, enquanto os Estados Unidos registram 40 mil patentes por ano, o Brasil inscreve apenas 500. Outra área em que o país é vulnerável, afiança o ministro, é no campo da ideologia, "do ponto de vista das ideias". "Temos conhecimento do mundo normalmente através dos olhos dos outros." Se quiser ler um livro sobre os EUA, o brasileiro é obrigado a recorrer a autores americanos ou ingleses. Se o tema é a Rússia ou a França, idem. "Raramente encontramos livros de uma visão brasileira de um tema qualquer. Nós nos vemos sob os olhos dos estrangeiros e damos muito valor a isso. Vemos os temas mundiais vistos do ângulo de outros interesses, mas não do ângulo dos interesses brasileiros."

A quinta vulnerabilidade seria de natureza econômica. Uma prova disso, diz o embaixador, é a necessidade que o país tem de atrair capitais. A poupança externa tornaria o crescimento do país vulnerável no médio e longo prazos.

As deficiências do Brasil não se esgotam aí. O embaixador sustenta, sem receio de polemizar, que o Estado brasileiro é "muito pequeno" se comparado ao de outros países ("Há 500 municípios sem médicos"); não há coordenação entre os diferentes níveis de governo nas áreas de saúde e educação; a Câmara dos Deputados é pequena e, por isso, pouco representativa ("Há uma campanha permanente contra o Congresso desde 1822").

Nacionalista e alinhado com as vertentes mais à esquerda do governo, Pinheiro Guimarães não vê necessidade de mudança da política econômica. Mas, para ele, a política econômica de Lula não se restringe ao tripé macroeconômico (superávit primário-câmbio flutuante-metas para inflação) vigente desde 1999. Ela é a combinação de três políticas: "a política do BC", a política dos bancos estatais e de empresas públicas como a Petrobras e a política dos programas sociais, que têm ajudado a criar um grande mercado de consumo no país.

Concorde-se ou não com as ideias do ministro, que, no novo cargo, tem evitado falar sobre política externa, sua primeira especialidade, não é recomendável ignorá-lo. Com suas ideias, ele influencia uma geração inteira de diplomatas e burocratas. Tem trânsito livre no PT, onde é muito admirado. Contendor do tipo incansável, é um inconformado com a visão de que o Brasil é um país fadado à segunda divisão das nações. "Dos dez maiores países do mundo em território, PIB e população, apenas três reúnem as três condições: EUA, China e Brasil", argumenta.

Cristiano Romero é repórter especial e escreve às quartas-feiras.

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