"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

domingo, 2 de dezembro de 2007

Religião nas eleições americanas!

Washington - George W. Bush foi reeleito presidente dos Estados Unidos em 2004 devido à mobilização de eleitores religiosos e conservadores em onze estados chaves –especialmente no Estado de Ohio– designados como objetivos pelo estrategista da campanha de Bush, Karl Rove.
Bush nomeou Rove como “o arquiteto” de uma estratégia política e eleitoral que organizou iniciativas cidadãs com relação ao casamento entre homossexuais e a promoção da “emenda matrimonial” que condicionaria o reconhecimento de direitos matrimoniais à união de “um homem e uma mulher” (nos Estados Unidos, cada Estado define e regulamenta o casamento, as uniões civis e as uniões estáveis).
Bush ganhou as eleições por somente 113.000 votos de vantagem ao se apropriar do Colégio Eleitoral de Ohio. Uma exaustiva análise realizada pelo Washington Post mostrou qual foi o fator decisivo em Ohio para que Bush obtivesse a vitória (51%) e a aprovação da emenda matrimonial de Ohio (62,6%). A explicação esteve, em grande medida, nos decididos esforços das congregações evangélicas para buscar-votos junto aos chamados eleitores-conservadores. Pode-se concluir que os votos dos conservadores cristãos foram realmente determinantes em 2004. Terão a mesma influência em 2008?
Eleitores-Conservadores
O termo eleitor-moral significa uma série de temas sociais e morais que une os eleitores conservadores religiosos, quer sejam eles católicos, evangélicos, protestantes, mórmons, judeus ou muçulmanos.
Os temas são: casamento homossexual, aborto, pesquisa sobre células-tronco, ensino do criacionismo, orações nas escolas públicas e o “ensino da abstinência” que limita a educação sexual nas escolas públicas ao planejamento familiar natural. 23% dos eleitores norte-americanos são evangélicos protestantes e estão bastante motivados por esses temas. Deve-se levar em consideração que em suas congregações locais o pastor tem um papel significativo em temas “morais” que, na prática, são temas políticos.
Os eleitores identificados com essas temáticas ganharam dez das onze iniciativas estatais cidadãs sobre casamento homossexual e em cada um desses estados Bush também obteve maioria. Os conservadores católicos e os bispos norte-americanos foram parte deste esforço e, segundo o Pew Research Center, pela primeira vez na história dos Estados Unidos o voto católico (52%) favoreceu a um candidato presidencial republicano.
As leis tributárias norte-americanas proíbem os líderes religiosos de falarem de temas políticos. Não obstante, muitos dos mais importantes deles, como James Dobson, de Focus on the Family, e o desaparecido Jerry Falwell, de Moral Majority, com freqüência se expressam desde sua condição de “cidadãos” através de organizações sem fins lucrativos alheias à instituição religiosa.
Iraque e os valores mutáveis
Embora Karl Rove tenha obtido muito sucesso em 2004 ao desenvolver uma estratégia ganhadora baseada em valores, essa mesma fórmula de trabalho não conquistou a maioria nas eleições parlamentárias de 2006.
Em março de 2003, 75% dos norte-americanos apoiavam a guerra do Iraque, majoritariamente convencidos de que Saddam Hussein tinha “armas de destruição massiva”. Em 2006, os eleitores sabiam que elas nunca existiram e –de acordo com uma pesquisa da CNN– 61% tinham tirado seu apoio dessa incursão bélica. Essa mudança permitiu que os democratas obtivessem a maioria no Senado e na Câmara de Representantes pela primeira vez desde 1994, quando a Moral Majority jogou um papel significativo no alinhamento do Partido Republicado com a Coalizão Cristã.
