"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Hoje é o dia do Rafael!

O Rafael é um dos meus ex-alunos favoritos. A principal razão é que na minha frente, ele só fala bem de mim, mas há outras razões que eu explicarei adiante. O dia dele deveria ser o dia do aniversário dele, poderia ser o dia do aniversário de Mozart. Nos murais de todas as salas do curso de relações internacionais havia uma assinatura de Mozart, o responsável por esse vandalismo foi o Rafael, ele é fã de Mozart. É isso aí, um sujeito de Mauá com um rato chamado Anúbis e fã de Mozart. Hoje é o dia do Rafael, porque hoje ele está indo para Londres participar de um treinamento para iniciar-se num novo emprego e nova carreira na Royal & SunAlliance. Saiu da área de projetos da IBM. Em julho, ele foi selecionado para um curso de especialização na Itália. E obviamente me contou sabendo primeiro que eu irei ficar muito contente com isso e segundo que quando ele me perguntasse se ele deveria ir, eu passaria a listar todos os problemas, falaria sobre as dificuldades para que não fosse enganado. Conversamos no msn, mas na hora eu não quis dizer se ele deveria ir ou não, disse que iria pensar mais. Mais tarde enviei um longo e-mail expondo todas as questões que deveriam ser consideradas e que ele deveria dizer não. Obviamente não foi apenas pelo o que eu disse, mas ele disse não, não foi. E tomou a decisão certa. Agora insatisfeito com a IBM ele pode escolher para onde ir (não duvidem tenho mais alunos nesta situação em que sobra ofertas de trabalho, o Evandro é outro nesta situação). Mas para isto acontecer é preciso se preparar para isso, é preciso, aprender a pensar, é o fato de ter aprendido a pensar que deu flexibilidade para mudar da IBM para Royal & SunAlliance, trabalhar em áreas completamente diferentes. Porque teoricamente tudo se reduz às mesmas coisas, às mesmas variáveis, quem consegue pensar de maneira abstrata consegue passar do comércio exterior para o marketing, do marketing para gerência de projetos, da gerência de projetos para análise de risco. O que o Rafael possui de especial, é superior aos outros? Não, ele fez uma escolha. Durante a faculdade escolheu estudar e construir as bases para uma carreira no futuro. E vejam que o futuro do Rafael tem apenas um ano ainda, então ainda terá muito mais oportunidades. Já disse uma outra vez, na primeira vez que dei aula para a turma do Rafael, ele era apenas o aluno engraçado da sala. Depois, ele continuou sendo engraçado (menos do que ele pensa, mas engraçado), mas também era o aluno que demonstrava progresso intelectual. Ora quando alguém começa o seu despertar intelectual, o que é preciso fazer?  Exigir mais dela, óbvio. Num semestre eu queria ou a Marilia ou o Rafael no Neri. Eles pediram para pensar. E responderam que só iriam se fosse os dois para que não criasse a situação onde um tinha que estudar e o outro não. Dificilmente ouvirei uma observação similar novamente, e menos ainda a explicação que o Rafael me deu para aceitar, que esses quatro anos da faculdade é para estudar e se preparar, então vamos estudar ao máximo. Claro que eventualmente os dois tentaram me enrolar, claro que nem sempre foram exemplares. Mas se dedicaram intensamente. E neste período de intensa convivência o que eu mais fiz foi combater os aroubos de entusiasmo do Rafael, o entusiasmo deve ser respondido com análise racional para impedir que o resultado sejam ações voluntaristas e inconseqüentes. Ao longo desse período dei palpites demais na vida do Rafael. Alguém que cursa relações internacionais e quer se beneficiar das vantages do curso deve trilhar o caminho que o Rafael trilhou (para não causar ciúmes também pode ser o da Marilia, ou do Evandro, ou da Karen, etc.). O primeiro estágio do Rafael se eu não me engano era numa empresa pequena e em comércio exterior. Aí ele participou da seleção da IBM para a área de marketing e passou. Vejam apesar de estar concorrendo com uma bando de gente que era da área de administração, que estudava marketing. Qual a diferença entre o Rafael, que não sabia nada de marketing (e que provavelmente ainda não sabe) e os outros? Desenvolvimento intelectual que dá flexibilidade para compreender e solucionar problemas de diferentes áreas. Claro que ele também é bom de papo e enrola quase qualquer um. Para o meu desespero, foi anunciada a efetivação dele na IBM alguns meses antes da conclusão do TCC. O tempo seria um problema a partir daquele momento. Foi um problema, mas ele fez um excelente TCC. Um coisa que os alunos muitas vezes não compreendem é que quem é capaz de trabalhar teoricamente uma questão das relações internacionais, analisar de fato um problema por vários ângulos, identificar a insuficiência dos argumentos alheios e dos seus próprios é capaz de diagnosticar os problemas de uma empresa e visualizar soluções para os problemas. A partir daí a diferença está no talento de cada um, no tipo de empresa que o indivíduo está. Voltando ao Rafael, após um ano de IBM, de ter iniciado um curso de aperfeiçoamento na USP e ter sido chamado para pós-graduação, de ter recusado o curso na Itália, está começando uma nova etapa pela qual já dei muitos parabéns para ele e obviamente alerta para os problemas.

