"Desde mi punto de vista –y esto puede ser algo profético y paradójico a la vez– Estados Unidos está mucho peor que América Latina. Porque Estados Unidos tiene una solución, pero en mi opinión, es una mala solución, tanto para ellos como para el mundo en general. En cambio, en América Latina no hay soluciones, sólo problemas; pero por más doloroso que sea, es mejor tener problemas que tener una mala solución para el futuro de la historia."

Ignácio Ellacuría


O que iremos fazer hoje, Cérebro?

sábado, 28 de abril de 2007

Comentários diversos sobre Barra do Garças

Como todos estão cansados de saber sou de Barra do Garças MT, que fica na divisão entre Goiás e Mato Grosso, onde os rios Garças e Araguaia se encontram. Parêntesis, as duas pontes estão quebradas, a que liga Aragarças ao Pontal do Araguaia e a que liga Pontal do Araguaia à Barra do Garças. Está um caos, é preciso pegar uma balsa para atravessar o Rio Araguaia e ir para Barra do Garças, e depois quem quiser ir para o Pontal pega a ponte de volta, mas passando um carro por vez. Há duas balsas que pode levar 40 carros, mas a espera pode chegar ser de mais de três horas, um horror. Ficar parado no trânsito de São Paulo, Rio de Janeiro ainda vá lá, mas em Barra do Garças é fim da picada. Obviamente fugi do assunto. Voltando, todo Estado ou cidades tem as suas expressões locais e é este o assunto.
Por exemplo, tenho uma amiga, da qual gosto mundo, que logo que nós conhecemos disse que na cidade dela ao se atender ao telefone se dizia “de gol”, como eu gosto muito dela, quando ela me telefonou e falou isso, eu falei também. Não custava nada me fazer de besta. Mas até hoje não acredito que alguém diga, como não vou telefonar pra outras pessoas na cidade, ficarei com a dúvida. Mas por causa disso, quis saber se na minha cidade havia alguma esquisitice que eu desconhecesse. Então falei pra minha mãe conversar com o sr. Valdon Varjão, dono do cartório, criador do discoporto, ex-vereador, ex-senador biônico, ex-prefeito e historiador por conta própria. Ele escreveu algumas dezenas de livros sobre a região, então ele tinha que saber. Mas segundo ele, não é ignorância minha, não há mesmo expressões locais, formas de falar específicas da cidade. No entanto, há expressões de Mato Grosso e especialmente de Cuiabá. Entretanto na minha cidade isso não circula porque o vínculo de Barra do Garças é muito mais com Goiânia do que com Cuiabá. Quem fica doente vai para Goiânia, entre passear na capital de MT e na capital de GO, a opção é pela de Goiás. Eu nunca fui à Cuiabá, enquanto sempre vou a Goiânia. Assiste as retransmissoras de televisão de Goiânia e não de Cuiabá. Enquanto o fuso horário de MT é atrasado em uma hora em relação ao de Brasília. Em Barra do Garças segue-se o fuso horário de Brasília (exceto no horário de verão). Em meados dos anos 80, o prefeito, se não me engano era o Carolino Gomes dos santos, inventou de adotar o fuso de Cuiabá e colocar as emissoras de Cuiabá no ar, foi um problema, pra mim as pessoas que apareciam nos comerciais das emissoras cuiabanas eram tão estranhas que pareciam de outro país. Obviamente o prefeito voltou atrás na medida, ele só não abalou mais a minha infância do que o José Sarney com o Plano Cruzado que provocou o desabastecimento dos produtos que eu gostava. Mas enfim esta ligação com Goiás faz com que nós não tenhamos sotaque cuiabano, mas também não temos sotaque goiano. Pelo menos para o meu ouvido. Mas ninguém gosta também quando chamam a região de mato-grosso goiano.
Quando mudei para Brasília descobri que goiano é palavrão. É um dos alívios de ser mato-grossense, ninguém diz nada a favor, mas também não tem uma crítica pronta. Então em Brasília, se você quer xingar outro motorista, chama de goiano. O que em São Paulo é baianada, em Brasília é goianada. A primeira faculdade que eu dei aula ficava no entorno de Brasília, ou seja, em Goiás, em Cidade Ocidental se eu não me engano, anteriormente Luziânia. Os professores sempre diziam (excluindo eu obviamente) se a gente conseguir ensinar economia pra goiano, podemos dar aula em qualquer lugar. E pior é que a primeira turma de goianos que fez Provão (o do governo FHC) ficou com nota B, a maior da faculdade e superior a todas as faculdades particulares de Brasília e Goiás. Até que hoje eu não acredito, acho que foi algum tipo de anomalia estatística que colocou aquela turma no patamar superior e tornou a vida das turmas melhores muito mais difícil. Parêntesis, uma das explicações para o sucesso foi o meu método de ensino que havia sido generalizado, já contei como lá passaram a conversar era com os professores que davam muitas notas altas e aprovavam todo mundo. Aí o curso que teve o pior desempenho foi o de pedagogia, eles ficaram revoltados não só porque as teses libertárias falharam, mas porque agora queriam que eles fossem chatos como eu. Se a pedagogia moderna não funciona com os pedagogos, imagina com o resto.
Voltando à Barra do Garças, se não há formas de expressão, há crendices. As pessoas acreditam em tudo de disco voador, entrada para os mundos subterrâneos. Meu pai tinha uma fazenda no município de Torixóreu quando meus irmãos e eu éramos crianças, crescemos lá até chegar o período de ir para a escola. Depois que aprendemos a andar a cavalo sempre íamos junto com o vaqueiro para ajudá-lo (nem sempre o resultado era esse), os locais que mais gostávamos de ir eram o pasto das éguas e os pastos que ficavam depois dele, especialmente um. O pasto das éguas era meio sombrio, primeiro porque era longe da sede da fazenda e portanto era silencioso, além disso tinha mata de galeria fechada, e numa estrada, a mata cobria toda a estrada impedindo a passagem do sol. Então quando nós éramos crianças gostávamos de ir a cavalo nessa região, mas também tínhamos medo. Um dos vaqueiros lá da fazendo acreditava em todas as histórias sobre fim do mundo, monstros e etc. E foi justo nesse lugar que ele inventou de começar a contar história sobre a lagoa que se você atravessar nunca acha o caminho de volta, e sobre o fim do mundo, foi a primeira vez que eu ouvi a expressão dos dois mil não passarás. E como ele insistiu nestas bobagens. E óbvio quando ele viu que nós ficamos com medo aí que as histórias aumentaram. Infelizmente não vou poder contar as histórias dele, porque tenho péssima memória pra isso e claro os fatos são de meados dos anos 80. Meu irmão que é bom para contar a história, guarda todas as besteiras que aconteceram com a gente desde pequeno.
O Beto era um sujeito que em várias épocas diferentes trabalhou como vaqueiro pro meu pai. Eu achava o Beto muito chato, mas para quem gosta de história inventada ele é ótimo. Depois de um longo período sem ele trabalhar pro meu pai e sem termos notícias dele, ele apareceu na livraria da minha com um sujeito que havia escrito um livro sobre os acontecimentos misteriosos da região, depoimento de várias pessoas que participaram ou presenciaram os fatos. Um dos depoimentos era do Beto contando sobre ter visto um disco voador. Claro que a minha mãe pegou um exemplar pra mim, mas num livro onde o Beto é testemunha não se pode acreditar. O livro não vendeu. Mas o meu ainda tenho.

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