"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O otimismo trágico: é preciso buscar uma razão para ser feliz!

Um assunto que me atrai bastante é a psicologia e a psicanálise. Quando tinha uns 14 anos li os cinco volumes da obra de Gastão Pereira da Silva, é uma obra de divulgador, são livros de segunda categoria, mas naquele momento foram suficientes. Hoje se alguém me disser que está lendo estes livros eu direi para deixar de perder tempo. Nesse período me interessei também pela parapsicologia, já havia lido alguns livros do padre Oscar Quevedo antes mesmo dele se tornar famoso no programa do Ratinho e no Fantástico. Fiz até um curso de parapsicologia na época. Voltando para psicanálise e psicologia. Logo no primeiro semestre da faculdade conversando com um professor ele recomendou que eu lesse "Psicologia de Massas do Fascismo" de Wilhelm Reich. O livro é ótimo. Reich foi um dos discípulos de Freud que posteriormente romperam com ele. Reich leva o projeto freudiano às últimas conseqüências fazendo a primeira associação consistente entre Freud e Marx. A psicanálise deveria também interferir nos debates políticos e propor políticas sociais de higiene mental.  Reich é o autor do livro "A Função do Orgasmo" que identifica (ou cria depende de quem fala) o ponto G. Radical, Reich não é bem visto nem pelo movimento piscanálitco nem pelo movimento comunista. Perseguido pelos nazistas e pelo governo americano, Reich escreve um livro, que eu adoro, "Escuta, Zé Ninguém", que é um libelo contra a mediocridade. É impressionante a força que a mediocridade tem de se propagar e dominar e de perseguir quem não se submete. Hoje mais ainda do que na época de Reich pensar é crime. A situação piorou porque a esquerda aderiu à mediocridade, à massificação. Voltando à psicanálise, após ler Reich, conheci a obra de Erich Fromm, quem conhece os livros mais populares de Fromm, como "A Arte de Amar", pode pensar que ele é mero divulgador. Na verdade não é assim, Fromm tem a sua origem na Escola de Frankfurt, o excelente livro "Medo à Liberdade" é resultado das pesquisas desta época. O livro mostra como os indivíduos tem verdadeiro pânico de serem indivíduos e por isso se entregam a movimentos de massa como o nazismo. A obra posterior de Fromm se torna mais popular porque ele tenta convencer o mundo da necessidade de uma plano racional para superar a barbárie para a qual caminha a humanidade. Fromm é um verdadeiro humanista, tenta uma síntese diferente entre Freud e Marx. Uma das observações mais inusitadas feitas por Fromm é associação que ele faz entre o marxismo e o budismo. Claro, que essa associação só existe na leitura humanista que Fromm faz do marxismo. Depois de Fromm e Reich, descobri Alexander Lowen, criador da análise bioenergética. Lowen é um discípulo de Reich, mas retira da teoria reichiana todo o componente político. Reich avança em relação à psicanálise freudiana por afirmar que as neuroses possuem uma expressão corporal, por isso a análise freudiana é insuficiente para atacar o problema. As neuroses precisam ser combatidas também no nível corporal. Reich desenvolve algumas técnicas para isso. E Lowen irá se dedicará basicamente a isso, às técnicas para desbloquer a energia corporal, isso é a análise bioenergética. Então um terapeuta que trabalha nessa linha não ouvirá apenas o paciente, mas mandará o paciente fazer alguns "exercícios". Para os incautos poderá parecer algo similar a Yoga. Li todos os livros de Lowen traduzidos para o português, as melhores introduções são "O medo da vida" e "O corpo em depressão". Ainda não consegui gostar de Jung, então o próximo da lista não é Jung. Mas Viktor E. Frankl criador da logoterapia ou análise existencial. O título deste post decorre da concepção de Frankl. Frankl no livro “Em busca de sentido” afirma que um médico americano lhe perguntou “Poderia o senhor dizer-me, numa única sentença, o que quer dizer logoterapia, ao menos qual a diferença entre psicanálise e logoterapia? – “Sim”, repliquei, “mas, em primeiro lugar, pode o senhor dizer-me com uma só sentença o que pensa ser a essência da pscinálise?” – Eis sua resposta: “Durante a psicanálise o paciente precisa deitar-se num sofá e contar coisas que às vezes são muito desagradáveis de se contar.” – Ao que retruquei imediatamente com o seguinte improviso: “Bem, na logoterapia o paciente pode ficar sentado normalmente, mas precisa ouvir certas coisas que às vezes são muito desagradáveis de se ouvir.” E eu já citei em sala esta frase para uma turma para dizer exatamente que eu iria praticar a logoterapia, iria dizer coisas que precisam ser ditas, mas não são agradáveis de serem ouvidas. E por que, segundo Frankl, é preciso dizer estas coisas? Porque é preciso reconhecer que avida é marcada pela tragédia, pelo que ele chama de tríade trágica: a dor, a culpa e a morte. Não há como ser feliz se o indivíduo buscar evitar a dor, a culpa e a morte, elas são inexoráveis, fazem parte da existência, enquanto o indivíduo estiver vivo sofrerá com a dor, a culpa e a morte, então o que se há de fazer? Há que se buscar um sentido para a vida, é preciso dar um sentido para a vida para que a dor, a culpa e a morte sejam suportáveis. E, por isso, o otimismo trágico. É  preciso, segundo ele, ser otimista diante da trágedia, é preciso lutar para realizar alguma coisa, o sentido da sua vida, para que o peso da tragédia na vida seja reduzido, é preciso encontrar uma razão para ser feliz. Diz Frankl, "há tr~es caminhos principais através dos quais se pode chegar ao sentido na vida. O primeiro consiste em criar um trabalho ou fazer uma ação. O segundo está em experimentar algo ou encontrar alguém; em outras palavras, o sentido pode ser encontrado não só no trabalho mas também no amor. (...) O mais importante, no entanto, é o terceiro caminho para o sentido na vida: mesmo uma vítima desamparada, numa situação sem esperança, enfrentando um destino que não pode mudar, pode erguer-se acima de si mesma, crescer para além de si mesma e, assim, mudar-se a si mesma." Ou seja, aceitar o sofrimento inevitável, dar um sentido a ele, transformar-se pelo sofrimento.

