16/08/2009 - 10:22
A verdade é que São Paulo não interessa
Por Tales Faria
O título acima pode parecer uma tremenda heresia, ou até uma idiotice, em se tratando de política e de eleições no Brasil. Como é que o mais populoso e mais poderoso estado do país não interessa?
Dia desses um amigo argumentou que o governador de São Paulo, José Serra, terá de aceitar, por exemplo, o seu velho rival no PSDB local, o ex-governador Geraldo Alckimin, como candidato a governador em 2010. Afinal, como concorrente às eleições presidenciais, Serra precisará dos votos de São Paulo. E Alckmin é o nome mais forte no PSDB.
É verdade! Mas é verdade também que, quando teve algum poder, Alckmin atrapalhou de todas as formas a vida de Serra. Pode-se argumentar que o atual governador não é um homem rancoroso e que demonstrou isto convidando o adversário para seu secretariado. Mas também dá para argumentar que colocar Alckmin sob sua subordinação direta, no comando da Secretaria de Desenvolvimento do Estado, foi apenas uma forma de Serra mantê-lo preso à coleira. Que, mesmo sem rancores, seguro morreu de velho. O governo de São Paulo será sempre um foco de poder. O leitor deve lembrar de Mario Covas, à frente do Estado, no governo Fernando Henrique Cardoso. O presidente tucano não ousava desafiar o governador do estado mais poderoso do país, ainda mais sendo do seu partido. Covas falava grosso. Quem garante que, eleito, Alckmin não voltaria a falar grosso com Serra, mesmo se este viesse a se tornar presidente? E se Alckmin vence e Serra for derrotado por Dilma? O atual governador terá de dar adeus ao comando do partido no estado e entregá-lo de vez às mãos do antigo adversário.
Daí porque continua forte na disputa pela vaga de candidato do PSDB ao governo de São Paulo o secretário municipal da Casa Civil, Aloizio Nunes Ferreira. Muito menos expressivo eleitoralmente, mas com muito menos condições de apoquentar a vida de Serra. O governador teria de aceitar a candidatura Alckmin apenas se o PT tivesse um candidato forte. Mas isto também não está ocorrendo do outro lado. Os nomes que teriam grande potencial eleitoral viraram fracos. E o único que sobrou não é do agrado da cúpula petista, muito menos ainda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eu explico.
Veja os nomes que normalmente seriam fortes em São Paulo: a ex-prefeita Marta Suplicy, o senador Aloizio Mercadante, os ex-ministro Antonio Palocci e José Dirceu e o deputado José Genoíno. Precisa enumerar por que cada um desses hoje enche de dúvidas os corações petistas na hora de depositarem neles as suas esperanças eleitorais? Não vamos falar de mensalões, jardineiros e outras conversas desagradáveis. Por um motivo ou por outro, todos tornaram-se fracos para concorrer ao governo.
Sobrou apenas o senador Eduardo Suplicy. Mas este já não agrada à cúpula petista, nem ao Palácio do Planalto. Suplicy sobreviveu como um nome forte junto à opinião pública exatamente porque não foi solidário com nenhum dos nomes citados acima, quando estes se envolveram em encrencas. O senador petista nunca se subordinou, de fato, ao PT. Agora no caso das denúncias contra o presidente do Senado, José Sarney, é um dos que está empurrando o partido para bater forte, contra as orientações do presidente da República. Tanto que Lula chegou a recriminá-lo num jantar, mais ou menos assim: “Suplicy, há quantos anos você é senador? Mais de 20? E não sabia de nada desses casos do Senado? Nada de nomeações, viagens, benesses? Ora, amigo, cuidado que vai ser difícil você explicar isto para a opinião pública”. Se ele não é solidário, como pode cobrar o apoio?, pensam alguns petistas.
Resultado da brincadeira: as cúpulas nacional e local do PT de São Paulo inclinam-se por nomes bem mais fracos. E estes têm, portanto, muito mais chances que Suplicy de serem os candidatos. O ministro da Educação, Fernando Haddad, conta com a preferência dos petistas radicados em Brasília. O prefeito de Osasco, Emídio de Souza, tem mais penetração no PT de São Paulo. O mal estar com Suplicy é tamanho que Lula tem insistido até em um nome que não conta com a menor simpatia do PT, e que, na verdade, teria poucas chances como candidato a governador de São Paulo: o deputado cearense Ciro Gomes (PSB).
Por essas e outras, São Paulo tornou-se desinteressante. PT e PSDB acreditam que dá para partir para as eleições presidenciais com a porcentagem que cada legenda já detém no Estado. Sem marolas, para nao ter de lançar um candidato fora do controle.
http://colunistas.ig.com.br/blogdosblogs/2009/08/16/a-verdade-e-que-sao-paulo-nao-interessa/
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