"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Corrida armamentista?

Folha de São Paulo

São Paulo, terça-feira, 20 de novembro de 2007
JANIO DE FREITAS
Às armas


O país que há duas para três décadas, pelo menos, lidera o armamentismo na América Latina é o próprio Brasil


A CAMPANHA de um grupo de armamentistas no Brasil utiliza Hugo Chávez como um pretexto fácil, que dispensa esforços para mobilizar os meios de comunicação brasileiros, mas o país que há duas para três décadas, pelo menos, lidera o armamentismo na América Latina é o próprio Brasil.
Nem com suas recentes compras de armas a Venezuela se aproxima do arsenal brasileiro e dos ininterruptos investimentos para ampliá-lo, inclusive, com já eficiente produção própria. Em equipamento, o Chile sempre comprador e a Colômbia ajudada pelos Estados Unidos, com armas e homens, têm o bastante para causar imensa inveja ao coronel Chávez.
O Brasil é o único possuidor, na região, de indústria de aviões de ataque. Data da ditadura o acordo de cooperação feito com a Itália para a produção, com a Embraer, do caça a jato então chamado de AMX. Mais recentemente, foi introduzido na linha de produção militar, com êxito até no exterior, o turbo de ataque Tucano. Outros modelos militares estão em estudo, como um grande jato, o C-390, do gênero "transporte tático".
Se algum outro país latino-americano estuda, em sigilo, a produção de foguetes, o Brasil já está na fase prática, sob responsabilidade da Aeronáutica. O domínio desse conhecimento é a base dos denominados projéteis balísticos com ogivas nucleares.
O Brasil é o único, na região, dedicado a construir submarinos, capacidade originada de um acordo de transferência tecnológica da Alemanha. Nesse item do armamentismo, o Brasil se situa ainda mais à frente dos vizinhos com o submarino nuclear, projeto cujo estágio está sob sigilo. Ainda na construção naval, a engenharia e os estaleiros do Brasil têm capacidade superior à de todos os demais na América Latina, embora não para navios de grande porte.
Por falar neles, o Brasil é o possuidor de um porta-aviões, o "São Paulo", comprado pelo governo Fernando Henrique. Chamava-se "Foch" na esquadra francesa, que decidiu vendê-lo e, se não o conseguisse, encostá-lo desativado, por ter o custo de manutenção excessivamente alto. Para a pobre França, bem entendido, não para o rico Brasil.
Lá atrás, chilenos e peruanos puxaram a compra de caças a jato, mas o Brasil logo os seguiu, com as esquadrilhas do francês Mirage e dos americanos da linha F, uns e outros submetidos a atualizações. Os Mirage, já no governo Lula, foram entregues a processos de renovação, pelo combinado Dassault-Embraer, que os equiparam aos mais modernos da fábrica francesa. Essa operação foi adotada porque o fabricante russo Sukhoi, que produz o que é considerado melhor caça da atualidade, ultrapassou todos os obstáculos criados contra a sua vitória na concorrência para a compra de nova esquadrilha pelo Brasil. No final, foram feitas exigências de importações russas de produtos brasileiros; depois, parte da fabricação pelos russos no Brasil, até chegar o que parecia impensável: cessão do conhecimento tecnológico. A Sukhoi aceitou.
Mas não levou: Lula & cia. queriam os novos Mirage, representados por sua amiga Embraer, e o governo dos Estados Unidos, logo batidos os seus F-16, não queria a transação com os russos. Daí a solução de modernizar os Mirage antigos, para sustar a concorrência que os russos venciam. Outra concorrência já está em estudo, o que dobrará a quantidade de caças do Brasil em relação ao que era dado como necessário, quando da concorrência impossibilitada.
Sem falar no projeto de arma nuclear, que está por aí. Diante dele e dos demais, a atacada corrida armamentista da Venezuela consiste na compra de 24 caças russos, o SU-30 do desgosto norte-americano; mil fuzis russos AK-103 e alguns navios leves de construção espanhola. Já o Chile, do qual nada se diz, para pesar de argentinos e bolivianos, aumenta ainda mais sua esquadrilha de caças, com F-16 americanos, e comprou na Alemanha 130 tanques -estes, como instrumentos também de invasão, muito mais ameaçadores para a vizinhança do que os aviões.
No armado Brasil, a campanha dos armamentistas é só um mau negócio. Mau, é claro, para o país.

Nenhum comentário: