A divulgação dos telegramas norte-americanos pelo WikiLeaks mostra que os EUA não aprovam a inclusão do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, entre outras, coisas, porque o Brasil não se alinhou às posições norte-americanas nos últimos anos. Isso refletiria uma imaturidade da diplomacia brasileira. Com a visita do presidente Barack Obama ao Brasil, aumenta especulação sobre o assunto, se o Obama vai apoiar a candidatura brasileira como fez com a China ou ainda sobre o esforço dos diplomatas que preparavam a visita de Obama para tentar evitar que ele seja questionado sobre o assunto.
Alguns pontos importantes sobre a questão:
1. Interessante os americanos serem contra a presença do Brasil, porque o Brasil divergiu dos EUA. Se isso fosse o motivo, então não poderiam apoiar a Índia. O que gera estranheza e desconfiança nos EUA é um país latino-americano não se alinhar automaticamente às teses americanas. Até a Folha de São Paulo foi capaz de perceber isso:
“O Brasil ainda não é "maduro" o suficiente para ser um ator global. Precisa ser "encorajado" pelos EUA a assumir "responsabilidades", aprendendo a "confrontar" outros países se necessário.
Avaliações como essa de dezembro de 2009, em tom paternalista e às vezes irônico, predominam na reação de diplomatas americanos em Brasília à campanha brasileira por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU.”
2. Outro aspecto curioso é como as críticas americanas à política externa brasileira são convergentes com as críticas que aparecem na imprensa brasileira publicadas pelos luminares brasileiros.
3. Ainda que o Brasil queira de fato uma cadeira no Conselho de Segurança, nesse momento, ser candidato a uma cadeira no Conselho de Segurança é mais importante do que ter o assento permanente . Caso o Brasil não fosse candidato haveria uma desmobilização da política externa brasileira, o Brasil perderia importância no sistema internacional. E isso é mais importante por ser improvável uma reforma no Conselho de Segurança.
4. A reforma da ONU e do seu Conselho de Segurança é improvável, e ainda que ocorra, as mudanças poderão ser vetadas por qualquer membro permanente. Portanto, não basta ter o apoio de um, é preciso o apoio de todos.
5. Neste sentido, o apoio dos EUA à Índia é mais uma estratégia para a região asiática e um posicionamento em relação à China do qualquer outra coisa. A Índia não ficou mais perto de ser membro do Conselho de Segurança por ter o apoio dos EUA. Indianos e norte-americanos sabem disso. Sinalizam uma aliança para a chineses verem.
6. Se o Brasil não apoiasse a entrada da Índia e do Japão no Conselho de Segurança, poderia obter o apoio da China. Mas isso não o aproximaria mais do Conselho de Segurança. Incapaz de realizar uma política de poder, o Brasil realiza uma política de alianças amplas, de cooperação, de prestígio e de defesa de princípios que fortalecem as instituições em relação ao arbítrio, qualquer estratégia de confrontação desmoralizaria a estratégia brasileira.
7. Os conflitos diplomáticos entre o Brasil e os EUA em algumas das principais questões internacionais decorrem da estratégia brasileira para se projetar internacionalmente. O Brasil precisa se opor à política de poder tradicional que os EUA e as grandes potências praticam, porque neste tipo de política o Brasil não tem protagonismo e não tem condições de praticá-la.
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