O Washington Post indica que hoje em dia 68% dos norte-americanos são contra a guerra, fazendo deste um tema principal para as próximas eleições. Porém, apesar disso, está claro que a liderança religiosa norte-americana foi e continuará sendo insignificante na discussão sobre a moralidade da presença militar no Iraque. Os cidadãos querem que ela termine, mas seus argumentos são de índole econômica e humana. Isto é algo diferente ao ocorrido durante o conflito do Vietnã, quando a religião desempenhou um importante papel no discurso sobre a moralidade da mesma.
Escândalos entre conservadores
Além da mudança no apoio à presença militar no Iraque, devem-se considerar as implicâncias de uma série de escândalos éticos e sexuais que afeta pastores evangélicos e líderes políticos.
Justo antes das eleições de 2006, o reverendo Ted Haggard se viu obrigado a renunciar como presidente da National Association of Evangelicals após admitir ter utilizado os serviços sexuais de um garoto de programa durante quatro anos e ter sido um consumidor habitual da droga ilegal crystal meth (metanfetamina). O congressista Mark Foley, da Flórida, renunciou o seu cargo depois de admitir ter solicitado favores sexuais de jovens assistentes menores de 18 anos de idade do congresso. Em agosto de 2007, o senador republicano Larry Craig se declarou culpado por haver solicitado sexo com um homem no banheiro do aeroporto de Minneapolis.
Estes incidentes contribuíram para a desmoralização perante os eleitores conservadores religiosos. Muitos eleitores desse setor também começaram a criticar o Partido Republicano que, tendo controle da Presidência, da Câmara e do Senado, não conseguiu a aprovação da Emenda Federal da lei do casamento, limitações mais severas do aborto e da pesquisa de células-tronco.
Por outro lado, muitos componentes da classe trabalhadora ou da classe média também estão começando a sentir que os efeitos da política econômica de Bush assim como suas medidas de impostos, hipotecárias e de saúde não lhes ajudaram a progredir.
Moralmente conservadores, socialmente progressistas
Recentemente 86 líderes evangélicos encabeçados pelo reverendo James Wallis de Sojourners Magazine, pelo reverendo Rick Warren, autor do best-seller The Purpose Driven Life [Uma vida com propósito] e pelo reverendo Richard Cizik da National Association of Evangelicals, assinaram uma declaração para ajudar os cristãos a compreender a importância do aquecimento global como um tema de justiça social cristã.
Estes líderes estão influenciando toda uma nova geração de evangélicos cultos que são moralmente conservadores, mas socialmente mais progressistas e com uma mentalidade mais independente na hora de votar. São muito similares aos conservadores católicos, episcopais, metodistas, batistas, etc., que respeitam o papel da ciência nas políticas públicas e que valorizam o fato de os norte-americanos viverem em uma sociedade diversa e complexa. Esse tipo de grupo de interesse de eleitores está crescendo e muitos já fizeram parte das campanhas dos potenciais candidatos democratas: Barack Obama, John Edwards e Hillary Clinton.
A pesquisadora democrata Celinda Lake declarou sobre esta tendência entre evangélicos: “a influência divina não desapareceu, mas se estreitou. E em parte se estreitou porque os eleitores evangélicos tinham questionamentos importantes sobre a direção do país.”
O voto católico e a eleição de 2008
Os bispos católicos norte-americanos apóiam decididamente a imigração e a reforma do sistema de saúde dos Estados Unidos. Apesar de serem “moralmente conservadores” em temas como aborto, investigação das células-tronco e casamento homossexual, eles são “socialmente progressistas”.
Isto outorga ao eleitor católico uma perspectiva mais ampla que a de muitos conservadores evangélicos sobre os valores e os temas.
Os candidatos presidenciais democratas estão colocando mais atenção ao voto católico desde que em 2004 o candidato presidencial John Kerry não foi capaz de falar sobre sua fé católica de uma maneira adequada para se conectar com os eleitores-conservadores. Esses postulantes centrarão sua mensagem em temas sociais progressistas como sistema de saúde, salários, moradia e uma sociedade inclusiva e diversa –tradicionalmente, todos “temas católicos”– sem muita discussão sobre o casamento homossexual ou o aborto. Dessa maneira buscarão recapturar o voto católico para o Partido Democrata.
Existem vários candidatos católicos em ambos partidos para as eleições presidenciais de 2008.
Entre os republicanos estão o senador pelo Kansas, Sam Brownback; o ex-governador de Wisconsin, Tommy Thompson e o prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, considerado como o favorito do GOP (Grand Old Party – o Velho Grande Partido). Junto deles está o senador pelo Arizona, John McCain, um episcopal; o ex-governador do Massachussets, Mitt Romney, mórmon; e o ex-governador do Arkansas, Mike Huckabee, um ministro batista consagrado.
Os católicos que competem pela nominação democrata incluem o senador por Delaware, Joseph Biden; o senador por Connecticut, Christopher Dodd; Dennis Kucinich, representante de Ohio; o governador do Novo México, Bill Richardson e o governador de Iowa, Tom Vilsack. Os favoritos entre os democratas são Hillary Rodham Clinton, metodista, senadora por Nova Iorque; John Edwards, batista, ex-senador pela Carolina do Norte e Barack Obama, membro da Igreja Unida de Cristo, senador por Illinois.
À exceção dos republicanos Brownback e Thomson, todos os candidatos católicos estão a favor de conservar a legalização do aborto e das uniões civis homossexuais.
Mudança de ética
A esta altura –a quase um ano das eleições de 4 de novembro de 2008– está claro que a religião terá um papel mais moderado nas eleições nacionais.
Os 20 anos durante os quais os eleitores-conservadores ou cristãos tiveram grande influência nos debates nacionais estão dando lugar a uma tradição mais judaico-cristã norte-americana. Esta tende a se centrar mais em princípios de inclusão social e igualdade de oportunidades, no papel do governo em prover uma rede econômica protetora, na proteção das crianças, dos inválidos e dos idosos e na educação pública promotora do bem comum.
O Partido Democrata teve muitos problemas na discussão de valores religiosos depois da aventura do Presidente Clinton com Monica Lewinsky.
Hoje em dia ambos partidos estão mudando sua retórica em direção a uma agenda política ampla “baseada na fé”, mais conforme com uma sociedade pluralista e diversa. Os democratas tiveram mais sucesso. Há grande desconfiança entre os jovens em uma agenda política muito cristã ou socialmente conservadora. Nos debates os candidatos falaram sobre sua vida religiosa e espiritual de tal maneira que ficou claro para o público que a fé é importante em suas vidas públicas. Isto é parte de uma longa tradição norte-americana, mas desde 1992 é cada vez mais importante em uma cultura onde 91% das pessoas crêem em Deus, 90% rezam regularmente, 51% não crêem na evolução, 35% vão à missa pelo menos uma vez por mês, 31% interpretam a Bíblia de forma literal e 27% lêem a Bíblia durante a semana.
A religião é uma parte importantíssima da cultura política norte-americana e não é de se surpreender que a religião tenha um papel nas eleições nacionais.
Todo ciclo eleitoral mostra mudanças no papel da religião. Os indicadores para 2008 mostram que a religião desempenhará um papel moderado na mudança do discurso político rumo a uma agenda mais “socialmente progressista”, com temas como a saúde, oportunidades de educação, aquecimento global e o meio ambiente como temas centrais do debate político. Os escândalos, o esgotamento e a guerra do Iraque debilitaram a coalizão de eleitores motivados por fatores morais do Partido Republicano. A questão central para 2008 é: poderão os democratas usar com sucesso os valores e tradições judaico-cristãs para reconquistar os votos de católicos, latinos e independentes que se perderam nas eleições de 2000 e 2004?
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Joseph M. Palacios
Ph. D. Departamento de Sociologia e Antropologia, Georgetown University, Washington DC

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