Mas tudo isso para chegar no ponto que eu quero tratar que é asituação contraditória do amor como dando sentido à vida. Uma pessoa que odeia, que deseja vingança pode construir sua vida em torno disso superar os obstáculos, pode-se odiar sozinho. O amor não permite isso, não se pode amar se sozinho, o amor só pode dar sentido à vida no interior de uma relação, o que significa que a felicidade de um depende da felicidade do outro. E caso não haja correspondência? Neste caso, ao contrário de dar sentido à vida, o amor mata a vida, converte sonhos em pesadelos, a felicidade em depressão. O amor ao não ser correspondido é paralisante. E não há como dar sentido a ele, é preciso extirpá-lo ou sublimá-lo. Enquanto o processo não se esgota é impossível seguir adiante, é impossível encontrar um novo sentido para a vida. E aí reside a fraqueza da logoterapia, ao sofrimento trágico e inelutável é possível dar sentido, mas ao sofrimento decorrente das neuroses e dos sentimentos não cabe dar sentido, porque ele é a patologia. Ele apenas consome e deprime a alma. E ao mesmo tempo, quem se coloca acima destes sofrimentos, quem os considera insignificantes, irrelevantes não está se colocando numa posição de superioridade que é insustentável? E há razões inválidas para ser feliz? Outro problema é supor uma escolha racional, é impressionante como escolhas racionais são inviabilizadas por reações emocionais e irracionais. Por exemplo, qualquer indíviduo racional jamais escolheria o caminho do amor por ser deveras tortuoso, complicado. Mas infelizmente a razão é incapaz de impedir que ele seja jogado por nesta caminho ainda que não queira. E quando o amor vence a razão deixa marcas que o tempo não apaga, destrói uma ordem e nada coloca no lugar. Como alguém outrora escreveu "Quando te conheci, pensei que você fosse um presente de Deus pra mim. Mas não foi e não será. Agora parece mais a tentação enviada pelo diabo para me tirar do caminho, para eu me perder, romper a minha ordem e me jogar na loucura. E agora eu preciso lutar diariamente para não ser tomado pela loucura, porque não será pela loucura do amor."  Entendo que certas vertentes da psicologia idealizam profundamente o amor.

Finalizando, há dois cursos que eu gostaria de ministrar um apenas sobre marxismo e outro apenas sobre a psicanálise na análise social. Boa parte da dificuldade dos alunos é porque nunca fizeram perguntas a respeito de si mesmo que possam ser transferidas para a sociedade. Ninguém pode pensar sem ter tido uma crise existencial, apenas quando se questiona sobre a realidade pessoal é que se caminha para a construção intelectual consistente.

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