"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

“Junto a mi pueblo, con su revolución” de Fernando Cardenal SJ

Li neste período de recesso de aulas alguns livros, o primeiro que irei comentar é o livro de memórias do padre jesuíta Fernando Cardenal, intitulado “Junto a mi pueblo, con su revolución”. Ao invés da leitura de livros de auto-ajuda e bobagens similares, recomendo a leitura das memórias do padre Cardenal para renovar o espírito, o otimismo, a esperança e a fé na vida. Não simplesmente pela narrativa de sua via, mas por narrar as vidas da Nicarágua, do povo nicaragüense, o livro do padre Cardenal é tocante, emocionante. O livro narra muitas mortes, mortes que alimentaram a vida, o renascimento da sociedade nicaragüense. Mesmo políticas públicas, como a alfabetização, se tornam um empreendimento épico. Cardenal mostra uma fé tocante na capacidade do povo nicaraguense resolver seus problemas. Mostra uma ingenuidade política em alguns momentos que apenas tornam mais fortes suas palavras e ações.

O padre Fernando Cardenal foi um dos principais nomes da Frente Sandinista de Libertação Nacional na Nicarágua. O ponto de partida para esta adesão à FSLN não foi um posicionamento político, mas um posicionamento evangélico diante da realidade dos povos latino-americanos em geral e nicaraguense, em particular, a partir da interpretação do autor sobre o posicionamento da Igreja na América Latina a partir da II Conferência do CELAM em 1968 em Medellín. Inicialmente a opção preferencial pelos pobres se expressou em ações no interior da Igreja. Ao primeiro convite para ingressar na FSLN foi respondido de forma reticente. Na sua biografia diz que o designado para recrutá-lo deve ter associado a ela uma frase muito citada na época “Todos tienen derecho a cansarse y por tanto a descansar, pero el que quiera descansar no tiene derecho a ser hombre de vanguardia”.

A adesão à FSLN era secreta, pois corria-se risco de vida se fosse descoberto pela Guarda Nacional e Somoza, mesmo que a opção de ação não fosse pela ação armada como foi o caso do padre Cardenal. Antes da revolução ela trabalhou como um ponto de contato da FSLN com o exterior, e como uma figura pública que denunciava a ditadura de Somoza e a constante violação de direitos humanos no país.

Uma das coisas mais belas do livro é tanto a demonstração do compromisso do autor com o povo da Nicarágua quanto os diversos depoimentos transcritos sobre pessoas, especialmente jovens, que participaram da revolução nicaraguense. Jovens de 11, 14, 16, 18 anos, que se mobilizaram para mudar o país, muitos dos quais morreram na luta. O comprometimento dos jovens nicaraguenses com a revolução fez com que a Guarda Nacional adotasse um política sistemática de extermínio dos jovens nicaraguenses.

A vitória da FSLN levou o padre Fernando Cardenal a assumir a Cruzada Nacional de Alfabetização. Como os jovens foram os autores da revolução. Cardenal chamou-os novamente para irem para uma nova frente de batalha. Foi criado o Exército Popular de Alfabetização, formado basicamente por jovens a partir de 14 anos, com algumas exceções de “jovens” de 11 anos para missões urbanas. Primeiro fizeram um mapeamento exaustivo do analfabetismo no Nicarágua, onde moravam os analfabetos para se planejar a missão. Na seqüência, as aulas foram suspensas no país inteiro e todos os jovens convocados como voluntários para ingressar no Exército Popular de Alfabetização. Ou seja, os jovens iriam ser treinados e depois enviados para todos os rincões do país para dar aula, para ensinar os analfabetos a ler. As cartilhas foram preparadas especialmente para missão. E um canal de rádio foi criado para diariamente passar instruções, dar apoio ao EPA em campo, nos rincões mais distantes. E apesar de ser um exército de alfabetização não estavam isentos de perigo, os contra-revolucionários, os contingentes que restaram da Guarda nacional atacavam o EPA, e houve algumas baixas por assassinato e outras por acidentes já que a alfabetização ocorria mesmo em rincões de difícil acesso. A despeito das dificuldades, a Cruzada Nacional de Alfabetização foi um sucesso, o índice de analfabetismo em 5 meses caiu de mais de 50% da população para menos de 15%. Resultado reconhecido e festejado pela Unesco.

Posteriormente o padre Cardenal tornou-se ministro da Educação da Nicarágua. Mas aí os resultados não foram tão expressivos porque o país já vivia uma crise financeira e a guerra contra-revolucionária insuflada pelos EUA havia crescido.  A partir daí o padre Cardenal analisa a derrota nas eleições de 1989 da FSLN e os rumos tomados pela FSLN a partir de então. O autor faz uma crítica a partir de dentro dos erros da FSLN e das razões do seu abandono do partido em meados da década de 1990. Aponta como maiores problemas na gestão o alistamento militar obrigatório para enfrentar os contras e a forma como foi gerido o campo e as relações com os camponeses. Outro aspecto duramente criticado pelo autor foi a corrupção no final do governo sandinista. E mesmo ações que não eram corruptas, mas visavam proporcionar aos dirigentes do país um padrão de vida muito distante do padrão da população do país. De fato, o padre Cardenal manteve este comportamento durante todo período que esteve no governo, continuou morando na comunidade jesuíta na periferia de Manágua.

