Já se velou muito difunto que "ressuscitou" quando o caixão estava baixando, então ainda não é hora de acendermos vela para o neoliberalismo. O neoliberalismo é mau difunto, especialmente porque só o conhecemos pelo apelido. O que a esquerda chama de neoliberalismo é um fantasma criado pelos próprios críticos que jogam dentro de um mesmo rótulo uma série de idéias que nem sempre pertencem ao mesmo universo teórico e intelectual. Há uma riqueza teórica no interior do "neoliberalismo" que passa despercebido aos críticos. Atacar uma série de bobagens ditas por Milton Friedman é fácil, atacar o autoritarismo do Hayek também, entretanto as concepções ortodoxas da economia são amplas e variadas. Antes do difunto ser enterrado é conveniente manter a atenção para ver se não será apenas uma mudança na corrente hegemônica no interior da própria economia ortodoxa.
E às vezes o que parece diferente não é senão outra forma de apresentação do mesmo conteúdo. Os setores reformistas, a esquerda não-revolucionária estabeleceu um caso de amor com Stiglitz. Entretanto o Stiglitz pelo qual eles se apaixonaram não existe, ou melhor, existe apenas no discurso político. O universo teórico de Joseph Stiglitz é o da economia neoclássica. Stiglitz não é um keynesiano de fato, é keynesiano apenas dentro do universo da economia neoclássica das expectativas racionais. Ou seja, reconhece que há alguns entraves no mercado que impedem que o mercado funcione como previsto pela teoria dos novos clássicos. Mas daí a ser keynesiano no sentido que será keynesiano nos 1950, 1960 ou no sentido dos pós-keynesianos, ou mesmo ser um heterodoxo qualquer que seja o sentido do termo há uma longa distância. A teoria do Stiglitz não fundamenta um novo mundo, apenas melhora a maquilagem do velho mundo. E aí que mora o perigo, é bastante provável que as principais propostas de reforma do sistema ao invés de resolver o problema sirvam apenas para encobri-lo.
Do ponto de vista das relações internacionais também não se deve ter muitas esperanças no fim do neoliberalismo porque esta é uma crise sui generis, é uma crise sem vencedores. E quando não há vencedores gera-se uma indefinição sobre o princípio que irá fundamentar a reorganização do sistema porque ninguém é capaz de impor o seu e a disperidade de interesses impede a formação de um consenso na ausência de hegemonia clara. Por exemplo, na crise atual, uma solução séria para crise envolveria uma redefinição da posição do dólar na economia mundial e uma imposição de uma reorganização do setor externo norte-americano. Mas quem acredita que isso irá ocorrer? Quem imporá isso aos EUA? E que presidente norte-americano proporá uma reforma que implique uma perda de improtância do dólar na economia mundial?
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