"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 23 de agosto de 2009

O risco do otimismo fora de hora

São Paulo, domingo, 23 de agosto de 2009
LUIZ GONZAGA BELLUZZO
Crentes e hereges


Quando os negócios vão bem, todos os palpiteiros e adivinhões tratam de insuflar a bolha de otimismo


A CRISE financeira global que ora avassala o planeta, entre outras coisas, desvelou a precariedade das previsões econômicas. Já escrevi em outra parte, a propósito da crise asiática de 1997/98, que a reputação dos economistas e o prestígio de sua arte de antecipar tendências variam na mesma direção dos ciclos do velho, resistente, mas talvez nem tão surpreendente capitalismo.
Quando os negócios vão bem, dizia então, as previsões mais otimistas são ultrapassadas por resultados formidáveis. É a festança dos consultores: o noticiário da mídia não consegue oferecer espaço suficiente para os profetas e os oráculos da prosperidade eterna. Na era da informação, a coisa é ainda pior: em tempo real, os meios eletrônicos regurgitam uma fauna variada de palpiteiros e adivinhões. Todos -ou, pelo menos, a maioria- tratam de insuflar a bolha de otimismo.
Naquela ocasião, chamei a atenção para as agruras de um renomado economista dos idos de 1929. Às vésperas do crash da Bolsa de Nova York, Irving Fisher declarou -extasiado diante das promessas de crescimento sem fim- que os preços das ações ainda estavam baixos. Fisher quebrou a cara, mas nem por isso foi punido com a expulsão da seleta galeria dos grandes. Os jovens economistas de hoje aprenderiam muito com suas contribuições ao estudo dos processos de deflação de dívidas, fenômeno que sói ocorrer nos momentos de reversão das etapas turbinadas por expectativas eufóricas e crédito abundante.
Daqueles tempos a esta parte, é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha do que encontrar um estudante de economia que tenha lido Fisher ou, pelo menos, ouvido alguma notícia sobre sua obra. Esse solene desprezo pelos estudos clássicos sobre os ciclos e as crises do capitalismo é a moda nos círculos acadêmicos americanizados do planeta.
As novas teorias, aquelas que constituem hoje a chamada corrente principal do pensamento econômico, estão mais comprometidas em demonstrar que é improvável ocorrer o fenômeno que os velhos economistas investigavam. No rol dos malditos estão, entre tantos, Keynes, Schumpeter, Mitchell, Kalecki, Minsky.
Mas -é bom repetir- as façanhas do velho e nem sempre surpreendente capitalismo (pródigo em cra- shes e pânicos) lançaram no torvelinho da descrença as arrogâncias e as certezas dos sabichões. Mas, para quem não sabe de seus prodígios, a fé não só é capaz de mover montanhas como tem força para negar a realidade. Ainda recentemente, o jornal "Valor Econômico" publicou uma excelente reportagem sobre as diferentes visões e estruturas analíticas que porfiam no campo da chamada ciência triste. A turma da corrente dominante retrucou com impropérios aos questionamentos de sua sabedoria e respeitabilidade.
Um jovem crente indignado escreveu que o jornal "confessou" sua adesão ao pluralismo.
Imagino que, se vivesse na era da Inquisição, o jovem estudioso da produção de riquezas mandaria à fogueira as obras e os seus autores heréticos.


LUIZ GONZAGA BELLUZZO, 66, é professor titular de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).

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