"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 25 de novembro de 2007

Mario Bunge pergunta, a Argentina é subdesenvolvida?

Buenos Aires - Fui informado que os argentinos ainda discutem calorosamente a questão de se nosso país pertence ou não ao primeiro mundo. No exterior, esta pergunta nunca é formulada. Ela é dada como certa: os argentinos pertencem ao terceiro mundo, embora não estejam no mesmo nível do Haiti, Angola ou Bronx
Porém, não se pode dar por resolvida uma questão tão importante como esta. Ela deveria ser debatida racionalmente baseada em critérios objetivos e dados estatísticos; e não em impressões do turista que só passeia pela Recoleta e, portanto, jamais topa com o indivíduo que não freqüenta o café La Biela nem possui um celular.
No fim das contas, se pensarmos que já chegamos à primeira divisão, ninguém fará o esforço necessário para se preparar na segunda com esperanças de subir. Também não haverá esforço se pensarmos que a ascensão ao cume é tão frustrante como a de Sísifo. Como diz o provérbio espanhol: não existe pior luta do que a que não se faz.
Perguntas-chaves
Proponho um teste de entrada ao primeiro mundo que conste de cinco itens: 1. biológico, 2. econômico, 3. político, 4. cultural e 5. ambiental. Eis aqui as perguntas-chaves:
1. A média de vida dos habitantes é de menos de 65 anos? A taxa de mortalidade infantil é de mais de 30 em mil? Existem doenças endêmicas? As mulheres têm em média mais de três filhos? É comum a paternidade irresponsável? O controle de natalidade é infreqüente? Os serviços de saúde pública são escassos e deficientes? A vacinação contra as piores doenças preveníveis é opcional? O Estado descuida das condições de salubridade dos lugares de trabalho? Permite-se o trabalho de crianças menores de quatorze anos? A população carece de acesso às instalações esportivas? O sexismo e o racismo são acentuados?
2. Existe muita desigualdade das rendas? Mais precisamente, o índice de Gini é superior a 0,35? Dito de outro modo: a razão entre a melhor renda e a pior é superior a 10? Muita gente passa fome? A taxa de desemprego involuntário e crônico supera 20%? A produção está concentrada em uns poucos setores? As empresas do Estado são menos eficientes que as privadas? As importações excedem em muito as exportações? A razão da dívida exterior em relação ao produto interno bruto é anormalmente elevada? A porcentagem do orçamento nacional dedicado à educação e à saúde pública está abaixo de 150 dólares por pessoa (o gasto da Costa Rica)?
3. O regime político é autoritário? E está piorando? Houve golpe de Estado, ditadura militar ou estado de sítio no último meio século? Existe violência política? Existem movimentos guerrilheiros? Costuma haver fraude eleitoral? Existe plena liberdade de imprensa e de associação? O Poder Judicial depende de fato do Executivo? O Congresso se limita a votar os projetos que elabora o Poder Executivo? Os cidadãos permanecem à margem da política entre as eleições? As mulheres não têm o direito ao voto e o direito a desempenhar cargos públicos? O número de políticos corruptos supera 1%? A política exterior é ditada por alguma potência estrangeira? O país tem conflitos com algum vizinho? As forças armadas se intrometem na política? Existem esquadrões paramilitares? A polícia é prepotente? Os atos de brutalidade policial permanecem impunes? Os gastos militares superam 1% do PIB?
4. A nação tem religião oficial? A educação está sujeita a influências políticas ou eclesiásticas? A quantidade de analfabetos funcionais supera 10%? Os ensinos básicos e médios são de fato optativos? O número de alunos que abandonam o ensino básico antes de terminá-lo supera 20%? Os docentes recebem salários e aposentadorias insuficientes e sem a regularidade dos militares? As escolas são meros conjuntos de salas de aula? Existe um número insuficiente de escolas técnicas (vocacionais)? As que existem são de má qualidade? Faltam escolas de capacitação de adultos? Existem poucas bibliotecas públicas? Vendem-se menos de dez livros por habitante por ano? As universidades são fábricas de diplomas e comitês políticos? Quase toda a cultura científica, técnica e humanística é importada ou imitada?
5. Permite-se a exploração dos recursos naturais não-renováveis e a destruição da vida silvestre? Não se faz outra coisa além de discursos para evitar as inundações periódicas, a erosão e a desertificação? Tolera-se de fato a contaminação do ar, da água e do solo?
Possibilidades de ascensão
Tocou o sinal. Examine você mesmo suas respostas. Dê um ponto a cada grupo de respostas se em sua maioria forem afirmativas e dê zero se forem negativas. Em seguida, some as cinco qualificações. Se a pontuação total superar 4, admita que o país pertence ao Terceiro Mundo. Neste caso, você já sabe o que tem que fazer: aceitar a realidade e fazer algo para mudá-la, em vez de solicitar um novo empréstimo ao Fundo Monetário Internacional ou pedir a intervenção do Papa.
O que você diz? Não dá para ouvir muito bem. Entendo. É verdade, não somos o último da fila. As Guianas e o Afeganistão estão piores. Porém, basta que estejamos na vanguarda da retaguarda? Diga que isso não lhe basta. Bem, se começa por aí. O que pensa fazer para conseguir subir de divisão? Como? Comprar jogadores de times de primeira? Não, isto não vale. As receitas estrangeiras fracassam porque se fazem na medida dos países avançados, que já resolveram seus problemas básicos. Mudanças de treinador? Sim, isto pode ajudar, mas nunca basta. O novo treinador pode não estar bem treinado. Além disso, não será ele que fará os gols. O principal é levar a sério o treinamento, se colocar de acordo sobre um horário rigoroso e cumpri-lo. De nada, disponha!.
________________________________
Mario Bunge
Colaborador da La Insignia. Este artigo foi publicado originalmente no jornal argentino La Nación

Nenhum comentário: