"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 1 de dezembro de 2007

Neutralidade como problema


São Paulo, quinta-feira, 29 de novembro de 2007


KENNETH MAXWELL
Nem Finlândia, nem África

ERA UMA VEZ, um palavrão: "finlandização". Aos olhos de líderes da Guerra Fria, como Henry Kissinger, era algo "muito ruim". A Finlândia se manteve neutra durante a Guerra Fria, até porque não poderia ser outra coisa, dada a proximidade com a União Soviética.
Mas a neutralidade era vista como uma deficiência moral na luta entre o bem (a liberdade) e o mal (o comunismo). Evidentemente, a história era mais complexa do que isso. Kissinger não via problema nenhum em fechar acordos com tiranos comunistas. Afinal, era isso que significava a détente com a União Soviética, e o mesmo se pode dizer sobre a abertura de Nixon e Kissinger para com a China de Mao Tsé-tung.
O verdadeiro problema quanto aos neutros era eles serem independentes tanto dos Estados Unidos quanto da União Soviética, e o fato de que não podiam ser controlados por Washington ou Moscou. Mas isso ficou no passado. Hoje "finlandização" adquiriu novo significado.
Neste Natal, ao longo da avenida Paulista, em muitas esquinas e nos saguões de diversos edifícios, podem-se encontrar pinheiros "finlandeses". Não são de verdade, claro. O Brasil dispõe de muitos recursos florestais naturais, mas árvores características das florestas do hemisfério norte não estão entre eles. Esses pinheiros artificiais paulistanos são produtos plásticos importados da China. O novo comércio sul-sul em ação. Reais fortes comprando produtos chineses baratos que imitam os pinheiros do hemisfério norte. E não só em São Paulo. Em todo o Brasil, neste ano, os shopping centers estão investindo R$ 350 milhões em promoções natalinas, 15% a mais do que no ano passado.
Perguntei às avós de amigos que visitei nesta semana em São Paulo o que elas lembravam de natais passados. Visitas à família e amigos. Celebrações e rituais religiosos. Presépios aos quais as famílias levavam presentes e pinheiros-do-paraná, brasileiros, nas igrejas. Um mundo mais tranqüilo. Com certeza melhor do que as grotescas decorações em laranja e vermelho, amarelo e verde-abacate, afixadas às laterais do edifício da Fiesp. Elas parecem uma mistura de ovos mexidos com pastilhas de chocolate M&M.
Junto deles há um cartaz com um poema do português João Cabral do Nascimento (1897-1978) que diz: "Não há pinheiros nem há neve. Nada do que é convencional".
De fato, não estamos na Finlândia, mas a Fiesp não informa o título do poema. É "Natal Africano".


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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