"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 18 de novembro de 2007

Os temores sobre os militares!

Folha de São Paulo

São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007
JANIO DE FREITAS
Armas sob nova direção

O aditivo ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas precisa ser visto com reserva pelo Brasil

OS PLANOS armamentistas do Brasil, surgidos de repente e como que do nada, com objetivos encobertos por argumentos improvisados, não se limitam às armas convencionais de guerra, insusceptíveis de restrições por acordos e organismos internacionais. O ministro Nelson Jobim deu indicação nítida nesse sentido, apesar de não percebida pela imprensa, em sua intervenção na 4ª Conferência Internacional do Forte de Copacabana, realizada nos últimos dias.
O aditivo ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Atômicas (o TNP), que procura dar-lhe mais eficiência e rigor, precisa ser visto com reserva pelo Brasil, ao que Jobim disse com a franqueza suficiente nas circunstâncias -diante de representantes da União Européia, do ministro da Defesa de Portugal e de outros numerosos participantes estrangeiros, militares e civis. Isso, portanto, significa mudança na orientação oficial brasileira, direcionando-a para concepções de correntes militares.
A idéia de um submarino nuclear, a pretexto de vigiar os mais de 800 km da nova bacia petrolífera que cobre do Espírito Santo a Santa Catarina, não precisaria aparecer ali, ainda mais com tal argumento, mas deu-se muito bem como acompanhamento da referência de Jobim ao TNP. Uma ilustração leve, digamos.
Em um dos encontros recentes de militares, parlamentares, diplomatas e alguns outros, para troca de informações e análises sobre relações exteriores, segurança e temas correlatos, um alto representante do Exército avançou, em objetividade e clareza, bem mais do que Jobim. Foi, a rigor, até o ponto final: falou na necessidade de que o Brasil domine todo o ciclo da energia nuclear, o que inclui, mais do que o submarino, artefatos de explosões nucleares.
Até onde o atendimento a esta alegada necessidade já progrediu, é quase um ministério, como é próprio de projetos militares. Sabe-se, por exemplo, que a Marinha, desde sempre dotada de quadros mais qualificados técnica e cientificamente, há muito tempo desenvolve pesquisas e equipamentos de processos nucleares. É certo haver outras atividades nesse sentido.
Mas o desconhecimento a respeito dessas atividades não é só do próprio Brasil. Com ajuda decisiva do governo dos Estados Unidos, o Brasil conseguiu que a Agência Internacional de Energia Atômica se fingisse de satisfeita com explicações verbais, ao ser barrada quando pretendeu inspecionar as características, e daí deduzir as finalidades possíveis, de instalações brasileiras de processamento de urânio. O governo Lula desfruta de privilégios, por parte do governo Bush, que se invertem em relação ao Irã, apesar de lá a Agência estar em inspeção ampla e, até agora, sem problema e sem descobertas alarmantes.
Hugo Chávez não é brindado com o mesmo prestígio, o que leva a se esperarem reações fermentadas à sua afirmação, semana passada, de que vai aplicar na Venezuela um projeto de uso da energia nuclear com os modelos do Brasil e da Argentina. Referia-se, ao que pareceu na ocasião, a uso pacífico, até por não constar a existência de projeto militar dos argentinos.
Certo é que as referências, no Brasil, à aquisição de armamentos e à energia nuclear para fins militares não são reações a Hugo Chávez. Pela simples e definitiva razão de que isso não teria sentido -assunto de próximo artigo. A motivação da mudança que se introduz no Brasil é obscura, mas a dimensão de seus efeitos, internos e externos, já se sabe que só pode ser grande e grave.

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