A notícia abaixo mostra a China defendendo a substituição do dólar como moeda internacional. Em primeiro lugar, a proposta não é nova. Keynes em Bretton Woods propôs uma moeda para as transações econômicas internacionais que não estivesse vinculada a qualquer país. Os EUA foram contrários, e a partir das idéias keynesianas Dexter Whitte formulou a proposta americana que resultou no sistema de Bretton Woods. Sintomaticamente o país que mais se beneficiaria das idéias keynesianas desde a década de 60 seria os EUA. A mesma idéia foi recuperada na década de 1960 com o os Direitos Especiais de Saque do FMI, mas os DES nunca ganharam importância efetiva. A burocracia do FMI tentou expandir a importância dos DES na década de 1970, mas foi brecada pelos EUA que identificaram aí uma ameaça ao valor do dólar após o colapso de Bretton Woods.
E aí temos o segundo ponto a ser ressaltado, não é um bom momento para uma discussão pública sobre a moeda internacional. É o momento para as discussões reservadas. Mesmo a China tendo dito que continuaria financiando os EUA o simples fato do principal credor americano defender uma mudança no padrão monetário tende apenas a aumentar a instabilidade internacional. A posição da China é muito vulnerável, é a maior credora, mas é credora na moeda do próprio devedor. Qualquer mudança no valor do dólar afeta a China diretamente. De fato para a China uma crise monetária seria muito mais grave do que uma crise financeira.
Por fim, há que se notar que a China ainda não aprendeu a operar no sistema internacional. Expõe publicamente questões que deveria tratar nos bastidores. Perde a oportunidade de comprometer os outros países na sua liderança ao tomar medidas unilaterais. A China não será o centro do mundo pela supremacia militar e nem terá uma supremacia econômica como a dos EUA, então é preciso enredar os demais Estados.
São Paulo, terça-feira, 24 de março de 2009
China sugere que dólar seja substituído por moeda internacional de reserva
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O banco central da China sugeriu ontem que o dólar seja substituído por uma moeda internacional em um novo sistema a ser controlado pelo FMI.
A ideia é que a nova moeda de reserva "seja desconectada de condições econômicas e interesses soberanos de um único país" e que possa continuar "estável a longo prazo, removendo as deficiências inerentes em usar moedas nacionais baseadas em crédito", escreveu o presidente do BC chinês, Zhou Xiaochuan, em texto divulgado ontem no site do órgão.
Zhou não cita diretamente o dólar, mas a moeda é a de maior peso no sistema que o economista diz que precisa mudar.
É a segunda vez em dez dias que uma autoridade do governo chinês expressa preocupação com a saúde da moeda norte-americana.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro Wen Jiabao afirmou estar preocupado com a situação financeira dos EUA. "Quero pedir que os EUA cumpram sua palavra e seus compromissos, preservando a segurança dos ativos chineses", disse.
Estima-se que de US$ 1,9 trilhão em reservas internacionais que a China tem, metade seja de títulos do Tesouro americano. Teme-se que a emissão de moeda para sustentar os planos de resgate do governo Obama levem à inflação e à desvalorização do dólar.
Cesta de moedas
A sugestão do presidente do BC chinês é expandir o papel dos chamados "direitos especiais de saque" do FMI. O valor dos direitos especiais de saque é baseado em uma cesta de quatro moedas -o dólar, o euro, o iene japonês e a libra esterlina, do Reino Unido.
A proposta chinesa expandiria a cesta para todas as grandes economias e criaria um sistema com outras moedas que poderiam ser usadas em comércio e transações financeiras.
Na sugestão de Zhou, os países colocariam parte de suas reservas em direitos especiais de saque ao FMI -essas moedas substituiriam as reservas.
O economista americano Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia que está em Pequim, também sugeriu a criação de uma moeda mundial.
Mas, para negar que a China vá deixar de financiar o déficit americano, o diretor da Administração Estatal de Reservas Internacionais da China, Hu Xiaolian disse ontem que o país continuará a comprar títulos do Tesouro dos EUA.
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