É evidente que cursar relações internacionais é difícil, é evidente que a vida não é fácil no mercado de trabalho, é claro que no caso o Rafael também teve sorte. Mas os alunos em geral tendem a dificultar as coisas, tendem a criar problemas para si mesmos sempre que reclamam das dificuldades ao invés de pensar em como superar as dificuldades. Sempre se conversa com o professor para aumentar um ponto na nota está dando um passo atrás, porque está aceitando passivamente as próprias limitações. A reação que leva ao progresso é outra, é estudar mais, dedicar-se mais, cobrar-se mais, perguntar mais, participar mais. Não se resolve problemas com menos atividades, mas apenas com mais atividades. Se tem dificuldade para ler um texto, a solução não é um texto mais fácil, a solução é MUITO MAIS textos, a solução é sempre desafiar-se mais. Se não consegue entender um texto, a solução não é desistir ou trocar de textos, a solução é ler mais textos, textos que tornem o outro fácil. Se não sei escrever, se tenho dificuldade para escrever, a solução não plagiar o texto alheio, a solução é escrever mais, escrever, jogar fora o que se escreveu e reescrever, e jogar no lixo de novo, e voltar a reescrever até que aprenda a escrever. É claro que a vida não é fácil, a vida é uma tragédia atrás da outra, mas os grandes problemas que os alunos enxergam nas suas vidas para impedir o seu crescimento em geral são inexistentes e só estão lá por causa da preguiça, do desânimo, da falta de força de vontade, da ignorãncia sobre o que se quer da vida e de uma visão equivocada da vida enquanto prazer. O único grande obstáculo à carreira é o dinheiro, alguém que tem uma limitação financeira absoluta não tem como ousar na construção da sua carreira, então pode caminhar mais lentamente ou nem caminhar. Fora desta circunstância, todas as carreiras podem ser organizadas e planejadas de modo racional. Ou seja, não se deve aceitar o primeiro estágio que aparece, mas ao mesmo tempo não pode alimentar expectativas descabidas. Deve-se avaliar o que se espera do estágio. Ora o primeiro estágio, se for a primeira experiência profissional pode ser de qualquer coisa, porque ele servirá em primeiro lugar apenas para quebrar a inexperiência absoluta. Aí deve-se avaliar sobre as possibilidades da empresa, a empresa tem futuro para vc? Se tem, é preciso identificar onde, quais áreas da empresa te atrai e buscar ir o mais rápido possível para essa área. Se a empresa não lhe dá perspectiva de futuro é preciso sair o mais rápido possível, é preciso buscar novas oportunidades. Deve-se ficar preocupado em fazer algo compatível com o curso? Não, deve-se procurar algo compatível com vc. E a cada etapa deve-se fazer uma avaliação racional sobre as possibilidades de crescer na empresa onde está e sobre as alternativas. E evidentemente demonstrar competência e interesse em todas as circunstâncias ainda que vc só esteja lá para se aproveitar da empresa e ter sua primeira experiência profissional. Vejam que há um contra-senso no mercado de trabalho, as pessoas estudam para encontrar emprego, mas de fato as pessoas só saberam o que precisam estudar quando estiverem dentro da empresa. Ao entrar numa empresa, vc deve analisar se estudar faz diferença para fazer carreira naquela empresa, favorece promoções, em algum setor ou em todos, quais cursos são valorizados, faz diferença fazer pós-graduação, quanto tempo demora entre a entrada na empresa e a primeira promoção, a empresa tem o costume de efetivar os estagiários, quantos do seu setor são ex-estagiários, tudo deve ser pensado para que não apenas a empresa ganhe com vc, mas vc também lucre. Por exemplo, numa empresa onde a efetivação de estagiários é baixa não faz sentido ficar lá dois anos, não faz sentido concluir o curso estando naquela empresa, é racional pular do barco logo. Não se deve atirar a esmo, deve escolher objetivos e traçar metas, ainda que no meio do caminho os objetivos sejam modificados e as metas não sejam alcançadas. Deve-se tentar administrar a própria carreira como se administraria uma empresa. Assim, mesmo aqueles que não tenham a sorte do Rafael conseguirão construir carreiras sólidas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo em gênero... número e grau com tudo que foi postado...

Parabéns ao meu amigo Rafa Ésper... e parabéns ao professor Corival por nos escutar tanto nas horas de diversão como nas horas que precisamos ouvir alguem experiente para tomarmos algumas decisões que a vida nos impõe.

Nós somos responsáveis pelas nossas carreiras e pela nossa formação. O mercado de trabalho e os corredores acadêmicos não demandam profissionais que possuem as mesmas características... eles querem profissionais diferenciados, que pensam ou pensaram diferente dos outroS, que consigam resolver os problemas de uma forma diferenciada...

Um Abraços.

Evandro PS.