Outra questão abordada por Cardenal em suas memória foi sua saída da Companhia de Jesus. Desde o momento que ele, seu irmão Ernesto Cardenal, e outros padres assumiram cargos no governo nicaraguense, o Vaticano, e especialmente os bispos da Nicarágua, pressionavam para que deixassem o governo porque segundo o Código de Direito Canônico os padres não podem ocupar cargos públicos sem se demitirem do estado clerical. A situação se tornou insuportável quando ele se tornou ministro da Educação e foi forçado a deixar a Companhia de Jesus a pesar de ter continuado morando na comunidade por concessão dos outros padres e do superior da Companhia de Jesus na região. O autor mostra como por parte dos dirigentes da Companhia de Jesus ele sempre recebeu apoio. E em meados da década de 1990 foi convidado pelo superior geral dos jesuítas, Peter Hans Kolvenbach, a retornar para a Companhia de Jesus. Realizou novamente o noviciado, como qualquer outro postulante, as provações, etc. E se afastou das atividades políticas apesar de ainda estar engajado com o povo da Nicarágua, agora através do movimento Fé e Alegria voltado para educação popular.

É interessante que o autor não tem problema em relatar os momentos em que teve medo, que quis fugir, os momentos em que acreditou que tudo fracassaria, que já não era possível fazer mais nada para derrubar Somoza. Em seu favor, ele mesmo diz que o homemvalente não é o que não tem medo, mas o que não se deixa dominar pelo medo. E cita uma frase de seu primo jornalista, que foi morto pelo governo de Somoza, que quando informado que estava em perigo respondeu que “cada uno es dueño de su propio miedo”.

CARDENAL SJ, Fernando. Junto a mi pueblo, con su revolución. Madrid, Trotta, 2009.

Citações:

“Algunos se preguntarán ante el sacrificio de vidas tan maravillosas, llenas de amor y nobleza: ?dónde estaba Dios? Estaba en el corazón de los muchachos y muchachas, estaba en sus luchas, animándoles a transformar Nicaragua en su reino. Él estuvo presente a la hora de la muerte de cada uno de ellos y ellas. Dios estaba en el corazón de miles de nicaragüenses que se entregaron a trabajar en la revolución por un mundo más humano. Allí estaba Dios, presente, animando, dando fortaleza, y sufriendo e muriendo con ellos y ellas. Dios estaba en mi corazón, cuando me inspiró la idea de no hacer mi tercera probación en España sino en Medellín para tener una experiencia con los pobres. A veces uno quisiera que Dios interviniera para componer el mundo. Pero él ha escogido el camino de que nosotros seamos los continuadores de su creación y actúa a través de nosotros para hacer realidad lo que pedimos en el Padrenuestro: “…venga a nosotros tu Reino”. Dice el gran teólogo valenciano José Ignacio González Faus: “Dios actúa en el mundo haciéndonos actuar a nosotros”.”

“Cada día admiro más a los jóvenes. Estoy convencido de que cuando tienen un ideal no los detiene nada ni nadie; ni siquiera la muerte. También estoy convencido de que no hay hombres y mujeres con valuntad y otros sin voluntad; lo que existe en realidad son personas con un ideal, con un sentido en la vida, con una meta alta y hermosa y otros sin eso.”

“La esperanza es absolutamente necesaria en nuestras vidas. Sin ela no hay compr0miso. Sería estúpido entregarme a trabajar por un cambio de la sociedad si creo que no puede cambiar.”

“Me siento identificado con una frase de mi amigo el obispo Pedro Casaldáliga, quien desde la selva del río Araguaia en Brasil, junto a los indios brasileños, dice: “Somos soldados derrotados de una causa invencible”. Hemos perdido unas batallas. Pero creo que nuestra causa es invencible porque es la causa de la justicia, es la causa del amor.”

“Vimos a nuestro alrededor explotación, hambre, miseria y dimos el paso hacia adelante y nos comprometimos con el cambio de la sociedad. Como vemos que todo eso sigue existiendo actualmente, y en mayor grado aún, lo lógico y coherente no es dejar la lucha sino comprometernos más. Y por eso debemos ser siempre inconformes, estar siempre en movimiento, siempre rebeldes, mientras siga existiendo en el mundo la explotación y la miseria. Precisamente por eso, a pesar de confusión y desaliento reinantes, afirmamos: es la hora de la utopia, es la hora de los sueños.”

Um comentário:

Poeta Carlos Maia disse...

Maravilha Corival!

A parte que mais me tocou no texto foi esta declaração do Pe. Cardenal: "También estoy convencido de que no hay hombres y mujeres con valuntad y otros sin voluntad; lo que existe en realidad son personas con un ideal, con un sentido en la vida, con una meta alta y hermosa y otros sin eso."

Grande Abraço!